Artigo Original 1
Abstract
Caracterização dos Pacientes Diabéticos Atendidos em um Ambulatório de Estomaterapia
ResumoEsse estudo teve como objetivo caracterizar os pacientes portadores de úlceras diabéticas de um serviço ambulatorial de estomaterapia. Os achados da pesquisa mostraram que 80% dos pacientes estudados eram do sexo masculino, sendo a faixa etária predominante de 42 a 52 anos (36,7%). Quanto ao grau de escolaridade, evidenciou-se que 76,7% cursaram apenas o ensino fundamental. Referente aos aspectos clínicos, 73,45% referiram ter diabetes, diagnosticado há mais de cinco anos, 90% afirmaram estar realizando tratamento medicamentoso e 60% relataram acometimento por outras doenças, principalmente a hipertensão (80%). A investigação do histórico das lesões mostrou que 53,3% das mesmas eram localizadas no MIE, sendo 73,4% delas neuropáticas. Ao observar o período de cicatrização, constatou-se que 33,3% dos pacientes estavam realizando tratamento das lesões em um período de 4 a 6 meses. Ao questionar sobre os conhecimentos dos mesmos acerca da sua situação de saúde, 80% mostraram não apresentar conhecimento prévio.Palavras Chaves: Úlcera. Diabetes Mellitus.AbstractThis work had as an aim to characterize the carriers of diabetic ulcers of a stomatherapy ambulatory service. The research findings presented that 80% were male patients between 42 and 52 years old (36.7%), whereas 76.7% had only been to primary school. Concerning clinic aspects, 73.45% of the patients reported suffering from diabetics for more than 5 years, whereas 90% reported the use of medicines and 60% reported other diseases, mainly hypertension. About the lesions history, the investigation presented that 53.3% of them were in the left leg, and 73,4% were neuropathic. Observations over the cicatrization period presented that 33.3% of the patients were under treatment for 4 to 6 months. Finally, 80% reported no previous awareness of the disease.Key words: Ulcer. Diabetes Mellitus.IntroduçãoO diabetes mellitus (DM) é uma síndrome heterogênea, de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina, ou também da incapacidade da insulina em exercer adequadamente seus efeitos. Caracteriza-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo intermediário dos carboidratos, lipídios e proteínas, que está associada a complicações crônicas e falência de vários órgãos, principalmente, olhos, rins, nervos e vasos sangüíneos1.É conhecido mundialmente como um importante problema de saúde pública, devido suas altas taxas de incidência e prevalência e suas repercussões sociais e econômicas, traduzidas pelas mortes prematuras, incapacidades para o trabalho, altos custos associados ao seu controle e/ou tratamento e por suas complicações agudas e crônicas.No Brasil, existem cerca de 5 milhões de diabéticos, dos quais, metade desconhece o diagnóstico, sendo 90% dos casos diabéticos do tipo 2, 5 a 10% do tipo 1, e aproximadamente 2% do tipo secundário associado a outras complicações2.Entre as complicações mais freqüentes, destaca-se o “pé diabético”, caracterizado pela presença de lesões nos pés, em decorrência de alterações vasculares e/ou neurológicas peculiares ao diabetes. Trata-se de uma complicação crônica que ocorre, em média, após 10 anos de evolução da doença, sendo o principal motivo de internação entre os diabéticos3,4.Esse tipo de lesão causa uma série de sofrimento para os seus portadores, como mudanças no estilo e na qualidade de vida, impossibilitando-os muitas vezes de exercer suas atividades normais. Associa-se, ainda, os altos custos econômico-sociais, em virtude de amputações, por meio de aposentadorias precoces por perda das funções laborais em faixa etária produtiva, absenteísmo ao trabalho e os custos médico-hospitalares.Nesse contexto, vê-se como imprescindível a busca constante pelo sucesso no tratamento dessas lesões, acelerando o processo de cicatrização e prevenindo as complicações e agravos. Com essa perspectiva, esse estudo buscou caracterizar, clínica e demograficamente, esse grupo de pacientes possibilitando, assim, o melhor direcionamento das condutas terapêuticas.ObjetivoCaracterizar, clínica e demograficamente, os pacientes portadores de úlceras diabéticas atendidos em um ambulatório de Estomaterapia.MétodosTrata-se de um estudo exploratório-descritivo, com análise quantitativa dos resultados da pesquisa, que teve como campo de pesquisa um ambulatório de Estomaterapia de um Hospital Público Municipal do Estado do Ceará, localizado na região metropolitana de Fortaleza.O universo pesquisado foram os 285 pacientes com feridas, que estavam devidamente