Artigo Original 2
Abstract
A Morte e o Morrer Sob a Ótica dos Profissionais de Enfermagem
ResumoA prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de saúde. Doença e morte são elementos presentes na rotina e no ambiente de trabalho desses profissionais, o que exige adaptação constante, visto que precisam conviver diretamente com o sofrimento do outro, acompanhar angústias dos familiares e ainda conviver com a morte, desafio freqüente e que pode gerar estresse em seu cotidiano profissional. O objetivo deste estudo foi conhecer o significado da morte vivenciado no contexto profissional na equipe de enfermagem e sua influência em seus aspectos pessoais e profissionais. Foi realizado estudo descritivo de abordagem qualitativa. Foram entrevistados 21 profissionais da área de enfermagem, atuantes em instituições hospitalares em um município do Vale do Paraíba Paulista. Os resultados foram analisados pautando-se nas seguintes categorias apriorísticas: significado da morte, consequências profissionais e pessoais e desafios encontrados na profissão. Os significados atribuídos à morte pelos profissionais de enfermagem relacionam-se, especialmente, com a inevitabilidade da morte, mas também como algo a ser evitado, ou seja, um elemento com o qual não se deve estabelecer intimidade no seu cotidiano profissional e pessoal. Trata-se de uma situação que gera experiências negativas, que são processadas por meio da aceitação pela fé.O despreparo técnico para lidar com o processo da morte e do morrer foi um aspecto observado na narrativa dos profissionais, tanto no que tange ao significado da morte como nos desafios encontrados na atuação profissional, mostrando que existe uma lacuna importante a ser preenchida na formação e capacitação da equipe de enfermagem.Descritores: Morte. Equipe de Enfermagem. Prática Profissional.AbstractProfessional nursing practice takes place in different health settings. Illness and death are elements present in the daily routine and work environment of nursing professionals, requiring constant adaptation. The professional must live with human suffering and death, and witness the anguish of family members. This is a constant challenge that may lead to stress in the professionals involved. The aim of this study was to determine the meaning of death as experienced by a nursing team in a professional context and its impact on personal and professional life. This was descriptive study with a qualitative approach. Twenty-one nursing professionals working on hospitals in a city located in Vale do Paraíba, São Paulo, Brazil, were interviewed should be prevented, in other words, death is an element with which one should not establish a close relation in his daily professional and personal life. Death is a situation that generates negative experiences, which are processed through a mechanism involving acceptance by faith. The lack of technical training to deal with death and the dying process was an aspect that was observed in the professional’s narratives, involving both the meaning of death and challenges faced in the work environment, which shows that there is an important knowledge gap that must be bridged in the formation and training of the nursing personnel.Descriptors: Death. Nursing, Team. Professional Practice.ResumenLa práctica profesional de la Enfermería se realiza en diferentes contextos de la salud, siendo la enfermedad y la muerte elementos presentes en la rutina y en el ambiente laboral de estos profesionales, exigiendo una adaptación constante, una vez que necesitan convivir directamente con el sufrimiento del prójimo, supervisar las angustias de los familiares además de convivir con la muerte, desafío frecuente y que puede generar estrés en su cotidiano profesional. El objetivo de ese estudio fue conocer el significado de la muerte vivida en el contexto profesional de un equipo de enfermería y su influencia en los aspectos personales y profesionales. Fue realizado un estudio descriptivo con abordaje cualitativo. Fueron entrevistados 21 profesionales del área de enfermería, que trabajan en el área hospitalaria en una ciudad del Vale de Paraíba Paulista. Los resultados fueron analizados con base en las siguientes categorías analíticas: significado de la muerte; consecuencias profesionales y personales y desafíos encontrados en la profesión. Los significados atribuidos a la muerte por los profesionales de enfermería están relacionados, especialmente, con la inevitabilidad de la muerte, pero también con algo que puede ser evitado, es decir un elemento con el cual no se debe establecer intimidad en el cotidiano profesional y personal. Se trata de una situación que genera experiencias negativas, que son procesadas por medio de la aceptación a través de la fe. La falta de preparación técnica para tratar con el proceso de la muerte y de morir fue un aspecto observado en la narración