Artigo Original 3

Authors

  • Kelly Finger Palludo Nutricionista.
  • Daniela Augustin Silveira Médica patologista. Mestre em anatomia patológica pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA). Docente da disciplina de Patologia da Universidade de Passo Fundo (UPF).
  • Renata Vanz Nutricionista. Mestre em Nutrição-metabolismo e dietética. Programa de Pós Graduação em Nutrição-Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente do Curso de Nutrição da Universidade de Passo Fundo (UPF).
  • Vilma Madalosso Petuco Enfermeira Estomaterapeuta. Doutora em Saúde Pública. Professora Titular do curso de Enfermagem da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Abstract

Avaliação da Dieta de Pacientes com Colostomia Definitiva por Câncer Colorretal

ResumoA ingestão alimentar é um motivo de preocupação para os colostomizados, já que a presença do estoma pode interferir em seus hábitos alimentares. O objetivo deste trabalho foi conhecer a dieta de pacientes com colostomia definitiva por câncer colorretal e associá-la com a presença de sintomas gastrointestinais. A coleta de dados iniciou-se após aprovação do projeto pelo CEP da Universidade de Passo Fundo, conforme Parecer 245/2009. A identificação dos pacientes foi feita por meio de uma pesquisa documental na Secretaria Municipal da Saúde de Passo Fundo-RS. O grupo foi composto por dez pacientes. Em novembro de 2009, a aplicação de um questionário estruturado de frequência de consumo alimentar apontou os alimentos mais consumidos e os menos consumidos e seus devidos sintomas recorrentes. Para a avaliação nutricional utilizaram-se os critérios de classificação do Índice de Massa Corporal. Dentre os alimentos citados, percebeu-se forte relação do feijão com os sintomas de diarreia, gases e odor. Ainda foram citados os temperos industriais, alho e ovos para os sintomas gases e odor; refrigerante e repolho, para odor; mamão, laranja, sorvete, milho e ervilha, para o sintoma diarreia. Os dados obtidos permitiram compreender a importância do profissional da nutrição em sua atuação junto a esses pacientes, para os quais a dieta deve ser adaptada para cada tipo de organismo, mas sem deixar de contemplar nutrientes para uma vida saudável.Palavras Chaves: Neoplasias colorretais. Colostomia. Dieta.AbstractFood intake is a matter of concern for colostomy patients, because the presence of a stoma can interfere with eating habits. The objective of this study was to learn about the diet of patients with permanent colostomy due colorectal cancer and determine its association with the presence of gastrointestinal problems. This study was approved by the Research Ethics Committee of the University of Passo Fundo under the process no. 245/2009. Colostomy patients were identified through a documentary research at the Secretary of Health of the city of Passo Fundo, RS, Brazil. The sample consisted of 10 patients. A structured food frequency questionnaire was administered to the participants in November 2009 and the most and least consumed foods and associated effects and symptoms were determined. The Body Mass Index classification was used for the nutritional assessment. Among the foods consumed, it was observed that there was a strong association of beans with symptoms of diarrhea, gas, and odor. Additionally, industrial condiments, garlic, and eggs were associated with gas and odor; carbonated soft drinks and cabbage were associated with odor; papaya, orange, ice cream, corn, and peas were associated with diarrhea. Our results lead to a better appreciation of nutrition professionals and the work they perform with colostomy patients, for whom diets must be planned on an individual basis, taking into account a balanced intake of nutrients for a healthy life.Key words: Colorectal neoplasms. Colostomy. Diet.ResúmenLa ingesta de alimentos es un motivo de preocupación para los colostomizados ya que la presencia del estoma puede interferir con sus hábitos alimenticios. El objetivo de este trabajo fue conocer la dieta de pacientes con colostomía definitiva por cáncer colorrectal y asociarla con la presencia de síntomas gastrointestinales. La recolección de datos se inició después de la aprobación del proyecto por el CEP de la Universidad de “Passo