Artigo Original 2

Authors

  • Natália Aparecida Ramos Galvão Graduanda do Curso de Psicologia na Universidade de Taubaté.
  • Paulo Francisco de Castro Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté, Professor Adjunto do Curso de Psicologia da Universidade Guarulhos.
  • Maria Angela Boccara de Paula Professor Assistente Doutor do Departamento de Enfermagem e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté. Coordenadora do Curso de Especialização em Enfermagem em Estomaterapia da Universidade de Taubaté.
  • Marilza Terezinha Soares de Souza Professor Assistente Doutor do Departamento de Psicologia e do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Humano da Universidade de Taubaté.

Abstract

A Morte e o Morrer Sob a Ótica dos Profissionais de Enfermagem

ResumoA prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de saúde. Doença e morte são elementos presentes na rotina e no ambiente de trabalho desses profissionais, o que exige adaptação constante, visto que precisam conviver diretamente com o sofrimento do outro, acompanhar angústias dos familiares e ainda conviver com a morte, desafio freqüente e que pode gerar estresse em seu cotidiano profissional. O objetivo deste estudo foi conhecer o significado da morte vivenciado no contexto profissional na equipe de enfermagem e sua influência em seus aspectos pessoais e profissionais. Foi realizado estudo descritivo de abordagem qualitativa. Foram entrevistados 21 profissionais da área de enfermagem, atuantes em instituições hospitalares em um município do Vale do Paraíba Paulista. Os resultados foram analisados pautando-se nas seguintes categorias apriorísticas: significado da morte, consequências profissionais e pessoais e desafios encontrados na profissão. Os significados atribuídos à morte pelos profissionais de enfermagem relacionam-se, especialmente, com a inevitabilidade da morte, mas também como algo a ser evitado, ou seja, um elemento com o qual não se deve estabelecer intimidade no seu cotidiano profissional e pessoal. Trata-se de uma situação que gera experiências negativas, que são processadas por meio da aceitação pela fé.O despreparo técnico para lidar com o processo da morte e do morrer foi um aspecto observado na narrativa dos profissionais, tanto no que tange ao significado da morte como nos desafios encontrados na atuação profissional, mostrando que existe uma lacuna importante a ser preenchida na formação e capacitação da equipe de enfermagem.Descritores: Morte. Equipe de Enfermagem. Prática Profissional.AbstractProfessional nursing practice takes place in different health settings. Illness and death are elements present in the daily routine and work environment of nursing professionals, requiring constant adaptation. The professional must live with human suffering and death, and witness the anguish of family members. This is a constant challenge that may lead to stress in the professionals involved. The aim of this study was to determine the meaning of death as experienced by a nursing team in a professional context and its impact on personal and professional life. This was descriptive study with a qualitative approach. Twenty-one nursing professionals working on hospitals in a city located in Vale do Paraíba, São Paulo, Brazil, were interviewed should be prevented, in other words, death is an element with which one should not establish a close relation in his daily professional and personal life. Death is a situation that generates negative experiences, which are processed through a mechanism involving acceptance by faith. The lack of technical training to deal with death and the dying process was an aspect that was observed in the professional’s narratives, involving both the meaning of death and challenges faced in the work environment, which shows that there is an important knowledge gap that must be bridged in the formation and training of the nursing personnel.Descriptors: Death. Nursing, Team. Professional Practice.ResumenLa práctica profesional de la Enfermería se realiza en diferentes contextos de la salud, siendo la enfermedad y la muerte elementos presentes en la rutina y en el ambiente laboral de estos profesionales, exigiendo una adaptación constante, una vez que necesitan convivir directamente con el sufrimiento del prójimo, supervisar las angustias de los familiares además de convivir con la muerte, desafío frecuente y que puede generar estrés en su cotidiano profesional. El objetivo de ese estudio fue conocer el significado de la muerte vivida en el contexto profesional de un equipo de enfermería y su influencia en los aspectos personales y profesionales. Fue realizado un estudio descriptivo con abordaje cualitativo. Fueron entrevistados 21 profesionales del área de enfermería, que trabajan en el área hospitalaria en una ciudad del Vale de Paraíba Paulista. Los resultados fueron analizados con base en las siguientes categorías analíticas: significado de la muerte; consecuencias profesionales y personales y desafíos encontrados en la profesión. Los significados atribuidos a la muerte por los profesionales de enfermería están relacionados, especialmente, con la inevitabilidad de la muerte, pero también con algo que puede ser evitado, es decir un elemento con el cual no se debe establecer intimidad en el cotidiano profesional y personal. Se trata de una situación que genera experiencias negativas, que son procesadas por medio de la aceptación a través de la fe. La falta de preparación técnica para tratar con el proceso de la muerte y de morir fue un aspecto observado en la narración de los profesionales, tanto al expresar el significado de la muerte como en los desafíos encontrados en la práctica profesional, lo que demuestra que existe un espacio importante para ser trabajado en la formación y capacitación del equipo de enfermeríaPalabras-claves: Muerte. Grupo de Enfermería. Práctica Professional. com o sofrimento doIntroduçãoDentre os profissionais da saúde, especialmente no contexto hospitalar, os integrantes da equipe de Enfermagem destacam-se, uma vez que são aqueles que permanecem mais tempo com o paciente e geralmente realizam os primeiros procedimentos necessários para atender às suas necessidades1.A prática profissional da Enfermagem realiza-se em diferentes contextos de saúde, sendo que a doença e a morte são elementos presentes na rotina e no ambiente de trabalho desses profissionais. O hospital constitui-se num destes ambientes que exige dos profissionais adaptações constantes, visto que precisam conviver diretamente should be prevented, in other words, death is an element with which one should not establish a close relation in his daily professional and personal life. Death is a situation that generates negative experiences, which are processed through a mechanism involving acceptance by faith. The lack of technical training to deal with death and the dying process was an aspect that was observed in the professional’s narratives, involving both the meaning of death and challenges faced in the work environment, which shows that there is an important knowledge gap that must be bridged in the formation and training of the nursing personnel. Descriptors: Death. Nursing, Team. Professional Practice. Resumen La práctica profesional de la Enfermería se realiza en diferentes contextos de la salud, siendo la enfermedad y la muerte elementos presentes en la rutina y en el ambiente laboral de estos profesionales, exigiendo una adaptación constante, una vez que necesitan convivir directamente con el sufrimiento del prójimo, supervisar las angustias de los familiares además de convivir con la muerte, desafío