Artigo Original 2 - Perfil de Crianças e Adolescentes Estomizados Atendidos de um Hospital Público do Distrito Federal
Abstract
Este estudo foi desenvolvido com objetivo de conhecer o perfil de crianças e adolescentes estomizados atendidos em um hospital público do Distrito Federal. Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa cuja a coleta de dados foi realizada no mês de junho de 2013 e foi considerado o intervalo de tempo dos prontuários inscritos no programa de assistência ao estomizado de abril de 2011 a junho de 2013. A amostra foi constituída de 50 pacientes com estomias gastrointestinais e/ou urinárias, tendo diagnóstico inicial provenientes de malformações congênitas, adquiridas e/ou traumáticas. Foi realizada análise estatística, com distribuição de frequência simples e percentual, e os resultados articulados com o referencial teórico. Identificouse que o Megacólon Congênito (CID Q43.1) foi a malformação mais prevalente, com predomínio no gênero masculino e atingindo principalmente a faixa etária de 0 a 5 anos. Evidenciou-se que a maioria das crianças e adolescentes apresentavam colostomia temporária, e que o tempo de permanência da estomia variou de seis meses a um ano. Constatou-se, neste estudo, que a condição de estomizados pediátricos é vinculada, principalmente, a situações de malformações congênitas e que é necessário sistematizar o cuidado especializado e reabilitação.Descritores: Estomia. Criança. Adolescente. Cuidados de enfermagem.AbstractThis study was developed to determine the profile of children and adolescents with a stoma seen in a public hospital in Brasilia, Brazil. This was a cross-sectional quantitative descriptive study. Data were collected in June 2013 from medical records of patients enrolled in the Assistance Program for the Ostomy Patient from April 2011 to June 2013. The sample consisted of 50 patients who had a gastrointestinal or urinary ostomy and initial diagnosis of congenital, acquired or traumatic abnormalities. Statistical analysis was performed using simple and percentage frequency distributions and the results were compared with theoretical predictions. Congenital megacolon (ICD Q43.1) was the most prevalent malformation, occurring predominantly in males, especially in the age group 0-5 years. The majority of children and adolescents had a temporary colostomy. Time since surgery ranged from 6 months to 1 year. In this study, pediatric ostomy was mainly linked to congenital malformations. The results indicate that is necessary to systematize the specialized care and rehabilitation services.Descriptors: Ostomy. Child. Adolescent. Nursing care.ResumenEste estudio se desarrolló con el objetivo de conocer el perfil de los niños y adolescentes ostomizados atendidos en un hospital público del Distrito Federal. Se trata de un estudio transversal, descriptivo, con enfoque cuantitativo, donde la recolección de datos se llevó a cabo en junio del 2013, fue considerado como periodo para los registros inscritos en el programa de asistencia al ostomizado de abril del 2011 a junio del 2013. La muestra consistió en 50 pacientes con ostomía gastrointestinal y/o urinaria, con diagnóstico inicial de malformaciones congénitas, adquiridas y/o traumáticas. Se realizó el análisis estadístico, con la distribución de frecuencia simple y porcentaje, y los resultados fueron articulados con el referencial teórico. Se identificó que el megacolon congénito (ICD Q43.1) fue la malformación más frecuente, sobre todo en los hombres y afectando, principalmente, al grupo de edad de 0-5 años. Se evidenció que la mayoría de niños y adolescentes tenían una colostomía temporal, y que el tiempo de permanencia del estoma osciló entre seis meses y un año. Se encontró en este estudio que la condición de ostomizado pediátrico está vinculada, principalmente, a situaciones de malformaciones congénitas y que es necesario sistematizar la atención especializada y la rehabilitación.Palabras clave:Ostomía. Niño. Adolescente. Enfermería.IntroduçãoA estomia intestinal é uma situação que atinge pessoas do sexo feminino, masculino, adultos, crianças e adolescentes. A condição de estomizado afeta as atividades laborais, sociais e sexuais. Atualmente, existe no Brasil e no mundo um grande contingente de pessoas com estomia. Crianças e adolescentes podem adquirir estomas urinários ou gastrointestinais por diversas causas. As mais frequentes são as anomalias congênitas e traumas ocorridos durante o desenvolvimento e, em sua maioria, são temporários1.Pela legislação brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos incompletos e o adolescente aquele compreendido na faixa etária de 12 a 18 anos2.Considerando a faixa etária desses indivíduos e o caráter temporário na maioria dos casos de estoma, necessário se faz que as crianças e adolescentes estomizados tenham o devido cuidado e atenção, aumentando, assim, a demanda por tratamento e reabilitação, o que, em linhas gerais, significa a aplicação de procedimentos terapêuticos globais e dinâmicos que objetivam promover a independência da pessoa com estomas, possibilitando a elaboração emocional de perdas e a aceitação da imagem corporal modificada3.A esses pacientes estomizados devem ser fornecidos equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança que lhes possibilitem maior conforto e melhor qualidade de vida; orientação sobre o manejo com a estomia para que previnam complicações, possam interagir socialmente, e busquem apoio familiar. Essa atenção é um aspecto importante para terapêutica e a reabilitação do paciente.Neste sentido torna-se imperativo o planejamento de ações programáticas de reabilitação de pessoas com estomias gastrointestinais e urinárias, havendo necessidade de um atendimento multiprofissional, interdisciplinar e sistematizado, tomando como base as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)4.No