Artigo Original 5 - Caracterização das Úlceras por Pressão em Pacientes de Unidade de Terapia Intensiva
Abstract
Objetivou-se caracterizar as úlceras por pressão em pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Estudo retrospectivo, exploratório descritivo, com abordagem quantitativa, realizado na UTI de um hospital público, em Fortaleza-Ceará, com 59 pacientes. A coleta dos dados foi realizada nos meses de agosto e setembro de 2010, a partir da consulta aos prontuários, com um roteiro de levantamento de dados. Os resultados foram organizados em um banco de dados, sendo expostos em tabelas e gráficos. Os aspectos éticos foram considerados. A faixa etária predominante foi de 73 a 89 anos (44%), sendo a média de idade 66 anos; 54,2% eram mulheres. O diagnóstico mais comum foi o acidente vascular encefálico (30,5%), seguido das pneumopatias (22%) e cardiopatias (15,2%); 57,6% evoluíram para óbito, enquanto 42,4% foram transferidos para a unidade de internação ou para outra instituição; 92% necessitaram de suporte ventilatório invasivo. A região mais acometida pela úlcera foi a sacral (62,71%) e em 52,4% dos pacientes esta evoluiu para o estágio II. Quando foram associadas as variáveis tempo de internação e estágio da úlcera, não houve diferenças significativas. Diante do exposto, observa-se que os pacientes críticos necessitam de maior atenção por parte da equipe multiprofissional, pois estão mais propensos a adquirirem as úlceras, pela gravidade e dificuldade na mobilização.Descritores: Úlcera por pressão. Pacientes internados. Unidade de terapia intensiva.AbstractThe aim of this study was to evaluate pressure ulcers in intensive care unit patients. This was a retrospective, quantitative, exploratory, descriptive study conducted with 59 intensive care unit patients from a public hospital in Fortaleza (Ceará, Brazil). Data were collected from medical records using a standardized form between August and September 2010. The results were entered into a spreadsheet and presented as tables and graphics. Ethical considerations were met. The main age group (44%) ranged from 73 to 89 years and the mean age of the participants was 66 years; 54.2% of patients were women. The most common diagnosis was stroke (30.5%), followed by lung diseases (22%) and heart diseases (15.2%); 57.6% of the patients died, and 42.4% were transferred to an inpatient unit or other institution; 92% needed invasive ventilatory support. The sacral region was the most affected by ulcers (62.1%) and 52.5% of patients had stage II ulcers. No significant association was found between length of hospital stay and stage of pressure ulcers. The results show that critical patients need more attention from the multidisciplinary team because they are more likely to develop pressure ulcers due to the severity of their condition and impaired mobility.Descriptors:Pressure ulcer. Inpatients. Intensive care unit.ResumenEl objetivo fue caracterizar las úlceras por presión en pacientes internados en una unidad de cuidados intensivos (UCI). Estudio retrospectivo, exploratorio descriptivo, con enfoque cuantitativo, realizado en la UCI de un hospital público, en Fortaleza-Ceará, con 59 pacientes. La recolección de datos fue realizada en agosto y septiembre del 2010, a partir de la consulta de las historias clínicas, con una guía para recojo de datos. Los resultados fueron organizados en un banco de datos, siendo presentados en tablas y gráficos. Fueron considerados los aspectos éticos. El rango de edad predominante fue de 73 a 89 años (44%), siendo la media de edad 66 años; 54,2% eran mujeres. El diagnóstico más común fue el accidente vascular encefálico (30,5%), seguido de las neumopatías (22%) y cardiopatías (15,2%); 57,6% llegaron a fallecer, mientras que 42,4% fueron transferidos a la unidad de internación u otra institución; 92% necesitaron soporte ventilatorio invasivo. La región más afectada por la úlcera fue la sacra (62,71%) y en 52,5% de los pacientes esta evolucionó hacia el estadío II. Cuando fueron asociadas las variables tiempo de internación y estadío de la úlcera, no hubo diferencias significativas. Frente a lo expuesto, se observa que los pacientes críticos necesitan mayor atención por parte del equipo multiprofesional, debido a que son más propensos a contraer úlceras, por el cuadro de gravedad y la dificultad en la movilización.Palabras clave:Úlcera por presión. Pacientes internados. Unidad de Cuidados Intensivos.IntroduçãoAs úlceras por pressão (UP) constituem