O Enfermeiro Estomaterapeuta e a Assistência em Estomaterapia: Emoções Representativas de Sofrimento e Prazer
Abstract
ResumoO estudo tem como objetivos: pontuar os fatores que representam emoções relacionadas ao sofrimento e prazer do enfermeiro estomaterapeuta no cotidiano de suas atividades de trabalho; identificar, entre essas emoções, aquela que prevalece e descrever as estratégias defensivas utilizadas para defesa psíquica, elaboradas pelos componentes da amostra. A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário, com uma amostra de 42 enfermeiros estomaterapeutas de diferentes estados da União. Os dados foram agrupados em três categorias: características gerais de identificação dos enfermeiros estomaterapeutas, o trabalho em si e as estratégias defensivas e, para fundamentar a discussão, foram utilizados os princípios da psicodinâmica da organização do trabalho. Os achados permitiram evidenciar que os enfermeiros estomaterapeutas sentem mais emoção prazerosa do que de sofrimento no desempenho de suas atividades em Estomaterapia e que as estratégias de defesa foram elaboradas tanto dentro quanto fora do ambiente de trabalho.Palavras Chaves: Enfermeiro estomaterapeuta. Processo de trabalho. Emoções de sofrimento e prazer.AbstractEnterostomal therapist nurse and stoma therapy assistance: the emotions representing suffering and pleasure. This study aims: to emphasize the factors that represent suffering and pleasure emotions related to the enterostomal therapist nurses activities at work day by day; to identify between the emotions punctuated at prior objective, that it prevails; and to describe the defensive strategies elaborated by enterostomal therapist nurses to protect her/him as professional. The data was collected by questionnaire. The sample was 42 enterostomal therapist nurses from different Brazilian states. The psychodynamic principles of work organization based on the data discussion. For presenting and discussion, the data analysis was grouped in three categories: general characteristics of identification of the research participants, the work itself and defensive strategies. The data allowed to evidence that the enterostomal therapist nurses feel more pleasure emotions than suffering ones on their activities performance in stoma therapy, and the defensive strategies were elaborated as inside and outside of the work environment.Key words: Enterostomal therapist nurse. Work process. Suffering and pleasure emotions.ResúmenEl terapeuta enterostomal y la asistencia en Estomaterapia: las emociones representativas del sufrimiento y placer. El presente estudio tiene como objetivos: puntuar los fatores causadores de emociones de sufrimiento y placer del terapeuta enterostomal en su cotidiano de trabajo; identificar entre las emociones puntuadas aquella que prevalece; describir las estrategias defensivas elaboradas por lo proprio terapeuta enterostomal para su protección psiquica. La colecta de datos fue hecha usando el questionario. La muestra fue de 42 especialistas de origen de varios estados brasileños. La análisis de los datos siguio tres categorias: las características de identificación de los terapeutas enterostomales, el trabajo en si y las estrategias defensivas, y, para justificar la discussión, fueron utilizados los principios de la psicodinamica de la organización del trabajo. Los descubrimientos permitem evidenciar que los terapeutas enterostomales sentiam más emociones de placer que de sufrimiento em el desempeño de sus actividades en Estomaterapia, y las estrategias defensivas se elaboraran dentro e fuera de la atmosfera de trabajo.Palabras clave: Terapeuta enterostomal. Processo de trabajo. Emociones de placer y sufrimiento.IntroduçãoO enfermeiro estomaterapeuta desempenha uma diversidade de atividades no exercício da Enfermagem em Estomaterapia, atividades essas relacionadas com funções peculiares do enfermeiro, ou seja, assistência, ensino e pesquisa, todas permeadas pela de gerenciamento. O que se tem observado no discurso desses especialistas é de que não existe forma especial de gerência nesse tipo de trabalho, mesmo porque, a condição organizacional de cada serviço, em função dos aspectos políticos e sociais, difere-se entre si. Além do mais, o processo de trabalho é contingencial, considerando-se que cada pessoa é diferente das demais, em virtude da interação de traços hereditários e culturais, o que constituem as características da personalidade, e funcionam como padrão de referência para as suas ações e emoções.Dessas reflexões nasceu a curiosidade de explorar um pouco da subjetividade do enfermeiro estomaterapeuta, para compreender as suas emoções no dia-a-dia, quando gerencia as suas atividades de assistência, em meio a tantas diversidades externas e internas ao ambiente de trabalho. Sob a ótica da psicodinâmica, Dejours1 afirma que a organização do trabalho é propícia para gerar emoções ora de prazer, ora de sofrimento no trabalhador. Explica que, para controlar o sofrimento, o profissional constrói e emprega estratégias defensivas (individual e/ou coletiva) contra as pressões do trabalho. A aparência de normalidade percebida nos comportamentos pessoais não implica em ausência de sofrimento, e este, também, não exclui o prazer. Portanto, não se pode negar que as condições e relações do trabalho delineiam limites e possibilidades para ações e criam campo propício para gerar emoções de prazer ou de sofrimento.Ao reconhecer que a construção histórica da Estomaterapia como especialidade, no Brasil, é realidade desde 1990, surgindo para dar respostas acadêmicas para processos sociais em curso, considerou-se oportuno conhecer se as emoções do estomaterapeuta relativas ao exercício da especialidade favorecem o clima para o constante desenvolvimento desta. Por isso, o estudo foi desenvolvido com os seguintes objetivos: pontuar os fatores que representam emoções relacionadas ao sofrimento e prazer para o estomaterapeuta no cotidiano de suas atividades de trabalho; identificar, entre as emoções pontuadas, aquelas que prevalecem e descrever as estratégias defensivas utilizadas e elaboradas pelos componentes da amostra para defesa psíquica.Trajetória MetodológicaO estudo identifica-se como exploratório e teve como sujeitos enfermeiros estomaterapeutas brasileiros que estivessem exercendo a especialidade no momento da investigação.Os dados foram coletados pelas autoras através de um questionário enviado, via correio, a 102 estomaterapeutas, residentes em diversos Estados da União. A escolha desse tipo de instrumento foi em razão da distância existente entre cada um dos componentes da amostra e o domicílio das autoras do estudo.A amostra foi representada por 42 (42,9%) estomaterapeutas, que retornaram o questionário preenchido.O instrumento de coleta de dados era constituído de perguntas abertas e fechadas, com a seguinte estrutura: características gerais de identificação dos enfermeiros estomaterapeutas; questões específicas à relação entre os respondentes e suas atividades de trabalho e que assinalam as emoções de sofrimento e prazer; questões relacionadas às estratégias defensivas elaboradas pelos enfermeiros estomaterapeutas para defesa psíquica.Destaca-se que o estudo cumpriu princípios éticos para pesquisa que envolve seres humanos, ao garantir sigilo e privacidade dos dados coletados dos participantes.Resultados e DiscussãoPara a discussão, os dados foram agrupados em três categorias: características gerais de identificação dos enfermeiros estomaterapeutas, para conhecer o perfil dos participantes; o trabalho em si, representado pelas questões específicas à relação entre os respondentes e suas atividades de trabalho e que assinalam as emoções de sofrimento e prazer; as estratégias defensivas. A – Características gerais de identificação – Referente a tais características, a Tabela 1 dá uma visão geral do perfil de identificação dos estomaterapeutas no que se refere a: sexo, idade, ano de conclusão do curso de graduação, tempo de trabalho como enfermeiro, ano de conclusão do curso de especialização, tempo de trabalho em Estomaterapia, motivo para a busca desse curso, área de atuação e local onde desempenha o exercício da especialidade, de todos os participantes do estudo.Tabela 1- Características de identificação dos respondentes
Pode-se observar que a maioria dos respondentes tinha a idade compreendida entre 20 e 45 anos. A literatura que aborda desenvolvimento do ciclo de vida aponta que este é o período que corresponde à fase adulta (18 a 35 anos) e à fase de meia-idade (35 a 65 anos), etapas da vida em que a pessoa encontra-se em franca produtividade, com anseios de crescimento, para transformar a realidade da vida pessoal e profissional2. Quanto ao gênero, o quantitativo de profissionais do sexo feminino foi predominante, pois 37 (88%) eram mulheres. É sabido que na enfermagem o número de profissionais do sexo feminino é maior e, também, não poderia ser diferente na especialidade. Verifica-se, ainda, que a totalidade dos respondentes concluiu a formação especializada em Estomaterapia a partir de 1990, época que corresponde ao início de oferta de curso desta especialidade no Brasil3.Outros dados importantes mostrados são referentes aos motivos que mobilizaram os respondentes a procurar a formação especializada em Estomaterapia e a área de atuação de cada especialista. Em ambos os dados, a questão acerca da assistência à pessoa estomizada recebeu maior indicação pelos respondentes. Acredita-se que o contingente dessas pessoas existente no país ainda não está totalmente coberto pela assistência especializada. Para se ter uma visão desse aspecto, ao consultar os arquivos da Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinências (SOBEST), foi possível levantar que o país conta com mais de duzentos (200) especialistas. Embora não tenham os índices de relação especialista/habitante, a exemplo daqueles preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entende-se que a demanda de pessoas estomizadas para a assistência especializada tem sido um indicador real, que leva os enfermeiros a buscarem formação especializada. Essa busca tem sido contínua e as evidências são claras no sentido do crescimento do número de enfermeiros que estão se especializando na área em tela. Tanto que, além do curso da Universidade de São Paulo, outros programas de especialização foram implantados no país. Em síntese, tais evidências levam a crer que o total de estomaterapeutas no país, ainda, é insuficiente frente à demanda da clientela estomizada. Isto serve de base para argumentar a favor da necessidade de multiplicação do quantitativo de especialistas no país.De igual importância são as questões acerca dos conhecimentos para prevenção e tratamento de feridas e para os cuidados de pessoas incontinentes, temas esses inseridos na Estomaterapia e que merecem destaque na assistência específica de pessoas acometidas por tais danos à saúde. Além disso, há outros dados no Quadro 1 que mostram mais detalhes do perfil dos respondentes: tempo de conclusão do curso de graduação, tempo de trabalho como enfermeiro e na área de Estomaterapia e local de atuação como especialista.Em prosseguimento, a Tabela 2 espelha a distribuição dos especialistas, tendo por base a função exercida na prática da Estomaterapia.
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Published
2016-03-23
How to Cite
1.
Dias SM, Cesaretti IUR. O Enfermeiro Estomaterapeuta e a Assistência em Estomaterapia: Emoções Representativas de Sofrimento e Prazer. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2025 Feb. 23];3(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/10
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