Distrito Federal (DF), o cuidado ao estomizado ofertado na rede pública é gerenciado pelo Núcleo de Atenção Básica e do Estomizado, da Secretaria de Estado de Saúde do DF. Em 2012 havia 785 pessoas estomizadas cadastradas, entre crianças e adultos5.A avaliação da criança e do adolescente estomizado é realizada pela equipe de enfermagem do programa de assistência ao estomizado, onde o enfermeiro possui a competência e habilidades para avaliar as condições do estomizado por meio da consulta de enfermagem, utilizando instrumento de avaliação que possibilite a obtenção de subsídios para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem em estomaterapia (o histórico deve contemplar dados relacionados aos aspectos sociodemográficos, da saúde em geral e outros aspectos relevantes, bem como o exame físico)6.Em relação do estoma o enfermeiro estomaterapeuta pode avaliar as condições da pele periestomal e estoma, aderência aos equipamentos, limpeza entre outros, além de indicar o equipamento coletor mais adequado para cada estomizado.Entre as inúmeras atividades desenvolvidas por esse profissional ao estomizado destacam-se as orientações quanto ao ato operatório, ao preparo prévio em geral, o estoma, aos equipamentos coletores, aos programas públicos de assistência e a Associação de Estomizados; a Declaração Internacional dos Direitos dos Ostomizados; a possibilidade de visita de uma pessoa estomizada que esteja reabilitada e outros6.Chama atenção a mudança no perfil da pessoa estomizada, anteriormente constituído em sua maioria de pessoas idosas, adquire um formato diferente devido a acidentes e violência urbana, apresentando um número crescente de jovens e crianças estomizadas7.Os dados sobre a situação dos estomizados em nosso país, apresentados pelo Ministério da Saúde (MS), são incipientes. Existem, apenas, estimativas acerca do assunto. A inexistência desses dados pode interferir no planejamento de Políticas de Atenção ao Estomizado e na construção do perfil epidemiológico desse grupo específico. A justificativa deste estudo está centrada na possibilidade de fornecer subsidios aos profissionais e gestores de saúde para que possam estruturar e planejar, sistemática e individualmente, um programa de reabilitação para essas pessoas e dessa forma oferecer assistência qualificada. Além disso, o estudo permite conhecer o perfil da clientela atendida e assim fomentar o desenvolvimento de estudos futuros nessa temáticaObjetivoConhecer o perfil de crianças e adolescentes estomizados atendidos em um hospital público do Distrito Federal.MétodosTrata-se de um estudo transversal, do tipo descritivo, com abordagem quantitativa realizado no ambulatório de estomaterapia de um hospital público do DF, referência no atendimento de média complexidade em pediatria. A amostra foi constituída de 50 prontuários de pacientes cadastrados no programa de assistência ao estomizado e os dados coletados no mês de junho de 2013. Utilizou-se como critérios de seleção e inclusão dos sujeitos: todos os pacientes estomizados que adentraram ao programa a partir de 2011, momento em que o programa recebeu nova coordenação de enfermagem na regional. Os dados coletados abrangeu o período de abril de 2011 a junho de 2013 e realizada por meio de um roteiro estruturado, contendo dados sociodemográficos e clínicos. Utilizou-se as seguintes variáveis: sexo, idade, procedência, caráter da estomia, tempo de permanência com a estomia, tipo de estomia, desfecho atual, número de consultas de enfermagem e/ou retorno, tipo de equipamento coletor e adjuvantes de proteção e segurança da pele utilizado. Os dados foram estruturados no software de análise de dados Statistical Package For The Social Science, versão 20.0. Foi realizada análise descritiva dos dados, com apresentação das frequências absoluta e relativa e, os resultados, discutidos com literatura pertinente. Conforme prevê a Resolução n. 466/2012 o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a consulta à base de dados foi realizada após autorização da direção da unidade e submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS). Recebeu parecer favorável em 22 de abril de 2013 sob o número de protocolo 251.308. Ressalta-se que não houve contato direto com os pacientes e por isso não gerou ônus para a instituição.ResultadosNo período de 2011 a 2013, foram computadas 262 internações cirúrgicas pediátricas no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), para confecção de vários tipos de estomias, sendo cerca de 206 (78,6%) dessas internações devido a malformações congênitas do aparelho digestivo. Entre os procedimentos mais realizados estão colostomias, enterectomias e gastrostomias8.Até junho de 2013, existiam 50 pacientes cadastrados, destes apenas 27 estavam ativos, ou seja, participavam com frequência do programa, os quais recebiam equipamento coletor, adjuvantes para segurança e proteção da pele além de atenção especializada mensalmente realizada pelo enfermeiro(a) a nível ambulatorial.Desse total de cadastrados, 80% (n.40) de crianças e adolescentes, tinham como causa para a confecção da estomia doenças provenientes de malformações congênitas. Em 48% (n.24) dos pacientes predominou o diagnóstico de Megacólon Congênito (CID Q43.1), seguida por 14% (n.7) de diagnóstico de Ânus Imperfurado (CID Q42.3) e outras anomalias 18% (n.9).Somente 10 20% (n.10) crianças e/ou adolescentes foram acometidos por causas de natureza mecânica, traumática e infecciosa entres as quais: obstrução intestinal, sepse, invaginação, perfuração e enterocolite perfurada. Neste estudo a prevalência da doença foi o Megacólon congênito De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, relacionados a caracterização dos sujeitos, verifica-se um predomínio do gênero masculino 62% (n.31) em relação ao gênero feminino 38% ( n.19).
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