Artigo Original 2

Authors

  • Elizabeth Souza Silva de Aguiar Enfermeira Especialista em Estomaterapia. Mestranda. Universidade Federal da Paraíba.
  • Antonio Adriano Rodrigues dos Santos Mestrando. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Brasil.
  • Maria Júlia Guimarães Oliveira Soares Doutora. Professora Associada da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Brasil.
  • Maria das Neves da Silva Ancelmo Enfermeira Especialista em Estomaterapia. Hospital Universitário Lauro Wanderley / Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Brasil.
  • Sergio Ribeiro dos Santos Doutor. Professor Associado da Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, Brasil.

Abstract

Complicações do Estoma e Pele Periestoma em Pacientes com Estomas Intestinais


ResumoAs intervenções cirúrgicas que resultam em estomas intestinais são potencialmente acompanhadas por complicações que, na maioria das vezes, são subestimadas. Objetivos: caracterizar os pacientes com estomas intestinais que apresentam complicações no estoma e pele periestoma; identificar as principais complicações de estomas intestinais; e descrever as complicações considerando as variáveis: idade, tempo de cirurgia, local da confecção do estoma e caráter da cirurgia. Estudo descritivo, de natureza quantitativa, realizado no Serviço de Atenção ao Paciente com Estomia no município de João Pessoa-PB, nos meses de Junho e Julho de 2009. A amostra foi composta de 10 pacientes com estomas intestinais complicados. Realizou-se uma entrevista e exame físico. Houve predominância de mulheres idosas, colostomizadas e com cirurgia realizada em caráter de urgência. Identificaram-se complicações como: hérnia periestoma, prolapso, retração, dermatite periestoma e lesão pseudoverrucosa. Evidenciou-se que os estomas mal localizados foram realizados em cirurgias de urgência e eletivas, necessitando de um planejamento do local de confecção do estoma no pré-operatório. Idade avançada e obesidade colaboraram para a presença de complicações no estoma. Identificou-se o déficit de autocuidado como fator comprometedor da integridade da pele periestoma. Portanto, faz-se necessário sistematizar esse cuidado desde o período pré-operatório ao seguimento tardio, a fim de prevenir complicações e promover a reabilitação do ser estomizado.Palavras Chaves: Estomas. Complicações. Enfermagem. Estomaterapia.AbstractSurgical interventions resulting in intestinal stomas are potentially associated with complications, which are usually underestimated. The aim of this study was to characterize patients with intestinal stomas who developed stomal and peristomal complications, identify major complications from intestinal stomas, and describe the association of these complications with the variables age, operating time, stoma location, and character of the surgery. This was a quantitative and descriptive study conducted at the Support Services for Ostomy Patients in João Pessoa, Paraíba, Brazil, between June and July 2009. The sample consisted of 10 patients with intestinal stoma complications. The patients were assessed by interview and physical examination. Patients were mostly elderly women, who had undergone urgent colostomy. Complications included peristomal hernia, stomal prolapse, stomal retraction, peristomal dermatitis, and pseudoverrucous papules. Improperly located stomas were created in urgent and elective surgeries, showing the necessity of planning the location of the stoma preoperatively. Advanced age and obesity were associated with the presence of stomal complications. Deficits in self-care were identified as a compromising factor for the integrity of the skin. Therefore, it is necessary to provide a systematic care to ostomy patients, including plans for the preoperative assessment, surgical procedure, and early and late postoperative management in order to prevent complications and promote the rehabilitation of these individuals.Key words: Stomas. Complications. Nursing. Stomatherapy.ResúmenLas intervenciones quirúrgicas que resultan en ostomías intestinales son potencialmente acompañadas de complicaciones que, en su mayoria, son subestimadas. Los objetivos del estudio fueron caracterizar a los pacientes con complicaciones con estoma y con la piel periestomal; identificar las principales complicaciones de las estomías intestinales; y correlacionar las complicaciones con algunas variables. Estudio descriptivo, de naturaleza cuantitativa, llevado a cabo en el Servicio