Revisão 2

Authors

  • Maria Angela Boccara de Paula Enfermeira Estomaterapeuta. Professor Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade de Taubaté. Mestre em Enfermagem pela EEUSP. Doutoranda em Enfermagem pela EEUSP. Universidade de Taubaté.

Abstract

Estabelecimento de Vínculo Empatia Junto à Família e ao Cuidador
IntroduçãoOs tempos modernos caracterizam-se especialmente pelos grandes avanços tecnológicos e científicos frente às inúmeras demandas do estilo de vida assumido pelas pessoas, especialmente as que vivem nos grandes centros.O fulminante desenvolvimento dos meios de comunicação de massa e a conseqüente globalização das informações, trouxeram a possibilidade de acesso a novas realidades e conquistas técnico-científicas, que muito estão contribuindo para aumentar a longevidade das pessoas, a descobrir as causas, tratamentos e formas de profilaxia de diversas enfermidades, dentre muitas outras conquistas em vários outros campos do saber humano.Estes fatos são realidades que não se podem negar e que não há volta, mas esse processo deve reavivar a necessidade de compreendermos melhor os significados destas conquistas em termos globais, no que se refere ao entendimento das diversas dimensões e necessidades do ser humano1, especialmente quando se trata de assuntos relacionados à assistência médica e de enfermagem.Se de um lado temos os avanços tecnológicos como fatores facilitadores desta assistência e deste cuidado, de outro lado existem os aspectos que distanciam o profissional da pessoa que dele necessita, visto que, por vezes, essas novas tecnologias podem diminuir ou até abolir o tempo de contato direto entre estes, tornando as práticas de saúde distantes e longe de atingirem sua meta principal, que é o homem global, em todas as dimensões bio-psico-sócio-cultural e espiritual.Discutir alguns dos aspectos que envolvem estas questões é o objetivo desta reflexão, especialmente nos que se refere ao estabelecimento de vínculos e empatia junto à família e cuidador.FamíliaA família é parte integrante e essencial do processo de assistir e cuidar, em todas as fases da doença, em todos os contextos de assistência, independentemente do grupo etário da pessoa doente. A dinâmica familiar caracteriza e representa o seu funcionamento, ou seja, como os indivíduos se comportam em relação uns aos outros2.A compreensão e o entendimento desta dinâmica é importante para determinar a forma como a família poderá vir a ser útil no processo de restabelecimento do membro da família que necessita de atenção à saúde.Incluir a família neste contexto parece ser um importante desafio para os profissionais de saúde, visto que raramente se deparam com os conteúdos necessários para esta intervenção na sua formação acadêmica, uma vez que esta, apesar das mudanças curriculares dos cursos técnicos e de graduação, ainda continua muito centrada na atenção individual à saúde, com enfoque predominantemente curativo.CuidadorO principal cuidador de cada indivíduo é o próprio indivíduo e, assim, o autocuidado assume um significado muito importante para a existência da vida, porém, sempre existirão situações onde o indivíduo não será capaz de exercer o autocuidado, necessitando de ajuda externa3.O cuidador é aquele que cuida no domicílio e pode ser um cuidador formal, ou seja, um a pessoa que é remunerada para executar este papel, ou informal, quase sempre um elemento da família, responsável pelos cuidados diretos, que geralmente recebe auxílio de pessoas pertencentes à rede informal de cuidadores, como amigos, outros membros da família, voluntários ou vizinhos, quase sempre sem preparo técnico específico para executar o cuidado4.Considerando que a assistência domiciliar vem ganhando espaço por inúmeras razões que não são o objeto desta reflexão, é relevante considerarmos o estabelecimento de vínculo do profissional de saúde com o cuidador, seja ele parte ou não da família, a fim de proporcionar um cuidado eficiente à pessoa que dele necessita, e também propiciar condições favoráveis para um adequado relacionamento entre ambos.Estabelecimento de vínculo e empatia: condições fundamentais para o cuidarO conhecimento das condições de apoio familiar, ambiente físico, aspectos relacionados ao psíquico e espiritual, é elemento de fundamental importância para a adequação das orientações e cuidados a serem prestados à pessoa doente ou