Artigo Original 5

Authors

  • Edmara Teodoro dos Anjos Enfermeiras Pós-graduadas em estomaterapia pela Universidade de Taubaté.
  • Lucimarley Antunes Teixeira Enfermeiras Pós-graduadas em estomaterapia pela Universidade de Taubaté.
  • Mercedes Antunes Rodrigues Enfermeiras Pós-graduadas em estomaterapia pela Universidade de Taubaté.
  • Maria Ângela Boccara de Paula Professor Assistente III do Departamento de enfermagem da UNITAU. Enfermeira Estomaterapeuta (TiSOBEST), Mestre e Doutoranda em Enfermagem pela EEEUSP. Coordenador do Curso de Especialização em Estomaterapia da UNITAU.
  • Adriana Carla Lessa Pereira Vasconcellos Enfermeira Pós-graduada em Estomaterapia - EEUSP, coordenador do curso de Especialização em Estomaterapia da UNITAU.

Abstract

O Que os Enfermeiros de Saúde Coletiva Sabem Sobre o Tratamento das Úlceras Venosas?

ResumoO tratamento das úlceras de membros inferiores é um dos mais desafiadores problemas para os profissionais de saúde, em especial para o enfermeiro. Este estudo teve como objetivo identificar o conteúdo de domínio dos enfermeiros em relação ao tratamento de pessoas com úlceras venosas. Participaram do estudo 20 enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde do município de Betim- MG. Os dados foram coletados por meio de questionários. Dez (50%) enfermeiros referiram as úlceras venosas e diabéticas como as lesões mais comuns encontradas nas Unidades Básicas de Saúde, 40% dos enfermeiros referem capacidade de identificar as úlceras venosas, 40% responderam ser a o terço distal da perna e os maléolos mediais a localização mais freqüente das úlceras venosas. Quanto à prevenção da úlcera venosa, 60% recomendam repouso relativo, elevação das pernas alternando com deambulação e contenção elástica. Por meio do presente estudo, foi possível identificar que a maioria dos enfermeiros, apesar de reconhecer algumas características das úlceras venosas, referem dificuldades em identificar tais lesões e desconhecem o mecanismo fisiopatológico das mesmas.Palavras-chave: Úlcera venosa. Conhecimento. Terapia.AbstractTreatment of lower limb ulcers is one of the most challenging problems for health professionals, particularly for the nurse. The objective of this study was to assess the level of knowledge among nurses about the treatment of venous ulcer patients. Twenty nurses from basic health units in Betim, MG, Brazil, took part in this study. Data were collected through questionnaires. Ten (50%) of the 20 nurses cited vasculogenic and diabetic ulcers as the most common forms of ulcer found in patients treated in the basic health units, 8 (40%) claimed to have the capacity to identify venous ulcers, and 8 (40%) responded that the most common sites of occurrence of venous ulcers are in the distal third of the leg and medial malleolus. With regard to the prevention of venous ulcers, 12 (60%) nurses recommend rest and leg elevation combined with walking and leg compression. Results from the present study demonstrated that most nurses, although able to differentiate venous ulcers from other etiologies, still face difficulties in identifying such lesions and have no knowledge of the physiopathology of ulcers.Key words: Varicose Ulcer. Knowledge. Therapy.IntroduçãoO tratamento das úlceras de membros inferiores é um dos mais desafiadores problemas, tanto para o paciente quanto para os profissionais de saúde. Constitui um problema duradouro e reincidente e, inevitavelmente, seu tratamento também é de alto custo. A presença de dor, o desconforto e, às vezes, até o isolamento social e familiar nos pacientes com úlceras são observações freqüentes na prática1,2,3,4,5,6.Avaliar e tratar um indivíduo com ferida ainda é uma tarefa que requer do profissional conhecimento e perspicácia. A avaliação não é feita apenas daquilo que se vê. O não visível pode levar a diagnósticos incorretos ou ser a causa da demora no processo de cicatrização7,8,9.Nas lesões de etiologia vasculogênica, merecem destaque as úlceras venosas. A incidência dessas úlceras aumenta com a idade. Embora possa haver disfunção valvular congênita, a vasta maioria dessas disfunções é adquirida. Com o envelhecimento, as valvas, especialmente as das veias comunicantes, podem tornar-se espessadas ou danificadas10,11,12.As úlceras venosas são usualmente localizadas no maléolo medial, no terço distal da perna e, com menor freqüência, em outras regiões da perna. Caracteriza-se por apresentarem bordas irregulares, leito vermelho, edema, eczema, pigmentação perilesional. A dor é de leve a moderada, e melhora com a