Artigo Original 4 - Úlcera por Pressão: Avaliando Riscos em Idosos Internados em Instituição de Longa Permanência

Authors

  • Carmen Silvia de Campos Almeida Vieira Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP), Brasil. Professora do Departamento de Enfermagem e Nutrição da Universidade de Taubaté (UNITAU) - Taubaté (SP), Brasil.
  • Francisco das Chagas Negreiro Bastos Enfermeiro pela UNITAU – Taubaté (SP), Brasil.
  • Ronaldo Adriano da Silva Enfermeiro pela UNITAU – Taubaté (SP), Brasil.
  • Aline Lino Balista Mestre em Enfermagem pela Universidade de Guarulhos (UNG) – Guarulhos (SP), Brasil. Professor do Curso de Formação do Técnico de Enfermagem, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de Taubaté (SENAC-SP) – Taubaté (SP), Brasil.
  • Teresa Célia de Mattos Moraes dos Santos Mestranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil. Professora Auxiliar do Departamento de Medicina da UNITAU – Taubaté (SP), Brasil.
  • Maria Angela Boccara de Paula Doutora em Enfermagem pela UNICAMP - Campinas (SP), Brasil. Professora do Departamento de Enfermagem e Nutrição da UNITAU – Taubaté (SP), Brasil.
  • Eliete Maria Silva Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP – São Paulo (SP), Brasil. Professora do Departamento de Enfermagem e Nutrição da UNITAU – Taubaté (SP), Brasil.

Abstract

RESUMO 

Introdução: As alterações na elasticidade e textura da pele em decorrência do envelhecimento podem contribuir para úlceras por pressão (UPP). Objetivos: Este estudo objetivou caracterizar o perfil sócio demográfico e identificar o grau de risco de úlcera por pressão em idosos residentes em uma instituição de longa permanência, situado em um município do Vale do Paraíba Paulista (SP). Método: Trata-se de um estudo descritivo, transversal e quantitativo. Foram avaliados 68 idosos, utilizando-se questionário sócio demográfico e Escala de Braden. Os dados foram tratados com estatística descritiva. Aprovado pelo comitê de ética da Universidade de Taubaté sob o número de protocolo 130/09. Resultados: Os resultados mostraram que 50% dos idosos eram do sexo feminino; 35,3% inseridos na faixa etária de 66 a 71 anos; 76,5% pertencentes à raça branca; 41,2% com ensino fundamental incompleto, seguidos por 35,3% de analfabetos; 50% solteiros e 50% viúvos; 100% aposentados; 38% dos idosos e 12% das idosas referiram ser tabagistas; 66,2% não praticavam atividade física. As morbidades referidas mais prevalentes foram hipertensão arterial, doenças do sistema osteomuscular e tecido conjuntivo, doença encefálica vascular e cardiopatias. Em relação à Escala de Braden: 45,5% dos idosos não apresentavam riscos para o desenvolvimento de úlceras por pressão; 16,2% com risco mínimo; 26,5% com risco moderado e 11,8% risco elevado. Conclusão: Os resultados mostram que a maioria dos idosos institucionalizados apresentava algum grau de risco para o desenvolvimento de UPP, o que ressalta a importância da utilização de instrumentos de avaliação de risco no auxílio, planejamento e sistematização da assistência de enfermagem. 

DESCRITORES: Idoso. Cuidados de enfermagem. Úlcera por pressão. 

INTRODUÇÃO A demanda por Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) tende a aumentar diante do envelhecimento populacional, do aumento das condições crônicas de saúde e da necessidade de cuidados especializados1. 

Constitui-se em grande preocupação, no cenário da institucionalização dos idosos, o desenvolvimento de úlceras por pressão (UPP). A UPP é definida como uma área de morte celular que se desenvolve quando um tecido mole é comprimido entre uma proeminência óssea e uma superfície dura, por certo período de tempo. A UPP destaca-se como uma complicação comum em pacientes críticos, hospitalizados ou acamados, tornando-se um problema sério de saúde e um desafio para a equipe de enfermagem, bem como para a multidisciplinar2. 

