Incontinência Urinária de Esforço: Um perfil da clientela
Abstract
0 estudo teve como objetivos descrever as características sócio- demograficas e clinicas, principalmente das perdas urinárias de 57 mulheres portadoras de Incontinência Urinaria de Esforço (I UE), atendidas em dois serviços especializados na cidade de São Paulo. Os resultados mostraram média etária de 48, 28 anos, mulheres com companheiro (60,78%) e escolaridade fundamental (76,47%). Clinicamente, a média do numero de partos foi 3,5 7 e a maioria das mulheres apresentou IU Anatômica (66,6 7%), sem procura por tratamento prévio (68,63%), com perdas ha até três anos (52,54%), diárias (60,78%), aos médios esforços (56%), com sensação de estar molhada para 43, 13% das entrevistadas e com utilização de recursos de contenção (62, 74%), trocados duas ou mais vezes ao dia (50,98%). Embora os resultados apontem para o delineamento de pouca gravidade dos sintomas, estudos relacionados ao impacto da IU sobre a qualidade de vida são necessários, buscando a instrumentalização dos profissionais de saúde no manejo dessa clientela.Palavras Chaves:Incontinência Urinária, Incontinência Urinária de esforço, AvaliaçãoAbstractThis study aimed to identify the demographic and clinical characteristics of 51 women with Stress Urinary Incontinence (SUI), belonged to two Urology Services. The results showed an average age of 48.28 years (SD=9.21); majority of women married (60.78%), with elementary education level (76.47%) and an average of 3.57 deliveries. Most of them had anatomical SUI (66.67%), without previous treatment (68. 63%), within 3 years of urinary leakage (52.54%), with daily urinari leakage (60.78%) to moderate efiorts (56%), feeling wet (43.73%) and wearing additional resources to keep dry (62.74%) changed twice or more times a day (50.98%) changed the results point out to a low severity condition, it is important and necessary the development of studies related to the impact of the urinary losses for this clientele’s quality of life.Key words:Urinary Incontinence, Stress Urinary incontinence, AssessmentResúmenLa investigación tubo como objetivo describir las características sociales, demográficas y clínicas de la incontinencia urinaria (IU) de 57 mujeres en dos Servicios de Salud especializados en la ciudad de São Paulo. Los resultados apuntan 48,28 anos (DP=9,21), mujeres casadas (60,78%) y educación fundamental (76,47%). Clínicamente, el numero medio de partos fue 3,57 y la mayoría de las mujeres han presentado IU Anatómica (66,67%), sin terapia previa (68,63%), con perdidas hacia 3 anos (52,54%), diarias (60,78%), en los esfuerzos moderados (56%), con la sensación de estar mojada (43,73% ) y utilizando absorbentes (62,74%), cambiados dos o mas veces al día (50,98%). Aun los resultados muestren que las mujeres valoren sus perdidas con baja gravedad nuevos estudios son necesarios sobre el impacto de las perdidas urinarias en la calidad de vida de esas pacientes mejorando la información para los profesionales del equipo de salud.Palabras clave:Incontinência Urinária, IncontinênciaIntroduçãoA Incontinência Urinária (IU) constitui-se em um tema ainda pouco explorado não só para a população geral como entre profissionais da saúde, restringindo-se as especialidades médicas da Urologia e Colo - Proctologia. Se para os leigos envolve mitos e preconceitos que devem ser superados, para os profissionais também co- existem algumas crenças que comprometem o diagnóstico e, consequentemente, a implementação de intervenções precoces.Segundo a Agency for Health Care Police and Research (AHCPR), a IU afeta, aproximadamente, 13 milhões de americanos(1). Quanto aos custos, Keller(2) e Sampselle et al(3) afirmam que mais de 16 bilhões de dólares são gastos, anualmente, no tratamento de norte- americanos com IU, incluindo 11,2 bilhões na comunidade e 5,2 bilhões em asilos.Este estudo trata da caracterização de 51 mulheres portadoras de um dos tipos mais frequentes de IU, a Incontinência Urinária de Esforço (IUE).Do ponto de vista conceitual, a Internacional Continence Society refere-se à IUE como a perda involuntária de urina pela uretra em situações de aumento da pressão abdominal e ausência de atividade contrátil do detrusor, determinando um desconforto social e higiênico(4). Outros autores como Blaivas; Oliver5, Sampaio et al6 e Ribeiro;Rossi7, baseando-se no vocabulário aprovado pela Associação Americana de Urologia, pela Sociedade Internacional de Urodinâmica e pela própria International Continence Society, apontam três características para a incontinência urinária de esforço (IUE): a ausência de atividade involuntária do detrusor (condição); a objetivação da perda urinária aos esforços (sinal) e a queixa da perda aos esforços (sintoma).Raz et al(8) e Sampaio et al(6) preferem utilizar uma classificação mais simples que tem sido bastante empregada pelos urologistas brasileiros e também adotada neste estudo. Esses autores dividem a IUE em incontinência anatômica e deficiência esfincteriana intrínseca, com ou sem hipermobilidade.Na incontinencia anatômica, também denominada de hipermobilidade uretral, observa-se como anormalidade básica a fraqueza do assoalho pélvico. O complexo esfincteriano é