elevação dos membros. Os pulsos pediosos geralmente estão presentes10,13,14,15,16.O principal tratamento da úlcera venosa está no controle da hipertensão deambulatória, podendo ser cirúrgico ou clínico. Considera ainda que entender os aspectos etiológicos e fisiopatológicos e toda a problemática decorrente da insuficiência venosa crônica é importante, não somente para efetuar o tratamento adequado, mas, principalmente, para implementar medidas preventivas que visem diminuir sua ocorrência, contribuindo para a otimização da qualidade de vida dessa clientela13,17,1819,20,21.Os profissionais de saúde que atuam diretamente no cuidado de pessoas com úlceras venosas precisam ter conhecimento sobre a patogenia, classificação, exames diagnósticos e recursos disponíveis para um tratamento e acompanhamento adequados.Considerando, então, a relevância das questões que envolvem a abordagem do paciente com úlcera venosa, este estudo tem como objetivo verificar o conteúdo de domínio dos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Betim - MG em relação ao tratamento de tais lesões.MétodosTrata-se de um estudo descritivo, com análise quantitativa dos resultados da pesquisa, que foi realizada em 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Betim no Estado de Minas Gerais, sendo que há pelo menos um enfermeiro em cada unidade.A amostra do estudo foi composta por vinte enfermeiros que estavam presentes em uma reunião mensal, ocorrida no mês de janeiro de 2007. Essa foi uma amostra de conveniência, não podendo afirmar ser representativa para o município, pois não tivemos acesso ao número total de enfermeiros de saúde coletiva do município. Os questionários foram elaborados pelos autores da pesquisa e constavam de perguntas abertas, relacionadas à úlcera venosa.O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté (UNITAU). Em todas as etapas, a pesquisa seguiu os preceitos éticos e legais propostos na Resolução 196/96 do Ministério da Saúde.Resultados e Discussão Metade dos enfermeiros estudados 10 (50%) referiram que as úlceras venosas e diabéticas são as lesões mais comuns encontradas nas Unidades Básicas de Saúde. Cerca de 70% de todas as úlceras de perna são de origem venosa, 10 a 20% de origem arterial e 10 a 15 % de etiologia mista12,18.O fato de apenas 50% dos enfermeiros referirem as úlceras venosas como as mais freqüentes, pode estar associado à própria dificuldade dos mesmos em identificar tais lesões. Ao serem indagados se eram capazes de identificar as úlceras venosas, 40% (8) afirmaram que sim; 20% (4) que não eram capazes e os outros 40% (8) só às vezes conseguiam identificar este tipo de lesão.O diagnóstico de ulceração venosa depende da anamnese e do exame físico minuciosos. Na coleta dos dados, deve-se focalizar fatores de risco como doença venosa prévia, trauma, trombose venosa profunda, gestações, insuficiência cardíaca congestiva, história familiar de doença venosa, obesidade e idade avançada. O diagnóstico das úlceras venosas também pode ser obtido por vários aspectos, entre eles a localização topográfica da lesão ulcerada, aparência dos bordos, profundidade, vitalidade tecidual e manifestações associadas como dor, edema, alterações de pele e fâneros, ausência ou não de pulsos12,19.Os profissionais de saúde que atuam diretamente no cuidado de pessoas com úlceras de membros inferiores devem ter conhecimento sobre a patogenia, classificação, exames diagnósticos e recursos disponíveis para o tratamento adequado a essas pessoas. A literatura científica aponta a hipertensão venosa crônica como a principal causa do surgimento das úlceras venosas12,19. Os enfermeiros não souberam responder as causas da úlcera venosa. Tal dado indica desconhecimento da amostra do estudo da etiopatogenia das úlceras venosas. Certamente, o desconhecimento do processo que leva à formação da lesão irá influenciar na escolha do tratamento adequado.O local mais freqüente de ocorrer uma úlcera venosa é o terço inferior da perna, mais comum na face medial6. Apenas 8 (40%) enfermeiros responderam como localização mais freqüente das úlceras venosas o terço distal da perna e os maléolos mediais, o que demonstra pouco conhecimento desta característica por parte da população em estudo. As úlceras venosas caracterizam-se por apresentarem bordas irregulares, base vermelha, pigmentação perilesional, edema, pulsos presentes e eczema7. Todas essas características foram apontadas por 12 (60%) dos enfermeiros e 5 (25%) indicaram apenas a presença de bordas irregulares a forma de apresentação das úlceras venosas. Estes