Artigo Original 2 - Perfil de Crianças e Adolescentes Estomizados Atendidos de um Hospital Público do Distrito Federal
Abstract
Este estudo foi desenvolvido com objetivo de conhecer o perfil de crianças e adolescentes estomizados atendidos em um hospital público do Distrito Federal. Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa cuja a coleta de dados foi realizada no mês de junho de 2013 e foi considerado o intervalo de tempo dos prontuários inscritos no programa de assistência ao estomizado de abril de 2011 a junho de 2013. A amostra foi constituída de 50 pacientes com estomias gastrointestinais e/ou urinárias, tendo diagnóstico inicial provenientes de malformações congênitas, adquiridas e/ou traumáticas. Foi realizada análise estatística, com distribuição de frequência simples e percentual, e os resultados articulados com o referencial teórico. Identificouse que o Megacólon Congênito (CID Q43.1) foi a malformação mais prevalente, com predomínio no gênero masculino e atingindo principalmente a faixa etária de 0 a 5 anos. Evidenciou-se que a maioria das crianças e adolescentes apresentavam colostomia temporária, e que o tempo de permanência da estomia variou de seis meses a um ano. Constatou-se, neste estudo, que a condição de estomizados pediátricos é vinculada, principalmente, a situações de malformações congênitas e que é necessário sistematizar o cuidado especializado e reabilitação.Descritores: Estomia. Criança. Adolescente. Cuidados de enfermagem.AbstractThis study was developed to determine the profile of children and adolescents with a stoma seen in a public hospital in Brasilia, Brazil. This was a cross-sectional quantitative descriptive study. Data were collected in June 2013 from medical records of patients enrolled in the Assistance Program for the Ostomy Patient from April 2011 to June 2013. The sample consisted of 50 patients who had a gastrointestinal or urinary ostomy and initial diagnosis of congenital, acquired or traumatic abnormalities. Statistical analysis was performed using simple and percentage frequency distributions and the results were compared with theoretical predictions. Congenital megacolon (ICD Q43.1) was the most prevalent malformation, occurring predominantly in males, especially in the age group 0-5 years. The majority of children and adolescents had a temporary colostomy. Time since surgery ranged from 6 months to 1 year. In this study, pediatric ostomy was mainly linked to congenital malformations. The results indicate that is necessary to systematize the specialized care and rehabilitation services.Descriptors: Ostomy. Child. Adolescent. Nursing care.ResumenEste estudio se desarrolló con el objetivo de conocer el perfil de los niños y adolescentes ostomizados atendidos en un hospital público del Distrito Federal. Se trata de un estudio transversal, descriptivo, con enfoque cuantitativo, donde la recolección de datos se llevó a cabo en junio del 2013, fue considerado como periodo para los registros inscritos en el programa de asistencia al ostomizado de abril del 2011 a junio del 2013. La muestra consistió en 50 pacientes con ostomía gastrointestinal y/o urinaria, con diagnóstico inicial de malformaciones congénitas, adquiridas y/o traumáticas. Se realizó el análisis estadístico, con la distribución de frecuencia simple y porcentaje, y los resultados fueron articulados con el referencial teórico. Se identificó que el megacolon congénito (ICD Q43.1) fue la malformación más frecuente, sobre todo en los hombres y afectando, principalmente, al grupo de edad de 0-5 años. Se evidenció que la mayoría de niños y adolescentes tenían una colostomía temporal, y que el tiempo de permanencia del estoma osciló entre seis meses y un año. Se encontró en este estudio que la condición de ostomizado pediátrico está vinculada, principalmente, a situaciones de malformaciones congénitas y que es necesario sistematizar la atención especializada y la rehabilitación.Palabras clave:Ostomía. Niño. Adolescente. Enfermería.IntroduçãoA estomia intestinal é uma situação que atinge pessoas do sexo feminino, masculino, adultos, crianças e