Artigo Original 1 - Irrigação da Colostomia: Conhecimento de Médicos Cirurgiões Gerais e Especialistas
Abstract
ResumoA irrigação da colostomia foi desenvolvida no século XVIII e se trata de um procedimento que deve ser prescrito pelo médico. Entretanto, muitos profissionais da área de saúde, atualmente, tem pouco conhecimento sobre esse procedimento e aqueles que o conhecem, muitas vezes, não o recomendam aos seus pacientes, até mesmo devido ao fato do desconhecimento acerca do fornecimento de equipamento específico para sua realização, pela rede pública. O objetivo do estudo foi identificar o conhecimento a respeito do método de irrigação da colostomia por médicos cirurgiões e especialistas. O estudo foi do tipo descritivo, realizado no Município de Guaratinguetá, com 16 profissionais médicos cirurgiões gerais, especialistas e oncologistas, que realizavam cirurgias e atuavam em Instituições Hospitalares e consultórios particulares. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário com sete questões para autopreenchimento. Os resultados indicam que os médicos participantes desconhecem ou não estão atualizados a respeito do procedimento da irrigação da colostomia. Portanto, faz-se necessário incluir esse conteúdo nos cursos de graduação e especialização dos profissionais de medicina, a fim de favorecer a indicação da irrigação da colostomia, que impacta tão positivamente sobre a qualidade de vida da clientela.Descritores: Colostomia. Conhecimento. Enfermagem.AbstractColostomy irrigation was developed in the 18th century and is a procedure that should be prescribed by the physician. However, many health professionals have little knowledge of the procedure and those who are proficient in the technique commonly do not recommend it to patients because, in many circumstances, they are not aware that the necessary specific equipment is provided by the public health system. The aim of the study was to identify the level of knowledge of surgeons and specialists about colostomy irrigation. This descriptive study was conducted in the city of Guaratinguetá (São Paulo, Brazil). Sixteen medical professionals including general surgeons, specialists, and oncologists from public hospitals and private practices participated in this survey. Data were collected using a 7-item self-report questionnaire. The results revealed that the participants had no knowledge of or were not well informed about colostomy irrigation. Therefore, it is necessary to include content regarding this procedure in undergraduate and specialization courses for medical professionals. In this way, colostomy irrigation would be indicated more frequently and more patients would benefit from this procedure, which can positively impact their quality of life.Descriptors: Colostomy, Knowledge. Nursing.ResumenLa irrigación de la colostomía fue desarrollada en el siglo XVIII, es un procedimiento que debe ser recetado por el médico. Sin embargo, en la actualidad muchos profesionales de la salud tienen poco conocimiento sobre el procedimiento y aquellos que lo conocen, a menudo no lo recomiendan a sus pacientes, incluso por el hecho de no conocer la forma de entrega de materiales para su realización por la red pública. El objetivo del estudio fue identificar el conocimiento de los médicos cirujanos y especialistas sobre el método de irrigación de la colostomía. Es un estudio descriptivo, realizado en la ciudad de Guaratinguetá, con 16 profesionales médicos generales, especialistas y oncólogos que realizaban cirugías y actuaban en instituciones públicas y privadas. Para la recolección de datos fue utilizado un formulario con siete preguntas, el mismo que fue respondido de forma independiente.Los médicos participantes no conocen o no están actualizados sobre el procedimiento de irrigación de la colostomía. Por lo tanto, se sugiere incluir este contenido en los cursos de pregrado y especialización de los profesionales de Medicina a fin de favorecer la irrigación de colostomía que tiene un gran impacto sobre la calidad de vida del paciente..Palabras clave: Colostomía. Conocimento. Enfermería.IntroduçãoA irrigação da colostomia é o método usado para a regulação da atividade intestinal da pessoa colostomizada. Isso é alcançado pelo uso da lavagem intestinal realizada por meio da estomia, com intervalos regulares, introduzindo-se um volume líquido planejado no intestino grosso, sendo a água, à temperatura corporal, o mais comumente utilizado 1-3.Esse procedimento tem como finalidade básica o treinamento do intestino grosso para eliminar o conteúdo fecal em horário planejado, ou seja, uma vez ao dia ou a cada dois dias, fazendo com que as pessoas colostomizadas se isentem de preocupação com o equipamento coletor por um período e tenham uma qualidade de vida melhor 4. Funcionalmente, com a introdução de um volume de água no intestino grosso pela colostomia, promove-se a dilatação estrutural dos cólons proximais a esta, o que estimula uma contração em massa e, com isso, causa o esvaziamento do conteúdo fecal. Com a remoção desses resíduos, a produção de gases também é reduzida, pois há diminuição quantitativa da microbiota bacteriana 2,3,5.Em síntese, a irrigação da colostomia contribui para a limpeza dos cólons e possibilita o “controle” da eliminação de fezes por um período regular 3,5-7, tratando-se de um método mecânico que pode perfeitamente ser realizado pela própria pessoa capacitada por meio de ensino e orientação prévios 8. Isso a caracteriza como um método seguro e prático, porque não causa qualquer agressão à pessoa colostomizada que o utiliza, além de proporcionar-lhe melhoria na qualidade de vida e, em consequência, acelera o processo de reabilitação, pois facilita a reconstrução mais rápida da imagem corporal e as relações interpessoais, revertendo-se em vantagens na utilização desse procedimento 3,9. Essa confirmação é encontrada em estudos realizados com pessoas colostomizadas, nos quais os autores afirmaram ser a irrigação um procedimento de fácil realização, e apontaram que as pessoas apresentaram sentimentos de satisfação, sensação de sentir-se normal e melhora nas relações sociais resultante da segurança obtida, facilitandolhes o retorno às