de Atención al Portador de Estomías de un hospital docente, en los meses de junio y julio de 2009. La muestra fue compuesta por 10 personas con ostomías intestinales complicadas. Se realizó una entrevista y un examen físico. Hubo predominio de mujeres ancianas, colostomizadas y con cirugía realizada en carácter de urgencia. Las complicaciones identificadas fueron: hernia periestomal, prolapso, retracción, dermatitis periestoma y lesión pseudoverrucosa. Se evidenció que los estomas estaban mal ubicados, denotando la necesidad de planeamiento del local de confección del estoma en el preoperatorio. Otros factores como edad avanzada y obesidad contribuyeron a la presencia de complicaciones en el estoma y en la piel periestomal. El déficit de autocuidado también fue identificado como elemento comprometedor de la integridad de la piel periestomal. Finalmente, se concluyó en la necesidad de sistematizar el cuidado desde el período preoperatorio inmediato y mediato, para prevenir las complicaciones y promover la recuperación del paciente con estoma.Palabras clave: Estomas. Complicaciones. Enfermería. Terapia Enterostomal.IntroduçãoEstoma, ostoma, estomia ou ostomia são palavras de origem grega que significam abertura ou boca e são designativos que indicam a exteriorização de uma víscera oca através de algum segmento do corpo.1,2As intervenções cirúrgicas que resultam em estomias intestinais efetuam-se diante da necessidade de desviar o trânsito normal de alimentação ou eliminação do paciente.3 Representa um procedimento comum, realizado por diversas especialidades cirúrgicas frente à necessidade da redução da morbimortalidade pós-operatória, sobretudo em situações de urgências. Apesar de comumente realizado, tal procedimento é potencialmente acompanhado de complicações que, na maioria das vezes, são subestimadas.4Entre os diferentes tipos de estomas intestinais temos: a colostomia e a ileostomia, que são condições relacionadas a uma derivação intestinal realizada cirurgicamente nas porções do intestino grosso e intestino delgado, respectivamente, com fixação da alça no abdome. Geralmente é indicada para pacientes acometidos por doenças crônicas como as inflamatórias intestinais, neoplásicas, dentre outras. Pode ser provisória ou definitiva, dependendo da condição cirúrgica.1O atendimento aos pacientes com colostomia ou ileostomia presume a percepção das condições clínicas desse ser, a partir do exame físico e anamnese detalhada, valorizando-se os relatos verbais do paciente.5 Deste modo, o estabelecimento de uma assistência precoce possibilita a promoção da reabilitação do paciente e minimiza o seu sofrimento, especialmente ao incentivar o autocuidado, impedindo que crenças e tabus se tornem ameaças à sua integridade física, social e psicológica.6,7Assim sendo, a inadequação do cuidado com o estoma pode ocasionar diferentes complicações, principalmente no estoma e pele periestoma, tais como: lesões de pele em vários níveis, hérnias, infecção, estenose, prolapso, retração, entre outras.Embora, na maioria das vezes, a confecção dos estomas representem alternativas pela primazia da vida do ser com algum comprometimento orgânico, após a construção dos mesmos, outros desafios surgem para a adaptação do indivíduo, no que diz respeito às alterações da imagem corporal, estilo de vida, relacionamento social, desempenho na sexualidade, podendo gerar transtornos psicológicos e sociais, muitas vezes difíceis de superar. 2Assim, tendo em vista os múltiplos aspectos que envolvem a reabilitação do paciente com estomia, os cuidados de enfermagem devem ser iniciados no momento do diagnóstico e da indicação da realização cirúrgica, na busca de minimizar sofrimentos e obter melhor adaptação desse indivíduo.Portanto, a ênfase no autocuidado tem sido descrita como alternativa para possibilitar que o paciente participe ativamente do seu tratamento, estimulando a responsabilidade na continuidade dos cuidados após a alta hospitalar, o que irá contribuir na sua reabilitação, minimizando ou evitando as complicações descritas anteriormente.2Diante do exposto, refletiu-se sobre a importância de se evitar as complicações, que pode ser por meio de um planejamento assistencial que inclua a demarcação do estoma e uso de técnica cirúrgica adequada, associando-se à observância de fatores de risco como idade avançada, fragilidade da musculatura abdominal, aumento de peso no pós-operatório entre outros.Logo, esse estudo parte da premissa que conhecer as complicações