Estudo Clínico

Authors

  • Soraya Yumi Hashimoto Especialista em Estomaterapia, Geriatria e Gerontologia, Enfermeira do Centro Cirúrgico Ambulatorial - Hospital AC Camargo
  • Enildo Borges Enfermeiro da Unidade de Internação - Hospital AC Camargo
  • Rosângela Aparecida Saconato Especialista em UTI, Enfermeira do Ambulatório do Departamento de Cabeça e Pescoço - Hospital AC Camargo
  • Diana Lima Villela Mestre em Enfermagem- EEUSP, Enfermeira da Educação Continuada - Hospital AC Camargo.
  • Vera Lúcia Conceição Gouveia Santos PhD, Professora Associada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico da EEUSP-SP
  • Elide Leyla M. Moscatello Mestre em Enfermagem-EEUSP, Gerente de Enfermagem - Hospital AC Camargo/ São Paulo-SP

Abstract

Utilização de Espuma Impregnada com Prata para Controle de Sinais e Sintomas de Lesões Ulceradas por Micose FungoideUse of Silver Impregnated Foam to Control the Signs and Symptoms of Ulcerated Lesions by Mycosis Fungoides

ResumoO linfoma cutâneo de células T (LLCT) é uma doença de evolução lenta e progressiva, que acomete a pele, podendo atingir órgãos internos. Existem várias modalidades de tratamento, como quimioterapia e transplante de medula óssea, mas o sucesso depende do estágio em que se encontra a doença. Este estudo tem como objetivo relatar uma experiência e oferecer uma opção de controle de sinais e sintomas de lesão ulcerada por micose fungoide, em um paciente de 74 anos. As feridas ulceradas em MMII, com odor fétido e nauseante, foram tratadas, inicialmente, com papaína e sulfadiazina de prata a 1%, associadas a metronidazol 400 mg tópico, sem qualquer melhora, tanto do aspecto quanto do odor. Iniciou-se, então, terapia tópica com espuma impregnada com prata, cujo resultado mostrou-se satisfatório, com melhora significativa do aspecto da lesão e controle total do odor.Descritores: Linfoma Cutâneo de Células T. Micose Fungoide. Cicatrização. Enfermagem.AbstractCutaneous T-cell lymphoma (CTCL) is a slowly-progressing disease affecting the skin, and internal organs over time. There are several treatment techniques for CTCL, such as chemotherapy and bone marrow transplantation, but the success of a treatment depends on the stage of the disease. In this study, we report a clinical case of a 74 year old patient with ulcerated lesions diagnosed as mycosis fungoides and offer a treatment option to control signs and symptoms. Ulcerated and malodorous wounds of the lower limbs were initially treated with papain and 1% silver sulfadiazine in conjunction with topical metronidazole 400 mg, with no improvement in appearance or odor. Topical therapy with silver-impregnated foam was then started; the results were satisfactory; there was a significant improvement of the appearance of the lesion and odor was controlled.Descriptors: Lymphoma, T-Cell, Cutaneous. Mycosis Fungoides. Wound Healing. Nursing.IntroduçãoO linfoma cutâneo de células T (LLCT) desenvolve-se progressivamente, de forma indolente, por vários anos. No início podem aparecer coceiras na pele, com áreas secas e escuras, aspecto inespecífico, assemelhando-se a dermatoses inflamatórias, ou surgir como lesões delimitadas, eritematosas, por vezes hipocrômicas. Surgem inicialmente na região da cintura, glúteos, tronco inferior, virilhas, axilas e mamas. À medida que a doença avança, podem aparecer tumores ulcerados na pele, condição clínica denominada micose fungoide. A enfermidade pode disseminar-se para os nódulos linfáticos e outros órgãos como baço, pulmões e fígado. Quando ocorre número elevado de células tumorais nos linfonodos, dá-se o nome de Síndrome de Sézary1-3.Os linfomas cutâneos de células T e de células natural killer (NK) constituem um grupo de neoplasias classificadas como linfomas não- Hodgkin. Aproximadamente 30% dos linfomas não-Hodgkin acometem tecidos extranodais, sendo o trato gastrointestinal o mais envolvido, seguido da pele, que compreende cerca de 18% desses linfomas3. Os linfomas cutâneos de células T compreendem, aproximadamente, 75 a 80% dos linfomas cutâneos primários, com predomínio absoluto da micose fungoide e suas variantes4,5.Uma vez diagnosticado o linfoma cutâneo de células T, é necessário determinar em que estágio a doença se encontra, para planejar o tratamento mais adequado. A fases do linfoma cutâneo de células T são1-5:-Etapa I: somente algumas partes da pele estão afetadas com manchas roxas, secas e escamosas; não há tumores e os nódulos linfáticos estão em tamanho normal.-Etapa II: nesta verificam-se:- presença de partes roxas, escamosas sem tumores; os nódulos linfáticos estão normais ou aumentados e não contêm células cancerosas, ou- presença de tumores; os nódulos linfáticos estão normais ou maiores do que o normal, mas não apresentam células cancerosas.-Etapa III: quase toda a superfície corpórea está roxa, seca e escamosa; os nódulos linfáticos podem estar normais ou aumentados, mas continuam sem células cancerosas.