Atualização

Authors

  • Rita de Cássia Domansky Enfermeira Estomaterapeuta, PhD(s), MS.
  • Vera Lúcia Conceição de Gouveia Santos E Enfermeira Estomaterapeuta, PhD. ProfaAssociada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica Escola de Enfermagem da USP.

Abstract

O que Precisamos Conhecer Sobre o Hábito Intestinal*Knowing About Bowel HabitsResumoAs autoras tecem breves considerações sobre o conceito de hábito intestinal e os seus componentes, como consistência das fezes, ausência de dor ou esforço para evacuar, sensação de evacuação completa e sensação de prazer, além da freqüência evacuatória.Palavras Chaves: Hábito intestinal. Função intestinal. Estomaterapia. Enfermagem.AbstractThe authors comment about the concept of bowel habit and its components as fecal consistence, pain or dificult for defecation, sensation of complete defecation and pleasure sensation besides frequency.Key words: Bowel habits. Bowel function. Stomal therapy. Nursing.Artigo OriginalO hábito intestinal varia entre as pessoas, sendo difícil o estabelecimento de padrões de normalidade. Esta variação não ocorre apenas de um indivíduo para outro, ou entre homens e mulheres1-4, mas também no mesmo indivíduo e em momentos diferentes da vida. O hábito intestinal pode ser afetado pela dieta, idade, estresse e outras condições psico-emocionais, medicamentos, doenças e comorbidades, além de padrões sociais e culturais, entre outros5-8.As investigações sobre o hábito intestinal, incluindo todos os seus parâmetros de variação estabelecidos como normais são, há muito tempo, considerados relevantes para a comunidade científica. No entanto, ainda hoje, uma das dificuldades consideradas continua sendo a falta de consenso sobre as definições de funções normal e anormal, tal como acontece com os distúrbios funcionais do aparelho digestório, como a  constipação intestinal, síndrome do intestino irritável e a incontinência anal, estabelecidos pelos Critérios de Roma9.A Fundação Roma é uma organização sem fins lucrativos que, ao longo dos últimos 17 anos, tem procurado legitimar e atualizar o conhecimento sobre o hábito intestinal e as doenças funcionais gastrintestinais, por meio de classificação, raciocínio crítico e estabelecimento de recomendações, desenvolvidos por painéis de especialistas do mundo todo, com vistas à sua utilização na investigação e prática clínica9. A partir de suas recomendações - denominadas Critérios de Roma (1989) - houve uma padronização dos métodos de seleção de pacientes para os ensaios clínicos, repercutindo no aumento das publicações que usaram tais critérios, nos últimos anos10-11.Estudos amplos e criteriosos sobre o hábito intestinal, em populações aparentemente saudáveis, mostram que não há um consenso sobre o que é considerado hábito intestinal normal, embora indiquem que 94 a 100% da população sadia apresentam entre até três evacuações por dia e três evacuações por semana12-13. Assim, não só a freqüência evacuatória, mas também a consistência das fezes, ausência de dor ou esforço para evacuar, sensação de evacuação completa e sensação de prazer constituem o conjunto de informações que definem o hábito intestinal normal12,14.Na maioria das sociedades ocidentais, a variação na freqüência evacuatória considerada normal é de 2 a 3 vezes por semana a até 2 a 3 vezes ao dia. As fezes devem ser formadas e macias, não oferecendo desconforto ou dificuldade para sua eliminação, com peso variando entre 35 a 450 gramas, nos homens, e entre 5 a 335 gramas, nas mulheres. As alterações de freqüência, consistência ou volume das evacuações ou a presença de esforço, dor, sangue, muco, pus ou excesso de gordura pode ser indicativo de doença12-16.As pesquisas recentes sobre o tema citam os estudos de Connel et al1, Marteli et al17, Sandler e Drossman18 e Everhard et al19, entre outros, como referências clássicas.Em seu estudo com 1455 ingleses, Connel et al1 relataram, já naquela época, a preocupação em distinguir a freqüência do hábito intestinal em pessoas saudáveis, pois era comum dizer que uma pessoa sadia evacuava uma vez ao dia, sendo considerado não só um hábito natural, mas também necessário, tanto que 99% dos participantes apresentaram essa freqüência evacuatória.No final da década de 70, a partir de um estudo com a participação de 114 indivíduos, Marteli et al17 apresentaram os valores limítrofes do hábito intestinal, ou seja, um intervalo entre 3 e 11 evacuações em sete dias, valores esses usados como referência até hoje. Para a consistência, houve predomínio de fezes normais.Em pesquisa realizada junto a 1128 adultos jovens norte-americanos, Sandler e Drossman18 verificaram predomínio das fezes consideradas normais, na maioria das vezes; a média de evacuações variava conforme a etnia e o sexo, onde brancos apresentavam mais evacuações que os não- brancos.Em 1989, Everhard et al19 publicaram os resultados de um estudo longitudinal junto a 14407 pessoas que relataram constipação, diarréia, evacuações irregulares (três evacuações ou menos por semana) e evacuações freqüentes (duas ou mais evacuações por dia). As mulheres eram mais constipadas e os homens apresentaram evacuações mais irregulares.No Brasil, constata-se a carência de estudos sobre o padrão intestinal, considerando-se especificamente a cultura, hábitos de vida, hábitos alimentares, entre outros, já citados em estudos internacionais. Também são escassos os estudos epidemiológicos, de base populacional, sobre a constipação e a incontinência anal ou outros distúrbios funcionais gastrointestinais e, embora estudos internacionais sejam úteis, não são adaptados à nossa população.No processo de validação da versão adaptada do instrumento Hábito Intestinal na População Geral (Bowel function in the community), Domansky e Santos20 entrevistaram 356 indivíduos sadios, trabalhadores de um serviço público, com idade entre 24 e 70 anos; 54% mulheres; 76% brancos; 46% com ensino médio; 69% casados; 44% com renda mensal entre 4 e 6 salários mínimos. As autoras verificaram que 56% apresentavam uma evacuação por dia; 66% disseram que ficavam sem evacuar por até dois dias, no máximo; 83% não usavam laxantes; 70% evacuavam sem esforços; 30% apresentavam fezes macias de fácil exoneração; 51% apresentavam sensação de evacuação completa; 48% permaneciam no banheiro menos de 5 minutos para evacuar; 98% evacuavam sentados; 82% não relataram qualquer tipo de dificuldade para as evacuações; 95% negaram qualquer afecção, entretanto, 66% já haviam sido submetidos à hemorroidectomia. Os achados demonstraram que a população estudada apresentou um hábito intestinal considerado normal, à luz da literatura internacional.A importância de se conhecer o padrão intestinal da população geral brasileira relaciona- se à elaboração de planos educativos que levem à diferenciação do normal e patológico. Isto facilitaria a criação de programas de prevenção ou diagnóstico precoce de alterações intestinais como constipação intestinal, incontinência anal, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais e, principalmente, do câncer colo-retal, dentre outros.ConclusãoO despertar da população para o conhecimento do hábito intestinal normal, incluindo as variações de freqüência e consistência, presença ou não de dor ou esforço durante as evacuações e os seus respectivos limites, considerando a cultura, hábitos alimentares e de vida, entre outros, baseia-se nos paradigmas da educação e promoção à saúde, contribuindo para a responsabilização pela própria saúde dos cidadãos, levando-os a buscar a atenção à saúde de maneira mais precoce e resolutiva.

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Published

2008-12-01

How to Cite

1.
Domansky R de C, Santos VLC de G. Atualização. ESTIMA [Internet]. 2008 Dec. 1 [cited 2024 Dec. 22];6(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/243

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