mais frequentes no grupo pesquisado, poderá contribuir com o serviço, no que se refere à identificação das ações prioritárias de prevenção dessas complicações.Sendo assim, o presente estudo tem por objetivos: caracterizar os pacientes com estomas intestinais que apresentam complicações no estoma e pele periestoma, atendidos por um serviço de assistência especializado; identificar as principais complicações de estomia e pele periestoma em pacientes com estomas intestinais; e descrever as complicações considerando as variáveis: idade, tempo de cirurgia, local da confecção do estoma e caráter da cirurgia.MétodosTrata-se de um estudo descritivo, de natureza quantitativa. Realizado no Serviço de Atenção ao Paciente com Estomia do Hospital Universitário Lauro Wanderley, no Campus I da Universidade Federal da Paraíba (HULW/UFPB), localizado no município de João Pessoa/PB. A coleta de dados compreendeu os meses de junho e julho de 2009.O Sistema de Saúde do Estado da Paraíba possui esse serviço como referência para o atendimento de pessoas com estomias intestinais e urinárias, estando vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme preconiza a Portaria SAS/ MS nº 400, de 16 de novembro de 20098, que estabelece Diretrizes Nacionais para a Atenção à Saúde das Pessoas Estomizadas, no âmbito do SUS.No referido serviço é prestada uma assistência ambulatorial multidisciplinar a pacientes com estomias provenientes dos diversos municípios do estado. No entanto, a população deste estudo foi composta por usuários adultos com estomias intestinais, perfazendo um total de 186 pacientes, sendo todos cadastrados no serviço no período da pesquisa e provenientes da 1ª Gerência Regional de Saúde do Estado da Paraíba que abrange 22 municípios, incluindo a capital.Como o foco da pesquisa era os pacientes com estomas intestinais complicados, foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: ser maior de 18 anos; estar cadastrado no serviço; possuir complicação no estoma ou pele periostomal identificada durante a consulta de enfermagem e aceitar participar do estudo conforme as normas da Resolução nº 196/1996, do Ministério da Saúde9 e a Resolução nº 311/ 2007 do Conselho Federal de Enfermagem10 que trata do Código de Ética dos profissionais de Enfermagem.Dessa população três pacientes com estomas intestinais complicados foram excluídos por participarem do pré-teste para adequação do instrumento de coleta de dados e dois recusaram participar do estudo. Portanto, a amostra final foi composta por 10 pacientes com estomas intestinais complicados.O instrumento de coleta de dados foi elaborado pelos pesquisadores, abrangendo os aspectos sócio-demográficos e clínicos dos pacientes, as características das complicações e o exame físico específico. Tal instrumento foi revisado após pré-teste, a fim corrigir as limitações identificadas, prosseguindo-se com as modificações necessárias.Após o consentimento do paciente, os dados foram coletados por meio da técnica de entrevista e realização do exame físico. O contato com os pacientes ocorreu durante os atendimentos agendados pela coordenação do serviço, no turno da manhã, de segunda a sexta-feira. O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo comitê de ética do HULW/UFPB, sob nº 140/2008, em 16/12/2008.As informações foram categorizadas e estruturadas em um banco de dados do aplicativo Microsoft Excel, na sequência, os dados foram submetidos a operações estatísticas simples, sendo os resultados apresentados em tabelas, com números absolutos e percentuais.Resultados e discussãoInicialmente, são apresentados e discutidos os aspectos sócio-demográficos e clínicos dos pacientes com estomas intestinais complicados, em seguida serão descritas as complicações identificadas no estoma e pele periestoma, caracterizando-as segundo o caráter da cirurgia, o tempo de complicação e a adequabilidade do local de confecção do estoma.De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, relacionados à caracterização dos sujeitos, verifica-se um predomínio do gênero feminino (80%), em relação ao gênero masculino. Essa predominância de mulheres diverge de outros estudos similares11,12, em que se evidencia um maior número de homens. Sendo que, nestes estudos, o predomínio do sexo masculino está envolvido nos cenários de serviços de urgência/emergência e a causa básica encontra-se associada aos traumas e violência, situações em que os homens estão mais expostos, portanto não contemplados em nossos achados.