Fundo”, de acuerdo al Dictamen 245/2009. La identificación de los pacientes fue realizada por medio de una investigación documental en la Secretaría Municipal de Salud de “Passo Fundo”- RS. El grupo fue compuesto por diez pacientes. En el mes de noviembre de 2009, fue aplicado un cuestionario estructurado de frecuencia de consumo alimenticio, el cual apuntó los alimentos más consumidos y los menos consumidos así como también los respectivos síntomas vivenciados. Para la evaluación nutricional fueron utilizados los criterios de clasificación del índice de masa corporal. Dentro de los alimentos citados fue posible percibir una fuerte relación del frijol con los síntomas de diarrea, gases y olor. Además fueron citados los condimentos industriales, ajo y huevos para los síntomas de gases y olor, gaseosa y col para el olor; papaya, naranja, helado, choclo y arveja para el síntoma de diarrea. Los datos obtenidos permitieron comprender la importancia del profesional de nutrición junto a estos pacientes, para los cuales la dieta debe ser adaptada para cada tipo de organismo, pero sin dejar de contemplar nutrientes para una vida saludable.Palabras clave: Neoplasias colorrectales. Colostomía. Dieta.IntroduçãoO câncer colorretal apresenta distribuição universal. Esta patologia tem gerado maior interesse nos últimos anos, por envolver uma complexa interação entre fatores genéticos individuais e fatores ambientais, principalmente a dieta alimentar. Quando diagnosticado em estágios avançados, tem como alternativa terapêutica prioritária a ressecção cirúrgica do segmento intestinal afetado. Nessa situação, a confecção de uma colostomia é praticamente inevitável para que os pacientes possam manter um trânsito alimentar próximo do normal.Um estudo com o intuito de avaliar o quanto a presença da colostomia definitiva por câncer colorretal interfere nos hábitos alimentares (dieta) de pacientes com este diagnóstico é de suma importância, visto que as informações fornecidas poderão ajudar a identificar os tipos de alimentos que são ou não excluídos de sua rotina alimentar, bem como as prováveis consequências que isso pode acarretar nos seus organismos e o modo de vida.Considera-se dieta o conjunto de alimentos que um indivíduo consome diariamente, juntamente com as substâncias nutritivas denominadas nutrientes1. A eliminação involuntária de fezes, gases e odores é uma das principais alterações enfrentadas pelos estomizados e está relacionada, sobretudo, com a ingestão alimentar. O temor de o intestino funcionar em momentos inadequados é muito grande e pode levá-los ao isolamento social2. Assim, qualquer doença, enfermidade ou condição crônica que leve a pessoa a mudar a maneira de comer ou que dificulte a alimentação pode colocar a saúde nutricional em risco3. Cabe aos profissionais da nutrição, principalmente, veicular orientações que permitam à população em geral e, em especial, à estomizada a seleção adequada de alimentos (qualidade e quantidade) para manter a saúde do organismo4.Colostomia e terapia nutricionalA terapia nutricional do estomizado deve se adequar às suas necessidades individuais e basearse em hábitos alimentares corretos, inseridos em uma dieta equilibrada, capaz de recuperar ou manter seu estado nutricional, com vistas à sua reintegração à sociedade5.Orientações errôneas sobre a dieta a ser seguida, além das experiências alimentares negativas desenvolvidas durante ou após a terapia antineoplásica, somadas à presença da dor, anorexia, ansiedade, medo e depressão1, podem conduzir os pacientes com colostomia a um baixo consumo de alimentos.Os principais problemas apresentados pelos pacientes submetidos à colostomia são a obstipação intestinal e o aumento da produção de gases, além do odor nas fezes e da diarreia3,6. Por essa razão, muitos pacientes passam a restringir ou até eliminam determinados componentes de sua ingestão alimentar. Não obstante, devem ser encorajados a seguir a sua dieta normal, omitindo apenas aqueles alimentos que são causadores de sintomas gastrointestinais, para que não se criem aversões ou tabus desnecessários e possam seguir as mesmas diretrizes de nutrição e exercício indicados para os demais indivíduos3. Assim, medidas dietéticas adequadas favorecem uma melhor