cadastrados no referido serviço e dando seguimento ao tratamento, sendo a população constituída pelos 30 pacientes com úlceras diabéticas.A amostra foi composta pela totalidade da população, sendo a coleta de dados realizada nos meses de agosto e setembro de 2004, por meio de dois formulários, um direcionado ao paciente e outro ao prontuário.Os dados foram agrupados e apresentados em forma de gráficos e analisados em consonância com a literatura atual.O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) para aprovação, recebendo parecer favorável de número 361/2004 em 26 de agosto de 2004. Em todas as etapas, a pesquisa seguiu os preceitos éticos e legais propostos na Resolução 196/96 do Ministério da Saúde.Resultados e discussãoCaracterização demográficaO estudo evidenciou que a maioria (80%) dos pacientes portadores de úlceras diabéticas são do sexo masculino, sendo o restante do sexo feminino. Ressalta-se, esta correlação ainda é bastante controversa nos achados literários atuais5,6, uma vez que uns apontam predominância masculina, outros feminina e alguns afirmam haver pouca relação.Quanto à faixa etária, observou-se que houve predominância na faixa de 42 a 52 anos (36%), seguida pela faixa de 53 a 62 anos (33%), embora a literatura aponte prevalência em idade superior a 60 anos5,6. Esses achados confirmam, entretanto, a questão das implicações sócio-econômicas envolvidas nessa problemática, uma vez que esses indivíduos ainda estão em fase laboral. Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes por faixa etária, Maracanaú – CE, 2004 (n=30)Constata-se que a maioria dos pacientes atendidos no ambulatório (80%) possui baixo grau de escolaridade, não chegando a atingir o ensino médio e, apesar da literatura não evidenciar a relação entre o grau de escolaridade e a incidência dessas lesões, sabe-se que essas informações são fundamentais, uma vez que o tratamento depende muito de um processo de ensino-aprendizagem.Timby7 concorda, ao afirmar que para a mente receber, recordar, analisar e aplicar as novas informações precisa existir uma certa quantidade de capacidade intelectual, sendo que em casos especiais, como o analfabetismo, é necessário realizar adaptações, durante a implementação do ensino sobre saúde. Gráfico 2 – Distribuição dos pacientes de acordo com o grau de escolaridade, Maracanaú – CE, 2004 (n=30)Caracterização clínicaConstata-se que a maior parte dos pacientes (67%) possui diabetes há mais de cinco anos, comprovando os achados literários que apontam as úlceras diabéticas como uma complicação crônica importantes entre os diabéticos3,4,5.Gráfico 3 - Distribuição dos pacientes de acordo com o tempo de doença de base (diabetes) em anos, Maracanaú – CE, 2004 (n=30)A maioria dos pacientes (60%) tem hipertensão arterial, confirmando os estudos que apontam estreita relação entre as duas doenças2,3, sendo essa associação de extrema importância, uma vez que se têm duas doenças crônicas de difícil controle, pois ambas exigem mudanças bruscas no estilo de vida dos portadores, além de apresentarem complicações importantes.Em relação ao estudo da lesão, percebeu-se que dentro da população estudada não houve diferença significativa em relação à localização das lesões, em que aproximadamente 53% apresentam lesão no membro inferior esquerdo, e 47% em membro inferior direito, sendo, segundo a etiologia, 73% neuropáticas e 27% vasculopáticas.Em relação ao tempo de tratamento das lesões, constatou-se que 60% dos pacientes está em tratamento há menos de 6 meses, e que 23% estão há um período superior a um ano.Gráfico 4 – Distribuição dos pacientes de acordo com o tempo de tratamento das lesões, Maracanaú-CE, 2004 (n=30)ConclusõesReferente aos aspectos demográficos, o estudo evidenciou que os pacientes portadores de úlceras diabéticas atendidos atualmente no referido ambulatório são a maioria do sexo masculino (80%), com idade superior a 53 anos (57%), com nível de escolaridade reduzido e 80% possuem no máximo o ensino fundamental.Em relação aos aspectos clínicos, constatou-se que 67% dos pacientes descobriu ser portador de diabetes a um período superior a 5 anos, estando a HAS associada em 60% dos casos.Quanto ao estudo das lesões, percebeu-se não haver predominância significativa entre o acometimento dos membros inferiores esquerdo ou direito, sendo, entretanto, 73% de origem neuropática.O tempo de tratamento observado foi, em sua maioria, menor que 6 meses (60%), no entanto, ainda detectou-se um percentual elevado (23%) de pacientes com tratamento superior a um ano.Downloads
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