A idade variou de 50 a 83 anos, sendo a maioria de pessoas idosas (60%), com 65 a 83 anos. Neste achado é importante salientar que os idosos possuem características biológicas peculiares e estão mais vulneráveis às doenças crônico-degenerativas, a exemplo das neoplasias. Meirelles e Ferraz13 afirmam que a ocorrência de complicações no estoma possui caráter multifatorial, envolvendo desde a confecção do estoma, sua localização, obesidade, influenciados pelo fator idade. Assim, quando se associa esses fatores com as alterações fisiológicas do envelhecimento, verifica-se uma maior vulnerabilidade da pessoa idosa quanto à incidência de complicações no estoma.14Quanto à escolaridade, observa-se que 70% da amostra não possuem um nível de instrução satisfatório, pois 50% dos participantes do estudo não concluíram o ensino fundamental e 20% declararam não possuir escolaridade. Apenas 30% dos clientes possuem ensino superior completo. Esses achados demonstram a importância do enfermeiro utilizar uma linguagem clara, acessível e objetiva, para uma melhor compreensão por parte do cliente, pois uma boa assistência de enfermagem deve começar no pré-operatório, com avaliações, orientações e cuidados no preparo necessário para o enfrentamento da cirurgia. E esse preparo deve ser contínuo durante o período em que o paciente permanecer estomizado, o que pode ser permanentemente. O paciente com estomia deve ser bem orientado, ensinado e capacitado quanto às habilidades necessárias para assumir o seu autocuidado, principalmente em se tratando da manipulação do estoma, como: limpeza da pele periestoma, especificações e disponibilidade dos equipamentos e adjuvantes específicos para a coleta dos efluentes.12No que se refere à renda familiar mensal, a maioria dos pacientes possuem uma renda igual ou superior a 01 (um) salário mínimo, e apenas um participante não informou a sua renda. O conhecimento desta variável faz-se importante, uma vez que, o acesso aos recursos necessários para a manutenção da saúde do paciente durante o processo de reabilitação recai sobre o aspecto financeiro, sendo imprescindível sempre encaminhar os pacientes para os serviços de referência para pessoas com estomias mantidos pelo serviço público, para aquisição dos equipamentos e adjuvantes e também para o seguimento ambulatorial.15Como optamos por estudar a 1ª Gerência Regional de Saúde do Estado, verificou-se que metade da amostra (50%) não reside na capital do Estado – João Pessoa – sendo estes pacientes procedentes de cidades próximas. Assim, ao considerar o fator proximidade do serviço referência, nota-se que este fator contribui para um melhor acompanhamento pela equipe do Serviço de Atenção ao Paciente com Estomia do HULW/ UFPB.Várias circustâncias levam o indivíduo à intervenções cirúrgicas, que podem gerar um estoma como tratamento provisório ou definitivo, dentre essas situações temos: cânceres, traumas/ urgências (ferimentos por arma branca ou de fogo e acidentes automobilísticos), doenças inflamatórias, doenças congênitas e outros.12, 16 “As condições clínicas que levam à confecção de um estoma intestinal estão relacionadas às doenças malignas ou benignas dos órgãos, podendo ser definitivas ou temporárias”.17Neste estudo, verificou-se que três pessoas realizaram a estomia frente ao quadro clínico relacionado de megacólon chagásico, apendicite e hipoganglionose, respectivamente. Outros três pacientes tinham por fator causal a diverticulite aguda; e quatro pessoas apresentavam histórico de neoplasia intestinal. Esses dados confirmam o encontrado em outras pesquisas16,18, sendo a neoplasia maligna a principal causa para a confecção do estoma.

