Revisão 2
Abstract
Cuidados Específicos com a TraqueostomiaSpecific Care for TracheostomyResumoA traqueostomia é um procedimento cirúrgico que necessita de cuidados específicos de enfermagem. Este estudo tem o objetivo de fornecer subsídios teóricos a estes profissionais auxiliando-os na identificação das principais complicações decorrentes da técnica cirúrgica e nos cuidados essenciais aos pacientes traqueostomizados.Palavras-chave: laringectomia, cuidados pós-operatório.AbstractTracheostomy is a surgical procedure that requires specific postoperative nursing care. This study aims to provide relevant reference information for health-care professionals to help them identify major complications resulting from this surgical technique and provide better care for tracheostomy patients.Key words: Laryngectomy, Postoperative careIntroduçãoA traqueostomia é o procedimento cirúrgico que consiste na abertura da traquéia para o meio externo, com a finalidade de contornar um obstáculo mecânico das vias aéreas superiores, possibilitando a ventilação pulmonar através desta via.Os relatos históricos sobre as primeiras traqueostomias datam do ano 100 aC, por Asclepiades, na Grécia. Entretanto, a aceitação universal só veio com os trabalhos de Chevalier Jackson, no início do século XX, que descreveram a técnica, suas indicações e complicações1.Traqueotomia e TraqueostomiaEsses termos implicam procedimentos diferentes. A traqueotomia é a incisão feita na traquéia pelo pescoço, ou seja, é o mero procedimento de abertura na traquéia para introdução da cânula. A traqueostomia é um procedimento mais amplo que, além da abertura artificial da traquéia, envolve manobras para a construção do estoma, com suturas nas bordas da pele do pescoço2.Anatomia da traquéiaA traquéia é um órgão tubular do aparelho respiratório que se inicia na cartilagem cricóide e estende-se até a Carina. Mede aproximadamente 10 a 13 centímetros de extensão e 1,8 a 2,3 centímetros de diâmetro, no adulto. Posiciona-se na linha média da região cervical direcionando-se para o mediastino superior com um trajeto antero- posterior e súpero-inferior.É formada por 18 a 22 anéis cartilaginosos incompletos, nos quais na face posterior de cada anel existe uma membrana elástica, possibilitando alta complacência do órgão. Apenas a cartilagem cricóide possui um anel completo1,3.Classificação das traqueostomiasA classificação geral das traqueostomias depende de vários critérios adotados no momento da sua execução. Pode-se analisar o procedimento de acordo com os objetivos propostos: quanto à finalidade, tempo disponível, altura da traquéia em que é realizada e quanto tempo de permanência.Quanto à finalidade: poderá ser preventiva, quando realizada como tempo prévio ou complementar a outras cirurgias. A traqueostomia curativa ocorrerá em situações diversas de dificuldades respiratórias, possibilitando a manutenção segura das vias aéreas. Poderá ser também paliativa quando for realizada apenas para o conforto respiratório de pacientes fora de terapêuticas curativas.Quanto à altura em que é realizada: considera-se alta aquela localizada ao nível da membrana cricotireóide, ou seja, uma cricotireoidostomia. Traqueostomia média ocorre na altura do 2º e 3º anéis traqueais, as mais utilizadas na prática clínico-cirúrgica. A traqueostomia baixa seria na altura do 4º e 5º anéis, procedimento esporádico devido à probabilidade de acidentes transoperatórios, pela proximidade de grandes vasos e da pleura.Quanto ao tempo de permanência podem ser temporárias ou definitivas1.Indicações de traqueostomiaA indicação mais crítica para uma traqueostomia é a obstrução das vias aéreas, causadas por tumores, traumatismo facial grave, edema cervical inflamatório e anomalias congênitas. Em pacientes com necessidade de suporte ventilatório prolongado a traqueostomia é realizada para maior conforto do paciente e para prevenção de lesões orais e laríngeas1,4.Abaixo encontram-se as principais indicações de traqueostomias.- Obstrução aguda de vias aéreas superiores por quadros inflamatórios (difteria, epiglotite infecciosa, corpo estranho, queimaduras sobre a região cervico-facial, choque anafilático com edema de glote etc);
- Neoplasias malignas da região cérvico-facial;
- Traumatismo crânio-maxilo-faciais e crânio- encefálicos;
- Grandes cirurgias de cabeça e pescoço;
- Pré-operatório de pacientes com diagnóstico de via aérea estreita;
- Compressões extrínsecas de tumores sobre o complexo laringotraqueal (bócios, abscessos, hematomas, tumores benignos);
- Doenças degenerativas da traquéia (traqueomalácia, doenças do tecido conjuntivo);
- Doenças congênitas (hemangiomas, linfangiomas, laringomalácia etc)
- Portadores de doenças neurológicas degenerativas;
- Pacientes com insuficiência respiratória aguda e crônica com indicação de suporte ventilatório artificial prolongado;
- Pacientes em coma, debilitados, incapazes de expelir secreções traqueo-brônquicas;
- Pacientes com risco elevado e permanente de broncoaspiração;
- Paralisia das cordas vocais;
- Apnéia do sono obstrutiva.