Estudos de prevalência e incidência de UPP são frequentemente realizados para avaliar e caracterizar a dimensão deste problema; no entanto, pesquisas nacionais desta natureza são quase inexistentes, e, em Portugal, por exemplo, surgem apenas resultados de estudos isolados. A prevalência de úlceras de pressão na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) de Portugal aponta para 17%, conforme dados publicados no relatório de atividades de 2010. Do total de UPP registadas, 38% já existiam no momento da admissão, enquanto a incidência de UPP observada na rede foi de 10,5%3. 

O problema na Europa tem uma dimensão similar, com estudos trazendo prevalências que variaram entre os 3 a 28%. Em outras partes do mundo, os dados também não são claros e as diferentes populações estudadas e metodologias utilizadas não permitem comparação de dados. No Brasil, 

verifica-se que são escassos os trabalhos que disponibilizam dados sobre incidência e prevalência de UPP. A prevalência de UPP no Brasil é alta, especialmente na rede hospitalar, com taxas que variam de 10,62 a 44,1%4. 

Estes estudos demonstram que a UPP contribui para o prolongamento do tratamento e internação, bem como colaboram com a dor e sofrimento, aumentando a morbidade e os custos diretos e indiretos em saúde. 

A avaliação de risco para o desenvolvimento de UPP deve ser completa e deve incluir: avaliação das condições gerais da pele, mobilidade, umidade, incontinência, nutrição, morbidade e dor. As consequências da imobilidade, muitas vezes, podem ser consideradas como principais fatores que predispõem ao aparecimento das UPP. As escalas de avaliação de risco para o desenvolvimento de UPP ajudam na identificação de fatores de risco e fornecem subsídios para aplicação dos cuidados preventivos. Permitem avaliação sistematizada e devem ser aplicadas durante todo o período da internação5. 

Diante do exposto, o conhecimento do perfil do idoso institucionalizado e a avaliação de risco para o desenvolvimento de UPP tornam-se imprescindíveis para instrumentalizar os enfermeiros no planejamento e sistematização da assistência de enfermagem e subsidiar os serviços de saúde no planejamento do cuidado em relação aos seus clientes. Assim, este estudo objetivou caracterizar o perfil sócio demográfico e identificar o grau de risco de UPP em idosos residentes em uma instituição de longa permanência. 

MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa. Foi realizado com idosos residentes em uma ILPI, localizada em um município do Vale do Paraíba Paulista. Este município contava com uma população estimada de 265.514 habitantes, os quais estavam inseridos, em sua maioria, na zona urbana6. O número de vagas nesta ILPI era para 100 idosos e no momento da investigação contava com 97 residentes. Trata-se de uma instituição filantrópica que recebe de doações e verbas do Estado e União e 70% do repasse do valor da aposentadoria dos idosos internados7. Optou-se por esta Instituição para a presente pesquisa em função de ser idônea, antiga e reconhecida no município e pelos órgãos oficiais, por ter sido receptiva e autorizar o desenvolvimento deste estudo. 

Foram sujeitos dessa pesquisa 68 indivíduos, sendo 34 homens e 34 mulheres. Os participantes atenderam aos seguintes critérios de inclusão: ter idade igual ou superior a 60 anos; não apresentar UPP no momento da coleta dos dados e concordar em participar da pesquisa. 

Após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, iniciou-se a coleta de dados. Os dados foram coletados no período de junho a setembro de 2009. 

Primeiramente, foram analisados todos os prontuários dos residentes da ILPI (n=97). A princípio, foram excluídas 11 pessoas por possuírem idade inferior a 60 anos. Em seguida, foi realizada a consulta de enfermagem e, dos 86 idosos restantes, 18 foram excluídos, pois um faleceu durante o período de coleta de dados, seis apresentavam UPP e 11 não aceitaram participar do estudo, totalizando uma amostra de 68 idosos. 

Para a caracterização dos sujeitos, um instrumento foi previamente elaborado pelos pesquisadores, o qual abarcava os seguintes dados: sexo, idade, naturalidade, procedência, raça, escolaridade, estado civil e ocupação. Foi realizada anamnese, a fim de coletar informações como: motivo e tempo da internação, doenças de base, tratamento farmacológico, periodicidade das visitas dos familiares, dependência química e atividade física. 