Em observância à tabela 2, referente ao caráter da cirurgia, a maioria dos entrevistados (70%) realizou o estoma em caráter de urgência, enquanto que apenas uma pequena parcela (30%) a realizou de forma eletiva sabendo da realização do estoma no abdome. O caráter da cirurgia está diretamente relacionado com as causas que motivaram as estomias, pois, as colostomias geralmente são realizadas como complemento de outro procedimento cirúrgico, podendo ser indicadas em condições eletivas ou de urgência.12Ainda na tabela 2, segundo os segmentos intestinais exteriorizados, as colostomias predominam dentre os estomas intestinais, sendo evidenciado neste estudo que dos 10 (dez) sujeitos, 09 (nove) apresentavam colostomia e apenas 01 (um) caso a ileostomia, corroborando os achados de outras pesquisas.12, 18No que diz respeito ao tempo de exteriorização da alça, os dados revelam que 60% dos pacientes realizaram de forma provisória e 40% de forma permanente e definitiva. No entanto, o tempo de permanência com o estoma dependerá do fator causal e da evolução clínica do paciente após a confecção do mesmo. Assim, um estoma inicialmente provisório, poderá tornar-se definitivo dependendo dos fatores impeditivos para a reconstrução do trânsito intestinal, pois as doenças do trato gastrointestinal levam muitas vezes à realização de uma cirurgia radical resultando em uma estomia de caráter temporário ou mesmo definitivas.15Os dados relacionados ao tempo da cirurgia revelaram que seis pessoas (60%) realizaram a cirurgia há menos de um ano e quatro (40%) há mais de três anos, sendo esses últimos correspondentes aos pacientes com estomas definitivos.Vale destacar que, quando os pacientes foram indagados sobre a realização da demarcação no pré-operatório, 100% dos pacientes estudados afirmaram que a mesma não foi feita, sendo de suma importância tal procedimento, haja vista que uma localização adequada facilita o autocuidado e o processo de reabilitação.1 Portanto, ao realizar o exame físico, o profissional deve estar atento ao local do posicionamento do estoma, devendo a dermacação do estoma ser feita no pré-operatório, a fim de prevenir ou minimizar possíveis complicações no estoma e região periestoma.Após a apresentação dos aspectos sociodemográficos e clínicos dos pacientes com estomias, segue-se com a descrição das complicações identificadas durante o exame físico, as quais foram analisadas considerando-se fatores como idade, caráter da cirurgia, tempo de complicação e localização do estoma.Segundo os tipos de complicações, foram identificadas a hérnia periestoma, o prolapso, a retração, a dermatite periestoma e a lesão pseudoverrucosa (ou dermatite crônica), as quais estão apresentadas no Tabela 3. Dentre essas complicações, (40%) quatro pacientes apresentavam complicações precoces e (60%) seis apresentavam complicações tardias.Os estomas intestinais estão sujeitos a complicações que podem ocorrer tanto imediatamente após a realização dos mesmos (precoces ou imediatas), quanto algum tempo depois (tardias). As complicações precoces surgem ainda no período intra-hospitalar e estão, em geral, ligadas às cirurgias de emergência, quando não há um planejamento prévio para a realização do estoma. As tardias podem estar relacionadas com a doença que gerou a necessidade do estoma, a idade, a obesidade, a técnica cirúrgica, a localização do estoma e o tempo de cirurgia, entre outras.1Ainda na Tabela 3, verifica-se que (40%) quatro pacientes com estomias apresentavam estomas confeccionados em local inadequado e (60%) seis possuíam localização adequada. Deste modo, essa preocupação em verificar o local de inserção do estoma refere-se às evidências encontradas em estudos nacionais e internacionais sobre a presença de complicações em decorrência de um estoma mal localizado.18

