Reflexão 2

Authors

  • Eliza Maria Rezende Dázio Profa. Assistente do Departamento de Enfermagem da UNIFAL-MG. Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP.
  • Márcia Maria Fontão Zago Profa. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da EERP-USP.
  • Rosani Manfrin Muniz Profa. Assistente do Departamento de Enfermagem da UFPEL. Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP.
  • Clícia Valim Cortes Gradim Profa. Adjunto do Departamento de Enfermagem da UNIFAL-MG
  • Lana Ermelinda da Silva dos Santos Profa. Adjunto do Departamento de Enfermagem da UNIFAL-MG

Abstract

Cuidado à pessoas com Estomias: Gerência X Assistência

Esta reflexão, fruto de nossas interpretações e vivências a respeito do cuidado humano, objetiva problematizar o cuidado de enfermagem às pessoas portadoras de estomias. Inicialmente, contextualizamos as transformações que ocorreram no mundo atual e sua influência na saúde e educação. A seguir, gerência e cuidado aos portadores de estomias são temas para debate.Atualmente presenciamos uma época de transição e de grandes mudanças de âmbito tecnológico, humano e comportamental em todas as organizações existentes. As transformações no mundo atual influenciam o campo da saúde e educação.Verderese1 ressalta que a estrutura econômica constitui um fator determinante do tipo de prática e de educação que se estabelece em uma determinada sociedade. O reconhecimento desses aspectos facilita a compreensão de ações no campo da saúde e da enfermagem para análises, reflexões de situações e implementação de ações futuras.No momento atual, os serviços de saúde passam por profundas transformações, operando com problemas complexos e pouco estruturados, os quais envolvem políticas públicas, estruturas e decisões administrativas, culturas organizacionais, subjetividades relacionadas às relações interpessoais e profissionais².Como profissão da saúde, a enfermagem, não fica de fora. Passa por grandes avanços científicos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, acaba perdendo pelo caminho a essência da profissão, que é o cuidado humano. “O cuidado humano consiste no respeito à dignidade humana, na sensibilidade para com o sofrimento e na ajuda para superá-lo, para enfrentá-lo e para aceitar o inevitável. Esse processo envolve crescimento e aprimoramento”³.Existe a erosão do cuidado relacionado aos grandes avanços, que acabam levando à impessoalidade, formalismo, frieza e desvalorização do ser humano³.Por outro lado, as instituições de saúde exigem que o enfermeiro assuma cada vez mais a gerência. A maior parte do tempo gasto por alguns enfermeiros está relacionado ao desempenho de atividades administrativas, burocráticas, o que diminui a dedicação às atividades de assistência direta ao paciente.O cuidado humano está sendo delegado a outras categorias da enfermagem4.Em relação as pessoas com estomias, infelizmente, na maioria das instituições de saúde do país não existe, sequer, um estomaterapeuta.O impacto do diagnóstico, o tratamento e a presença de uma estomia produzem uma ruptura biográfica no ser humano, e ele precisa do atendimento de uma equipe multidisciplinar, em especial do enfermeiro. A ruptura biográfica é um evento inesperado que permite construção de novos significados, situados no contexto temporal da vida em curso5. Os novos significados construídos pela ruptura biográfica são influenciados pela cultura e, assim, a pessoa com uma estomia se sente “um ser diferente”. Geertz6 “acredita que o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu”.À medida que a pessoa doente ou enferma se afasta de determinados padrões biológicos, físicos e psicológicos é considerada como um desvio às normas socioculturais. Também considera-se um desvio a incapacidade de cumprir livremente suas responsabilidades tanto na vida privada quanto pública 7.O cuidado à esta clientela é permeado pelos seguintes princípios: processualidade; respeito à singularidade inerente a cada ser; adequação a um conjunto de fases em desencadeamento; enfoque biopsicossocial; competência do profissional; prática educativa e complementaridade8.Em muitas instituições de saúde, a prática do enfermeiro está pouco preocupada com o cuidado humano, objeto fundamental da enfermagem.As escolas de enfermagem têm grande responsabilidade na formação de alunos críticos e reflexivos, com novos processos de trabalho, vencendo o conformismo e a submissão. Faz-se necessário direcionar o ensino para o desenvolvimento de competências e habilidades voltadas para a integralidade do cuidado, com rigor científico, ética, estética e sensibilidade humana.Algumas instituições de saúde necessitam adotar uma filosofia de trabalho com uma política de desenvolvimento organizacional que promova o potencial humano, e não apenas lucros. Consideramos pertinente a diminuição da burocracia e a compra de dispositivos para serem usados nas pessoas com estomias, pois em muitas situações a fragmentação do cuidado é iniciada com a falta de dispositivos.Torna-se imprescindível o desenvolvimento de políticas públicas que favoreçam o reconhecimento dos direitos da pessoa portadora de estomia e a formação de estomaterapeutas em diversas partes do país, bem como da obrigatoriedade destes profissionais serem contratados pelas instituições que atendam a esta clientela.“No processo de educar para o cuidado humano, é necessária a conscientização como um valor e imperativo moral, sensibilização e conseqüente exercício. O cuidado humano é um processo de empoderamento, de crescimento e de realização de nossa humanidade”3.Finalizando, faz-se necessário que nós, profissionais de saúde, saibamos que o intestino doente tem um dono que poderá não estar feliz por algum motivo. E que, tratar as pessoas com ética, conhecimento científico e empatia, não pressupõe ter pena de alguém, mas sim ter respeito, compaixão, carinho e gentileza com o ser humano que está sendo cuidado9.


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References

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Published

2006-09-01

How to Cite

1.
Dázio EMR, Zago MMF, Muniz RM, Gradim CVC, Santos LE da S dos. Reflexão 2. ESTIMA [Internet]. 2006 Sep. 1 [cited 2024 Dec. 22];4(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/192

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