Em seguida, foi realizado o exame físico e a aplicação da Escala de Braden, a fim de avaliar o risco para o desenvolvimento de UPP. 

O guia internacional de consulta rápido para prevenção de UPP8 recomenda uma política de avaliação dos riscos da mesma em todas as instituições de saúde, contemplando a capacitação dos profissionais de saúde, confecção e implantação de instrumentos, de forma sistematizada, por meio de escalas que valorizem os fatores de risco, como nutricionais, perfusão e oxigênio, umidade da pele, idade avançada, fricção e força de torsão, percepção sensorial e estado geral. 

A escala de Braden-Bergstrom é uma ferramenta preconizada para avaliar o risco de desenvolver UPP, sendo indicada na primeira consulta, na visita domiciliar ou na internação, durante as primeiras 24 horas, em pacientes com comprometimento da mobilidade ou que apresentem qualquer risco. Foi desenvolvida por Bergstron e Braden como estratégia para diminuir a incidência de UPP no serviço onde trabalhavam. É composta de seis sub escalas que refletem determinantes críticos, como percepção sensorial, umidade da pele, atividade, mobilidade, estado nutricional, fricção/cisalhamento. Todas são pontuadas de um a quatro, 

com exceção da sub escala de fricção/cisalhamento, cuja medida varia de um a três. Os escores totais têm variação de seis a 23, correspondendo os resultados mais altos a um bom funcionamento dos parâmetros avaliados e, portanto, a um baixo risco para formação de UPP. Escores equivalentes ou abaixo de 16 são identificados como críticos, ou seja, indicativos de risco para UPP8. 

Todos os princípios éticos que regem pesquisas com seres humanos foram observados e respeitados, segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UNITAU nº. 130/09), em oito de maio de 2009. Os dados somente foram coletados após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade de Taubaté e autorização do responsável pela ILPI. 

Foram feitas análises descritivas do estudo. Os dados foram apresentados sob a forma descritiva e tabela, com valores absolutos (n) e percentuais (%). 

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados retrataram o perfil sociodemográfico e o grau de risco de UPP em idosos residentes em uma instituição de longa permanência. 

Observa-se na Tabela 1 que 50% dos idosos eram do sexo masculino e 50% do feminino. Quanto à faixa etária, a mais prevalente no sexo masculino foi de 66 a 71 anos (35%), enquanto no feminino foram de 78 a 83 anos (29,4%) e maior de 83 anos (35,3%). 

Nesta investigação, identificou-se maior prevalência de homens em faixas etárias mais jovens e de mulheres em faixas etárias mais avançadas, constatando-se maior longevidade entre a população feminina. 

No Brasil, as mulheres vivem em média oito anos a mais que os homens. Em 1991, as mulheres correspondiam a 54% da população de idosos, passando para 55,1% em 2000. A diferença de expectativa de vida entre os sexos é um fenômeno mundial e, no Brasil, é bastante intenso8. 

Tais dados corrobaram com os dados demográficos do Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso (SISAP). As informaçoes censitárias assinalam que a população idosa do município de Taubaté no ano de 2010 era constituída de 31.730 (100%) idosos, sendo 13.809 (43,52%) idosos do sexo masculino e 17.921 (56,47%) do feminino, apresentando taxa de longevidade superior a população masculina. A proporção de idosos de Taubaté do sexo feminino de 85 anos ou mais no ano de 2000, era de 6,31% e a masculina de 3,18%9. 

Estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES), que planeja a política pública para idosos que vivem em ILPI constatou que a população com mais de 60 anos triplicou desde a década de 1980. No levantamento realizado em 229 ILPI, entre novembro de 2006 a novembro de 2007, identificou-se que 55% eram do sexo masculino e 45% do feminino10, resultados semelhantes encontrados na ILPI em que esta investigação foi realizada. 

