Atualização
Abstract
Incontinência Anal: Tratamento Conservador por Meio de Biofeedback
ResumoA continência de fezes e urina é condição básica para se viver em sociedade, sobretudo na idade adulta. A perda dessa habilidade pressupõe a dependência física e econômica, a institucionalização precoce de idosos, além de sentimentos de vergonha e humilhação. A Incontinência anal (IA) constitui uma das mais devastadoras condições que o ser humano pode viver, porém, ainda na atualidade, é vista como condição normal na velhice. A escassez de publicações em nosso país e o desconhecimento acerca da possibilidade de tratamento conservador dessa condição por enfermeiros especialistas levou ao desenvolvimento deste artigo de atualização.Descritores: Incontinência fecal. Biorretroalimentação. Soalho pélvico.Abstract Continence of feces and urine is a basic condition for living in society, especially in adults. The loss of this ability requires the physical and economic dependency, early institutionalization of the elderly, as well as feelings of shame and humiliation. The Anal incontinence (AI) is one of the most devastating conditions that human beings can live but even today is seen as normal condition in old age. The scarcity of publications in our country and ignorance about the possibility of conservative treatment of this condition by specialized nurses led to the development of this update article.Keywords: Fecal incontinence. Biofeedback. Pelvic floor.Resumen La continencia de heces y orina es una condición básica para la vida en sociedad, especialmente en la edad adulta. La pérdida de esta capacidad provoca la dependencia física y económica, la institucionalización precoz de las personas mayores, así como sentimientos de vergüenza y humillación. La incontinencia anal (IA) es una de las condiciones más devastadoras que el ser humano puede vivir, pero aún hoy en día es visto como una condición normal en la vejez. La escasez de publicaciones en nuestro país y la ignorancia acerca de la posibilidad de tratamiento conservador para esa condición por enfermeras especializadas conllevó al desarrollo de este articulo de actualización.Descriptores: Incontinencia fecal. Biorretroalimentación. Suelo pélvico.IntroduçãoA Incontinência Anal (IA) é um problema comum1, embora pouco discutido entre pacientes e médicos. A capacidade de manter o controle voluntário dos elementos de exoneração, seja de urina ou fezes, assume grande importância na vida em sociedade, tornando-se um sintoma extremamente embaraçoso, inaceitável e quase nunca falado com familiares ou profissionais de saúde, afetando sobremaneira a qualidade de vida dos indivíduos que vivem essa realidade.A IA é uma epidemia silenciosa entre os pacientes ambulatoriais e apenas um terço das pessoas afetadas fala sobre o problema com seus cuidadores2. A IA afeta até 20% das pessoas adultas e mais de 50% dos residentes em instituições asilares, constituindo um dos grandes fatores de risco para pessoas idosas asiladas devido a imobilidade e restrição física3, e constituindo uma das razões mais comuns para a internação dos idosos em asilos4-5. Tem um grande impacto na economia e seus custos, embora difíceis de quantificar, podem ser diretos ou indiretos6 e são estimados em U$10.3 bilhões anualmente nos EUA7. Apesar de não causar risco à saúde, inúmeros estudos discorrem acerca do impacto negativo sobre a qualidade de vida, por ocasionar o isolamento social, preocupação e diminuição da auto-estima8-10.Conceito e classificação da IAA International Continence Society11 define a IA como perda de fezes e/ou flatos.No Brasil, embora os estudos sejam ainda incipientes, estudo populacional sobre as incontinências urinária e anal na zona urbana de Pouso Alegre, em Minas Gerais, com amostra randomizada de 519 pessoas, mostrou prevalência de 7,0% para IA tanto geral, como para homens e mulheres e de 3,0% para a (IC), sendo de 1,0% para os homens e de 5,0% para as mulheres12. Embora as causas da IA sejam controversas, sua ocorrência é ainda maior entre as mulheres e, na população de mulheres jovens, está ligada às lesões de natureza obstétrica13-14.Quanto à sua classificação, não há um consenso entre os autores15 e, na maioria das vezes, relaciona-se à etiologia, ao tipo e à freqüência das perdas. No Brasil, tem-se utilizado a classificação segundo a qual a IA pode ser leve, intermediária e grave de acordo com o tipo de perda, freqüência, uso de protetores e impacto na QV16.O tratamento da IA pode ser cirúrgico ou conservador. Este último consiste na instituição de medidas dietéticas e medicamentosas e a reabilitação perineal por meio de Biofeedback e treinamento da musculatura do soalho pélvico (TMSP), considerados como primeira escolha para o tratamento de pessoas com IA.Apesar de não haver dúvidas quanto aos objetivos do TMSP, um dos grandes obstáculos à reeducação da musculatura do soalho pélvico (MSP) é a dificuldade encontrada pela maioria dos pacientes em identificá-la e isolá-la corretamente; a maioria das mulheres não tem idéia sobre ela ou de que forma pode exercitá-la. O sucesso do TMSP depende, portanto, da habilidade do paciente em realizar corretamente a contração voluntária dessa musculatura.Essa abordagem é feita por meio do Biofeedback que pode ser realizado de diversas formas e com variadas técnicas, propiciando uma taxa de melhora dos sintomas em torno de 70% ao incrementar força, duração, velocidade e recrutamento do esfíncter anal externo1,3,6,17-18.O Biofeedback é uma terapêutica segura, bem tolerada, estimula paciente e terapeuta, porém necessita de um profissional habilitado e capacitado para conduzir o tratamento.Considerações FinaisA despeito das pesquisas e o progresso quanto às doenças do aparelho gastrintestinal, a temática ora exposta pouco tem merecido atenção na literatura nacional. Constata-se a escassez de estudos que retratam as intervenções por parte dos profissionais brasileiros, sobretudo por enfermeiros. A Incontinência anal afeta sobremaneira a qualidade de vida de todos que a vivenciam além de provocar o isolamento de familiares e amigos. A lacuna quanto às possibilidades terapêuticas no alivio dos sintomas deste problema remete à necessidade premente de realizar estudos em busca de aliviar o sofrimento do paciente com incontinência.Downloads
References
Norton C, Chelvanayagam S, Wilson-Barnett J, Redfern S, Kamm MA. Randomized controlled trial of biofeedback for fecal incontinence Gastroenterology 2003;125(5):1320- 29.