incapacitada, porém, para que se efetive um real estabelecimento de vínculo entre profissional, paciente, família e cuidador, é necessário que alguns aspectos sejam permanentemente considerados pelo profissional que presta assistência.Ao considerar que a pessoa que necessita de cuidados faz parte de um contexto familiar e cultural específico, possui crenças e valores e encontra-se em uma situação de descontrole sob sua situação, é de grande importância que o profissional de saúde execute suas atividades de cuidado com ênfase no respeito e na liberdade do outro, ou seja, auxiliando a pessoa no restabelecimento ou manutenção de sua autonomia5.Estes aspectos são muito interessantes de serem discutidos, uma vez que, pouco se fala nos cursos de graduação dos profissionais de saúde, sendo que, por vezes, estas questões nem mesmo são abordadas ou com pouca profundidade nas atividades práticas do dia-a-dia dos estudantes das áreas de saúde, contribuindo assim, para que o distanciamento entre profissional, paciente, família / cuidador se estabeleça, de forma que aquele que assiste seja visto não como um profissional de ajuda, mas como um “superior” que domina todas as facetas do cuidado. Fato este que não corresponde à realidade, tanto é que o “cuidado global” para ser praticado em sua totalidade envolve diversos profissionais da equipe de saúde, mostrando assim uma certa “fragilidade” neste domínio.Outro aspecto que é relevante refere-se ao fato de que, em função das grades curriculares vigentes no país, muitos profissionais encontram-se graduados muito jovens e, por vezes, se deparam com situações práticas, nas quais são solicitados a estabelecerem vínculo e prestarem ajuda mais ampla, e não apenas técnica, e se vêem frente a sua incapacidade, pois geralmente nem sequer tiveram a oportunidade de ultrapassar algumas etapas da vida adulta que lhe possibilitassem conjugar experiência e formação5, além das poucas oportunidades práticas oferecidas nos cursos de graduação para este tipo de interação.Dessa forma, é necessário que o profissional de saúde desenvolva habilidades específicas para ajudar, no seu sentido mais amplo e, assim, estabelecer vínculos efetivos e eficientes com a pessoa doente, família / cuidador, visando o cuidado correto no momento adequado.Como fazer?Primeiramente, é preciso compreender que para estabelecer vínculo e ajudar, é dar de si. Envolve TEMPO, COMPETÊNCIA, SABER, INTERESSE, CAPACIDADE DE ESCUTA e COMPREENSÃO.Em uma relação de ajuda, o elemento a ser ajudado é o principal detentor dos recursos para a resolução das dificuldades apresentadas, ou seja, é ele que identifica, sente, sabe escolher e decide sobre suas ações. Ao profissional, cabe ajudá-lo a descobrir ou redescobrir capacidades e potencialidades próprias, redirecionando seu olhar para novas possibilidades, de acordo com as circunstâncias atuais, auxiliando-o a compreender-se, a fazer escolhas de forma independente e significativa5.Para que o vínculo se estabeleça e a relação de ajuda aconteça, é necessário que várias condições se reúnam e que o profissional e pessoa envolvida desenvolvam algumas capacidades, sugeridas por Duarte; Barros (2000)5:- ser preciso e objetivo em relação àquilo que lhe diz respeito e aos outros;- respeitar a si próprio e aos outros;- ser congruente consigo e com os outros;- ser empático consigo e com os outros;- ser capaz de confrontar-se e fazer o mesmo com os outros;Dentre os aspectos apontados acima, a empatia será o foco de atenção desta reflexão, considerando que este fator é de grande importância e constitui a base para o estabelecimento de vínculo na relação de ajuda5 que permeia a prática diária dos profissionais de saúde, em especial da enfermagem, que tem no cuidar seu objeto principal de trabalho.A empatiaAs definições de empatia, de acordo com Falcone (1998)6, seguem duas perspectivas, a cognitiva e a afetiva.Na perspectiva cognitiva, a ênfase está na capacidade de uma pessoa se colocar no lugar de outra e de entender e predizer precisamente seus sentimentos e pensamentos, podendo ou não experimentar os mesmos sentimentos do outro. Envolve neutralidade e imparcialidade daquele que empatiza. Já a perspectiva afetiva, considera a empatia como um processo primordialmente afetivo, com alguns componentes cognitivos e caracteriza-se por uma tendência a experimentar sentimentos de simpatia, de compaixão