Relato de experiência

Authors

  • Rayssa Fagundes Batista Paranhos

Abstract

IntroduçãoA busca constante na melhoria da qualidade dos serviços de saúde vem modificando os paradigmas dos gestores. Além dos custos financeiros, leva-se em consideração a satisfação da clientela e a qualidade dos serviços, com aquisição de um profissional especializado para desenvolver atribuições específicas. Essas prerrogativas são fundamentais para o sucesso de uma assistência de qualidade.A estomaterapia ainda é pouco conhecida no Brasil. Trata-se de uma especialidade do enfermeiro, com atuação nas áreas de feridas agudas e crônicas, fístulas, estomias e incontinência anal e urinária1. A função desse profissional não se limita apenas à assistência, mas também ao treinamento, orientação aos pacientes, familiares e demais profissionais da área de saúde.A iniciativa de implantar um serviço de estomaterapia justificou-se pela necessidade de sistematizar assistência, desenvolver um protocolo de atuação para a prevenção e tratamento de feridas, evitar o uso indiscriminado de produtos, onde houvesse a indicação correta e o tempo de troca, assim como, padronizar os cuidados de enfermagem em todo o hospital.Este estudo retrata a experiência da implantação do serviço de estomaterapia. Tem como objetivo trazer informações de como se implantar e gerenciar esse tipo de serviço, seguindo estratégias pré-estabelecidas para a implantação. O interesse em publicar este relato de experiência deuse pela escassez de trabalhos na literatura brasileira Relato de Experiência que abordem a questão da implantação e gerenciamento do serviço de estomaterapia, apesar de saber da existência deste serviço em várias instituições.A proposta de implantação do serviço de estomaterapia na área de feridas norteia o profissional, servindo como um manual para quem deseja implantações futuras.DesenvolvimentoFoi utilizada a técnica de observação estruturada, por meio da observação contínua das atividades de aprendizado e da conduta dos profissionais, o que possibilitou o acompanhamento do processo de implantação do serviço.A implantação segue um cronograma sedimentado em quatro fases e subdividido em etapas:Fase de PlanejamentoO planejamento inicia-se à medida que se determinam as estratégias, políticas de ação e planos para se conseguir alcançar os objetivos.Etapas:• Fazer projeto para aprovação na superintendênciaConsta a definição do serviço, objetivos a curto e longo prazo, estabelecimento de prioridades, público alvo, atividades a serem desenvolvidas e benefícios para os pacientes, profissionais e instituição. A aprovação do projeto deverá ser feita formalmente para uma implantação legitimada.• Fazer relatório situacionalLevantamento das características do hospital: planta física, qualidade e características dos produtos e equipamentos e dimensionamento de recursos humanos.A importância desse levantamento está em conhecer o hospital e detectar problemas administrativos e assistenciais que podem interferir na implantação e mostrar soluções para resolver ou delega-lo.• Levantar o perfil dos pacientes com lesões de pele e em risco para desenvolvê-lasRealizar exame físico de todos os pacientes para detectar quem está em risco para desenvolver lesões e avaliar as características das feridas daqueles que já possuem. O serviço será montado de acordo com as características destes pacientes e lesões, direcionando a assistência para as prioridades.• Levantar o perfil do setor com maior complexidade de lesões e pacientes em riscoO setor indicado terá atenção especial na fase de implantação.• Montar comissão interdisciplinar para prevenção e tratamento de lesões de pele.A comissão terá função deliberativa e atuará diretamente nas unidades, realizando procedimentos e orientando a equipe de enfermagem.• Determinar a função de cada componente na comissão por meio de organograma, normas e rotinas com descrição de cargos e atribuiçõesNa composição da comissão é importante a presença de enfermeiros, além do estomaterapeuta, médicos especialistas em cirurgia plástica, dermatologia e angiologia. Auxiliares de enfermagem, nutricionistas, fisioterapeutas e terapeuta ocupacional. O objetivo do grupo é acompanhar de forma holística o paciente em risco ou com lesões de pele já instalada.A estomaterapeuta é a pessoa de referência do grupo e do hospital, coordena e gerencia o serviço, além de assistir, orientar e treinar pacientes, familiares e profissionais.Em todas as reuniões do grupo, os componentes discutirão os casos de cada setor, monitorando e reforçando o aprendizado.