O Uso do Aloe Vera em Úlceras por Pressão

Authors

  • Carla Maria Fonseca Simão Carla Maria Fonseca Simão Pós- graduada em Feridas e Estomias pela FAMERP, atua como Enfermeira assistencial em setor clínico-cirúrgico no Hospital de Base de São José do Rio Preto
  • Nádia A.A. Poletti Doutoranda pela EERP – USP e docente da FAMERP.
  • Cléa Dometilde Soares Rodrigues Mestre pela EERP – USP e docente da FAMERP
  • Adriana Pelegrini dos Santos Pereira Mestranda pela EERP – USP e docente da FAMERP.

Abstract

ResumoAs Úlceras por Pressão (UP) prolongam a internação hospitalar e geram alto custo para a instituição. Foi realizada uma pesquisa sobre a utilização do gel de Aloe Vera 3% em UP, abordando fatores da cicatrização e os benefícios para o paciente. Trata-se de um estudo prospectivo, realizado em 2000/2001, em um hospital escola do interior de São Paulo, com pacientes admitidos conforme critérios de inclusão. A população foi constituída por 12 pacientes, 50% ambos os sexos; faixa etária entre 70 a 85 anos (58%); 69% com sequelas de AVE; a maioria apresentou UP estágio III. Em todas as feridas houve o amolecimento do tecido necrótico, não houve diminuição significante das variáveis da lesão. Conclui –se que, embora com pequena amostra, o gel de Aloe Vera facilitou o tratamento das UP devido ao baixo custo, representando uma alternativa a ser considerada no tratamento de feridas crônicas.Palavras Chaves: Aloe Vera. Úlcera por pressão. Cicatrização de feridas.AbstractThe use of Aloes in pressure ulcer Pressure ulcer prolong hospital stay and generate high cost. We conducted a clinical study on the use of Aloes gel 3% on pressure ulcer. This is a prospective study accomplished in 2000/2001, with patients who were admitted at the research according to inclusion criteria. The population comprised 12 patients: 50% of the female sex and 50% of the male; age range from 70 to 85 years (58%); 69% presented stroke consequences; and the majority presented pressure ulcer in stage III. All ulcers exhibited a softening of the necrotic tissue, but not a significant diminution of the injuries dimension. We concluded that, although with a small sample, the Aloe gel facilitated treatment due to its low cost, and therefore it may represent an alternative to be considered in the treatment of chronic wounds.Key words: Aloe vera. Pressure ulcer. Wound healing.ResúmenEl uso de Aloe en Úlceras por Presión Las Úlceras por presión prolongan la internación y generan grandes costos. Realizamos un estudio clínico acerca de la utilización del gel de Aloe 3% en pacientes con úlceras de presión. Es un estudio prospectivo, realizado, en un hospital escuela. La populación se constituyó de 12 pacientes, siendo 50% del sexo femenino y 50% masculino; franja etaria entre 70 y 85 anos (58%); 69% tenían secuelas de derrame; y la mayoría presentó úlcera de presión fase III. En todas las heridas hubo el ablandamiento del tejido necrótico, no hubo disminución significativa de las dimensiones . Concluimos que, aunque con una pequeña muestra, el gel de Aloe facilitó el tratamiento de las úlceras debido a su pequeño costo, representando una alternativa en el tratamiento de heridas crónicas.Palabras clave: Aloe vera. Úlceras de presión. Cicatrización de heridas.IntroduçãoAs Úlceras por Pressão (UP) afligem e desencorajam pacientes e cuidadores, constituem porta de entrada para infecção, dificultam a recuperação, aumentam o tempo necessário de cuidados de enfermagem e, conseqüentemente, os custos1, além de ser um problema permanente dos enfermos inconscientes ou que não se movimentam, acarretando um prolongamento inconveniente do tempo de hospitalização. Ocorrem devido a uma pressão contínua aplicada à pele, que excede a pressão normal de fechamento capilar, aproximadamente 32 mmHg, causando isquemia ou anóxia, levando a destruição e necrose do tecido mole subjacente2. As áreas mais susceptíveis a úlcera por pressão são as proeminências ósseas, e os principais fatores de risco são inatividade, imobilidade, desnutrição, emagrecimento, incontinência, desidratação, sedação e edema localizado3 .Neste contexto, é de fundamental importância que o enfermeiro responsável pelo cuidado das feridas realize ações preventivas e busque produtos alternativos que possam ser utilizados neste tipo de lesão. Desta forma, essa pesquisa focaliza o desenvolvimento da assistência de enfermagem durante o processo de cicatrização, ao paciente portador de UP em tratamento com gel de Aloe Vera.A ação terapêutica da Aloe Vera, também conhecida como Babosa, foi mencionada em vários documentos antigos, que descrevem sua utilização para curar feridas4. Na atualidade, pesquisas experimentais com feridas em ratos têm demonstrado que os efeitos benéficos da aplicação local da Aloe Vera, tem sido verificados nas fases inflamatória e proliferativa; na síntese e maturação do colágeno; no aumento da contração da ferida e no realinhamento da matriz do colágeno, que promove uma cicatriz linear5,6,7.Em relação a sua utilização em seres humanos, destaca-se uma pesquisa que foi realizada em queimaduras de profundidade parcial, onde em um grupo utilizou o gel de Aloe Vera e no outro, gaze com vaselina. Ao final, concluiu-se que o tempo de cicatrização com Aloe foi de 11,8 dias, e com gaze vaselinada foi de 18,1 dias8 . Já em lesões por fasceíte necrotizante, o uso deste gel foi capaz de manter o ambiente da ferida úmido e as lesões apresentaram uma diminuição em suas dimensões de dois centímetros por semana9.