Johanson JF, Lafferty J. Epidemiology of fecal incontinence: the silent affliction. Am J Gastroenterol 1996;91:33–6.
Leung FW, Schnelle JF Urinary and fecal Incontinence in nursing home residents. Gastroenterol Clin North Am 2008;37(3):697-707.
Nelson RL. Epidemiology of fecal incontinence. Gastroenterology 2004;126: S 3–7.
Akhtar J, Padda M. Fecal incontinence in older patients J Am Med Directors Assoc 2005; 6 (1):54-60.
Chatoor DR, Taylor SJ, Cohen CRG, Emmanuel AV. Faecal incontinence. Brit J Surg 2007;94: 134-144.
Corcos J, Davis SMB, Drew S, West L. Incontinencia fecal y urinaria. El uso de la biorretroalimentación electromiográfica en el entrenamiento de la musculatura de la base pelviana [Internet]. sd. [cited 2007 Nov 1]. Available from: http:// www.bfe.org/protocol/pro04spa.htm
Santos VLCG, SILVA AM. Qualidade de vida de pessoas com incontinência anal. Rev Bras Coloproct 2002;22(2):98-108.
- Yusuf SAI, Jorge JMN, Habr-Gama A, Kiss DR e Rodrigues JG. Evaluation of quality of life in anal incontinence: validation of the questionnaire FIQL (Fecal Incontinence Quality of Life). Arq Gastroenterol 2004;41(3): 202-208.
Hannaway CD, Hull TL. Fecal incontinence. Obstet Gynecol Clin North Am. Jun 2008; 35(2):249-269.
Abrams P, Andersson KE, Brubaker L, Cardozo L, Cottenden A, Denis L, Donovan J, Fonda D, Fry C, Griffiths D, Hanno P, Herschorn S, Homma Y, Hu T, Hunskaar S,van Kerrebroeck P, Khoury S, Madoff R, Morrison J,Mostwin J, Newman D, Nijman R, Norton C, Payne C,Richard F, Smith A, Staskin D, Thuroff J, Tubaro A, Vodusek DB, Wall L, Wyndaele JJ and Members of the Committee. 2005 ICI Book. 3rd International Consultation on Incontinence. Recommendations Committee: Evaluation and Treatment of Urinary Incontinence, Pelvic Organ Prolapse and Faecal Incontinence 2005. p 26-29.
Santos CRS, Santos VLCG. Prevalência da incontinência anal na população urbana de Pouso Alegre – Minas Gerais. Rev Esc Enf USP 2010;44 (no prelo).
Habr-Gama A. Incontinência fecal – Quadro clínico e Epidemiologia. Brasilmedicina.com – 304º edição semanal [serial on the Internet] 2007 [cited 2007 aug]; Ano 6:[about 2 p.] Available from: HTTP://www.brasilmedicina.com/ especial/proct t2s1.asp
Palmer MH. Pelvic muscle rehabilitation: where do we go from here. J Wound Ostomy Continence Nurs 1997;24: 98- 105.
Norton C. Fecal incontinence and biofeedback therapy. Gastroenterol Clin North Am 2008; 37(3):587-604.
Jorge JM, Wexner SD. Etiology and management of fecal Incontinence. Dis Colon Rectum 1993; 36(1):77-97.
Norton C, Chelvanayagam S. Conservative management of faecal incontinence in adults. In: Norton C, Chelvanayagam S. (editors). Bowel continence nursing. UK: Beaconsfield Publishers; 2004. p. 114-31.
Whitehead WE, Heymen S, Schuster MM. Motility as atherapeutic modality: bio-feedback treatment of gastrointestinal disorders. In Schuster MM, Crowell MD, Koch KL, eds. Schuster Atlas of Gastrointestinal Motility, Second edition. Hamilton: BC Decker Inc 2002:381-397.