adaptação do paciente à sua nova condição clínica7.Para que essa adaptação aconteça, recomenda-se, ainda no pós-operatório, ingerir de 1.500 a 2.000 ml de líquidos ao dia, em quantidades fracionadas; realizar de cinco a seis refeições durante o dia; evitar a ingestão de alimentos flatulentos (pepino, repolho, leguminosas com casca, grão de bico etc.), muito condimentados, café, alimentos fritos e bebidas gaseificadas; utilizar suplementos de fibra vegetal hidrossolúvel e evitar fibras insolúveis; evitar, inicialmente, alimentos ricos em lactose. Essas restrições podem ser diminuídas com o passar do tempo, à medida que a tolerância do paciente for aumentando6.Ainda, a dieta deve fornecer uma ingestão de sal normal ou aumentada. Um ou dois litros de fluidos, tomados entre as refeições, devem ser ingeridos diariamente. O paciente deve prestar atenção aos alimentos altamente condimentados, assim como ao excesso de frutas frescas e hortaliças, porque tendem a provocar diarreia. Suco de ameixa também pode ser problemático para alguns pacientes. Os alimentos que provocam odores incluem o álcool (cerveja), feijão, cebola, pimentão verde, repolho, nabo, beterraba, couve, rabanete, pepino, peixe, ovos e alho. A salsinha fresca é um desodorizante natural. Hortaliças formadoras de gás, como o milho, brócolis e couve-flor, podem causar desconforto; logo, o nutricionista deve omitilas se necessário8.Da mesma forma, ter horários regulares de refeições e evitar “alimentos constipantes”, como o leite fervido e o arroz, passando a consumir uma dieta rica em fibras, com alimentos de fibras curtas – não empregar grão inteiro do milho, aipo, nozes, abacaxi, pipoca, cascas de maçã, sementes ou coco -, pode ajudar a normalizar os horários das evacuações. Se ocorrer diarreia, podem-se consumir bananas passadas na peneira, molho de maçã, arroz cozido e leite fervido8.Quanto às fezes fétidas, a quantidade de gases e odores pode diferir entre os pacientes e com as diferentes práticas de dieta. Com o tempo, eles aprendem a lidar com o estoma e conseguem identificar os alimentos que devem ser suprimidos ou diminuídos em suas refeições diárias3. Alguns tipos de ácidos e gases orgânicos contribuem para o odor das fezes. As grandes composições da dieta podem alterar a flora fecal, porém a resposta depende da flora original do hospedeiro e da nova dieta3. Também, algumas doenças podem alterar a flora intestinal em níveis variáveis. Contudo, é preferível usar um desodorizador comercial na bolsa de colostomia, ao invés de eliminar alimentos altamente aromatizados ou com densidade nutritiva8.Nessa linha, pesquisas atuais indicam que o consumo de cerca de 30 a 35g de fibras dietéticas de frutas, hortaliças e grãos integrais é válido para manter a saúde das células que vestem o cólon; impedir a pressão intracolônica em excesso e prevenir a constipação e, talvez, outros transtornos colônicos. As quantidades excessivas de carboidrato e fibra fermentável no cólon podem causar distensão abdominal (colônica), inchaço, dor, flatulência aumentada e, às vezes, fezes amolecidas, especialmente se o indivíduo consumir grande quantidade de uma só vez3.Outro fator importante é a oferta hídrica. Para que as fibras possam agir alterando o peso e a maciez das fezes, é essencial a ingestão abundante de, pelo menos, oito copos/dia de líquidos (água, sucos e outros)1.Destaca-se que influências psicológicas e neurológicas, medicações, lesões malignas, anormalidades nutricionais e citocinas influenciam no apetite e, consequentemente, na ingestão alimentar, bem como os fatores físicos, sociais, culturais e econômicos e aversões relacionadas à terapia nutricional3. Desse modo, um atendimento nutricional correto para o estomizado inicia com um exame detalhado da anamnese alimentar, que identifique e justifique a conduta dietética adotada5. A utilização de indicadores comuns, como os dietéticos, antropométricos, composição corpórea e dados laboratoriais, complementa a avaliação realizada pelo profissional.O doente colostomizado geralmente apresenta uma evolução rápida da dieta, com a consistência das fezes se apresentando pastosa ou normal. Neste momento, algumas recomendações referentes à dieta são importantes como: restrição de resíduos para reduzir a