de los profesionales, tanto al expresar el significado de la muerte como en los desafíos encontrados en la práctica profesional, lo que demuestra que existe un espacio importante para ser trabajado en la formación y capacitación del equipo de enfermeríaPalabras-claves: Muerte. Grupo de Enfermería. Práctica Professional. com o sofrimento doIntroduçãoDentre os profissionais da saúde, especialmente no contexto hospitalar, os integrantes da equipe de Enfermagem destacam-se, uma vez que são aqueles que permanecem mais tempo com o paciente e geralmente realizam os primeiros procedimentos necessários para atender às suas necessidades1.A prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de saúde, sendo que a doença e a morte são elementos presentes na rotina e no ambiente de trabalho desses profissionais. O hospital constitui-se num destes ambientes que exige dos profissionais adaptações constantes, visto que precisam conviver diretamente should be prevented, in other words, death is an element with which one should not establish a close relation in his daily professional and personal life. Death is a situation that generates negative experiences, which are processed through a mechanism involving acceptance by faith. The lack of technical training to deal with death and the dying process was an aspect that was observed in the professional’s narratives, involving both the meaning of death and challenges faced in the work environment, which shows that there is an important knowledge gap that must be bridged in the formation and training of the nursing personnel. Descriptors: Death. Nursing, Team. Professional Practice. Resumen La práctica profesional de la Enfermería se realiza en diferentes contextos de la salud, siendo la enfermedad y la muerte elementos presentes en la rutina y en el ambiente laboral de estos profesionales, exigiendo una adaptación constante, una vez que necesitan convivir directamente con el sufrimiento del prójimo, supervisar las angustias de los familiares además de convivir con la muerte, desafío frecuente y que puede generar estrés en su cotidiano profesional. El objetivo de ese estudio fue conocer el significado de la muerte vivida en el contexto profesional de un equipo de enfermería y su influencia en los aspectos personales y profesionales. Fue realizado un estudio descriptivo con abordaje cualitativo. Fueron entrevistados 21 profesionales del área de enfermería, que trabajan en el área hospitalaria en una ciudad del Vale de Paraíba Paulista. Los resultados fueron analizados con base en las siguientes categorías analíticas: significado de la muerte; consecuencias profesionales y personales y desafíos encontrados en la profesión. Los significados atribuidos a la muerte por los profesionales de enfermería están relacionados, especialmente, con la inevitabilidad de la muerte, pero también con algo que puede ser evitado, es decir un elemento con el cual no se debe establecer intimidad en el cotidiano profesional y personal. Se trata de una situación que genera experiencias negativas, que son procesadas por medio de la aceptación a través de la fe. La falta de preparación técnica para tratar con el proceso de la muerte y de morir fue un aspecto observado en la narración de los profesionales, tanto al expresar el significado de la muerte como en los desafíos encontrados en la práctica profesional, lo que demuestra que existe un espacio importante para ser trabajado en la formación y capacitación del equipo de enfermería Palabras-claves: Muerte. Grupo de Enfermería. Práctica Professional. com o sofrimento do outro, acompanhar as angústias dos familiares e ainda conviver com a morte, um desafio freqüente e que pode gerar estresse em seu cotidiano profissional.A Enfermagem foi classificada como a quarta profissão mais estressante pela Health Education Authority2, uma vez que o profissional, em sua prática, mantém contato direto com pessoas cujo sofrimento é quase inevitável, exigindo dedicação no desempenho de suas funções e também maior proximidade com os pacientes e familiares3.A morte no ambiente hospitalar leva o profissional a refletir sobre os limites da existência do ser humano. Desta forma, dor, sofrimento e morte rompem a fronteira familiar e passam a ser compartilhados com profissionais da área de saúde, principalmente com os integrantes da equipe de Enfermagem.Apesar de contemplarem, em suas propostas curriculares, abordagem integral da assistência, na prática clínica as universidades e instituições de ensino parecem não dar muita ênfase a essa questão, priorizando um ensino tecnicista. Embora extremamente necessário, o conhecimento técnico sozinho não é suficiente para preparar o futuro profissional para sua prática. “Muitos profissionais sentem-se despreparados para lidar com situações que implicam na morte [...] deixando que a vivência da prática os conduza a descobrir