adolescentes. A condição de estomizado afeta as atividades laborais, sociais e sexuais. Atualmente, existe no Brasil e no mundo um grande contingente de pessoas com estomia. Crianças e adolescentes podem adquirir estomas urinários ou gastrointestinais por diversas causas. As mais frequentes são as anomalias congênitas e traumas ocorridos durante o desenvolvimento e, em sua maioria, são temporários1.Pela legislação brasileira, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069 de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos incompletos e o adolescente aquele compreendido na faixa etária de 12 a 18 anos2.Considerando a faixa etária desses indivíduos e o caráter temporário na maioria dos casos de estoma, necessário se faz que as crianças e adolescentes estomizados tenham o devido cuidado e atenção, aumentando, assim, a demanda por tratamento e reabilitação, o que, em linhas gerais, significa a aplicação de procedimentos terapêuticos globais e dinâmicos que objetivam promover a independência da pessoa com estomas, possibilitando a elaboração emocional de perdas e a aceitação da imagem corporal modificada3.A esses pacientes estomizados devem ser fornecidos equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança que lhes possibilitem maior conforto e melhor qualidade de vida; orientação sobre o manejo com a estomia para que previnam complicações, possam interagir socialmente, e busquem apoio familiar. Essa atenção é um aspecto importante para terapêutica e a reabilitação do paciente.Neste sentido torna-se imperativo o planejamento de ações programáticas de reabilitação de pessoas com estomias gastrointestinais e urinárias, havendo necessidade de um atendimento multiprofissional, interdisciplinar e sistematizado, tomando como base as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)4.No Distrito Federal (DF), o cuidado ao estomizado ofertado na rede pública é gerenciado pelo Núcleo de Atenção Básica e do Estomizado, da Secretaria de Estado de Saúde do DF. Em 2012 havia 785 pessoas estomizadas cadastradas, entre crianças e adultos5.A avaliação da criança e do adolescente estomizado é realizada pela equipe de enfermagem do programa de assistência ao estomizado, onde o enfermeiro possui a competência e habilidades para avaliar as condições do estomizado por meio da consulta de enfermagem, utilizando instrumento de avaliação que possibilite a obtenção de subsídios para a implementação da sistematização da assistência de enfermagem em estomaterapia (o histórico deve contemplar dados relacionados aos aspectos sociodemográficos, da saúde em geral e outros aspectos relevantes, bem como o exame físico)6.Em relação do estoma o enfermeiro estomaterapeuta pode avaliar as condições da pele periestomal e estoma, aderência aos equipamentos, limpeza entre outros, além de indicar o equipamento coletor mais adequado para cada estomizado.Entre as inúmeras atividades desenvolvidas por esse profissional ao estomizado destacam-se as orientações quanto ao ato operatório, ao preparo prévio em geral, o estoma, aos equipamentos coletores, aos programas públicos de assistência e a Associação de Estomizados; a Declaração Internacional dos Direitos dos Ostomizados; a possibilidade de visita de uma pessoa estomizada que esteja reabilitada e outros6.Chama atenção a mudança no perfil da pessoa estomizada, anteriormente constituído em sua maioria de pessoas idosas, adquire um formato diferente devido a acidentes e violência urbana, apresentando um número crescente de jovens e crianças estomizadas7.Os dados sobre a situação dos estomizados em nosso país, apresentados pelo Ministério da Saúde (MS), são incipientes. Existem, apenas, estimativas acerca do assunto. A inexistência desses dados pode interferir no planejamento de Políticas de Atenção ao Estomizado e na construção do perfil epidemiológico desse grupo específico. A justificativa deste estudo está centrada na possibilidade de fornecer subsidios aos profissionais e gestores de saúde para que possam estruturar e planejar, sistemática e individualmente, um programa de reabilitação para essas pessoas e dessa forma oferecer