incidência de diarreia; consumo de alimentos ricos em fibras, a fim de regularizar o hábito intestinal; diminuição dos gases e do odor desagradável nas fezes. Como, após adaptações dietéticas muitas vezes não se consegue atingir as necessidades do indivíduo, deve-se indicar a terapia nutricional, seja via oral com uso de complemento alimentar, seja enteral, com uso de dieta enteral5.Ao mesmo tempo em que se deve alimentar corretamente, o paciente com colostomia não deve descuidar de outros importantes aspectos de sua vida. Com o apoio dos profissionais da área da saúde, ele poderá levar uma vida normal como antes. Banhos de ducha ou de banheira poderão ser tomados com ou sem a bolsa; roupas poderão ser as mesmas de antes; trabalhar e viajar não serão problemas; fazer exercícios e atividades físicas normalmente, nadar, caminhar, jogar, velejar (importante esvaziar a bolsa antes de qualquer atividade). Os relacionamentos sexuais não afetarão o estoma e é importante deixar claro que mesmo pacientes de ambos os sexos, com esse diagnóstico e tendo recuperação satisfatória, poderão ter filhos após a cirurgia9.Os membros da equipe da saúde, que se envolvem com o atendimento dessas pessoas devem ampliar sua visão a respeito dos sentimentos que surgem diante da doença, bem como de suas sequelas e do processo de reconstrução de sua vida. Assim, é importante que seja desenvolvida assistência personalizada, que considere o sistema de crenças, os conhecimentos, a habilidade para aprender a manipular o estoma e o dispositivo coletor, a capacidade de lutar contra a doença e, dessa forma, contribuir para a melhoria da qualidade de vida do indivíduo10.Por outro lado, cada vez mais a terapêutica multidisciplinar é utilizada com tendência às operações mais conservadoras, mas o cuidado no acompanhamento após o tratamento do câncer colorretal é importante para assegurar que as alterações de saúde sejam relatadas e as devidas providências sejam tomadas e, da mesma forma, para o diagnóstico precoce e tratamento adequado de recidivas ou novos tumores11.Resumindo, a conduta dietética para os pacientes com colostomia tem como objetivos: prevenir a perda de peso; prevenir o bloqueio do estoma; prevenir movimentos intestinais aquosos ou imprevistos; individualizar a dieta, ou seja, comer regularmente, evitar alimentos que provocam odores, trocando-os por outros de mesmo aporte de nutrientes; monitorar as preferências alimentares; evitar infecções e irritações na pele e normalizar ao máximo o estilo de vida do paciente5.Os serviços e os profissionais da saúde devem realizar um adequado planejamento de assistência, incluindo apoio psicológico e educação nutricional, para que a adaptação fisiológica, psicológica e social, tanto do paciente quanto dos familiares, seja rápida e contribua para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, e não apenas prolongue a sobrevida do paciente estomizado2.É fundamental compreender, juntamente com as alterações nutricionais, as modificações que ocorrem na vida da pessoa que vive com um estoma, bem como as estratégias de enfrentamento que ela utiliza para lidar com as mudanças quotidianas. Assim, pode-se prestar um apoio mais efetivo 9,12.Objetivos• Conhecer as características demográficas dos pacientes do grupo colostomizado.• Caracterizar a dieta de pacientes com colostomia definitiva por câncer colorretal e correlacioná-la com o relato de presença de sintomas gastrointestinais.MétodosEste estudo descritivo, de abordagem quantitativa, foi dividido em duas etapas: primeiramente, buscaram-se os registros das pessoas estomizadas na Secretaria Municipal da Saúde de Passo Fundo-RS; após, com base nesses registros, selecionaram-se aquelas que eram colostomizadas definitivas por câncer colorretal. Essas foram, então, contatadas, isoladamente, por meio dos dados de identificação e telefone que constavam nos registros. A coleta de dados foi feita no posto de saúde onde, habitualmente, são distribuídas as bolsas coletoras através do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme data previamente agendada com cada um.O estudo incluiu dez pacientes, os quais assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As informações foram coletadas