frecuente y que puede generar estrés en su cotidiano profesional. El objetivo de ese estudio fue conocer el significado de la muerte vivida en el contexto profesional de un equipo de enfermería y su influencia en los aspectos personales y profesionales. Fue realizado un estudio descriptivo con abordaje cualitativo. Fueron entrevistados 21 profesionales del área de enfermería, que trabajan en el área hospitalaria en una ciudad del Vale de Paraíba Paulista. Los resultados fueron analizados con base en las siguientes categorías analíticas: significado de la muerte; consecuencias profesionales y personales y desafíos encontrados en la profesión. Los significados atribuidos a la muerte por los profesionales de enfermería están relacionados, especialmente, con la inevitabilidad de la muerte, pero también con algo que puede ser evitado, es decir un elemento con el cual no se debe establecer intimidad en el cotidiano profesional y personal. Se trata de una situación que genera experiencias negativas, que son procesadas por medio de la aceptación a través de la fe. La falta de preparación técnica para tratar con el proceso de la muerte y de morir fue un aspecto observado en la narración de los profesionales, tanto al expresar el significado de la muerte como en los desafíos encontrados en la práctica profesional, lo que demuestra que existe un espacio importante para ser trabajado en la formación y capacitación del equipo de enfermería Palabras-claves: Muerte. Grupo de Enfermería. Práctica Professional. com o sofrimento do outro, acompanhar as angústias dos familiares e ainda conviver com a morte, um desafio freqüente e que pode gerar estresse em seu cotidiano profissional.A Enfermagem foi classificada como a quarta profissão mais estressante pela Health Education Authority2, uma vez que o profissional, em sua prática, mantém contato direto com pessoas cujo sofrimento é quase inevitável, exigindo dedicação no desempenho de suas funções e também maior proximidade com os pacientes e familiares3.A morte no ambiente hospitalar leva o profissional a refletir sobre os limites da existência do ser humano. Desta forma, dor, sofrimento e morte rompem a fronteira familiar e passam a ser compartilhados com profissionais da área de saúde, principalmente com os integrantes da equipe de Enfermagem.Apesar de contemplarem, em suas propostas curriculares, abordagem integral da assistência, na prática clínica as universidades e instituições de ensino parecem não dar muita ênfase a essa questão, priorizando um ensino tecnicista. Embora extremamente necessário, o conhecimento técnico sozinho não é suficiente para preparar o futuro profissional para sua prática. “Muitos profissionais sentem-se despreparados para lidar com situações que implicam na morte [...] deixando que a vivência da prática os conduza a descobrir o que é importante nesse processo” (p.136)1.A possível lacuna deixada pelo ensino aliada às exigências do cotidiano profissional, como manipulação de aparelhos complexos, procedimentos desgastantes, agilidade e a convivência direta com o sofrimento de pacientes e familiares, podem gerar um grande desgaste tanto físico quanto emocional nos profissionais, levandoos a situações de estresse ou outros quadros psicopatológicos.A morte e o processo de morrer têm grande contribuição para o desgaste ou estresse do profissional, ao se considerar que, na cultura ocidental, “encarar a morte é aceitar o fracasso e perder para a doença, é algo difícil de ser vivenciado”4.Assim como a maioria das pessoas, a equipe de saúde também tenta inibir sentimentos de luto gerados pela perda de pessoas sob seus cuidados, enfatizando os tratamentos vitoriosos e encarando a morte como uma vilã a ser evitada, algo fora e distante do ciclo vital. Por outro lado, ressalta-se que o luto não vivenciado pode colocar o profissional em posição tão vulnerável quanto qualquer outra pessoa, que tenha sofrido o luto pela perda de um ente querido fora do contexto profissional e que tenha se munido de mecanismos de defesa para se proteger da dor dessa perda5.Dessa maneira, auxiliar a equipe de enfermagem a entender o processo de morte e morrer, como uma etapa do ciclo vital, e incentivar os debates sobre os sentimentos emergentes nesse processo e na elaboração do luto fazem-se necessários, uma vez que o sofrimento continuo e diário pode levar o profissional ao adoecimento.Considerando o exposto, o objetivo deste estudo foi conhecer o significado da morte vivenciado no contexto profissional na equipe de enfermagem e sua influência nos aspectos pessoais e profissionais.  MétodosTrata-se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado junto a amostra de conveniência composta de 21 profissionais, que foram contatados por acessibilidade da área de enfermagem, sendo 15 auxiliares ou técnicos de enfermagem e seis enfermeiros, atuantes em quatro instituições hospitalares em um município do Vale do Paraíba Paulista. Esses foram selecionados independentemente de características pessoais como sexo, idade, tempo de profissão, tempo de formação ou área de atuação. Os requisitos exigidos para participação na pesquisa foram: ter tido experiência de assistir pessoas no processo de morrer, em sua prática profissional, e aceitar participar do estudo.A coleta de dados foi realizada no período de setembro de 2009 a maio de 2010, na instituição de origem do participante, em local reservado, garantindo assim a privacidade e o anonimato. Os participantes foram orientados sobre os objetivos do estudo e aqueles que aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, gravadas e depois transcritas pelos pesquisadores. O roteiro da entrevista constou de duas partes, a primeira dedicada ao levantamento de dados de identificação do participante (idade, tempo e tipo de formação e área de atuação profissional) e a segunda, de questões abertas que versaram sobre contato e atitudes frente à morte, conseqüências profissionais e pessoais deste contato e outros desafios profissionais.O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté, sob Protocolo CEP/UNITAU 094/09.Os resultados foram analisados de forma qualitativa, pautando-se nas seguintes categorias apriorísticas:• Significado da Morte (como o profissional lido com a morte no contexto de trabalho)• Consequências Profissionais (possíveis interferências da vivência do processo de morrer na atuação profissional)• Consequências Pessoais (possíveis interferências da vivência do processo de morrer na vida pessoal)• Desafios encontrados na profissão.Depois de transcritas, as entrevistas foram lidas e os trechos mais significativos foram destacados. A partir desta etapa, os recortes dos discursos foram agrupados em sub-temas, os quais foram enquadrados nas categorias previamente definidas. As sub-categorias foram quantificadas de acordo com a frequência com que ocorreram nos discursos.  Resultados e discussãoDentre os 21 profissionais de enfermagem que participaram do estudo, 11 (52,4%) erram auxiliares de enfermagem, quatro (19,1%) técnicos de enfermagem e seis (28,5%) enfermeiros. A faixa etária variou de 22 a 60 anos, com idade média de 37 anos. Quanto ao tempo de experiência, variou de um a 32 anos, com tempo médio de 11 anos. Em relação ao local de atuação do profissional, dez (47,7%) atuavam em pronto-socorro, seis (28,5%) em enfermarias hospitalares, dois (9,5%) em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), dois (9,5%) em assistência domiciliar e um (4,8%) no centro cirúrgico (CC).Em relação ao Significado da Morte, dentre as categorias apriorísticas definidas, surgiram nove sub-temas associados, conforme mostra o Tabela 1. 