funcionalmente normal, porém está mal posicionado. Os aumentos da pressão intra-abdominal não são transmitidos adequadamente para a uretra, levando a uma descida do colo vesical e da uretra proximal. As perdas urinárias variam de leves a moderadas e são associadas a manobras provocativas como tosse, riso ou espirro. Esse tipo de IUE é o mais comum, constituindo de 90 a 95% dos casos. As causas mais comuns são: partos, histerectomia, mudanças hormonais (menopausa), degeneração pélvica e flacidez congênita6,8,9,10,11.A IUE por deficiencia esfincteriana intrinseca, por sua vez, caracteriza-se pelo mal funcionamento do esfíncter, pela abertura do colo vesical e por vazamento de urina com baixa pressão. As principais causas são cirurgias anteriores para correção da incontinência; lesões neurológicas; tratamento radioterápico, cirurgia radical pélvica e trauma pélvico6,8,9,10,11,12.Hipermobilidade uretral e deficiência esfincteriana intrínseca podem existir concomitantemente. O estudo urodinâmico auxilia no diagnóstico da IUE, utilizando o estudo da pressão de perda sob esforço (PPE) que é medida durante o aumento voluntário da pressão abdominal através da Manobra de Valsava, sendo uma maneira indireta de medir a capacidade da resistência uretral. A perda de urina ocorre quando a pressão abdominal ultrapassa a pressão do fechamento uretral; assim, quanto menor for a pressão exigida para ocorrer a perda, menor é a resistência uretral. Os seguintes parâmetros, apresentados no Quadro 1, são usados para definir a incontinência urinária na mulher.Quadro 1. PPEs e respectivos significados clínicos.
Em relação às propostas terapêuticas da IUE, podem ser clínicas, cirúrgicas ou a combinação de ambas. O tratamento clínico visa melhorar os mecanismos uretral e periuretral da continência, podendo-se utilizar como alternativa a terapêutica farmacológica e a fisioterapia da musculatura pélvica. Os princípios da farmacologia do trato urinário médio e inferior aplicados a clinica baseiam-se no conhecimento da inervação e dos receptores da bexiga, colo vesical, uretra proximal e estruturas anatômicas relacionadas, sendo mais específicos os estrógenos e as drogas alfa agonistas. Quanto à fisioterapia da musculatura pélvica, é utilizada para o fortalecimento muscular do assoalho pélvico, e engloba inúmeros procedimentos como os exercícios de Kegel, estimulação elétrica funcional e biofeedback.2. Casuística e MétodoEste estudo do tipo descritivo exploratório e com abordagem quantitativa foi desenvolvido em dois centros de atendimento ambulatorial da grande São Paulo, um de caráter público e outro privado, cujos atendimentos abrangem as especialidades de urologia, em ambos, e ginecologia, apenas no primeiro.A amostra foi de conveniência, composta de 51 mulheres com diagnóstico de IUE, estabelecido previamente através de estudo urodinâmico, atendidas em ambos os serviços durante o período de coleta de dados e que preencheram os seguintes requisitos: ter idade igual ou superior a 18 anos; estar em condições físicas e mentais para responder à entrevista; e aceitar participar do estudo.Inicialmente o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da USP. As mulheres selecionadas para compor a amostra foram previamente esclarecidas quanto aos objetivos e ao caráter sigiloso da pesquisa, passando a ser entrevistadas individualmente pela pesquisadora.Todas as entrevistas ocorreram nos consultórios dos referidos ambulatórios, buscando- se a manutenção da privacidade necessária. A coleta de dados foi baseada em instrumento específico que contém os dados sócio-demográficos das pacientes (idade, estado civil, grau de escolaridade, ocupação, renda); os dados clínicos relativos as características da IU, envolvendo tanto os fatores considerados de risco para o desenvolvimento da IUE (cirurgias urológicas anteriores e número de partos) como a classificação, duração da IUE e presença de tratamento prévio; e as características específicas da IUE (condições, frequência e quantidade das perdas, recursos utilizados e frequência de trocas dos recursos empregados, nas 24 horas). Tais características específicas da IUE foram baseadas nos trabalhos de Raz et al8, Sandvick et al14 e Messick et al15.Os dados obtidos foram submetidos aos seguintes testes estatísticos: Intervalos de Confiança (IC) de 95% para a média, usados para estimar o valor médio real das variáveis quantitativas do estudo como salário, idade, número de dependentes, número de partos; Intervalos de Confiança de 95% para a proporção, usados para estimar as porcentagens reais de alguns eventos de interesse como: indivíduos com escolaridade fundamental; com renda familiar de até cinco salários mínimos; com incontinência urinária anatômica; usuárias de recursos de contenção; pacientes que não realizaram trocas; com tempo de perda urinária inferior a três anos; com idade inferior a 40 anos e com companheiro; e o Teste de Normalidade de Kolmogorov - Smirnov para testar a hipótese de normalidade das variáveis quantitativas do estudo.Para que os dados pudessem ser analisados estatisticamente, algumas variáveis necessitaram ser agrupadas conforme Quadro 2. Quadro 2. Agrupamentos das variáveis do instrumento de coleta de dados.