Quanto à naturalidade, entre os idosos institucionalizados, 16 (23,5%) eram nascidos no município que sediava a ILPI; 7 (10,3%) em Minas Gerais; 6 (8,8%) em Pindamonhangaba e 5 (7,3%) em São Luiz do Paraitinga. Quanto à procedência 37 (54,4%) eram de Taubaté, 4 (5,9%) de São Luiz do Paraitinga e 3 (4,4%) de São Paulo. 

Os motivos de internação foram: em 29 (42,6%) dos casos a família não tinha condições de cuidar dos idosos em função do agravo de saúde; 13 (19,1%) em função da morte do cônjuge e, 8 (11,8%) internaram-se por vontade própria. 

Em estudo semelhante, os motivos de internação ocorreram em 37,4% dos casos devido a viverem sozinhos, 15,5% por estarem doentes, 10,7% foram internados pela própria família, 8,6% por não terem cuidadores e 4,8% por opção própria. À medida que o idoso perde a autonomia, perde-se a possibilidade de administrar a vida, mesmo antes da institucionalização. Uma vez internado, a condição piora, e o idoso fica mais submetido à vontade e às decisões da instituição, anulando gradativamente sua identidade e sua liberdade11. 

A raça branca predominou com 26 (76,5%) idosos do sexo masculino e 27 (79,4%) do feminino, seguidos da 

raça parda com 6 (17,7%) do sexo masculino e 5 (14,7%) do feminino. 

Em relação à escolaridade, predominou o ensino fundamental incompleto em ambos os sexos, sendo 14 (41,2%) do sexo masculino e 15 (44,1%) do feminino, seguidos de 12 (35,3%) analfabetos, em ambos os sexos. O índice expressivo de analfabetismo entre os idosos pode estar relacionado a dificuldade de acesso e disponibilidade em frequentar a escola nos tempos remotos. 

Entre os idosos do sexo masculino, a maioria 17 (50%) eram solteiros e 8 (23,5%) viúvos. Já no sexo feminino, 17 (50%) eram viúvas seguidas de 13 (38,3%) solteiras. 

No que se refere à ocupação, 100% dos idosos institucionalizados eram aposentados, o que se justifica em função da Instituição ser mantida com uma parcela das verbas disponibilizadas pelos próprios idosos. 

A maioria dos idosos (n=44; 64,7%) residia na Instituição entre um a 10 anos; 11 (16,2%) há menos de um ano; 9 (13,2%) entre 11 a 20 anos; 3 (4,4%) há mais de 30 anos e 1 (1,5%) entre 21 a 30 anos de internação. Acredita-se que, quando o idoso fica internado por muito tempo, o mesmo se acomode e deixe de realizar as atividades da vida diária, o que pode favorecer o maior risco de UPP. 

Quanto à periodicidade das visitas dos familiares aos idosos, identificou-se similaridade em ambos os sexos, sendo que entre os idosos do sexo masculino, 25 (73,5%) recebiam visita e 9 (26,5%) não recebiam. Já das idosas do sexo feminino, 26 (76,5%) recebiam visita e 8 (23,5%) não recebiam. Identificou-se um percentual significativo de idosos que não recebiam visita, o que pode desencadear sentimentos de depressão, baixa autoestima e rejeição entre outros, o que contribui para alterações de comportamento como a não participação das atividades diárias, tais como caminhar, alimentar-se, fazer sua higiene, ficando muito tempo estático e em uma única posição, o que pode contribuir com o risco de desenvolver úlcera por pressão. 

As doenças que apareceram em maior frequência nos residentes da Instituição foram: Hipertensão arterial , doença de locomoção , doença encefálica vascular, cardiopatias. 

Os achados são semelhantes aos resultados obtidos na pesquisa realizada em uma Instituição de Longa Permanência Filantrópica da cidade de São Paulo (SP) em que a prevalência das doenças foi demência; depressão; doença encefálica vascular; diabetes mellitus; Alzheimer; doença de locomoção12. 