após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo, conforme Parecer 245/2009.Por meio de um formulário obtiveram-se os dados relativos às características demográficas do grupo, tais como idade, sexo, tempo de estomia e uso de medicação, entre outros. Esses dados foram descritos na forma de frequências absolutas e frequências relativas, expressas em percentuais e cálculos da média, sendo analisados pelo software Microsoft Excel 2003.Para a avaliação nutricional, utilizaram-se os critérios de classificação do Índice de Massa Corporal, na qual é avaliada a relação do peso corporal com a estatura do indivíduo, conforme faixa etária (adultos e idosos), proposta pela Organização Mundial da Saúde em 1998. Assim, o ponto de corte para adultos se dá por: <18,5 magreza; entre 18,5 – 24,9 eutrofia; 25,0 a 29,9 sobrepeso; entre 30,0 – 34,9 obesidade grau I; entre 35,0 – 39,9 obesidade grau II; >40,0 – obesidade grau III. Para o ponto de corte de idosos, utilizouse os seguintes critérios: <22,0 – magreza; entre 22,0 – 27,0 eutrofia; >27,0 – excesso de peso13.Para o consumo alimentar, aplicou-se um formulário elaborado pelas autoras e baseado no Questionário de Frequência de Consumo Alimentar, proposto por Fisberg, Slater, Marchioni e Martini14. O objetivo deste formulário foi verificar os alimentos mais consumidos e os menos consumidos pelos pacientes e seus devidos sintomas recorrentes. À medida que as perguntas eram feitas, as respostas eram anotadas no formulário. Para a análise dessas variáveis, utilizou-se o software estatístico SPSS 10.0 v.10.Resultados e discussãoDos dez pacientes entrevistados, cinco (50%) eram homens e cinco (50%), mulheres, com idade média entre 63,6 ± 10,7 anos. Um estudo12 feito na cidade de São Paulo, também composto de dez pacientes estomizados por câncer colorretal, mostrou média de idade em torno de 66,5 anos ± 15,97. Esses dados confirmam aqueles encontrados na literatura, na qual se relatam a incidência de tumores elevada com o envelhecimento da população e a distribuição similar entre homens e mulheres7,15.A média de tempo em que os pacientes possuíam a colostomia ficou entre 6,2 ± 4,1 anos, havendo seis (60%) com estomas há mais de sete anos. Nenhum dos pacientes fazia quimioterapia no momento da realização do estudo.Conforme informações obtidas e relatadas pelos pacientes, o peso e a altura foram informados durante a entrevista, pois não havia no local disponibilidade dos equipamentos necessários para este tipo de verificação. O peso variou, em média, de 73,9 ± 16,2kg. Segundo a classificação do estado nutricional, de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC), estes foram classificados segundo a faixa etária13. A média de IMC ficou entre 26,4 ± 5,0kg/m2, sendo dois (20%) dos pacientes classificados com magreza e quatro (40%) com excesso de peso. Sabe-se que as causas associadas ao IMC alto são doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, diabetes e, em homens, câncer de cólon4.Os pacientes foram questionados quanto ao hábito de fumar, verificando-se que oito (80%) relataram não fumar e dois (20%) ainda estar fumando. Quando questionados sobre exercícios físicos, oito (80%) responderam não praticá-los e dois (20%) praticá-los diariamente (caminhada).Sendo o nutricionista indispensável no tratamento de pacientes oncológicos submetidos a cirurgias do trato gastrointestinal6, por causarem diversas alterações nos hábitos alimentares, tais como aversões alimentares, redução da ingestão de alimentos e alterações psicossociais1, os colostomizados foram questionados quanto ao acompanhamento por este profissional. Todos relataram nunca terem consultado com um nutricionista, nem mesmo após a cirurgia. Sobre seguir algum tipo de dieta ou recomendação sobre alimentação orientada por um profissional, nenhum respondeu fazê-lo, mas todos tinham aversões alimentares quanto à colostomia e aos alimentos. Tais aversões podem estar relacionadas às recomendações dos próprios médicos e de outros profissionais da saúde.Quanto aos resultados referentes à dieta (hábito) alimentar da população estudada e ao tipo de refeição durante o dia, verificou-se que nove (90%) faziam o desjejum; oito (80%) não faziam o lanche da manhã e nove (90%) almoçavam. Em relação ao lanche da tarde, nove (90%) relataram lanchar, nove (90%) jantavam e cinco (50%) alimentavam-se na ceia. Dos dez pacientes, apenas um (10%) relatou não ter apetite e não fazer a maior parte das refeições diárias, e nove (90%) responderam ter apetite normal.