Relato de experiência
Abstract
Uso do Pressure Ulcer Scale For Healing (PUSH) no Acompanhamento da Cicatrização de Úlcera por Pressão
IntroduçãoRealizando o atendimento domiciliar a um paciente com diagnóstico de Mal de Parkinson portador de uma Úlcera por Pressão Sacral (UP Sacral), sentiu-se a necessidade de um instrumento que propiciasse o acompanhamento do processo cicatricial da lesão de pele já instalada como forma de facilitar o processo de avaliação dos cuidados dispensados.As UP podem ser definidas como a morte celular em uma área, localizada(suprimir) resultante da compressão de um tecido mole por uma proeminência óssea e uma superfície dura, por um período de tempo prolongado.1, 2, 3Internacionalmente, a prevalência das UP mantém-se diretamente relacionada à clientela e à instituição abordada e pode variar de 3% a 25%, por exemplo(suprimir).2 Em recentes estudos nacionais tem-se detectado uma prevalência superior a 30% entre diferentes clientelas, sendo a região sacral a localização mais freqüente.4, 5, 6, 7Para a prática clínica dos diferentes profissionais de saúde envolvidos na assistência a pacientes portadores ou em risco de desenvolvê-las, tais dados representam um alerta para que cuidados mais intensifivos sejam implementados com o objetivo de prevenir e cuidar adequadamente dessas lesões.Dentre as escalas de avaliação da evolução de UP disponíveis na literatura nacional, o instrumento Pressure Ulcer Scale for Healing (PUSH) configura-se como de grande importância já que possibilita o acompanhamento durante o processo cicatricial das UP, estando esse validado em nosso meio.8 Desse modo, o presente estudo objetivou descrever a evolução do processo cicatricial de uma úlcera por pressão utilizando-se o Pressure Ulcer Scale for Healing (PUSH).MétodosTrata-se de estudo de caso realizado nos meses de agosto e outubro de 2006 em um domicílio no município de Crato-CE9.Os dados foram coletados utilizando-se registros escritos e fotografias digitais. Para a classificação da ferida observamos as orientações do National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), ou seja, o estadiamento foi realizado somente quando ocorreu a retirada dos tecidos desvitalizados.Para o acompanhamento do processo cicatricial adotou-se a escala PUSH. Essa escala fundamenta a avaliação da ferida em três parâmetros: área (comprimento e largura), quantidade do exsudato (ausente, pequena, moderada e grande) e aparência do leito (tecido necrótico, esfacelo, tecido de granulação, tecido epitelial e ferida fechada ou recoberta). Esses parâmetros são avaliados, somam-se os escores parciais e chega-se ao escore total que pode variar de 0 (ferida ausente após a cicatrização) a 17 (ferida de grande dimensão)8.A mensuração da ferida foi realizada medindo-se o maior comprimento e a maior largura e, em seguida, multiplicando-se essas duas medidas para obter-se a área total da ferida.10Relato do caso07/08/2006 - J.G, sexo masculino, 51anos, diagnóstico médico de Síndrome Parkinsoniana, Artrite Reumatóide e Osteoporose, em uso de levodopa, cardiopa, cloridrato de biperideno, cloridrato de amitriptilina, clonazepam e flurazepam, portador de Úlcera por Pressão em região Sacral, próxima ao ânus, com área total de 15 cm2; pequena quantidade de exsudato e com o leito apresentando tecido de granulação de coloração avermelhada e aparência brilhante, com pequena quantidade de esfacelos nas proximidades das bordas. Apresentou na primeira avaliação escore 15 na Escala de Braden, ou seja, risco leve para o desenvolvimento de (novas) úlceras por pressão. Na escala PUSH obteve-se um escore total de 12. Além disso, apresentava hiperemia da pele peri-úlcera. Proposta de tratamentoComo tratamento tópico, optou-se por realizar a limpeza da ferida com soro fisiológico a 0,9% morno. Para a limpeza da pele ao redor da ferida utilizou-se também lenço barreira protetora e para a ferida escolheu-se cobertura de hidrogel com alginato (08/08/06), com troca a cada três dias objetivando realizar desbridamento autolítico do tecido necrótico de forma lenta e gradual (Figura 1). 11, 12Além disso, foram orientados os cuidados quanto à mudança de decúbito, manutenção da alimentação e higiene corporal.2, 10, 11. Figura 1. Aparência da UP Sacral no primeiro dia de atendimento domiciliar (07/08/2006).Resultados e DiscussãoNa terceira semana de cuidados domiciliares, observou-se leve aumento da dimensão devido o desbridamento realizado anteriormente, ausência de tecido de liquefação e diminuição da hiperemia da pele peri-úlcera e ausência de exsudato, com escore total de 10.Optou-se pela continuidade da terapia tópica com hidrogel com alginato associando hidrocolóide transparente como secundário. Para limpeza da pele, adotou-se solução à base de álcool e emolientes que atuam na proteção da pele que tem contato com secreções humanas como urina e fezes.11. A figura 2 apresenta a aparência da UP Sacral na terceira semana de tratamento (27/08/2006).
Figura 1. Aparência da UP Sacral no primeiro dia de atendimento domiciliar (07/08/2006)
Figura 2. Aparência da UP Sacral na terceira semana de tratamento (27/08/2006).
Na nona semana de acompanhamento domiciliar observou-se melhora clínica evidente da ferida uma vez que se identificou a presença de tecido de granulação viável e ausência de tecido necrótico, sendo o escore total de seis. Adotou-se como terapia tópica o hidrocolóide transparente e continuados os cuidados quanto à mudança de decúbito, manutenção da alimentação e higiene corporal a fim de evitar a involução do processo cicatricial2, 10, 11, 12. Como a ferida estava em fase final de cicatrização e apresentou boa resposta à terapia tópica implementada, resolveu-se encerrar o estudo, pois considerou-se que esse seria um recorte temporal satisfatório e condizente com a literatura12 . Figura 3. Aparência da UP Sacral na nona semana de tratamento (12/10/2006).
Figura 3. Aparência da UP Sacral na nona semana de tratamento (12/10/2006)
ConclusãoApós o acompanhamento do processo cicatricial de uma UP Sacral durante dois meses utilizando-se o PUSH, pode-se concluir que o referido instrumento facilita sobremaneira a atuação de enfermagem uma vez que tem por base a avaliação de parâmetros importantes durante o cuidado dinâmico de cuidar de feridas.Consideração FinalEmbora tenha sido somente um caso, constatou-se que a utilização da Escala PUSH atua orientando o raciocínio clínico do enfermeiro, além da detalhada anotação do processo cicatricial, favorecendo uma assistência de qualidade e cientificamente eficaz. Considera-se de grande valia sua utilização e indica-se o seu uso em diferentes cenários e clientelas, assim como a realização de outros estudos.Downloads
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