É possível afirmar que a utilização do Aloe Vera em feridas tem demonstrado resultados positivos e, dentro desta perspectiva, considera-se viável a realização de um estudo clínico sobre a utilização de Aloe Vera em UP.ObjetivoAvaliar a eficácia e os benefícios do tratamento de Úlceras por Pressão com gel de Aloe Vera.MétodosTrata-se de um estudo prospectivo sobre a utilização do gel de Aloe Vera a 3%, em pacientes com Úlceras por Pressão (UP). A coleta de dados foi realizada de junho de 2000 a janeiro de 2001, conforme a admissão dos sujeitos na pesquisa. O estudo foi realizado nas unidades de internação, Unidade de Terapia Intensiva e ambulatório de um hospital escola, de grande porte, do interior do estado de São Paulo.Participaram da pesquisa 12 pacientes, que foram admitidos no estudo à medida que preenchiam os critérios de inclusão. Estes foram acompanhados em média a cada 11 dias e a avaliação e o tratamento da lesão foi iniciado com o preenchimento da ficha de coleta de dados no primeiro atendimento.A pesquisa foi submetida à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da FAMERP, recebeu parecer favorável em 02 de julho de 2000 sob número 060/2000. Sendo ainda fornecido termo de consentimento pós-esclarecimento para o próprio paciente, e/ou cuidador, no caso de impossibilidade deste assinar.Acompanhamento dos pacientes e das lesõesO acompanhamento foi feito por meio da observação de sinais clínicos como as características do exsudato, a presença de tecido desvitalizado e de granulação e o exame visual de sinais locais de infecção, da mensuração e de registro fotográfico. A mensuração sistemática da ferida foi realizada a cada sessão de curativo, sempre em centímetros, considerando-se o comprimento, a largura e a profundidade da úlcera, utilizando-se régua, transparência e canetas coloridas para diferenciar as áreas com tecido de granulação e com tecido desvitalizado ou necrótico, sendo possível calcular as respectivas porcentagens na área total da ferida.Análise dos dadosFoi realizada uma análise estatística dos dados coletados, que incluem o coeficiente de correlação, o teste de hipótese e a análise de variância. A verificação da diminuição mediana das variáveis profundidades, largura e comprimento foram feitos por meio do teste do sinal.A mensuração da feridaPara o calculo da área das feridas foi utilizada a fórmula comprimento X largura (CxL), e a profundidade foi mensurada em centímetros cúbicos (cm3), por meio do preenchimento da ferida com gel amorfo e seringa estéril de 20 ml.O cuidado local da feridaQuanto à limpeza da ferida, foi realizada com solução fisiológica a 0,9%, aquecida em jato (seringa de 20ml com agulha 40X12 mm descartável). O leito da ferida não era tocado quando esta possuía apenas tecido de granulação. Secava-se a pele perilesional, usando gaze e luva estéril. Quando a ferida possuía tecido necrótico, era feita a limpeza mecânica utilizando-se gaze e luva estéril. O produto utilizado para cobertura de todas as lesões foi o gel de Aloe Vera a 3%, não tendo sido associado a nenhum outro produto. A troca dos curativos ocorria duas ou três vezes por dia, dependendo da quantidade de exsudato.Realização do curativo no domicílioQuanto à realização do curativo no domicílio do cliente, foi explicado ao cuidador o manuseio e cuidado com o material, o procedimento da limpeza, da aplicação do gel, cuidados específicos com o Aloe Vera, e a oclusão da lesão. Além destas orientações, os clientes receberam informações de como prevenir o aparecimento de novas úlceras e recidivas, orientações sobre o tipo de alimentação, sinais de possíveis complicações e, também, a importância do acompanhamento ambulatorial periódico.Resultados e DiscussãoOs sujeitos que compuseram a amostra foram caracterizados quanto ao sexo, idade, doença e estágio da úlcera. Ambos os sexos representaram a mesma freqüência. Quanto à faixa etária, predominou em 58% da população as idades entre 70 a 85 anos, 25% tinham de 55 a 69 anos e 17% estavam na faixa etária de 40 a 54 anos. Estes dados encontrados são concordantes com a literatura, que afirma que a idade constitui um fator sistêmico que pode interferir negativamente no processo de cicatrização, devido a uma série de alterações resultantes do processo de envelhecimento12.Outro fator que influencia retardando a cicatrização é a presença de doenças crônicas, tais como Diabetes Mellitus, Insuficiência Circulatória Venosa ou Arterial, Insuficiência Renal Crônica, Anemia, doenças neurológicas, que propiciam a cronicidade da ferida. Desta forma, buscamos conhecer as doenças dos pacientes, destacadas na Figura 1, onde constatamos que 69% dos clientes da amostra tiveram como doença Acidente Vascular Encefálico (AVE) e suas seqüelas. É importante ressaltar que foram encontradas como condições que podem interferir na cicatrização da lesão, casos de diarréia, senilidade, demência, desnutrição, desidratação, infecção do trato urinário e imobilidade (92% da população era acamada) o que agrava ainda mais o processo cicatricial e favorece o aparecimento de novas úlceras por pressão3.

