Atualização
Abstract
Biomembrana de Látex para Tratamento de ulceras Cutâneas
IntroduçãoA cicatrização das úlceras cutâneas constitui- se numa sequência de eventos biológicos complexos, que envolvem processos celulares e moleculares como: migração, inflamação, angiogênese, síntese e deposição de colágeno e reepitelização1. Inúmeros são os tipos de curativos usados atualmente para tratamento de úlceras, com diferentes indicações, vantagens e desvantagens e, cuja escolha deve ser baseada essencialmente em dois fatores, eficácia e custo, para que o paciente possa mantê-lo e assim conseguir um resultado satisfatório, uma vez que as lesões têm evolução longa e a cicatrização é, na maioria dos casos, muito demorada.A biomembrana de látex é uma opção de tratamento para feridas cutâneas, sendo essa, o resultado de trabalhos iniciados em 1994 pelos Profs. Dr” Fátima Mrué e Dr. Joaquim Coutinho Netto. Inicialmente utilizada com modelos experimentais de substituição esofágica, este polímero do látex natural (poliisopreno), extraído da seringueira Hevea braziliensis, mostrou-se um importante indutor de cicatrização de paredes esofágicas lesadas de cães, utilizados em pesquisas experimentais, além de estimular significantemente o aumento do número de vasos (neoangiogênese), promover a reepitelização (epitélio pseudoestratificado) com neoformação glandular submucosa e das fibras musculares neoformadas2. Posteriormente, sua biocompatibilidade foi avaliada através de implantes in vivo em cães3.Todos estes itens considerados, aliando-se ã complexidade do processo cicatricial e às dificuldades de tratamento das úlceras de membro inferior, Frade e colaboradores, 19994, iniciaram os estudos sobre a aplicação do material, sob a forma de membranas, como curativos em placas sobre úlceras cutâneas humanas e publicaram os resultados deste primeiro trabalho, intitulado “Chronic phlebopathic cutaneous: a therapeutic prostosal”, desenvolvido no Ambulatório de úlceras de perna do Serviço de Dermatologia do HU-UFJF (MG). Neste trabalho, os autores relatam a evolução de um caso clínico de úlcera venosa crônica com o uso da membrana como curativo e constatam, clínica e histopatologicamente, o estímulo à granulação, evidente a partir do 15° dia de tratamento com a biomembrana® natural de latex, quando se percebeu redução acentuada dos sintomas, inclusive o desaparecimento da dor, além de rápida cicatrização da ferida4.A biomembrana® de látex (BML) é composta de camadas de poliisoprenos, envoltas por fosfolípides nas suas duas faces, estrutura essa no seio da qual aninham-se proteínas do látex, que são gradualmente desprendidas no território lesionado, com o qual entram em contato e parecem interferir nas fases da cicatrização, o que se demonstra pela redução da expressão da iNOS (desbridamento), pelo aumento do fator VEGF (neoangiogênese) e pela condução na organização do tecido cicatricíal, tendo em vista o perfil dinâmico da iNOS e a expressão do fator TGFb15.Relatos têm sido feitos sobre sua aplicabilidade, principalmente no tratamento de úlceras crônicas de membros inferiores” e, mais recentemente, no manejo de úlceras de pacientes diabéticos4 devido as suas propriedades desbridante e neoangiogênica, importantes na promoção da cicatrização4,5,6.Estudos recentes mostram que o látex apresenta, em sua constituição bioquímica, uma fração que é angiogênica e indutora do aumento da permeabilidade vascular. Mendonça, 20037, mostra que o látex apresenta componente(s) ativo(s) que possui(em) a identificação química de proteína, sugerida pela redução de sua atividade após processos desnaturantes e tratamentos enzimaticos7, achados estes que estimulam aplicações futuras da biomembrana, principalmente na reconstituição de outros tecidos, como nas miringoplastias e peritoniostomias8.Enfim, os resultados elucidam que a biomembrana de latex natural, apesar do real mecanismo de ação ainda desconhecido, pode ajudar nas diferentes fases do processo de cicatrização das úlceras, como na remoção de tecido necrótico (desbridamento), na proliferação tecidual (angiogênese e reepitelização) e também no equilíbrio da fase de remodelação tecidual, favorecendo a formação de cicatrizes estéticas e sem retração.A biomembrana de látex natural apresenta- se como uma nova opção terapêutica para as úlceras cutâneas, crônicas ou agudas, mostrando- se como um curativo eficaz, de fácil manipulação, sem risco de transmissão de doenças infecto- contagiosas, além de mostrar uma boa interação com todas as fases do processo de cicatrização das úlceras.Downloads
References
Clark, R.A.F. In: The molecular and Cellular biology of wound repair. Second edition, New York, Cap. 6:195-240 e Cap. 8:291-99, 1996.
Mrué F. Substituição do Esôfago Cervical por prótese Biosintética de Látex-Estudo Experimental em Cães. Tese de Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP- São Paulo Brasil
Lachat, JJ; Mrué, F; Thomazini, JÁ et al. Morfological and biochemical studies of the biocompatibility ob a membrane manufactured from the natural latex Hevea brasiliensis.Acta Microscopica, Vol. 6, Supl. B, September, 1997.
Frade, MAC; Valverde, RV; Violante, MR; Coutinho-Netto,j; Foss,NT. Chronic phlebopatic skin ulcer: a therapeutic proposal. Int j Dermatol, vol. 40(03): 238-40, 2001.
Frade, MAC. Úlcera de perna: caracterização clínica e perfil imunohistopatológico da cicatrização na presença da biomembrana de látex natural da seringueira Hevea brasiliensis. Tese de doutorado - FMRP-USP, 2003.
Frade, MAC, Cursi lB, Andrade FF, Barbetta FM, Coutinho-Netto Foss NT. Management of diabetic skin wounds With natural latex biomembrane. Med Cutan Rev Iber Lat Am, Espanha, v. 32, n. 4, p. 157-162,2004.
Mendonça, Rj.Caracterização biológica de uma fração angiogênica do látex natural da seringueira Hcrea 11/'zzrí/ie/z.rí:. Dissertação de Mestrado - FNIRP-USP,2004.
Mrué, F.; Ceneviva, R.; Lachat, J.;J., Soares, M.E.; Coutinho-Netto, J. Um novo método de reconstrução de defeitos extensos da parede abdominal e peritoniostomias. Congresso Mundial de Gastrocirurgia, Goiânia, 2001.