Uso de Prata Nanocristalina em Úlcera Neurotrófica
Abstract
A Hanseníase é doença de alta prevalência no Brasil e tem grande potencial incapacitante. A afinidade do bacilo por células do sistema nervoso periférico pode provocar deformidades primárias como o comprometimento de fibras dos nervos sensitivos, motores e autônomos, acarretando diminuição ou ausência da sensibilidade protetora, paralisia e amiotrofia. Como deformidades secundárias, podem ocorrer calosidades, fissuras, úlceras neurotróficas e lesão perfurante plantar, esta última a mais comum entre as lesões (Soares et al, 2004). As úlceras neurotróficas são de difícil cicatrização; podem complicar devido aos episódios recorrentes de infecção, tornandose crônicas; e, ainda, podem levar à amputação do membro, quando não for instituído um tratamento precoce e adequado (Côrtes, 2008; Oda, 2004). A Enfermagem tem um importante papel a desempenhar no tratamento de feridas crônicas e o profissional precisa estar ciente das responsabilidades quanto ao conhecimento científico, para avaliação das úlceras e diminuição de gastos com o tratamento, melhorando a auto-estima, a qualidade de vida da pessoa com a hanseníase e úlcera neurotrófica. O objetivo deste estudo foi relatar o tratamento de um paciente com úlcera neurotrófica, utilizando uma cobertura de prata nanocristalina. Este relato de caso foi realizado com um paciente de um Serviço de Referência para Atendimento de Pacientes Portadores de Hanseníase, na cidade de Belo Horizonte. Os dados foram coletados durante o atendimento, registrados em prontuário, a partir do qual foi obtida a evolução da úlcera neurotrófica e a terapia empregada. Realizaram-se registros fotográficos, sob autorização do paciente e a mensuração foi realizada com régua de papel milimetrada. Este estudo foi realizado com autorização da instituição. Caso clínico: Trata-se de um paciente JAF, 59 anos, sexo masculino, aposentado, casado, um filho. Ex-etilista e ex-tabagista (2 maços/dia); hipertenso, em uso de Clorana. Realizou tratamento para hanseníase multibacilar durante dois anos, com término em agosto de 2004. Com anemia crônica, fazia uso de sulfato ferroso e acido fólico. Apresentava úlceras em MMII com 9 anos de evolução e vários episódios de infecções (polimicrobiota). Após 3 meses seguidos de internações, para o uso de antibioticoerapia endovenosa, a equipe decidiu afastar o paciente do ambulatório, sendo os curativos realizados no domicilio pela enfermeira Resumo responsável pelo Ambulatório de Feridas da Instituição. Em 26/02/2010, iniciou-se o tratamento com cobertura de prata nanocristalina em MIE, face lateral. Optou-se por esta cobertura pois se tratava de uma ferida crônica e, segundo Campos (2009), as feridas crônicas tem níveis extremos de metaloproteinases (MTP). A função da MTP é o controle da degradação da matriz extracelular, removendo tecidos danificados, permitindo a migração celular e angiogênese. Os elevados níveis dessa enzima proteolítica contribuem para a cronicidade das feridas, pois sua atividade excessiva leva à destruição da própria matriz e a prata nanocristalina apresenta a capacidade de modular a atividade da MTP, diminuindo seus níveis. A ferida apresentava tecido vermelho pálido com esfacelo amarelado, medindo 5,0 x 3,8 cm. As trocas eram realizadas uma vez por semana. Na 1º troca (02/03/2010) da cobertura foi possível observar melhora da qualidade do tecido: 100% de tecido vermelho pálido e diminuição das medidas da ferida (4,5 x 3,5 cm). Já na 16º troca, a úlcera apresentava-se com 80% de tecido vermelho vivo e 20% de esfacelo amarelado, com 2,5x 2,0 cm. Na 31º semana (28/09/2010), o paciente estava com 95% de área epitelizada. Em conclusão, o uso de cobertura com prata nanocristalina em úlcera criticamente colonizada demonstrou redução da carga bacteriana, caracterizada pela melhora da lesão, em um curto intervalo de tempo. Houve facilidade nas trocas das coberturas, haja vista que não houve aderência, mantendo o leito da ferida intacto. A necessidade de medicação complementar para dor foi descontinuada. O paciente não apresentou sinais de maceração na região peri-ferida, embora as trocas tenham sido feitas semanalmente. A prata nanocristalina apresentou facilidade de uso e redução do número de trocas, até a completa cicatrização.Downloads
References
- Campos DLP et al. Uso de curativo com prata nanocristalina sobre enxerto em malha em queimaduras colonizadas por cepas multirresistentes. Rev Bras Cir Plast 2009;24(4): 471-8.
- Côrtes SMS. Avaliação da cicatrização estimulada por aceleradores, em pacientes adultos com hanseníase, portadores de úlcera plantar. [dissertação]. Brasília:, Faculdade de Ciências Sociais, Universidade de Brasília; 2008.
- Oda RM et. al. Manual de normas, rotinas e técnicas de curativos. Bauru: Centro de estudos Dr. Reynaldo Quagliato, 2004.
- Soares MT et al. A prática da enfermagem em curativos de hansenianos em unidades de saúde da Direção Regional de Saúde XXIV. Hansen init 2004;29(1):28-36.