 

 É importante conhecer a classificação das UP para verificar o grau de comprometimento tecidual, e constatou-se que a maioria da população, correspondendo a 58%, era portadora de Úlceras por Pressão no estágio 3.Análise da evolução das UP após tratamentoOs clientes foram distribuídos em três grupos, de acordo com o período de tratamento. O grupo 1 correspondeu a seis pacientes, submetidos ao tratamento durante um período médio de 9 dias, do grupo 2 participaram cinco pacientes, num período médio de 27 dias e no grupo 3, participou um paciente num período médio de 46 dias.A Tabela 1 apresenta a evolução do processo de cicatrização das Úlceras por Pressão na região sacral durante o tratamento com gel de Aloe Vera 3%, dos pacientes do grupo 1.Inserir Tabela 1O tempo de tratamento variou de 3 a 13 dias, tendo um período médio de 9 dias. Neste grupo de clientes, o tempo de tratamento foi pequeno devido a óbitos e abandono.Verificou-se ainda que, 83% não tiveram alteração nas medidas da lesão, e que em apenas 17% dos casos houve um aumento de 26% da área da lesão, um aumento de 0,2 cm de profundidade e uma diminuição de 28% da área de tecido necrótico. Esses dados apontam para um possível aumento da área das lesões que, possivelmente ocorreu devido à diminuição de tecido necrótico. Por meio de observação não sistematizada, constatou-se que, em 83% das úlceras, houve o amolecimento do tecido necrótico durante o uso do gel de Aloe Vera 3%, o que facilitou o desbridamento mecânico. A presença de necrose na ferida retarda a cicatrização, além de propiciar o aparecimento e manutenção de infecção local, e a sua presença pode interferir na classificação correta do comprometimento tecidual e na mensuração da profundidade15, sendo assim, pode-se dizer que há uma correlação negativa entre a ferida e o tecido necrótico, e que, provavelmente, quanto maior a quantidade de necrose, maior será a profundidade e extensão da ferida à medida que este tecido é retirado.