assistência qualificada. Além disso, o estudo permite conhecer o perfil da clientela atendida e assim fomentar o desenvolvimento de estudos futuros nessa temáticaObjetivoConhecer o perfil de crianças e adolescentes estomizados atendidos em um hospital público do Distrito Federal.MétodosTrata-se de um estudo transversal, do tipo descritivo, com abordagem quantitativa realizado no ambulatório de estomaterapia de um hospital público do DF, referência no atendimento de média complexidade em pediatria. A amostra foi constituída de 50 prontuários de pacientes cadastrados no programa de assistência ao estomizado e os dados coletados no mês de junho de 2013. Utilizou-se como critérios de seleção e inclusão dos sujeitos: todos os pacientes estomizados que adentraram ao programa a partir de 2011, momento em que o programa recebeu nova coordenação de enfermagem na regional. Os dados coletados abrangeu o período de abril de 2011 a junho de 2013 e realizada por meio de um roteiro estruturado, contendo dados sociodemográficos e clínicos. Utilizou-se as seguintes variáveis: sexo, idade, procedência, caráter da estomia, tempo de permanência com a estomia, tipo de estomia, desfecho atual, número de consultas de enfermagem e/ou retorno, tipo de equipamento coletor e adjuvantes de proteção e segurança da pele utilizado. Os dados foram estruturados no software de análise de dados Statistical Package For The Social Science, versão 20.0. Foi realizada análise descritiva dos dados, com apresentação das frequências absoluta e relativa e, os resultados, discutidos com literatura pertinente. Conforme prevê a Resolução n. 466/2012 o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a consulta à base de dados foi realizada após autorização da direção da unidade e submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS). Recebeu parecer favorável em 22 de abril de 2013 sob o número de protocolo 251.308. Ressalta-se que não houve contato direto com os pacientes e por isso não gerou ônus para a instituição.ResultadosNo período de 2011 a 2013, foram computadas 262 internações cirúrgicas pediátricas no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), para confecção de vários tipos de estomias, sendo cerca de 206 (78,6%) dessas internações devido a malformações congênitas do aparelho digestivo. Entre os procedimentos mais realizados estão colostomias, enterectomias e gastrostomias8.Até junho de 2013, existiam 50 pacientes cadastrados, destes apenas 27 estavam ativos, ou seja, participavam com frequência do programa, os quais recebiam equipamento coletor, adjuvantes para segurança e proteção da pele além de atenção especializada mensalmente realizada pelo enfermeiro(a) a nível ambulatorial.Desse total de cadastrados, 80% (n.40) de crianças e adolescentes, tinham como causa para a confecção da estomia doenças provenientes de malformações congênitas. Em 48% (n.24) dos pacientes predominou o diagnóstico de Megacólon Congênito (CID Q43.1), seguida por 14% (n.7) de diagnóstico de Ânus Imperfurado (CID Q42.3) e outras anomalias 18% (n.9).Somente 10 20% (n.10) crianças e/ou adolescentes foram acometidos por causas de natureza mecânica, traumática e infecciosa entres as quais: obstrução intestinal, sepse, invaginação, perfuração e enterocolite perfurada. Neste estudo a prevalência da doença foi o Megacólon congênito De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, relacionados a caracterização dos sujeitos, verifica-se um predomínio do gênero masculino 62% (n.31) em relação ao gênero feminino 38% ( n.19).Gráfico 1: Distribuição das causas para a confecção de estomias de crianças e adolescentes assistidos em um hospital de referência de Brasília – DF, 2013.