o que é importante nesse processo” (p.136)1.A possível lacuna deixada pelo ensino aliada às exigências do cotidiano profissional, como manipulação de aparelhos complexos, procedimentos desgastantes, agilidade e a convivência direta com o sofrimento de pacientes e familiares, podem gerar um grande desgaste tanto físico quanto emocional nos profissionais, levandoos a situações de estresse ou outros quadros psicopatológicos.A morte e o processo de morrer têm grande contribuição para o desgaste ou estresse do profissional, ao se considerar que, na cultura ocidental, “encarar a morte é aceitar o fracasso e perder para a doença, é algo difícil de ser vivenciado”4.Assim como a maioria das pessoas, a equipe de saúde também tenta inibir sentimentos de luto gerados pela perda de pessoas sob seus cuidados, enfatizando os tratamentos vitoriosos e encarando a morte como uma vilã a ser evitada, algo fora e distante do ciclo vital. Por outro lado, ressalta-se que o luto não vivenciado pode colocar o profissional em posição tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa, que tenha sofrido o luto pela perda de um ente querido fora do contexto profissional e que tenha se munido de mecanismos de defesa para se proteger da dor dessa perda5.Dessa maneira, auxiliar a equipe de enfermagem a entender o processo de morte e morrer, como uma etapa do ciclo vital, e incentivar os debates sobre os sentimentos emergentes nesse processo e na elaboração do luto fazem-se necessários, uma vez que o sofrimento continuo e diário pode levar o profissional ao adoecimento.Considerando o exposto, o objetivo deste estudo foi conhecer o significado da morte vivenciado no contexto profissional na equipe de enfermagem e sua influência nos aspectos pessoais e profissionais. MétodosTrata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado junto a amostra de conveniência composta de 21 profissionais, que foram contatados por acessibilidade da área de enfermagem, sendo 15 auxiliares ou técnicos de enfermagem e seis enfermeiros, atuantes em quatro instituições hospitalares em um município do Vale do Paraíba Paulista. Esses foram selecionados independentemente de características pessoais como sexo, idade, tempo de profissão, tempo de formação ou área de atuação. Os requisitos exigidos para participação na pesquisa foram: ter tido experiência de assistir pessoas no processo de morrer, em sua prática profissional, e aceitar participar do estudo.A coleta de dados foi realizada no período de setembro de 2009 a maio de 2010, na instituição de origem do participante, em local reservado, garantindo assim a privacidade e o anonimato. Os participantes foram orientados sobre os objetivos do estudo e aqueles que aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, gravadas e depois transcritas pelos pesquisadores. O roteiro da entrevista constou de duas partes, a primeira dedicada ao levantamento de dados de identificação do participante (idade, tempo e tipo de formação e área de atuação profissional) e a segunda, de questões abertas que versaram sobre contato e atitudes frente à morte, conseqüências profissionais e pessoais deste contato e outros desafios profissionais.O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté, sob Protocolo CEP/UNITAU 094/09.Os resultados foram analisados de forma qualitativa, pautando-se nas seguintes categorias apriorísticas:• Significado da Morte (como o profissional lido com a morte no contexto de trabalho)• Consequências Profissionais (possíveis interferências da vivência do processo de morrer na atuação profissional)• Consequências Pessoais (possíveis interferências da vivência do processo de morrer na vida pessoal)• Desafios encontrados na profissão.Depois de transcritas, as entrevistas foram lidas e os trechos mais significativos foram destacados. A partir desta etapa, os recortes dos discursos foram agrupados em sub-temas, os quais foram enquadrados nas categorias previamente definidas. As sub-categorias foram quantificadas de acordo com a frequência com que ocorreram nos discursos. Resultados e discussãoDentre os 21 profissionais de enfermagem que participaram do estudo, 11 (52,4%) erram auxiliares de enfermagem, quatro (19,1%) técnicos de enfermagem e seis (28,5%) enfermeiros. A faixa etária variou de 22 a 60 anos, com idade média de 37 anos. Quanto ao tempo de experiência, variou de um a 32 anos, com tempo médio de 11 anos. Em relação ao local de atuação do profissional, dez (47,7%) atuavam em pronto-socorro, seis (28,5%) em enfermarias hospitalares, dois (9,5%) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), dois (9,5%) em assistência domiciliar e um (4,8%) no centro cirúrgico (CC).Em relação ao Significado da Morte, dentre as categorias apriorísticas definidas, surgiram nove sub-temas associados, conforme mostra o Tabela 1.Downloads
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