É importante fazer seis refeições diárias ou consumir a intervalos de 2 a 3 horas4, mesmo as pessoas que possuem câncer e colostomia. No entanto, os dados encontrados apontam que os pacientes seguem a linha da literatura consultada, isto é, alguns se alimentam normalmente, ao passo que outros não fazem o número diário correto de refeições, omitindo principalmente o lanche da manhã, fato que pode comprometer o estado nutricional.Outrossim, sete (70%) dos pacientes responderam mastigar bem os alimentos e devagar. Os alimentos não mastigados e ingeridos de maneira incorreta podem causar gases nos pacientes. Conforme análises dos gases intestinais, 50 a 70% derivariam do ar deglutido e tendem a aumentar por influência de diversos fatores, como aerofagia e a ingestão alimentar15. Para a minimização desse efeito são importantes as orientações nutricionais para cada paciente, visto que a produção de gases varia de um indivíduo para outro.Todos os entrevistados informaram não usar nenhum tipo de complemento nutricional para a dieta.Em relação aos medicamentos utilizados, um (10%) paciente relatou tomar anti-hipertensivo do grupo dos diuréticos; dois (20%) usavam antihipertensivo do grupo dos betabloqueadores; dois (20%) tomavam diariamente, com prescrição médica, antidiarreico para tratar os sintomas de diarreia, e cinco (50%) dos entrevistados não tomavam nenhum tipo de medicamento. O antihipertensivo do grupo dos diuréticos pode causar dores gastrointestinais, diarreia, hipotensão, anemia, anorexia, tonturas, hiperglicemia, entre outros, e durante o seu uso devem-se monitorar os eletrólitos e ureia. O uso de anti-hipertensivo do grupo dos betabloqueadores pode causar anorexia, boca seca, náuseas, diarreia e dores abdominais16. O cloridrato de loperamida (Imosec®) é um antidiarreico que pode causar dores abdominais, flatulência e obstipação, além de toxicidade do sistema nervoso central; assim, durante o seu uso devem-se monitorar os líquidos e eletrólitos16.O uso desnecessário e excessivo de medicamentos prescritos e daqueles tomados por conta própria aumenta os riscos de reações adversas às drogas e interações entre drogas e nutrientes. Essas interações entre os medicamentos e nutrientes podem alterar o estado nutricional normal e reduzir a absorção de nutrientes por influenciar no tempo de trânsito do alimento e nutrientes no intestino3.Para preservar um bom estado nutricional no colostomizado é importante que a equipe de saúde e o paciente planejem, conjuntamente, a escolha dos medicamentos e da dieta considerando os efeitos droga-nutriente. Atenção especial deve ser dada àquelas drogas que podem suprimir o apetite e ocasionar perda de peso indesejada e desequilíbrio nutricional ao paciente3.Consumo alimentarUtilizando-se o questionário de frequência alimentar, foram analisadas variáveis qualitativas referentes aos tipos e grupos de alimentos e sua frequência de consumo relacionada com os possíveis sintomas gastrointestinais.Considerando-se a variável odor, quatro (40%) pacientes afirmaram que os alimentos ocasionam o sintoma, interferindo na sua conduta dietética. Os demais seis (60%) disseram que não interferiam na alimentação diária.Sabe-se que as fezes fétidas e a quantidade de gases e odores podem diferir entre os pacientes e também com as diferentes práticas da dieta3. Dos quatro (40%) pacientes que referiram o sintoma, a relação deu-se com determinados tipos de alimentos consumidos (Figura 1). Figura 1 - Alimentos relacionados com o sintoma odor, nos pacientes colostomizados.Passo Fundo-RS, 2009.Os alimentos que tendem a causar odor ao serem eliminados pela colostomia são as leguminosas, cebola, alho, repolho, alimentos altamente condimentados, peixes, antibióticos e alguns suplementos3, corroborando com os resultados encontrados neste trabalho.O sintoma gastrointestinal gases destacouse em nove (90%) pacientes e estava relacionado a determinados tipos de alimentos consumidos, conforme exposto na Figura 2.Foram referidos vinte alimentos que induzem a formação