( n=50)A distribuição de faixa etária mostrou que grande parte do grupo investigado 84% (n.42) está compreendido no intervalo de zero a cinco anos, 8% (n.4) de seis a dez anos, 8% (n.4) de onze a dezoito anos de idade. No que se refere a procedência, a maioria 60% (n.30) das crianças e adolescentes estomizados deste estudo, residem em áreas administrativas do DF, os demais 40% (n.20) provém de outros estados como Goiás e Maranhão.Em observância a Tabela 2, quanto ao caráter da estomia 98% (n.49) das crianças e adolescentes estomizados apresentavam estomas temporários, e apenas 2% (n.1) estomas definitivos. Os dados relacionados ao tempo de exteriorização de alça nos mostram que houve prevalência de 38% (n.19) dos estomizados permaneceram com estomia para eliminação intestinal por seis meses, 36% (n.18) mantiveram-se estomizadas por um tempo de sete meses a um ano e 26% (n.13) por um período superior a um ano. Esse dado mostra a grande variação do tempo de permanência com a estomia e a relação com as necessidades individuais de cada indivíduo e família.No que se refere ao tipo do estoma 68% (n.39) dos sujeitos pesquisados apresentavam colostomias e 23% (n.13) Ileostomias. Em nossa investigação tivemos estomizados com outros tipos de estomias (1,78%), como urostomia, gastrostomia, jejunostomia e esofagostomia respectivamente, porém chama atenção 9% (n.5) dos sujeitos que possuíam mais de um estoma, sendo estes: três estomizados com colostomia e ileostomia conjuntamente, e os outros dois estomizados, um com colostomia e esofagostomia e o outro com colostomia e urostomia.Conforme a Tabela 3, que mostra o número de retornos e consulta com o enfermeiro para assistência especializada, orientações e aquisição de equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança, houve a prevalência de 44% (n.22) que compareceu ao serviço de estomaterapia cinco vezes, seguidos de 12% (n.6) que compareceram para adquirir equipamentos coletores de dezesseis a vinte vezes. Vale lembrar que o número de retornos está relacionado ao tempo que o paciente permaneceu estomizado. Esses retornos eram agendados mensalmente ou antes caso o paciente necessitasse de materiais, apoio especializado ou esclarecer alguma dúvida.Outra variável avaliada foi o uso de equipamento coletor drenável visualizada na Tabela 4, onde a maioria 96% (n. 46) das crianças e adolescentes estomizadas utilizaram o recurso e optaram por equipamento de uma peça 78% (n.39), duas peças14% (n.7) e uma e duas peças 4% (n.2) associado a adjuvantes de proteção e segurança na apresentação pó, pastas e placas 74% (n.37). Considerando o desfecho atual, neste estudo, 38% (n.19) de crianças e adolescentes estomizadas realizaram a reconstrução do trânsito intestinal, em contrapartida 52% (n.26) aguardavam para realizar a cirurgia de reversão e 2% (n.1) eram portadores de estomia definitiva. No período estudado 8% (n.4) foram à óbito devido à gravidade da doença que originou a estomia, evidenciando um quadro clínico de extrofia de cloaca, uma atresia de sigmóide com explosão de ceco e duas por megacólon congênito.DiscussãoNo grupo investigado pode ser observado o predomínio das malformações congênitas, com especial destaque para a doença no Megacólon congênito. Em publicação do Departamento de Saúde de Nova Iorque, em 1998 havia o registro de 3,4% de crianças nascidas vivas no Estado de Nova York apresentavam grandes malformações, sendo a maior incidência nas crianças do sexo masculino (3,9%), localizadas no sistema urinário (19,4%), digestório (6,7%) e respiratório (2,6%). Segundo as mesmas autoras aproximadamente 25% das admissões em hospitais pediátricos são de crianças portadoras de malformações congênitas de vários tipos1.Dados do Estudo Colaborativo Latino Americano de Malformações Congênitas (ECLAMC) referentes a uma pesquisa realizada com 740.139 recém-nascidos vivos em 64 hospitais de diferentes países da América do Sul, inclusive o Brasil, demonstram uma prevalência de 2,3% de malformações entre 1967 e 19799. Posteriormente outros estudo realizado entre 1994-95, a incidência de defeitos congênitos atingiu 5%, já entre os anos de 2000-2001, os resultados obtiveram uma incidência de 1,4%9.Um estudo realizado no Brasil10 corrobora com achados desta pesquisa onde a distribuição das doenças se assemelham. Treze (57%) crianças apresentavam anomalias anorretais, três (13%) crianças de megacólon congênito, duas (8%) crianças com enterocolite necrotizante, uma (4%) crianças com atresia, duas (9%) crianças com extrofia de bexiga e duas (9%) crianças