Deve-se considerar também que algumas complicações aumentam com a idade, e como a população desse estudo é formada predominantemente por pessoas idosas, pode-se afirmar que tal fato representou um dos fatores que podem ter colaborado para o desenvolvimento de complicações como as hérnias periestomais, retração e prolapsos, assim confirmando os achados em outros estudos.1,16Verificou-se que três (30%) pacientes que apresentavam apenas a hérnia periestoma manifestaram essa complicação mais tardiamente, sendo que, dois possuíam o estoma mal localizado, e destes três casos, duas eram pessoas idosas. Ainda foi evidenciado a presença de obsesidade nos mesmos, a partir do IMC (Índice de Massa Corporal) calculado e houve relato de esforço físico por parte de dois pacientes. Vale salientar que o fator idade avançada não pode ser controlado, mas o processo de demarcação, esse sim, constitui um procedimento que ao ser realizado pode prevenir ou minimizar o surgimento desta complicação. Outros estudos13, 16, 18, 19 colaboram com os achados.De acordo com Crema20, o surgimento da hérnia periestomal pode advir de problemas técnicos ou do estado geral do paciente, em que a incisão cirúrgica com secção muscular, confecção de trajetos largos e a não fixação do meso da alça à parede lateral do abdome são fatores técnicos responsáveis pelo aparecimento de hérnias. Dos fatores gerais enquadram-se a obesidade, aumento da pressão intra-abdominal, o envelhecimento e a vida sedentária, todos responsáveis pela redução do tônus muscular.Nos pacientes com hérnia periestoma, foi identificado a presença de abaulamento do abdome na região periestoma, acompanhado ou não de dor, os quais são aspectos característicos desta complicação que, dependendo de cada paciente, poderá ser assintomático ou apresentar dor abdominal intensa e obstrução intestinal.1Em relação ao prolapso intestinal, evidencia-se sua ocorrência de forma isolada em um caso somado a outras complicações em dois casos. A estomizada que apresentou como complicação apenas o prolapso, realizou a cirurgia em caráter de urgência e apresentou essa complicação precocemente. Nesta, os fatores idade e local de inserção do estoma não contribuíram para tal, haja vista que a mesma não era uma pessoa idosa e a localização do estoma estava adequada. Deste modo, existe a possibilidade de uma falha na técnica cirúrgica para a sua confecção, pois a incidência do prolapso, muitas vezes, está associada aos detalhes técnicos empregados.1A combinação de duas complicações, no caso da presença de prolapso e hérnia periestoma em um paciente do estudo, foi reforçada por outros estudos 13, em que se verifica a interação dessas duas complicações frente a fatores de ordem comum, como fragilidade do tônus muscular relacionada à idade e sedentarismo, técnica cirúrgica, obesidade e aumento da pressão intra-abdominal. Neste estudo, os possíveis fatores que corroboraram neste caso foram: idade e a localização inadequada, caracterizando seu surgimento tardio.Já a presença de prolapso e dermatite ao mesmo tempo, referem-se à ocorrência da segunda em virtude da primeira, ou seja, dependendo do grau de exteriorização da alça intestinal a mesma poderá estar expondo a pele aos seus efluentes e à secreção excessiva da mucosa, assim reduzindo a pouca aderência da bolsa, favorecendo o extravasamento de fezes.1 No caso avaliado, identificou-se a idade como um dos fatores determinantes para o prolapso como uma complicação tardia.Quanto à pessoa que apresentava a retração do estoma, durante a entrevista e exame físico, percebeu-se que a mesma era uma idosa, obesa, e apresentava estoma mal localizado. Portanto, esses três fatores determinaram a ocorrência da retração de forma imediata, a qual se caracteriza pelo desconforto e dificuldade para adaptação do equipamento, enfim compromentendo o autocuidado e o processo de reabilitação.1 Mais uma vez, evidencia-se a necessidade de uma demarcação prévia do estoma no pré-operatório, a fim de conferir um local seguro para construção da estomia e minimizar tal complicação. O