atividades de lazer e trabalho e, ainda, a redução das restrições alimentares 9-11.A irrigação da colostomia é um excelente método alternativo e seu uso deve ser indicado e prescrito pelo médico, sendo o enfermeiro, de preferência estomaterapeuta, responsável pelo ensino e capacitação da pessoa colostomizada para a realização do procedimento. Para tanto, ela deve preencher alguns quesitos: possuir colostomia terminal localizada no cólon descendente ou sigmoide; ter destreza e habilidade física e mental para o manuseio e execução dos equipamentos; ter ausência de complicações sérias na estomia; não apresentar síndrome de cólon irritável; e, por último, ter instalações sanitárias satisfatórias em sua casa 2,3,5,7,8,12. Somam-se a isso o interesse e a motivação dessa pessoa para se engajar no programa de ensino e capacitação.Quanto à utilização sistemática do método, um estudo realizado comentou que a ausência de divulgação por parte dos médicos, o despreparo dos enfermeiros e o desinteresse das pessoas colostomizadas são os fatores responsáveis pelo baixo índice de indicação do método. Mencionou, ainda, que em algumas situações clínicas como, por exemplo, para pessoas senis com dificuldades visuais ou manuais avançadas, ou com baixo nível educacional ou com dificuldade de acesso aos equipamentos adequados, o procedimento deixa de ser indicado 13.Realmente, há bem pouco tempo atrás, a baixa utilização da irrigação da colostomia ocorria por diversos fatores: falta de indicação que se dava por esquecimento ou mesmo desconhecimento do médico; enfermeiros estomaterapeutas em número insuficiente em relação à extensão geográfica do país; falta de motivação das pessoas colostomizadas, principalmente daquelas que já se encontravam em período pós-operatório mais tardio; inadequação das instalações sanitárias no domicílio e problemas de acesso aos equipamentos específicos 3,7,14. Acreditase que esse cenário está mudando, pois com o aumento de número de cursos de Estomaterapia no país e, consequentemente, a formação de maior número de enfermeiros especialistas, pode-se afirmar que a irrigação da colostomia recebe ou receberá o destaque que merece.É importante ressaltar que o método precisa de maior divulgação para ter sua utilização mais ampliada. Observando esse contexto na prática diária, percebe-se que os fatores que limitam a sua utilização estão relacionados ao pouco conhecimento relativo ao método tanto por parte dos médicos como dos enfermeiros e o não fornecimento do equipamento específico pela rede pública para a sua realização 9. Nesse particular, destaca-se que, na Portaria n. 400 do Ministério da Saúde (ainda vigente à época em que o estudo foi realizado), o equipamento específico para a realização da irrigação da colostomia não foi incluído 15. Essa exclusão certamente atua como mais um fator dificultador para sua divulgação e indicação.Voltando à atuação do enfermeiro na prática diária, nota-se que a irrigação da colostomia ainda é um procedimento pouco indicado e prescrito pelo médico. Dessa maneira, muitas pessoas colostomizadas com indicação para realizá-la e, portanto, com a oportunidade de diminuir ou evitar o uso do equipamento coletor e, assim, podendo melhorar sua autoimagem e autoestima, nem sequer conhecem o procedimento.Consideradas essas situações e levando em conta a preocupação com a qualidade de vida e reinserção social das pessoas colostomizadas, surgiram alguns questionamentos relativos ao conhecimento dos médicos cirurgiões gerais e especialistas sobre a irrigação da colostomia: porque a irrigação da colostomia é pouco indicada pelos médicos, sendo que só a eles cabe a prescrição de sua utilização? Eles conhecem as vantagens e desvantagens do método?Tais questões motivaram a realização deste estudo com os objetivos de verificar o conhecimento de médicos cirurgiões gerais e especialistas sobre a irrigação da colostomia, suas vantagens e desvantagens, e identificar as situações em que o método é prescrito às pessoas colostomizadas.MétodosTrata-se de um estudo descritivo, exploratório e com abordagem quantitativa, que seguiu os preceitos estabelecidos pela Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde 16, sendo realizado no Município de Guaratinguetá, em São Paulo.A amostra foi constituída de 16 médicos cirurgiões gerais e especialistas, que atuavam nas instituições hospitalares e consultórios particulares do município citado e eram responsáveis pelo atendimento e assistência aos doentes e, dependendo do diagnóstico, pela confecção das estomias.A coleta de dados foi realizada em outubro de 2010, após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade de Taubaté (CEP n. 400/10) e a autorização das Instituições para a realização do estudo. Os médicos que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, após terem sido orientados sobre os seus objetivos e procedimentos.A técnica utilizada para a coleta de dados foi a entrevista, sendo orientada por um formulário, elaborado para tal fim, e contendo sete questões abertas. As entrevistas foram realizadas por uma das pesquisadoras e agendadas, por telefone, em data, horário e local pré-estabelecidos, segundo a conveniência dos médicos.Os dados foram tabulados manualmente e apresentados em números absolutos e percentuais, sendo posteriormente confrontados com a literatura. Devido o tamanho da amostra, os dados, considerados preliminares, não foram analisados estatisticamente.Resultados e DiscussãoForam entrevistados 16 médicos, sendo que as características da amostra são mostradas na Tabela 1.Observa-se, na Tabela 1, que os médicos cirurgiões gerais (56%) predominavam na amostra e apenas 19% tinham menos de dez anos de formação. Observa-se, ainda, que a metade da amostra (50%) prestava atendimento em Serviços de Urgência e Emergência. Segundo alguns autores 17, a maioria das cirurgias geradoras de estomias é realizada nos Serviços de Urgência e Emergência. Nessas circunstâncias e de acordo com a organização administrativa dos serviços, o contato médico-doente limita-se ao ato cirúrgico e, no pósoperatório, o doente internado passa a ser cuidado por outro médico da equipe.
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