sofreram trauma. Confirma ainda a colostomia como o tipo de estomia mais prevalente.Acerca das principais causas para confecção de estomia em crianças, destaca-se anomalias anoretais, megacólon congênito, enterocolite necrotizante, hernia encarcerada, infecções com perfuração e invaginação intestinal11. Salienta-se que no Brasil ainda não existe número estimado de crianças e adolescentes com estomias. As entidades envolvidas com a estomaterapia, pretendem iniciar pesquisa junto às regionais de atendimento para conhecer o contigente que vive nessa condição12.Sabe-se, entretanto que o número de pessoas estomizadas vem crescendo a cada dia. Essa, é uma realidade do Brasil e de outros países como Estados Unidos e Canadá13. No ano de 2012, no DF, haviam cadastrados no programa de atenção ao estomizado da Secretaria de Estado de Saúde (SES/DF), uma população de 785 pessoas entre crianças, adolescentes e adultos, sendo 437 (58%) eram do sexo masculino5. A predominância do gênero masculino corrobora com estudos similares a este14,15. As causas que levam a confecção de estomas em crianças e adolescentes, geralmente são temporárias, e, na maioria das vezes realizadas no período neonatal para tratamento coadjuvante de atresias e malformações congênitas1. Além disso, fatores inerentes ao próprio paciente tais como idade, comorbidades associadas ao uso crônico de medicamentos, também exercem influência direta na morbidade dessas cirurgias16. Por serem temporárias, são realizadas colostomias em alça ou em duas bocas, com intuito de proteger uma sutura ou anastomose distal, sendo denominada de estoma “protetor”, para, assim facilitar a reconstrução do trânsito intestinal, posteriormente12.Neste estudo tiveram 2% de estomas definitivos, onde o adolescente com diagnóstico de mielomeningolece e hidrocefalia, aos sete anos de idade, foi submetido a confecção de colostomia à esquerda devido a perfuração intestinal, e por fatores impeditivos fisiológicas inerentes ao indivíduo, este estoma passou a caráter definitivo.Esta pesquisa permitiu identificar um percentual elevado 74% (n.37) de sujeitos que permaneceram estomizados por um intervalo de tempo de seis meses a um ano, isso reforça a característica de estoma temporário, reduzindo possíveis complicações e traz conforto e alívio ao estomizado e seus familiares. A criança, a depender da idade nem lembrará dessa experiência, e adolescente, por sua vez poderá expressar sua satisfação e felicidade pela realização da decolostomia.Ressalta-se ainda, que o tempo de permanência com a estomia dependerá do fator causal e da evolução clínica do paciente, após a confecção do mesmo. Assim, uma estomia inicialmente temporário, poderá tornar-se definitivo, dependendo dos fatores impeditivos para a reconstrução do trânsito intestinal17. Outro fator levado em consideração é a necessidade de realização de várias cirurgias até chegar a reconstrução de estruturas atingidas pela malformação1.O predomínio da colostomia em relação a ileostomia, é um dado condizente com estudos anteriores14,18,19. Aproximadamente até os dois anos de vida, as crianças são normalmente incontinentes. Dessa forma é necessário o uso de uma bolsa ou fralda, com a finalidade de proteger a pele. Vale ressaltar que a criança ileostomizada deve fazer uso do equipamento coletor, pois o efluente é enzimático e possui pH alcalino o que em contato com a pele pode ocasionar lesões1.No caso de colostomias com volume alto de efluente também é recomendável o uso do equipamento coletor e adjuvantes de proteção e segurança. Especial atenção deve ser dada aos ileostomizados em relação ao estado nutricional, pois verificou-se que, apesar de possuírem menor tempo de confecção da estomia, apresentaram médias relativas às variáveis antropométricas e bioquímicas inferiores, o que demonstra maior déficit nutricional se comparados aos colostomizados, os quais estavam estomizados por tempo, aproximadamente 2,5 vezes maior20.Em nossa investigação tivemos estomizados com outros tipos de estomias (1,78%), como urostomia, gastrostomia, jejunostomia e esofagostomia respectivamente, porém chama atenção 