Outro estudo também corrobora com a investigação: a amostra deste estudo foi composta de 365 pacientes idosos a partir de seis LSIEs localizadas na zona oeste de São Paulo. As condições presentadas pelos pacientes na admissão foram os seguintes: hipertensão (47,5%), doenças cardiovasculares e doenças respiratórias (37,5%), distúrbios neurológicos (27,5%), demência senil (22,5%), doença de Alzheimer (15%), diabetes mellitus (12,5%) e neoplasia (2,5%)13. 

Estudos demonstram maior prevalência de doenças crônicas e desenvolvimento de incapacidades com o envelhecimento, em ambos os sexos. Nos dados coletados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 199814 observou-se que em 28.943 idosos avaliados, 69% possuíam pelo menos uma doença crônica, sendo a hipertensão arterial a mais predominante, atingindo 43,9%, o que culmina com altos custos na compra de medicamentos, comprometendo um quarto da renda da metade da população brasileira. 

Observou-se elevada prevalência de doenças crônicas e consumo de medicamentos, com 100% dos idosos que utilizavam de terapia medicamentosa diariamente, dentre os quais se destacavam os anti-hipertensivos, ansiolíticos, analgésicos, hipoglicemiantes e outros. 

Segundo Ministério da Saúde, a dependência do cigarro é um fator de risco para diversas doenças crônicas, como a hipertensão arterial, câncer e doenças pulmonares obstrutivas, reforçando ainda que é a principal causa evitável de doença e morte prematura. Neste estudo, identificou-se que entre os idosos do sexo masculino, 13 (38%) eram dependentes químicos do tabaco, 4 (12%) do sexo feminino. A dependência do cigarro é um fator de risco para diversas doenças crônicas, como a hipertensão arterial, câncer e doenças pulmonares obstrutivas, sendo a principal causa evitável de doença e morte prematura15. 

Quanto à dependência do álcool, 14 (41%) idosos do sexo masculino referiram que em algum momento da vida já foram considerados dependentes; já entre os idosos do sexo feminino 34 (100%) informaram que não utilizavam a bebida. Em um estudo realizado com idosos moradores de instituições de longa permanência da cidade de Pelotas (RS), pode-se observar que dados semelhantes foram encontrados, 65% das idosas referiram nunca terem ingerido bebida alcoólica16. 

Os achados nos levam a inferir que o consumo de álcool só ocorria entre os homens e que as mulheres nunca o utilizaram em função de que culturalmente não era hábito socialmente aceito entre as mulheres.

No que se refere à atividade física, 66,2% não realizava atividade física. Estudos demonstram que o sedentarismo foi considerado como um dos quatro fatores mais importantes de risco, para desenvolver na população adulta, aterosclerose, doença isquêmica coronária e morte. A atividade física entre os idosos visa à manutenção ou recuperação da saúde, inserção social e lazer, assegurando a qualidade de vida e manutenção da independência. Deve ser planejada, estruturada, repetitiva, tendo o objetivo de aumentar a reserva funcional, melhorar as limitações, evitar ou postergar o aparecimento das doenças, controlar as existentes, promover mudanças de hábitos e prevenir acidentes16. 

Em investigação realizada em 11 ILPI do Distrito Federal, o autor afirma que nenhuma das Instituições apresentava qualquer programa de atividade física, o que mostra a necessidade da implementação de projetos de atividades física para idosos nas ILPI17. 

O guia internacional de consulta rápida para prevenção de úlceras de pressão18 recomenda uma política de avaliação dos riscos de UPP em todas as instituições de saúde, contemplando a capacitação dos profissionais de saúde, confecção e implantação de instrumentos, de forma sistematizada, por meio de escalas que valorizem os fatores de risco como nutricionais, perfusão e oxigênio, umidade da pele, idade avançada, fricção e força de torsão, percepção sensorial e estado geral. 

A escala de Braden-Bergstrom é uma ferramenta preconizada para avaliar o risco de desenvolver UPP, sendo indicada na primeira consulta, na visita domiciliar ou na internação, durante as primeiras 24 horas, em pacientes com comprometimento da mobilidade ou que apresentem qualquer risco. Os autores ressaltam ainda a importância dos registros das medidas e resultados do risco encontrado para facilitar a avaliação seriada, e também como medida de proteção legal19. 