inevitabilidade da morte, aspecto abordado com maior freqüência pelos participantes, resgata a percepção do profissional de enfermagem em relação à finitude humana, nem sempre aceita com facilidade, mas percebida como algo presente contra a qual não há ações efetivas para evitá-la, como é possível observar nos recortes dos discursos, a seguir:   “ ... a morte é uma certeza, mas ninguém quer vivenciá-la.”“... é difícil tentar entender aquela morte.... mas tem que aceitar”“... vai ter que lidar e aceitar” A morte faz parte da existência humana, do crescimento e desenvolvimento, tanto quanto o nascimento6, além disso, é considerada uma experiência universal, porém particular que ocorre constantemente na vida dos seres humanos. No mundo ocidental, é considerada como uma das experiências mais dolorosas e frustrantes, que pode instalar o processo de luto7.Outro sub-tema que se destacou foi a necessidade de lidar com a morte com frieza e evitando o sofrimento. Apesar de ser compreendida como algo inevitável, a morte é tratada com certo distanciamento do profissional de enfermagem para minimizar a dor, a perda e, indiretamente, o fracasso. “ A gente assim, é meio fria”“... não gosto de encarar muito de frente....”“... mais técnico, porque você tem de correr, não pode deixar aflorar sentimentos” Apesar da inevitabilidade da morte, em geral, os profissionais de saúde não são preparados emocionalmente para lidar com as questões do processo de morrer, uma vez que tanto aqueles como as próprias instituições de saúde têm sua imagem vinculada à vida e à cura e todos depositam neles a esperança de encontrá-la8.Aspectos como aceitação da morte, principalmente com o apoio da fé e experiências emocionais positivas, também compuseram os sub-temas da categoria Significado da morte, mostrando que existem diversos fatores que interferem e contribuem para que o profissional de enfermagem possa lidar com a morte e o processo de morrer, na sua prática profissional.Os seguintes recortes dos discursos exemplificam tais aspectos.   “.... porque para mim aquela pessoa que morreu esta num plano superior.... foi para um lugar melhor”“ ... quando você tem fé você pensa que o paciente foi para um lugar melhor,”... foi um alívio, descansou...”“... vendo o lado positivo, quanta coisa, oportunidades, quantas situações que você tem mesmo para crescer pessoalmente, de valores....” Em estudo realizado por Gutierrez, Ciampone8, a fé também foi apontada como um recurso utilizado pelos enfermeiros para o enfrentamento da morte. Os princípios religiosos permeiam os significados atribuídos à morte e ao processo de morrer e os auxiliam na sua aceitação, uma vez que a espiritualidade pode ser compreendida como uma dimensão íntima que se integra com os valores culturais, visão de mundo e sentido de vida.O despreparo técnico também constituiu um subtema desta categoria, como ilustram os recortes a seguir:   “...ainda é difícil para mim, acabei de sair da faculdade...”“...no começo eu tinha pavor.... a gente tem medo porque não foi preparado” Na formação acadêmica dos profissionais de enfermagem, a temática da morte é, de certa forma, negligenciada ou até inexistente. O preparo técnico para o cuidado da pessoa que morre é assunto abordado na grade curricular dos cursos de formação dos profissionais de enfermagem, porém a esfera humanística e filosófica da morte e do morrer não é contemplada em sua totalidade, sendo abordada, muitas vezes, com superficialidade9.O despreparo para lidar com a morte faz com que os profissionais sintam medo e insegurança, distanciando-se de situações nas quais a morte está presente. Mudar esta realidade envolve ações simultâneas nas instituições de formação e de saúde. As escolas poderiam incluir disciplinas sobre o assunto e as instituições de saúde poderiam proporcionar reflexões sobre o processo de morte e o morrer, por meio da educação permanente 10.No que tange à categoria Consequências Profissionais (possíveis interferências da vivência do processo de morrer na atuação profissional) surgiram nove sub-temas, conforme Tabela 2. 