de gases intestinais, dos quais os mais citados foram o feijão, ovos, repolho e refrigerantes. No grupo “Outros” citaram-se pizza, cebola, Figura 2 - Alimentos relacionados com o sintoma gases, nos pacientes colostomizados. Passo Fundo-RS, 2009. Figura 3 - Alimentos relacionados com o sintoma diarréia, nos pacientes colostomizados. Passo Fundo-RS, 2009.maionese, hambúrguer, cachorro-quente, pimentão, leite, sucos, iogurte, peixe, pepino e couve-flor, todos citados apenas uma vez.O acúmulo excessivo de passagem de gás pelo trato gastrointestinal caracteriza a flatulência, podendo causar distensão abdominal ou cólica. Estudos mostram que a aerofagia e determinados componentes dietéticos podem contribuir para a quantidade de gás intestinal produzida e os sintomas relacionados aos gases em um indivíduo3.Desse modo, uma grande produção de gases pode fazer com que a bolsa fique tensa e distendida, podendo ocasionar um descolamento acidental3. Portanto, dependendo do sintoma gastrointestinal apresentado, este pode alterar os hábitos alimentares dos colostomizados, uma vez que a alimentação e os hábitos alimentares seguidos pelos pacientes influenciam no aparecimento desses sintomas.Várias frutas e vegetais (especialmente grãos como feijão) contêm substâncias que não são digeridas pelo sistema intestinal. Como exemplo, uma alimentação a base de feijão, cebola, alho, repolho promoverá um maior crescimento bacteriano e maior produção de gases, com a expulsão de flatos abundantes e fétidos15. Além disso, há consequente produção de gases após o consumo de feijão e repolho. Foi demonstrado em um estudo com estomizados que entre os alimentos que aumentavam a produção de gases estava o feijão, seguido de verduras cruas5.Amidos e açúcares “resistentes” são menos digeridos ou absorvidos pelos seres humanos, de modo que o seu consumo pode resultar em quantidades significantes de amido e açúcar no cólon. Os amidos resistentes e alguns tipos de fibras da dieta são fermentados em gases. Os amidos resistentes à digestão incluem alimentos vegetais com um alto teor de proteína e fibra, tais como leguminosas e grãos integrais3.Conforme análises nutricionais, a ênfase primária no tratamento dietético é a redução dos alimentos fontes de carboidrato, que são mal absorvidos e fermentam, inclusive leguminosas, fibras solúveis, amidos resistentes e açúcares simples, como frutose e alcoóis açúcares3.Assim, os alimentos mais citados pelos pacientes com o sintoma gases e a sua frequência de consumo constam na Tabela 1.A diarreia, que pode ser caracterizada pelo aumento do número de evacuações e a perda de consistência das fezes3, foi relatada por oito (80%) pacientes do estudo. Este sintoma gastrintestinal pode afetar a ingestão alimentar, bem como a absorção e o estado nutricional, podendo, eventualmente, ocasionar a perda de peso das pessoas atingidas8.Durante as entrevistas, foram citados 23 alimentos pelos pacientes como causadores de diarreia, de acordo com a figura a seguir.O mamão teve sua frequência de consumo diário em apenas dois (20%) dos pacientes; três (30%) responderam consumir o alimento com frequência semanal e cinco (50%) revelaram nunca consumi-lo em razão do sintoma causado (diarreia). Quanto à laranja, os pacientes relataram não deixar de consumi-la mesmo causando-lhes diarreia. Assim, apenas dois (20%) pacientes responderam nunca consumir o alimento, e quatro (40%) disseram consumi-la diariamente.A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos com relação à frequência do consumo dos alimentos mais citados e relacionados com os sintomas de diarreia.Da mesma forma que os outros sintomas gastrointestinais citados neste trabalho, a diarreia também pode ter seu aparecimento principalmente em razão dos hábitos alimentares seguidos. As pessoas que consomem uma dieta que contém as quantidades recomendadas de fibra dietética, na forma de frutas, hortaliças, pães e cereais de grãos integrais, tendem a ter fezes maiores e mais macias, relativamente fáceis de eliminar3.Observou-se que havia uma relação quando analisada a variável diarreia com os alimentos citados, tais como margarina, maionese e azeite de oliva, ou seja, quanto mais os pacientes comiam os alimentos deste grupo, mais diarreia