• Fazer protocolo para servir de referência para todo o hospital, padronizando técnicas e condutasO protocolo é um impresso contendo um resumo sobre anatomia da pele, processo de cicatrização, definição de feridas, úlceras por pressão e paciente em risco, baseando-se na escala de Braden. A classificação, prevenção, tratamento, características das coberturas e as técnicas para a realização dos curativos também estão inseridos. Todos os setores têm o protocolo, seguindo a mesma conduta.• Desenvolver uma ficha de avaliação e evolução para pacientes em risco ou com lesões A ficha contém as características do paciente, lesões, pele peri-lesão e conduta indicada, servindo de referência para outro avaliador, dando continuidade à assistência.A ficha de avaliação será empregada inicialmente em uma unidade piloto, em todos os pacientes que preencherem os pré-requisitos, passando a ser acompanhado pelo grupo de pele.O enfermeiro de cada setor, ou o médico assistente, é quem vai fazer este levantamento e solicitar a avaliação do grupo.• Elaborar impresso constando os produtos padronizados no hospitalO conhecimento de todos os produtos existentes no hospital norteia o profissional na hora da escolha, baseando-se na avaliação do paciente e no que o hospital dispõe.Fase de ImplantaçãoÉ a operacionalização e execução do projeto. As atribuições devem ser reforçadas, a supervisão é indispensável, tanto nas ações administrativas como na assistencial2.Etapas:• Resolver problemas levantados no relatório situacional para não prejudicar a implantação do serviçoCaso o relatório situacional tenha detectado problemas relacionados direta ou indiretamente com a implantação do serviço de estomaterapia, tem de tentar resolver imediatamente para não prejudicar esta fase de implantação.• Capacitar os componentes do grupoOs componentes do grupo terão treinamento teórico-prático e acompanhamento com a estomaterapeuta para que todos desenvolvam um trabalho de qualidade, “falando a mesma linguagem”. O profissional que tiver conhecimento apurado sobre feridas, contribuirá para o treinamento.• Capacitar os funcionáriosTodos os funcionários de enfermagem terão treinamento teórico-prático sobre prevenção, tratamento e tipos de coberturas, para poder realizar os curativos corretamente e incentiva-los a estudar mais sobre o assunto.• Realizar campanha de conscientização para prevenção de lesões de peleO grupo de pele deve iniciar as atividades abordando a prevenção. Isto é possível com aulas e orientações nas próprias unidades de trabalho.• Implantar o protocolo, ficha de avaliação e evoluçãoApós aprovação do plano piloto pelo grupo de pele serão colocados em prática em todas as unidades, contribuindo para a sistematização da assistência. Cada instituição deve desenvolver seu próprio protocolo, baseando-se nas características clínicas dos pacientes e do hospital.• A avaliação diária do paciente será feita pelo enfermeiro de cada setor e por um componente do grupo escalado para o atendimento.Após o treinamento teórico-prático, os enfermeiros e auxiliares terão capacidade de realizar os curativos, mas sempre contarão com a supervisão do estomaterapeuta e de um componente do grupo que será escalado de acordo com a sua escala de trabalho.• Agendar as consultas e interconsultas dos pacientes de acordo com a gravidade e condições clínicasApós a primeira consulta realizada pelo estomaterapeuta ou por algum componente do grupo, será remarcada a próxima reavaliação, de acordo com a necessidade do paciente. Mas a equipe de enfermagem do setor continuará seguindo as orientações do profissional do grupo de pele.• Escalar os componentes do grupo para avaliação no final de semana, conciliando com a escala do plantãoO estomaterapeuta e os outros componentes do grupo acompanharão todos os pacientes, seja pela avaliação direta (pacientes mais críticos) ou através da discussão de caso com os componentes do grupo. Nos dias em que o estomaterapeuta não estiver no hospital, sempre estará escalado um componente do grupo para acompanhar os pacientes, conforme sua escala de trabalho.