e preocupação com o bem-estar do outro. É a disposição de abrir mão, por alguns instantes, dos próprios sentimentos, interesses e perspectivas e se dedicar a ouvir e compreender, sem julgar, o que o outro sente, pensa ou deseja6.Assim, um modelo cognitivo– afetivo de integração proposto por Feschbach (1992; 1997), Falcone (1998)6, a empatia é considerada como uma função de três fatores: - habilidade cognitiva para discriminar chaves afetivas no outro;- habilidade cognitiva madura, que envolve assumir o papel de outra pessoa;- disposição para responder emocionalmente, ou habilidade afetiva de experienciar emoções .Na relação de ajuda entre profissional, pessoa, família/cuidador, é de extrema importância à compreensão do contexto em que as situações ocorrem e se desenvolvem, especialmente por parte do profissional que deseja desenvolver sua capacidade de ser empático, pois a compreensão do contexto o coloca em posição especial para ver e analisar o momento sob o mesmo prisma do outro, uma vez que identifica e compreende verdadeiramente o conteúdo de suas informações, porém, sem perder seu próprio sistema de referência5.Lazure (1994)7 sugere que para ser empático o profissional deve:- aproximar-se da situação que o outro está vivenciando;- aprimorar sua capacidade de colocar-se no lugar do outro, vendo o mundo como ele vê;- desenvolver a consciência que o problema é do outro.A habilidade empática ocorre em duas etapas . A primeira, quem empatiza compreende os sentimentos e perspectivas do outro e, de alguma forma, experiência o que está acontecendo com outro naquele momento. E a segunda etapa consiste em comunicar esse entendimento de forma sensível. Compreensão empática– prestar atenção e ouvir sensivelmente. Comunicação empática – verbalizar sensivelmente6.Alguns pontos facilitadores para a manifestação da empatia:- identificar corretamente as emoções do outro;- perceber a importância, ou melhor, a intensidade destas emoções para o outro;- ajudar o outro a expressar suas emoções;- utilizar a linguagem verbal apropriada, ou seja, breve, concreta, precisa, afetuosa, espontânea e não-verbal;- fitar diretamente o outro e manter o contato ocular;- adotar postura que indique envolvimento– evitar ficar muito afastado, com pernas e braços cruzados pois podem sinalizar menor envolvimento e disponibilidade;- estar atento às próprias reações corporais e emocionais provocadas pelo outro;- procurar identificar as mensagens não verbais do outro, que expressem emoções.Alguns mecanismos para facilitar a empatia- interesse pelo outro;- disponibilidade e escuta sensível;- capacidade de tolerar e utilizar o silêncio sempre que necessário;- capacidade de generalizações relativas às experiências de vida;- conhecimento sobre o comportamento humano;- personalidade afetuosa e flexível;- tolerância ao estresse;- linguagem apropriada para cada situação vivenciada;- capacidade de compreender simbolismos utilizados pelo outro, dentre outros.É importante que o profissional interessado em estabelecer vínculos verdadeiros com a pessoa assistida, família e cuidador, compreenda que a empatia constitui um meio bastante útil para fazer com que o outro não se sinta tão só, em meio a situações novas e, muitas vezes, difíceis, que surgem no transcorrer de sua vida, porém não é por si só, um solucionador de problemas e dificuldades.A empatia constitui um dos mais importantes elementos da relação de ajuda, pois o outro, ao sentir-se verdadeiramente compreendido, sente-se mais confortável e, por que não dizer, mais seguro, para poder direcionar suas potencialidades na resolução dos seus problemas, sabendo ser possível contar com o apoio do profissional, se assim o desejar ou se fizer necessário.A empatia pode ser considerada um instrumento básico para o cuidar. De acordo com Boff (1999)8 o cuidado “faz surgir o ser humano complexo, sensível, solidário, cordial, e conectado com tudo e com todos no universo.”

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References

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Boff L. Saber Cuidar. Ética do humano–compaixão pela terra. 5ªed. Petrópolois (RJ): Vozes; 1999.

Published

2005-12-01

How to Cite

1.
Paula MAB de. Revisão 2. ESTIMA [Internet]. 2005 Dec. 1 [cited 2024 Nov. 22];3(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/176

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