um importante problema vivenciado pelos profissionais da saúde, podendo ser consideradas um problema de saúde pública, pois geram ônus e afetam milhões de pacientes, seja no domicílio ou nas instituições hospitalares e, em particular, nas unidades de terapia intensiva (UTI’s), visto que os pacientes encontram-se acamados, geralmente sem condições de mobilização em decorrência da gravidade do seu quadro clínico. A UP se configura como uma das complicações a que estão sujeitos principalmente pacientes internados em uma UTI, uma vez que estes estão expostos a inúmeros fatores de risco para o desenvolvimento desse tipo de lesão1. A UP é definida como uma área localizada de tecido mole infartado que ocorre quando a pressão aplicada a pele é superior a pressão de fechamento capilar normal, constituindo área causada por pressão, tensão tangencial, fricção e/ou uma combinação destes fatores2.A tolerância dos tecidos à pressão e a isquemia dependem da natureza dos próprios tecidos, sendo influenciada pela habilidade da pele e das estruturas de suporte, como vasos sanguíneos, colágeno e fluido intersticial, em redistribuir a pressão aplicada na superfície do tecido para a estrutura do esqueleto3.Dados epidemiológicos demonstram que as taxa de incidência e prevalência das UP são mais elevadas em pacientes internados em unidade de terapia intensiva (UTI)4. A UTI encontra-se entre as unidades com maior risco para o desenvolvimento de UP, por apresentar pacientes em estado crítico com associação de terapias complexas, necessidade de vigilância e controles mais rigorosos5. Assim, torna-se essencial atenção maior a prevenção das lesões nesses pacientes, enfocando a mudança de decúbito e a observação contínua da integridade da pele.O paciente criticamente enfermo tem uma pressão de fechamento capilar alterada, o que favorece o desenvolvimento da UP6. Some-se a esse fato, seu quadro de instabilidade hemodinâmica, o uso de prótese respiratória e a monitorização contínua, dificultando a mudança freqüente de decúbito ou até mesmo a movimentação durante a higiene corporal.A pressão da pele sobre as proeminências ósseas superior à pressão normal de fechamento capilar, leva à isquemia local em pacientes acamados. O sinal inicial do surgimento da UP é o eritema devido à hiperemia reativa. A pressão não aliviada resulta em isquemia (morte do tecido), com consequente rompimento cutâneo e destruição progressiva dos tecidos subjacentes2. Constituem fatores de risco para o surgimento de UP: pressão prolongada sobre o tecido, imobilidade ou mobilidade prejudicada, perda de reflexos de proteção (perda sensorial), má perfusão da pele, edema, desnutrição, hipoproteinemia, anemia, deficiência de vitaminas, atrito, força de cisalhamento, trauma, incontinência (urina e fezes), umidade da pele alterada (excessivamente seca ou úmida), idade avançada, estado debilitado e equipamentos mal ajustados, como: aparelhos gessados, tração e contenções2.Geralmente os pacientes internados em UTI apresentam um ou mais fatores de risco para o desenvolvimento de UP, pois possuem estado sensorial, circulatório e mobilidade alterados, muitas vezes por barreiras físicas, como no caso dos dependentes de ventilação mecânica ou pela necessidade de permanência prolongada no leito pelas complicações associadas à patologia. É de extrema importância que o profissional enfermeiro avalie o risco potencial de desenvolvimento da lesão desde a admissão do paciente na unidade. A avaliação geral da condição clínica do paciente deve ser realizada englobando os aspectos nutricionais, neurológicos, condições da pele e mobilidade, a fim de adotar os cuidados específicos7.A úlcera tem como característica sua relativa facilidade de instalação e demorada cura. Por isso, o melhor tratamento é a prevenção. Nessa etapa se inserem, também, a observação dos exames laboratoriais e dos fatores de risco citados. A identificação e o tratamento precoce possibilitam uma redução significativa dos custos, prevenindo a progressão e acelerando a regeneração da UP. O tratamento local engloba os seguintes componentes: desbridamento, limpeza, revestimento, abordagem da colonização e infecção, agentes físicos e tratamento cirúrgico8. O diagnóstico da UP, incluindo a incidência, condições clínicas e demográficas associadas, além dos fatores de risco envolvidos em sua gênese para unidades especificas como UTI são fundamentais no desenvolvimento de programas e protocolos exeqüíveis4. A observação do tipo de úlcera