• Enfatizar o atendimento aos setores mais complexosConforme relatório situacional, realizado na fase de planejamento, deve-se dar importância a estes setores, para tentar resolver a causa do problema e não simplesmente resolver as conseqüências.• Padronizar produtos no hospital, quando necessárioA comissão terá esta função, baseando-se nas necessidades dos pacientes e condições financeiras do hospital.Fase de AvaliaçãoDeve-se ter propostas para os ajustes e reformulações dos aspectos que demandem mudanças2.Etapas:• Aceitar sugestõesA forma de trabalho e atividade desenvolvida pelo grupo será opinada por todos os componentes.Os profissionais, que estão colocando o projeto em prática, devem avaliar constantemente o protocolo e a ficha de avaliação e informar se está de acordo com a realidade prática.• ReformularAdaptar as questões que na prática não podem se adequar à realidade.Fase de ManutençãoÉ colocar na prática diária o projeto com suas modificações e manter a contínua avaliação dos resultados.Etapas:• Avaliação dos pacientes pelos profissionais e componentes do grupoEsta prática deve ser contínua e sistemática para se solidificar como parte integrante da assistência de enfermagem no hospital.• Uso diário do protocolo e ficha de avaliaçãoA constante utilização destes impressos contribuirá para a familiarização dos mesmos e aceitação por parte dos profissionais de enfermagem.• Estatística dos pacientesNo impresso de anotações dos dados estatísticos constará o número de pacientes com lesões de pele, atendidos antes e depois da implantação do serviço. Desta forma, se observará o incremento ou não na melhoria do atendimento dos pacientes e a diminuição das lesões de pele no hospital.• Realizar reuniões científicas, estudos de caso e trabalhos científicos para publicação.O objetivo da comissão não é só o atendimento de qualidade aos pacientes e diminuição de custos para a instituição, mas contribuir com o desenvolvimento científico da enfermagem.ConsideraçõesO protocolo visa sistematizar a assistência prestada à clientela, estabelecendo a forma de avaliar e tratar, bem como os critérios para a definição de condutas e de encaminhamento e solicitação de interconsultas com outros profissionais3.A sistematização da assistência de enfermagem não é apenas possível, mas fundamental para a melhoria da qualidade de vida do paciente4. O serviço de enfermagem será bem estruturado quando houver sistematização das atividades, seja no âmbito administrativo ou assistencial, por isso a importância de se desenvolver manuais e protocolos para fundamentar essas ações.O perfil do profissional na gestão do serviço de estomaterapia baseia-se em conhecimentos científicos, habilidades e atitudes adequadas5.O processo da implantação à manutenção do serviço de estomaterapia é complexo, requer o envolvimento de toda equipe multiprofissional e diretoria mas, principalmente, o interesse da estomaterapeuta e da equipe de enfermagem para colocar em prática o projeto e manter acesa a chama do cuidado diferenciado e humanizado.

Downloads

Download data is not yet available.

References

World Concil of Enterostomal Therapists-WCET. An association of nurses. Members handbook. Australia: Ink Press International; 2001.

Kurcgant P et al. Administração em Enfermagem. Editora Pedagógica e Universitária LTDA. São Paulo, 1991.

Borges EL. Tratamento de Feridas: Avaliação de um Protocolo. [Dissertação]. Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais; 2000.

Vieira VB, Patine FS, Paschol VDA, Bradão VZ. Sistematização da Assistência de Enfermagem em um Ambulatório de Hanseníase: Estudo de Caso. Arq Ciência Saúde. 2004; 11(2): 80-7.

Cunha AMCA. Gestão em Enfermagem: novos rumos. Mundo Saúde. 2002;26(2):309-14.

Published

2006-06-01

How to Cite

1.
Paranhos RFB. Relato de experiência. ESTIMA [Internet]. 2006 Jun. 1 [cited 2024 Nov. 17];4(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/185

Issue

Section

Article

Most read articles by the same author(s)