Foi verificado ainda que em 67% dos casos houve uma diminuição da quantidade de exsudato e em 40%, do odor da ferida.As tabelas 2, 3 e 4 mostram a evolução do processo de cicatrização das Úlceras por Pressão durante o tratamento com gel de Aloe Vera 3% do grupo 2.

O tempo de tratamento deste grupo de clientes variou de 21 a 34 dias, tendo um período médio de 27 dias de tratamento com o gel de Aloe Vera 3%. Na Tabela 2, observa-se que, em 60% dos casos, ocorreu uma diminuição média de 13% da área de lesão, no entanto, houve um aumento de 84,5% em 40% dos clientes. Na Tabela 3, verificou-se que, em 80% desta amostra, houve um aumento médio de 0,7cm de profundidade, podendo ser relacionado à diminuição média de 59% da área de tecido necrótico, conforme podemos verificar na Tabela 4. Foi observado também que, 80% dos clientes apresentaram redução da quantidade de exsudato e 75% tiveram diminuição do odor da ferida. Detectou-se ainda que os 3 casos (60%) que possuíam tecido necrótico, sofreram o amolecimento deste, facilitando o desbridamento mecânico do mesmo.O grupo 3 foi constituído de apenas um cliente que deambulava normalmente e que fez o tratamento ambulatorial e, portanto, usou o gel de Aloe Vera 3% por 46 dias. Neste caso, observou-se que houve uma diminuição da área da lesão, correspondendo a 75%, e uma redução de 0,7 cm de profundidade. Também foi constatada a diminuição da quantidade de exsudato e do odor da ferida. É importante ressaltar que nenhum dos 12 casos apresentou infecção durante o tratamento.Além desses dados, buscou-se por meio de análise estatística descobrir as relações entre os fatores extensão (relação entre comprimento e largura), profundidade, e variáveis como o sexo, idade e estágio da ferida.Desta forma, apresenta-se a análise de variância quanto aos fatores extensão e profundidade relacionada ao sexo, a idade e ao estágio da ferida.Quanto ao fator extensão, detectou-se que ele não está relacionado ao sexo (P=0,260), ao estágio da ferida (P=0,534), porém, apresentou uma correlação positiva com relação à idade, indicando que conforme a idade aumenta (em anos) a extensão da ferida também, ou seja, pessoas mais idosas teriam tendência a terem feridas mais extensas.Quanto ao fator profundidade, foi verificado que está relacionado ao sexo (P=0,036), sendo maior no sexo feminino (em média), e ao estágio da ferida (P= 0,000), ou seja, quanto maior o estágio da ferida, mais profunda estará, concordando com a literatura que afirma que, quanto maior o estágio da lesão, há maior comprometimento das camadas teciduais e, portanto, maior profundidade15. Foi observado também que este fator não possui correlação significativa com a idade.ConclusãoA análise dos dados neste estudo permitiu verificar algumas evidências importantes em relação ao uso do gel de Aloe Vera a 3% em pacientes com Úlcera por Pressão. Foi detectado que não ocorreu diminuição significante do comprimento, da largura e da profundidade no decorrer do tratamento (p > 0,05). Entretanto, em todas as feridas onde havia tecido necrótico, observou-se que ocorreu um amolecimento por hidratação, possibilitando sua excisão rapidamente. Este evento é importante no cuidado a feridas crônicas, já que a presença de tecido necrótico retarda o processo cicatricial e propicia a infecção16.É possível afirmar, ainda, que uma das limitações deste estudo está relacionada ao tamanho da amostra, devido à dificuldade de entrada dos sujeitos, haja vista que os critérios de inclusão estabelecidos buscaram variáveis semelhantes entre os clientes, entretanto, esta pesquisa é relevante para a prática de cuidados a pessoas com feridas, porque buscou uma nova alternativa para a terapia tópica de Úlceras por Pressão.FIGURAS E TABELAS

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Published

2016-03-23

How to Cite

1.
Simão CMF, Poletti NA, Rodrigues CDS, Pereira AP dos S. O Uso do Aloe Vera em Úlceras por Pressão. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Dec. 22];3(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/14

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