-Etapa IV: toda superfície corporal está comprometida; verificando-se presença de células cancerosas nos nódulos linfáticos e disseminação de câncer para outros órgãos.-Recorrente: quando há recidiva do câncer tratado.Pacientes com invasão tumoral em linfonodos e envolvimento de órgãos possuem um pior prognóstico e evoluem para infecções sistêmicas, podendo levar à morte1,2,6. As modalidades de tratamento, empregadas isoladamente ou em conjunto, são radioterapia, quimioterapia, fototerapia, transplante alogênico de medula óssea e transplante autólogo de medula óssea1,7 . Sendo o LLCT uma doença crônica e com várias fases evolutivas, o tratamento deve ser continuamente avaliado. Mostarda nitrogenada tópica, radioterapia e quimioterapia são as modalidades de tratamento amplamente utilizadas 2,8.ObjetivoApresentar um estudo de caso sobre o controle tópico de sinais e sintomas, com o uso de espuma impregnada com prata em um paciente portador de micose fungoide.MétodosTrata-se de um estudo de caso, realizado entre os meses de março a maio de 2008, em hospital oncológico na cidade de São Paulo. Os dados foram colhidos por meio de pesquisa em prontuário e registro fotográfico da evolução das feridas. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética e o paciente assinou o termo de autorização das fotos e documentação.Caso ClínicoPaciente com 74 anos, sexo masculino, procedente do Acre (Rio Branco), admitido na instituição em outubro de 2007 para acompanhamento ambulatorial, com queixa de lesões cutâneas disseminadas há 7 anos. Diagnosticado como micose fungoide em 1999, foi tratado com vincristina e ciclofosfamida durante três anos, interrrompendo o tratamento por insuficiência renal e evoluindo com piora progressiva. Relatou antecedentes de exposição ao sol, a substâncias radioativas, anilinas, fuligem, alcatrão e inseticidas. Ao exame físico, apresentou lesões cutâneas disseminadas em tronco e membros, algumas ulceradas com crosta, outras eritematosas e pruriginiosas. Verificou-se ausência de linfonodomegalias em regiões cervical, axilar e inguinal. Em dezembro de 2007, apresentou lesões difusas em todo corpo, hiperemiadas, crostosas, com tendência a cicatrização, e referiu dificuldade para deambular devido a lesão em calcâneo e região plantar D.Em março de 2008 foi solicitada avaliação do Grupo Oncológico de Curativos devido à lesão em pé D, a qual apresentava-se ulcerada com odor fétido e nauseante, edema e hiperemia peri-ferida (Figura 1).Iniciou-se terapia tópica diária, pulverizando-se papaína em pó pura, que permanecia durante 15 minutos, lavando-se a lesão com solução fisiológica em seguida e aplicando-se dois comprimidos de metronidazol 400mg, macerados e misturados com sulfadiazina de prata 1% creme. A lesão era coberta com curativo cirúrgico e atadura de crepe.A conduta foi mantida por 7 dias, não sendo observados resultados satisfatórios. O odor manteve-se o mesmo e o aspecto da ferida não evoluiu como esperado. Optou-se, então, pela limpeza com solução fisiológica e oclusão com espuma de poliuretano impregnada com íons de prata, curativo cirúrgico e atadura de crepe, com troca diária por 3 dias. Essa terapia acarretou melhora significativa do aspecto da lesão e controle do odor, que era perceptível apenas com a exposição da ferida. (Figura 2 e 3).Considerações FinaisOs pacientes com micose fungoide possuem várias opções terapêuticas, a maioria deles necessita de uma terapia longa, monitoramento constante e cuidado meticuloso com a pele. A doença infringe um grande impacto psicológico, não só pela visibilidade das lesões, mas também pela cronicidade do problema7.É essencial que o paciente seja orientado a tomar banhos mornos, utilizar sabonetes que contenham hidratante em sua fórmula, não utilizar esponjas, realizar imersões em água com aveia, aplicar cremes hidratantes imediatamente após o banho e fazer uso de umidificadores de ambiente durante o inverno e meses secos7.O uso da terapia proposta acarretou em uma melhora significativa da lesão, tanto no aspecto desta como no controle do odor e do exsudato, sendo que estes sinais e sintomas são comumente apresentados em lesões vegetantes malignas de qualquer etiologia9.A cicatrização das feridas em LLCT depende do sucesso do tratamento da doença de base. As terapias tópicas visam o controle dos sinais e sintomas e a escolha adequada dos produtos é de fundamental importância, pois interfere diretamente na qualidade de vida do paciente.

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References

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Published

2009-09-01

How to Cite

1.
Hashimoto SY, Borges E, Saconato RA, Villela DL, Santos VLCG, Moscatello ELM. Estudo Clínico. ESTIMA [Internet]. 2009 Sep. 1 [cited 2024 Dec. 22];7(3). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/259

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