idade da pessoa assistida que morre foi o aspecto mais citado pelos participantes e que interfere na sua rotina de trabalho. A morte de uma pessoa idosa é aceita com mais facilidade do que a morte de um jovem ou uma criança, o que se explica com base na cultura de que a morte apesar de ser inevitável, deve ocorrer após o transcorrer de anos de vida, de preferência na fase denominada de velhice.   “você fica um pouco indignada porque não espera que a criança vai morrer”“se eu pudesse escolher eu não trabalharia na pediatria, acho que criança é mais difícil”  “adulto e idoso não tenho problema, já criança você imagina que tem a vida inteira pela frente” Dados semelhantes foram encontrados em estudo sobre o processo de morrer e a morte no enfoque dos profissionais de enfermagem em UTIs8 no qual os participantes demonstram sentimentos de revolta e sofrimento frente à morte na infância. Médicos também têm maior dificuldade para a aceitação da morte em crianças, por considerarem-na como interrupção de uma vida que não chegou a ser vivida 11.Quando ocorre a morte de uma criança ou de um adolescente, tal fato é compreendido como a interrupção no seu ciclo biológico, levando à vivência de sofrimento na equipe de enfermagem por meio da manifestação de sentimentos de impotência, frustração, tristeza, dor e angústia 12.Outro sub-tema desta categoria foi relacionado ao fato de que a experiência pode auxiliar no enfrentamento da morte, conforme é possível observar nos seguintes recortes:   “ aprendi vendo, principalmente quando entrei no hospital, ali tive que aprender na raça”“... o tempo vai passando e alguns vão ficando não numa rotina, mas vai se tornando uma coisa mais comum...”“... com o tempo a gente vai se equilibrando..” Ao deparar-se com sucessivas experiências de morte no ambiente laboral, o profissional desenvolve recursos de enfrentamento nem sempre ideais, porém que os auxiliam na adaptação à rotina de trabalho. Porém, tais recursos nem sempre são suficientes para que o profissional elabore a experiência de forma efetiva.No estudo realizado por Gutierrez e Ciampone8, as autoras constataram que, mesmo os profissionais mais experientes, dificilmente se habituam à situação de morte e muitos reprimem os sentimentos advindos da situação vivida e não compartilham essa angústia com os outros componentes da equipe.A necessidade de continuar as tarefas, apesar da morte, foi outro sub-tema desta categoria.   “...a gente tem que continuar porque tem mais gente dependendo da gente ali”“... consigo trabalhar, mas não é fácil”“ ... tem que ir para frente tem de seguir” Os relatos que foram expressos nesse sub-tema mostram que o profissional possui a percepção de que, apesar da morte de um paciente, existem inúmeras outras atividades e tarefas a serem cumpridas, relacionadas à rotina profissional e ao cuidado de outras pessoas, e que demandam ações da equipe de enfermagem.A Tabela 3 apresenta os sub-temas associados à categoria Consequências pessoais diante da vivência da morte.