9% (n.5) dos sujeitos que possuíam mais de um estoma, sendo estes: três estomizados com colostomia e ileostomia conjuntamente, e os outros dois estomizados, um com colostomia e esofagostomia e o outro com colostomia e urostomia. Esse dado revela a complexidade da existência de estomias em diferentes sistemas do corpo e com diferentes finalidades, bem como a vivência dessa condição, pois assim surgem necessidade de cuidados específicos para cada estomia e entendimento mais elaborado por parte do estomizado e seus familiares a fim de evitar possíveis complicações.Salienta-se ser bastante comum a realização de duas estomias nessa faixa etária da infância, sendo um proximal e outro distal, e que a demarcação deve permitir a utilização de um equipamento coletor que englobe as duas aberturas21. A reconstrução do trânsito intestinal não está isenta de riscos cirúrgicos e apresenta taxas consideráveis de complicações pós-operatórias, porque a infecção continua a ser um dos maiores desafios22. Relata-se na literatura taxas de morbidade variando de 0 a 50% e de mortalidade 0 a 4,5%15, também constatadas em outros trabalhos,23,24. Neste estudo 38% (n.19) dos estomizados na faixa etária de 0 a um ano de vida se beneficiaram do procedimento de decolostomia. Esse segmento de pacientes que reverteram a colostomia, não foi acompanhado pelo ambulatório de estomaterapia, portanto, não tivemos como estimar as possíveis complicações pós-cirúrgicas.Entende-se que o cuidado à criança e ao adolescente com estoma exige, por parte das famílias, a aquisição de novas competências e habilidades que não fazem parte do seu cotidiano e para isso necessitam de apoio dos profissionais de saúde envolvidos nesse cuidado25.Assim, referente ao profissional enfermeiro ressalta-se que a qualidade do cuidado em enfermagem tem sido palco de inúmeras discussões e muitas das conclusões que se chegou é que a utilização do processo de enfermagem, como forma sistemática de cuidar, pode contribuir de forma significativa com a melhoria da assistência26. Dessa maneira a implementação do processo de enfermagem por meio da consulta de enfermagem torna-se imprescindível para que o enfermeiro possa desenvolver os papéis específicos da enfermagem, bem como, para demonstrar a complexidade do cuidar, visualizados através de avaliações de suas próprias ações e que devem produzir melhoria na qualidade da assistência e na condição do paciente26.Nessa atividade em especial o enfermeiro realiza a avaliação do paciente como um todo, elaborando o pensamento crítico a partir das informações obtidas na anamnese, planeja de forma objetiva as ações a serem desenvolvidas durante a execução do plano de cuidados específico e por fim dispõe de subsídios para refletir no processo de cuidados oferecidos e na qualidade da assistência com vistas a reabilitação do paciente estomizado. Desta forma, as consultas de retorno são momentos ímpares para que enfermeiros e demais profissionais de saúde multidisciplinarmente, acolherem a criança, o adolescente e sua família, e oferecer orientações, acessíveis ao grau de instrução de cada um, enfatizando entre outros aspectos os cuidados com a estomia, sem no entanto negligenciar o indivíduo como um todo indivisível.Importante também orientações acerca dos cuidados com a pele periestoma, demonstração da retirada e colocação de equipamentos coletores, esvaziamento e higiene da bolsa coletora, e demais cuidados e/ou orientações que geram habilidades específicas e que se aprimoram na medida em que se repetem12.Em relação aos equipamentos coletores, devem ser indicados aqueles disponíveis no mercado, acessíveis à criança. É assegurado o acesso e aquisição de tais equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança da pele aos estomizados cadastrados nos programa de atenção à saúde vinculado ao SUS.Para crianças menores, há equipamentos coletores de uma e duas peças, drenáveis ou fechadas, recortáveis e com barreira de proteção. Já para crianças maiores e adolescentes, além dos equipamentos coletores, esses, contam também com proteção de resina sintética ou mista, placa plana e