Com base nas recomendações acima, os idosos residentes na ILPI, após consulta de enfermagem foram submetidos à avaliação de risco para o desenvolvimento de UPP, utilizando-se a Escala de Braden. 

A ocorrência de UPP é uma realidade de vários locais de assistência à saúde, sendo frequentemente encontrada em pacientes graves agudos hospitalizados ou crônicos20. 

Na Tabela 2 identifica-se que dos 68 idosos residentes na ILPI, após serem submetidos à avaliação de risco para UPP com a Escala de Braden, 31 (45,5%) não apresentavam risco de desenvolver UPP com escore de 17 pontos ou mais; 11 (16,2%) apresentavam risco mínimo com escore entre 15 e 16 pontos; 18 (26,5%) com risco moderado e pontuação de 13 a 14 pontos e 8 (11,8%) com risco elevado e escore de 12 ou menos, mostrando que 37 (54,5%) dos idosos apresentavam algum risco de desenvolver UPP. 

Estudo realizado em ILPI filantrópica da cidade de São Paulo mostrou dados que corroboram com os encontrados neste estudo quanto ao percentual de idosos sem risco para o desenvolvimento da UPP, que foi de 57,1%; 17,9% apresentavam risco mínimo e 20,5% risco moderado. Quanto ao percentual de idosos com risco elevado apresentou resultados diferentes, que foi de 4,5%12. 

Na investigação realizada em um hospital geral, com 690 pacientes, tendo uma média de tempo de internação de 18 dias, no período de abril a junho de 2005, verificou-se que 63,9% eram idosos e de acordo com a Escala de Braden, 

a maioria (80,4%) apresentava alto risco para o desenvolvimento das lesões, comparado com 9,7% dos pacientes com risco moderado e 7,4% com baixo risco, os resultados diferem do presente estudo, com exceção do baixo risco21. 

Nos domínios da escala de Braden, verificou-se que, quanto a percepção sensorial que corresponde a habilidade de responder significativamente à pressão relacionada com o desconforto, 15 (44,1%) do sexo masculino tinham sua percepção levemente limitada (ou seja, respondiam aos comandos verbais, porém, nem sempre conseguiam comunicar o desconforto ou a necessidade de ser mudado de posição) e, em 11 (32,4%) era muito limitada, respondendo somente a estímulos dolorosos, não conseguindo comunicar o desconforto a não ser por gemidos ou inquietação, enquanto que, do sexo feminino, 14 (41,2%) tinham a percepção sensorial muito e levemente limitada, respectivamente. 

Doze idosos (35,3%) do sexo masculino e 14 (41,2%) do feminino apresentavam a pele ocasionalmente molhada, o que significava estar molhado/ úmido durante o dia, necessitando troca de roupa de cama pelo menos uma vez por dia. 

Treze participantes (38,2%) do sexo masculino e 17 (50%) do feminino eram confinados a cadeira, o que significava que a habilidade de caminhar estava severamente limitada ou inexistente, não suportando o próprio peso ou precisando ser ajudado para sentar-se na cadeira ou na cadeira de rodas. 

Quanto à habilidade de mudar e controlar as posições corporais, 16 (47,1%) idosos do sexo masculino e 15 (44,1%) do sexo feminino tinham a sua mobilidade bastante limitada, ou seja, faziam pequenas mudanças ocasionais na posição do corpo ou das extremidades, no entanto eram incapazes de realizar mudanças frequentes sem ajuda. 

Em relação ao padrão usual de ingestão alimentar, 24 (70,6%) participantes do sexo masculino e 32 (94,2%) do sexo feminino tinham nutrição adequada, o que significava comer mais da metade da maior parte das refeições, ingerindo o total de quatro porções de proteína (carne e derivados do leite) por dia, e usualmente tomavam suplemento dietético oferecido. 