O principal sub-tema dessa categoria foi relacionado às atitudes do profissional em relação à diferenciação de experiências profissionais de vivências pessoais relacionadas à morte. Nesse sub-tema, surgiram aspectos que se contrapõem entre si e podem ser observados nos recortes a seguir: “...tento deixar tudo no meu local de serviço...”“... serviço é serviço e casa é casa...”“...eu nem comento o que acontece aqui...”“Consigo separar as coisas”“...a gente fica emotiva, mas não interfere...”“...você não consegue descarrilar o sofrimento que está tendo no trabalho”“...desgasta realmente...”“...às vezes eu chego triste e converso com meu marido...” A partir dos relatos expostos, fica clara a ambivalência nas respostas quanto às consequências pessoais diante da vivência da morte. A necessidade de separar as vivências profissionais da vida pessoal contrapõe-se aos sentimentos de tristeza expressos pelos profissionais.Apesar de, racionalmente, os profissionais explicarem sobre a importância de não permitirem que as experiências profissionais interfiram nas suas vidas pessoais, por se tratar de uma relação humana, permeada de todas as vicissitudes desse contato, não lhes é possível tamanha distinção emocional.A vivência da morte está presente no cotidiano dos indivíduos e, no caso dos profissionais de enfermagem, está também associada à sua prática profissional que pode, inclusive, tornar-se uma ocorrência diária, desgastando-os em demasia.Sentimentos como tristeza, angústia, frustração, raiva, fuga e até negação, por não conseguirem manter a vida estão presentes, especialmente porque esse profissional está muito próximo de situações críticas, tornando-os vulneráveis a elas. Estar em contato rotineiro com situações de morte pode gerar sentimentos disfóricos, que fragiliza as defesas que poderiam ser utilizadas em situações de enfrentamento13.O Tabela 4 apresenta os sub-temas da categoria denominada Desafios encontrados na atuação profissional diante da morte. 