convexa, recortável ou pré-cortada e são equipamentos descartáveis e de uso único12,27. Merece ser destacado a importância da escolha do equipamento coletor adequado, bem como o conhecimento do profissional enfermeiro que fará a indicação.ConclusãoEste estudo possibilitou conhecer o perfil de crianças e adolescentes estomizados de um hospital público do DF, cadastrados no período de 2011 a 2013. A caracterização destes pacientes nos permitiu as seguintes conclusões acerca dos dados sociodemográficos: predominância de estomizados do gênero masculino; idade de 0-5 anos; procedente de regiões administrativas do DF.Em relação a caracterização das estomias, conclui-se: a causa que mais levou a confecção de estomias foi o megacólon congênito; houve predomínio de colostomias; estomas temporários; houve a prevalência 44% (n. 22) de estomizados que compareceram ao serviço de assistência ao estomizado até cinco vezes, a maioria preferiu utilizar o equipamento coletor de uma peça associado a materiais adjuvantes na apresentação pó, pastas e placas e a reconstrução do trânsito intestinal variou de seis meses à um ano.Quanto ao desfecho atual 38% (n.19) realizaram reconstrução do trânsito intestinal, 52% (n.26) aguardavam a realização da cirurgia de decolostomia, 8% (n.4) evoluíram a óbito e 2% (n.1) possuiam estomia em caráter definitivo.O caráter temporário dos estomas pediátricos é um diferencial. Neste sentido o estabelecimento precoce de uma assistência sistematizada que promova a reabilitação, minimize sofrimento e incentive o autocuidado torna-se primordial. No caso de crianças menores o incentivo para o cuidado deverá envolver os pais e/ou responsáveis.Destaca-se a relevância de ações direcionadas para as demandas específicas deste grupo, em que o programa interdisciplinar de atenção ao estomizado, esteja estruturado para absorver tais necessidades. O complexo de saúde, ou seja, hospitais, ambulatórios de estomaterapia, clínicas de diagnóstico, articulados devem viabilizar e garantir a realização das reconstruções de trânsito intestinais e urinários em estomizados provisórios. Vale mencionar que toda ação e cuidado visa promover maior qualidade de vida ao paciente. Entre as ações estão: otimizar a utilização do erário, investir em tecnologias de cuidado (equipamentos coletores e adjuvantes de proteção e segurança da pele), estruturar os espaços de assistência e capacitar profissionais na área da estomaterapia.Conclui-se, assim que essa pesquisa pode subsidiar profissionais de saúde na assistência ao estomizado e fomentar a realização de outros estudos que beneficiem as crianças e adolescentes que se encontram nesta condição.Downloads
References
Santos VLCG, Cesaretti IUR. Assistência em estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Atheneu, 2005.
Brasil. Estatuto da criança e do adolescente(ECA). Lei 8. 069 de 13 de julho de 1990. 3a Edição. Brasília. Câmara dos deputados. Coordenação de publicações, 2001.
Ekman LL. Neurociência. Fundamentos para a reabilitação. Rio de Janeiro: Elsevier; 2002. 532p.
Ramos RS, Barros MD, Moura MS, et al. Pacientes estomizados com diagnóstico primário de câncer de reto. Cad. Saúde Colet. Rio de Janeiro, 2012;20(3):280-6.
Brasília. Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal(SES/ DF). Cadastro de Pacientes no Núcleo de Atenção ao Estomizado. Estatística, 2012. Brasília-DF.
Associação Brasileira de Estomterapia: estomias, feridas e incontinências. Competência do enfermeiro estomaterapeuta (ET) ou do enfermeiro pós-graduado em estomaterapia (PGET).REv.Estima; 2008;6(1)33-43.
Associação Brasileira de Ostomizados (ABRASO). Política pública: a saúde da pessoa ostomizada. Rev ABRASO. 2004a;(3):12.
Brasília. Núcleo de Coleta e Apresentação de Dados (NUCOAD) do Hospital Regional Materno Infantil de Brasília. Dados de admissão de pacientes submetidos a procedimento cirúrgicos no período de 2011 a 2013. Estatística. Junho de 2013. Brasília – DF.
Maciel ELN, Gonçalves EP, Alvarenga VA, et al. Perfil epidemiológico das malformações congênitas do Município de Vitória - ES. Cadernos saúde coletiva, Rio de Janeiro 2006;14(3): 507-518.