Referente a fricção e cisalhamento, 13 (38,2%) idosos do sexo masculino e 17 (50%) do feminino apresentavam esses problemas em potencial, o que significava que movimentavam-se livremente ou necessitavam de assistência mínima. Durante o movimento, a pele provavelmente esfregava-se em alguma extensão contra os lençóis, cadeiras ou restrições ou outros equipamentos. Esses pacientes, na maior parte do tempo, mantinham-se relativamente em boa posição na cadeira ou cama; porém, de vez em quando, escorregavam para baixo, mostrando a importância de priorizar no plano assistencial o desenvolvimento de medidas preventivas. 

Na investigação realizada com 187 pacientes hospitalizados aplicando a escala de Braden para avaliar o risco de UPP foi identificado escore total ≤13, que apontam risco moderado e elevado, sendo a maioria de mulheres, idosas, portadores de comorbidades, acamados, com mobilidade e atividade limitadas (83,4%), nutrição alterada (63,6%), seguido pelos problemas de fricção e/ou cisalhamento (52,9%) e alteração da percepção sensorial (52,9%)22. Esses achados são semelhantes aos encontrados no presente estudo no que tange ao escore total; mobilidade e atividades limitadas; fricção e cisalhamento e percepção sensorial. 

Em estudo realizado com o objetivo analisar os fatores de risco para o desenvolvimento de UPP em idosos institucionalizado desenvolvido em quatro Instituições de Longa Permanência, com 94 idosos; os achados corroboraram com encontrados nesta investigação, visto que identificou na primeira avaliação, que os riscos maiores esta nos escores de umidade (muito molhado), atividade (confinado à cadeira) e problema em potencial quanto a fricção e cisalhamento23. 

A avaliação do risco para desenvolver a UPP contribui para o planejamento e a sistematização da assistência de enfermagem em diferentes instituições favorecendo, em especial, as ações de prevenção, essenciais para a manutenção da qualidade de vida da pessoa idosa. 

CONCLUSÕES O estudo mostrou que, na ILPI estudada, a maioria dos idosos eram aposentados, brancos, com ensino fundamental incompleto, muitos eram hipertensos, tabagistas e sedentários. A maioria apresentava algum risco para o desenvolvimento de UPP. Tais resultados nos remetem a necessidade de sensibilização e capacitação dos gestores institucionais e profissionais, bem como da formação de grupos de autoajuda com os usuários, no que tange as ações de promoção e prevenção desses agravos de saúde e da importância da implantação da avaliação de risco para o desenvolvimento de UPP, como instrumento que favorece o planejamento e a sistematização das ações de enfermagem na atenção a pessoa idosa. 

Estes achados sugerem a necessidade de se realizar capacitação dos profissionais envolvidos com o cuidar e a continuidade do estudo nesta ILPI e de novos estudos nesta área. 

REFERÊNCIAS

1. Creutzberg M, Gonçalves LHT, Sobottka EA, Ojeda BS. Long-term care institutions for elders and the health system. Rev Latinoam Enferm. 2007;15(6):1144-9. 

2. National Pressure Ulcer Advisory Panel. Apresenta nova definição de úlcera por pressão em estágio I [Internet]. [citado 2009 ago 23]. Disponível em: http://www.npuap.org/ positn4.htm 

3. Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados [Internet]. [citado 2010 ago 25]. Disponível em: http://www. acss.min-saude.pt/DepartamentoseUnidades/Departame ntoGest%C3%A3oRedeServi%C3%A7RecursosemSa%C3% BAde/CuidadosContinuadosIntegrados/RNCCI/tabid/1149/ language/pt-PT/Default.aspx 

4. Pini LRQ. Prevalência, riscos e prevenção de úlcera de pressão em unidades de cuidados de longa duração [dissertação de mestrado]. Portugal: Universidade Católica Portuguesa. Instituto Ciências da Saúde; 2012. 

5. Europen Pressure Ulcer Advisory Panel and National Pressure Ulcer Advisory Panel. Prevention and Treatment of pressure ulcers: quick reference guide. Washington DC: National Pressure Ulcer Advisory Panel; 2009. 

6. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, Censo demográfico 2000: características gerais da população Rio de Janeiro. Brasília (DF): Ministério da Saúde. [Internet]. 2002 [citado 2007 out 7]. Disponível em: ibge.gov.br/censo/ 

7. Casa São Francisco de Idosos. [homepage da internet]. 2009 [citado 2009 nov 3]. Disponível em: www.casasãofrancisco.org.br 

8. Lisboa CR. Risco para úlcera por pressão em idosos institucionalizados [dissertação de mestreado]. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais; 2010. 