Dentre os desafios apontados pelos profissionais de enfermagem, mais da metade dos participantes assinalou o excesso de trabalho e responsabilidade nas tarefas como os principais desafios encontrados diante da vivência e elaboração da morte. Os recortes, a seguir, ilustram esse achado:  “...é muito serviço...”“...os enfermeiros são tratados como máquina...”“...a maioria das ‘bombas’ quem tem que resolver é a enfermagem...”“...trabalho todos os dias, doze horas por dia...”“...a gente passa muito tempo dentro do hospital e pouco tempo junto do paciente...eu acho difícil ter um tempo maior com o paciente por muita tarefa que você tem que fazer.”carga de trabalho da equipe de enfermagem, principalmente no contexto hospitalar, é grande; e a necessidade de realização de procedimentos e técnicas específicas para o cuidado do doente acrescidas das atividades de planejamento e administração da unidade, muitas vezes, geram sobrecarga e dificultam um contato mais próximo do paciente e de sua família. Esse afastamento do profissional gera certa distância no relacionamento com o paciente. Assim, quando ocorre a morte, nem sempre o profissional de enfermagem conseguiu acompanhar o processo experienciado pelo paciente, o que pode dificultar a vivência do luto e, consequentemente, sua aceitação.Por outro lado, o mesmo excesso de trabalho pode ser utilizado como uma estratégia de enfrentamento diante da morte do paciente, geralmente pelo afastamento e negação do sentimento vivido.As dificuldades de acompanhar o sofrimento do próximo e a pouca informação recebida para lidar com a morte e o morrer no processo de formação foram sub-temas que se destacaram nesta categoria.No que se refere ao primeiro aspecto assinalado, dificuldade de acompanhar o sofrimento, têmse as seguintes falas:  “eu não gosto de ficar muito para não ter muito vínculo com o paciente. Eu tento assim não me apegar”“você tenta fugir um pouco daquele contexto de sofrimento”No tocante à formação, destacam-se as próximas verbalizações“...muita coisa você tem que aprender na prática...”“...só trabalhando você desenvolve essa capacidade...”“a escola ensina mas na hora da prática é outra coisa”A abordagem da temática morte nos cursos de graduação, geralmente, se restringe aos procedimentos técnicos relacionados aos cuidados do corpo após a morte; muito pouco é trabalhado em relação ao impacto emocional dessa experiência e as estratégias de enfrentamento.Em estudo realizado por Costa e Lima10, verificou-se que os profissionais da equipe de enfermagem não se permitem vivenciar o luto diante da morte de pacientes; tal reação pode ser advinda da tentativa de autoproteção ou por não estarem preparados para conviver com o processo de luto e suas manifestações emocionais. Para poder se defender do sofrimento do luto, os autores assinalam que os profissionais armam-se de uma postura de firmeza, frieza ou indiferença.  Considerações FinaisOs significados atribuídos à morte pelos profissionais de enfermagem relacionam-se, especialmente, com a inevitabilidade da morte, mas também como algo a ser evitado, ou seja, um elemento com o qual não se deve estabelecer intimidade no seu cotidiano profissional e pessoal. Trata-se de uma situação que gera experiências negativas, que podem ser processadas por meio da aceitação pela fé.O despreparo técnico para lidar com o processo da morte e do morrer foi um aspecto observado na narrativa dos profissionais, tanto no que tange ao significado da morte como nos desafios encontrados na atuação profissional, mostrando que existe uma lacuna importante a ser preenchida desde a formação e capacitação da equipe de enfermagem. Assim, é de extrema importância atentar para a necessidade de abrir espaços para que as questões da morte e do morrer sejam trabalhadas numa perspectiva interdisciplinar, a fim de minimizar a distancia entre uma postura tecnicista e humanística da assistência em todas as áreas de abrangência da profissão.


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Published

2016-03-23

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1.
Galvão NAR, Castro PF de, Paula MAB de, Souza MTS de. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Nov. 22];8(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/61

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