apresentavam. Observou-se ainda que os pacientes que apresentavam diarreia também referiram o sintoma gases, mesmo sem relacioná-los com o tipo de alimento consumido.No que se refere aos sintomas gastrointestinais relatados pelos pacientes conforme os alimentos consumidos deram-se em um padrão aceitável, segundo o ponto de vista comparado com a literatura.Nota-se que, dentre todos os sintomas gastrointestinais citados, o feijão aparece em todos eles. Os sintomas causados por este alimento alteram a rotina diária dos pacientes, levando alguns a evitarem o seu consumo ao passo que outros, mesmo com todos esses sintomas não deixam de consumi-lo. Segundo a Pirâmide dos Alimentos, o grupo das leguminosas é composto principalmente pelo feijão, que deve ser consumido em uma porção diária, pois sua exclusão pode afetar o equilíbrio nutricional do paciente.Assim, as orientações para uma dieta saudável e adequada, para cada paciente e cada sintoma relatado, são de suma importância, permitindo que o colostomizado viva com mais tranquilidade e se alimente com mais prazer.ConclusãoNeste estudo, avaliou-se a dieta de dez pacientes estomizados definitivos por câncer colorretal, cuja média de idade foi 63,6 anos e peso, em média, de 73,9 Kg, com um IMC de 26,4 kg/ m2. O tempo de estomia variou em torno de 6,2 anos. A maioria não fumava e somente dois praticavam exercícios físicos (caminhadas). Nenhum deles realizava tratamento quimioterápico no momento das entrevistas. Nunca tiveram orientação alimentar de um nutricionista e suas dietas eram realizadas conforme suas vontades. Às vezes, seguiam orientações proferidas por conhecidos e deixavam de consumir algum tipo de alimento que consideravam não ser adequado para eles. Todos faziam, no mínimo, quatro refeições diárias e nenhum usava suplemento alimentar. Dos dez pacientes, três relataram usar medicação antihipertensiva, dois tomavam antidiarreico e cinco não usavam nenhum tipo de medicamento.Quanto ao consumo alimentar, 60% dos pacientes relatou que a produção de odor não interferia na sua alimentação diária. Já, a diarreia interferia e foi apresentada por 80% dos pesquisados, especialmente quando comiam mamão, laranja e os alimentos pertencentes ao grupo de óleos e gorduras.Dentre os principais alimentos citados por eles constatou-se forte relação do feijão com os sintomas de diarreia, gases e odor. Ainda foram citados os temperos industriais, alho e ovos para o sintoma de gases e odor; refrigerante e repolho para odor; mamão, laranja, sorvete, milho e ervilha para o sintoma diarreia.Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que os sintomas gastrointestinais produzidos pelo consumo de alguns alimentos alteram a vida do colostomizado. Os odores, os flatos fétidos e a diarreia sem controle causam desconforto para o paciente, levando-o, como principal consequência, à modificação de sua dieta habitual.Considerações finaisOs sintomas gastrointestinais produzidos pelo consumo de alguns alimentos causam grande desconforto para o paciente, levando-o a se excluir da sociedade, a sentir vergonha de si mesmo e da própria família. Além disso, os pacientes suprimem os alimentos “conhecidos” seguindo orientações errôneas e saberes populares, podendo comprometer o seu estado nutricional.É fundamental que os pacientes não deixem de consumir alimentos altamente nutritivos por causa dos sintomas desenvolvidos. Mesmo que haja a exclusão de alguns tipos de alimentos, a dieta específica de cada um deve ser constituída pelos nutrientes essenciais a uma vida saudável. A orientação e o acompanhamento de um nutricionista contribuirão para uma melhora em sua vida, visto que os hábitos alimentares aprendidos permanecerão sendo praticados.Sugere-se que sejam realizados estudos com amostras maiores, para que se avaliem outros dados, referentes não só à dieta, mas também aos aspectos sociais e pessoais que possam alterar a forma de alimentação de cada um.


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Published

2016-03-23

How to Cite

1.
Palludo KF, Silveira DA, Vanz R, Petuco VM. Artigo Original 3. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Nov. 21];9(1). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/64

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