9. Brasil. Ministério da Saúde, Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso- SISAP. [Internet]. 2014 [citado 2014 mar 22]. Disponível em: www. saudeidoso.icict.fiocruz.br 

10. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES). [homepage da internet]. 2009 [citado 2009 nov 4]. Disponível em: http://www.ipardes.gov.br/ 

11. Herédia VBM, Casara HMB, Cortelletti IA, Ramalho MH, Sassi A, Borges MN. A Realidade do Idoso Institucionalizado. Textos Envelhecimento. 2004;7(2):9-31. 

12. Vilanova GC, Takebayasbi RB, Yosbitome AY, Blanes L. Avaliação de risco e prevalência da úlcera por pressão em idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência Filantrópica da cidade de São Paulo. Rev Estima. 2009;7(1):12-9. 

13. Chacon JMF, Blanes L, Hochman B, Ferreira LM. Prevalence of pressure ulcers among the elderly living in long-stay institutions in São Paulo. São Paulo Med J. 2009;127(4):211-5. 

14. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 1944 de 27/08/2009. Institui no âmbito de saúde (SUS) a Politica Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem [Iinternet]. 2009 [citado 2009 nov 17]. Disponível em: http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1944_27_08_2009.html 

15. Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica 7: Hipertensão arterial sistêmica e diabetes Mellitus - protocolo. Brasília: Ministério da Saúde; 2001. 

16. Dias BA, Zillmer JGV, Fagundes RF, Michels MA. Perfil do idoso morador de instituições de longa permanência da cidade de Pelotas: estudo preliminar. [Internet]. 2009 [citado 2009 nov 11]. Disponível em: http://webcache. googleusercontent.com/search?q=cache:KvrTDgtPq o4J:www2.ufpel.edu.br/cic/2006/arquivos/CS_00969. rtf±&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br 

17. Melo GF, Mendonça AC, Giavoni A, Madureira AS. Análise do nível de atividade física nas casas de repouso e instituições filantrópica (asilos) do Distrito Federal [Internet]. [citado 2010 mar 21]. Disponível em: www.efdeportes.com/efd62/asilos.htm 

18. Rahal MA, Sguizzatto GT. Exercício físico. In: Carvalho Filho ET de, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2005. 

19. Fernández RD, Vásquez AP, Iglesias FJR, et al. Manual de prevencion e tratamento de úlceras por presión. Espanha, Santiago de Compostela, 2005. 

20. Souza DMST, Santos VLCG. Úlcera por pressão e envelhecimento. Rev Estima. 2006;(4):36-43. 

21. Moro A, Maurici A, Valle JB, Zaclikevis VR, Kleinubing Junior H. Avaliação dos Pacientes Portadores de Lesão por Pressão internados em Hospital Geral. Rev Assoc Med Bras. 2007;53(4):300-4. 

22. Menegon DB, Bercini RR, Santos CT, Lucena AF, Pereira AGS, Scain SF. Análise das Subescalas de Braden como indicativos de risco para úlcera por pressão. Texto & Contexto Enferm. 2012;21(4):854-61. 

23. Souza DMST, Santos VLCG. Fatores de Risco para o Desenvolvimento de Úlcera por Pressão em Idosos Institucionalizados. Rev Latinoam Enferm. 2007;15(5):958-64. 


Downloads

Download data is not yet available.

Published

2016-04-07

How to Cite

1.
Vieira CS de CA, Bastos F das CN, Silva RA da, Balista AL, Santos TC de MM dos, Paula MAB de, et al. Artigo Original 4 - Úlcera por Pressão: Avaliando Riscos em Idosos Internados em Instituição de Longa Permanência. ESTIMA [Internet]. 2016 Apr. 7 [cited 2024 Dec. 22];13(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/113

Issue

Section

Article

Most read articles by the same author(s)

1 2 3 > >>