mais comum possibilita a elaboração de planos de cuidado direcionados à sua prevenção.ObjetivoComo objetivo geral foi estabelecido: caracterizar as úlceras por pressão em pacientes internados em uma UTI; e como objetivos específicos: traçar o perfil sócio-demográfico dos pacientes portadores de úlceras por pressão; identificar os locais mais comuns de ocorrência das lesões; e conhecer os estágios das úlceras nesses pacientes.MétodosTrata-se de um estudo retrospectivo, exploratório descritivo, com abordagem quantitativa, realizado na UTI de um hospital público, localizado em Fortaleza-Ceará, especializado no antedimento em urgências e emergências clínicas, cirúrgicas e traumatológicas.A amostra foi constituída por 59 pacientes internados na referida UTI no ano de 2009, definida pelos critérios de inclusão: possuir a úlcera em estágio I no momento da admissão ou então ter desenvolvido-a após admissão na unidade; e exclusão: não ter desenvolvido UP durante a internação e dados ilegíveis e/ou incompletos nos prontuários.A coleta dos dados foi realizada durante o período de agosto a setembro de 2010, a partir da consulta aos prontuários dos pacientes, utilizando-se um roteiro de levantamento de dados contendo dados sócios demográficos e informações relacionadas ao desenvolvimento da UP.Os prontuários foram consultados no Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME), da instituição. Para tanto, foram levantados todos os prontuários de pacientes internados na UTI no ano de 2009 e, posteriormente, selecionada a amostra. Ressalta-se que no ano de 2009 foram admitidos na UTI 199 pacientes, sendo que somente 59 (29,65%) evoluíram com úlceras durante a internação ou apresentavam a lesão em estágio I no momento da admissão. Dos 140 que não entraram na amostra, 87 não desenvolveram lesão, antes ou após a internação, e 53 já apresentavam lesão em diferente s estágios no momento da internação. Os resultados foram organizados em um banco de dados no Microsoft Excel 2007 e analisados por meio da estatística descritiva, considerando a freqüência absoluta e relativa, sendo expostos em tabelas e gráficos.O estudo foi realizado tendo por base a resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que determina princípios éticos para pesquisas envolvendo seres humanos9. O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFOR, aprovado com protocolo no 10-221, uma vez que a instituição não dispõe de comitê de ética.ResultadosA faixa etária predominante foi a de 73 a 89 anos de idade com 26 pacientes (44%), sendo a média de idade 66 anos. Quanto ao sexo, 32 pacientes eram do sexo feminino (54,2%). O diagnóstico mais comum foi o acidente vascular encefálico (AVE) com 18 casos (30,5%), seguido das pneumopatias com 13 (22%). As cardiopatias foram responsáveis por 15,2% das internações. (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes internados na UTI no ano de 2009 segundo o diagnóstico médico. Fortaleza, 2010.
Fonte: Prontuários dos pacientes/Ano 2009.A quase totalidade dos pacientes (54), o que equivale a 92%, necessitou de suporte ventilatório invasivo, por meio de tubo orotraqueal (TOT) ou traqueóstomo (TQT). Convém salientar que todos os pacientes com prótese ventilatória (TOT ou TQT) necessitaram, obrigatoriamente, do uso de sonda nasogástrica ou sonda nasoentérica para a terapia nutricional. Em relação à evolução, 57,6% evoluiu para óbito, enquanto 42,4% foram transferidos, seja para a unidade de internação do próprio hospital ou para outra instituição.De acordo com os dados, 37 pacientes (62,71%) desenvolveram a úlcera na região sacral; o calcâneo foi a segunda região mais afetada pelas lesões, com cinco pacientes (8,48%); oito pacientes (13,56%) apresentaram a lesão nas duas áreas referidas. Outros locais foram afetados, porém com menor ocorrência, incluindo as regiões trocantérica, escapular, occipital e maleolar. (Tabela 1).Segundo os dados, em 54,5% dos pacientes a úlcera evoluiu para o estágio II. Entretanto, é importante chamar atenção para os 17 pacientes (28,81%) que evoluíram para estágio III. Já no estágio IV, foram observados apenas seis pacientes (10,17%). Por outro lado, quando foram associadas as variáveis tempo de internação e estágio da úlcera, não houve diferença entre os pacientes. Porém, vale destacar que dentre os pacientes que evoluíram para o estágio II, 27,12% permaneceram internados na UTI no intervalo de tempo entre 11 e 30 dias. (Tabela 2).
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