- Obstrução prematura de vias aéreas (edema de glote reflexo);
- Falso trajeto da cânula traqueal;
- Hemorragia;
- Broncoaspitação de sangue;
- Lesão do nervo laríngeo recorrente;
- Lesão do esôfago;
- Pneumotórax.
- Hematoma, hemorragias;
- Colonização bacteriana;
- Infecção;
- Enfisema subcutâneo;
- Edema agudo de pulmão pós-obstrutivo;
- Obstrução da cânula;
- Deslocamento da cânula;
- Apnéia pós-traqueostomia;
- Distúrbios de deglutição;
- Penumonia aspirativa.
- Hemorragias;
- Infecção;
- Formação de tecido de granulação;
- Estenose subglótica e traqueal;
- Fístula traqueo-esofágica;
- Fístula traqueo-cutânea;
- Cicatriz hipertrófica do estoma;
- Traqueomalácia;
- Distúrbios de deglutição, pneumonia aspirativa;
- Ulcera e erosão do traqueostoma (fixação inadequada, traumatismo da traquéia e laringe).
Fig 1 - conjunto de cânula de traqueostomia metálica
Fig 2 - conjunto de cânula de traqueostomia de polietileno sem cuff
Fig 3 - conjunto de cânula de traqueostomia de polietileno com cuff
Fig 4 - conjunto de cânula de traqueostomia metálica com fenestra
Fig 5 - conjunto de cânula de traqueostomia de polietileno sem cuff e com fenestra
Fig 6 - conjunto de cânula de traqueostomia de polietileno com cuff e fenestra
- Freqüência respiratória, expansibilidade pulmonar, ruídos pulmonares;
- Integridade do estoma;
- Dor, drenagem, sangramentos, creptos, condições da F.O.;
- Quantidade de secreções, qualidade e coloração, espessura do muco;
- Avaliação da deglutição e risco de aspiração pulmonar;
- Capacidade de comunicação verbal;
- Capacidade do paciente em realizar autocuidados apropriados com a cânula;
- Integridade do balonete, pressão mínima necessária para insuflação.
Fig 7 - proteção para o banho colocando a mão à frente do
traqueostoma
Fig 8 - proteção específica para o banho
Fig 9- tipos de fitas para fixação da traqueostomia
Higienização do estoma:Fig 10 - limpeza do traquesotoma com compressa umedecida
com água
Fig 11 - fita de fixação da traqueostomia e compressa protetora
do traqueostoma
Fig 12 - colocação da cânula de traqueostomia e fixação
A higienização do traqueostoma é importante para prevenir a infecção do tecido subcutâneo. Deve-se proceder à limpeza com solução fisiológica no mínimo de oito em oito horas, observar o estoma durante as trocas destes curativos, avaliando a presença de hiperemia, secreções e lesões na pele. Além disso, é importante manter a almofada protetora para que seja feita a absorção de secreções e proteja a pele contra os possíveis traumatismos causados pela cânula. 5,8xUmidificação da via aérea inferiorDeve-se também avaliar a hidratação sistêmica do paciente e o ressecamento das secreções pulmonares. É importante realizar inalação com solução fisiológica para a fluidificação dessas secreções e assim facilitar a remoção, proporcionando conforto para o paciente5.- Aspiração traqueal: (cânulas de metal e polietileno)
- Para a realização da aspiração traqueal deve- se seguir os seguintes passos:
- Cateter de aspiração nº 12 ou 14 (em mulheres) e nº 14 ou 16 (em homens);
- Pressão do vácuo entre 80 a 120 mmHg;
- Não ligar a sucção durante a introdução do cateter. Introduzir o cateter na traqueostomia cerca de 12 a 14cm (2 a 3 cm além do comprimento da cânula);
- Enquanto aplicar sucção, faça movimentos rotatórios e prossiga retirando o cateter da traquéia;
- Não aplique sucção por mais de 10 segundos;
- Observar a quantidade e as características da secreção5.
Fig 13 - escovas para limpeza da cânula de traqueostomia

Fig 14, 15 e 16 - limpeza interna da cânula de traqueostomia



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References
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Tracheostomy products, laringectomy products, clinical instruments, accessories and information. Ful line catalogue. /tracoe medical GmbH. Reichsforststr. 32, D-60528 Frankfurt/Main. 2004/2005. Disponível em: URL: // www.tracoe.com.