Seccani LME, Ribeiro PA, Gravalos S, et al. Estomas Intestinais em Crianças: Dificuldades Relatadas pelos Cuidadores Familiares no Processo de Cuidar. Rev Estima São Paulo. 2007; 5 (3): 16-21.
Silva GP, Freire DCD, Valença MP. Vivências dos Familiares no Processo de Cuidar de uma Criança Estomizada Experiencia de la Familia en el Proceso de Cuidado de un Niño con Ostomía Rev Estima 2010;8 (2):12-19.
Martins ML, Silva RDM, Ardigo FS et al. Programa de Atualização em Enfermagem: saúde da criança e do adolescente (PROENF) Associação Brasileira de Enfermagem, Porto Alegre: Artmed/Panamericana; 2006. 3(1): 105-144.
Carvalheira C. A realidade das Associações de Ostomizados no País. In: Santos VLCG, Cesaretti IUR, organizadores. Assistência em Estomaterapia: cuidando do ostomizado. São Paulo: Atheneu; 2005. p.303-315.
Luz MHBA, Andrade DS, Amaral HO, et al. Caracterização dos pacientes submetidos a estomas intestinais em um hospital público de Teresina-PI. Texto Contexto Enferm 2009; 18(1): 140-6.
Bahten LCV, Nicoluzzi JEL, Silveira F, et al. Morbimortalidade da Reconstrução de Trânsito Intestinal Colônica em Hospital Universitário – Análise de 42 Casos. 2006; 26(2): 123-127.
Castro OAP, Vincenzi R; Franciulli EF, et al. Colostomias temporárias: quando fechar?.Rev. Assoc. Med. Bras. [online]. 2004; 50(3):238-239.
Sonobe HM, Barichello E, Zago MMF. A visão do colostomizado sobre o uso da bolsa de colostomia. Rev Bras Cancerol. 2002;48(3):341-48.
Silva JB, Costa DR, Menezes FJC et al.Perfil epidemiológico e morbimortalidade dos pacientes submetidos à reconstrução de trânsito intestinal: experiência de um centro secundário do Nordeste Brasileiro. ABCD, arq. bras. cir. dig. [online]. 2010; 23(3)150-153.
Oliveira RAN, Oliveira PG, Santos ACN, et al. Morbidade e mortalidade associadas ao fechamento de colostomias e ileostomias em alça acessadas pelo estoma intestinal. Rev. Col. Bras. Cir. [online]. 2012; 39(5):389-393.
Egito ETBN, Medeiroa AQ, Moraes MMC, et al. Estado nutricional de pacientes pediátricos ostomizado Rev Paul Pediatr 2013;31(1):58-64.
Melaragno ALP. Estomas em Pediatria – peculiaridades do cuidado. In: Matsubara MGE, Vilela DL, Hashimoto SY et al. Feridas e Estomas em Oncologia: uma abordagem interdisciplinar. Lemar, São Paulo, 2012.
Biondo-Simões MLP, Brenner S, Lemos R, et al. Análise das complicações pós-operatórias em decolostomias. Acta Cir Bras 2000; 15(3): 53-57.
Carreiro PRL, Lázaro da Silva A, Abrantes WL. Fechamento precoce das colostomias em pacientes com trauma do reto: Um estudo prospectivo e casualizado. Rev. Coleg. Bras. Cir 2000; 27 (5): 298-304.
Curi A, Moreira Júnior H, Mascarenhas JCS, Moreira JPT, et al. Morbimortalidade associada à reconstrução de trânsito intestinal. – Análise de 67 casos. Rev Bras Coloproct 2002; 22(2): 88-97.
Poletto D, Gonçalves MI, Barros MTT, et al. A criança com estoma intestinal e sua família: implicações para o cuidado de enfermagem. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2011; 20(2): 319-27.
Lima NMM, Silva KL. Fundamentos do cuidar em enfermagem. 2 edição, Belo Horizonte: ABEn, 2008/2009 232p.
Matsubara MGE, Vilela DL, Hashimoto SY et al. Feridas e Estomas em Oncologia: uma abordagem interdisciplinar. Lemar, São Paulo, 2012.