tempo de estomia, no caso imediata, aqui identificado para a retração, confirma resultados de estudos.21A presença de complicações na pele periestoma foi constatada em três estomizadas, na faixa dos 50 anos, com estomas bem localizados, e que realizaram a cirurgia em uma situação de urgência. No entanto, duas eram colostomizadas e apresentavam a dermatite irritativa como complicação precoce, relacionada ao déficit de autocuidado durante o manuseio da colostomia, tanto em sua limpeza como na utilização do equipamento, em que se verificou o uso contraindicado do sistema coletor, que se tratava de bolsa coletora transparente, não recortável, sem base adesiva protetora de pele e sem adesivo hipoalergênico, produzindo irritação e lesão na pele periestoma, situação semelhante encontrada por Luz et al.12A paciente ileostomizada com lesões pseudoverrucosas na pele periestoma, considerada como complicação tardia,1 tem como fator causal a exposição crônica da pele à ação do efluente. E, embora fizesse uso de um sistema coletor adequado, com protetor de pele periestoma e adesivo hipoalergênico, identificou-se uma inadequação existente entre o diâmetro da abertura da base adesiva do sistema coletor e o tamanho do estoma.Percebe-se que a integridade da pele foi afetada nessas mulheres em virtude da falta de cuidados adequados e orientações prévias no que concerne aos cuidados com o estoma, em que tais complicações podem e devem ser prevenidas a partir de uma assistência de enfermagem sistematizada, individualizada e especializada, inserida no trabalho da equipe interdisciplinar.Considerações finaisEste estudo identificou as principais complicações de estomas e pele periestoma em pacientes com estomas intestinais de um serviço referência no Estado da Paraíba, assim como possibilitou elencar alguns fatores que corroboraram para o surgimento das mesmas, reforçando sua multicausalidade, principalmente no que tange às características individuais de cada indivíduo, a localização do estoma e a técnica cirúrgica utilizada.Evidenciou-se que os estomas mal localizados foram realizados tanto em cirurgias de urgências como nas eletivas, denotando a necessidade e importância de um planejamento do local de confecção do estoma no préoperatório, a partir do processo de demarcação, a fim de evitar ou reduzir o risco de complicações imediatas e tardias.Vale destacar, que outros fatores como idade avançada e obesidade colaboraram para a presença dessas complicações. O déficit de autocuidado também foi identificado como fator comprometedor da integridade da pele periestoma, deixando clara a necessidade de uma atuação efetiva da equipe de enfermagem durante o processo do cuidar e do ensinar.Cuidar e orientar os pacientes com estomas intestinais constituem-se práticas interpessoais valiosas para uma assistência individualizada e de qualidade, assim como, demarcar o local de confecção do estoma, através de um planejamento pré-operatório e observância de detalhes técnicos, representa um passo decisivo para o seu processo de reabilitação da pessoa com estoma. Portanto, faz-se necessário sistematizar esse cuidado desde o período pré-operatório ao seguimento tardio, a fim de resultar na prevenção de complicações e promover a reabilitação.Deste modo, o desenvolvimento de outros estudos faz-se necessário, a fim de ampliar as estatísticas, investigar os fatores relacionados às complicações do estoma e pele periestoma, e acima de tudo, para subsidiar as intervenções necessárias para a prevenção e tratamento dessas complicações.

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Published

2016-03-23

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1.
Aguiar ESS de, Santos AAR dos, Soares MJGO, Ancelmo M das N da S, Santos SR dos. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Dec. 22];9(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/66

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