dados demonstram que a maioria dos enfermeiros dessa amostra tem conhecimento quanto à forma de apresentação destas lesões.A dor no paciente com úlcera venosa pode ser de intensidade variável. Comparado com feridas isquêmicas, a intensidade é menor; porém, esses pacientes também sofrem com a dor6,13,14,15,21. Existe a crença de que a úlcera venosa não dói, referida por 4 (20%) enfermeiros. Fatores sistêmicos e locais podem interferir na intensidade da dor, porém, a dor devido a estase é aliviada com a elevação dos membros4. Tal medida foi apontada por 6 (30%) enfermeiros.Os pulsos pediosos nos pacientes com úlceras venosas usualmente estão presentes, o que foi apontado por 11 (55%) enfermeiros, demonstrando conhecimento dessa característica pela maioria da amostra.A hipertensão venosa crônica (IVC) é apontada como a principal causa do surgimento das úlceras venosas. A hipertensão constante nas veias, vênulas e capilares ao longo do tempo terminam por causar danos às paredes e aumentar a permeabilidade dos vasos, permitindo a liberação de substâncias do seu interior para a pele, ocasionando alterações cutâneas12,13,19.O controle da hipertensão venosa crônica consiste então em ação fundamental para a prevenção da úlcera venosa. É recomendado o repouso relativo com elevação das pernas, alternando com deambulação e com os membros sob contenção elástica22,23,24,25,26. Tais recomendações estão de acordo com o que foi apontado por 12 (60%) enfermeiros.Os enfermeiros relatam ter insegurança em orientar os técnicos e auxiliares quanto às coberturas adequadas para o tratamento das úlceras venosas. A indicação das coberturas para o tratamento dos clientes com úlceras venosas deve ser precedida por uma avaliação inicial minuciosa. As informações obtidas com esta avaliação sempre deverão ser registradas em documentos impressos ou eletrônicos, de acordo com os recursos padronizados no serviço de saúde. A maioria dos enfermeiros, 15 (75%) desconhece a existência de normas do serviço quanto à freqüência da avaliação das feridas e documentação das informações. O desconhecimento das normas do serviço é uma conseqüência da falta de um protocolo que subsidie as ações do enfermeiro na assistência aos portadores de feridas. A falta de protocolos para tratamento de feridas, associada à falta de material, constituem as maiores dificuldades de ordem administrativa segundo a maioria dos enfermeiros, 13 (65%) e 11 (55%), respectivamente. A falta de área física específica para realização da técnica de curativo é citada por 6 (30%) dos 20 enfermeiros.Quanto à existência de produto/terapia específica para o tratamento de úlcera venosa, 16 (80%) afirmaram não ter disponível no local de trabalho. Dos quatro (20%) participantes do estudo que responderam ter disponível no serviço a terapia específica para tratamento de úlceras venosas, 3 (15%) citaram a sulfadiazina de prata e a colagenase e 1 (5¨%) citou, além da sulfadiazina de prata, o alginato e o hidrocolóide. Ou seja, nenhum dos enfermeiros citou terapia específica para tratamento de úlcera venosa, o que indica desconhecimento do tratamento adequado por parte destes enfermeiros.Considerações finaisPor meio do presente estudo foi possível identificar que grande parte dos enfermeiros, apesar de conhecer vários aspectos das úlceras venosas, ainda referem dificuldades em identificar tais lesões e desconhecem o mecanismo fisiopatológico das mesmas. Este desconhecimento leva a não indicação do tratamento adequado e à insegurança na orientação dos técnicos e auxiliares para o cuidado às pessoas com tais afecções.As dificuldades de ordem administrativa interferem na qualidade da assistência de enfermagem e os enfermeiros apontaram a falta de protocolo para tratamento de feridas e a falta de material como problemas. Para solucionar tais problemas, é necessário elaborar protocolos específicos para este fim. É indispensável a participação de profissionais que têm domínio técnico para a elaboração destes protocolos, a fim de que seja maximizada a capacidade de atendimento, possibilitando a garantia de um padrão de qualidade, assim como a redução dos custos.PicturePocturepicture


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Published

2016-03-23

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1.
Anjos ET dos, Teixeira LA, Rodrigues MA, Paula M Ângela B de, Vasconcellos ACLP. Artigo Original 5. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Dec. 22];5(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/39

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