Downloads
References
URINARY incontinence in adults and chronic management Update, U.S. Departament of health and human services, 1996 Agency for health care policy research, public health service (Clinicai Practice Guideline 02)
Keller S. Urinary incontinence: ocurrenee, Knowledge, and altitudes among woman aged 55 and older in rural midwestern sening J. Wound Ostomy Continence Nora. 1999; 26(1): 30-8.
Sampselle CM, Wyman JF, Thomas KK Continence for women: evaluation of AWHONN'S third resarch utilization project. J. Wound Ostomy Nurs. 2000; 27(2): 100-8.
Ribeiro NIR, Girão JM, Santos MJ. Alterações hormonais e perdas urinárias no climatério, In: Bruschini H, Kano H, Daimião R. I Consenso Brasileiro - Incontinência Urinária, Uroneurologia, Disfunções Micctional. São Paulo, B.G. Cultural, 1999; cap 13, p. 97- 101.
Blaivas JG, Oliver L Pathophysiology of urinary incontinence. In: Doughty, DB Urinary and fecal incontinence nursing management. St. Louis, Mosby, 1991. cap. 2, p. 23-46.
Sampaio JBF, Amaro LJ, Wroclawski RE. Tratamento não cirúrgico da incontinência urinária de esforço na mulher.
Ribeiro MR, Rossi P. Diagnósticos clínico e radiológico da incontinência urinária de esforço. In: Montellato N,Baracat F, Arap S. Uroginecologia, São Paulo, Roca, 2000. cap 6. p. 55-64.
Raz S, Little N, Jumas S. Female urology. In: Campbell's urology 6 ed. Phidalelphia, WB. Saunders Company. 1986. cap. 75. p. 2782 - 882.
Blaivas JG, Heritz DM. Classification, diagnostic, evaluation and treatment overview. In: Blaivas JG. Topies in clinical urology: evaluation and treatment of urinary incontinente. Tokio, Igaku-Shoin, 1996. p. 22-45.
Choe JM, Sirls Ur The incontinence history and physical examination In: O' Donnell PO. Incontinence urinary. St. Louis, Mosby; 1997. cap. 8. p. 54-63.
Mc Guire EJ, Kennelly MJ. Intrinsitc sphincter deficiency In: O’Donnell PD. Urinary incontinente, St Louis, Mosby, 1997. cap.28. p. 207-13.
D'Ancona CAL, Rodrigues 1), Castro NM. Avaliação da perda urinária: critérios clínicos, testes urodinamicos, diário miccional. In: Bruschini H, Kano H, Damião RI Consenso Brasileiro - Incontinência Urinária, Uroneurologia, Disfunção Miccional. São Paulo, B.G. Cultural, 1999, cap. 2. p. 13-6.
Carrerete FB, Damião R Incontinencia urinaria de esforço. Rev Bras Med. 1999; (edição especial, 56: 51-9.
Sandvick H. Validation of a severity index ia female urinar/ incontinenee and ia implemation in a epidemiological survey. J. Epidmiol. Health. 1993; 47: 497-9.
Messiek GM, Pose CE. Applying behavioral research to incontinente. Ostomy Wound Management 1997; 43(10): 40-8.
Burgio LK, Matthews AK, Engel TB. Prevalence, incidente and correlates of urinar): incontinence in healty, middle aged women . J. Urol, 1991; 146(5): 1255-9.
Rekcrs H, Drogendijk A, Valkenburg H, Riphagen E Urinary), incontinence in women from 35 to 79 years of age : prevalence and consequences. Eur. J. Obstet Gynecol. 1992; 43(3): 229-34.
Rosewzweig BA, Hischke D, Thomaz S. Stress incontinence in women psychological status before and after treatment. J. Rep. Med. 1991; 36(12): 835-38.