Artigo Original 2

Authors

  • Ana Paula Hey Enfermeira Estomaterapeuta pela PUC/PR. Mestranda em Cirurgia pela PUC/PR. Docente da Disciplina de Enfermagem em Saúde do Adulto e Idoso da Universidade Tuiuti do Paraná.
  • Laís Krama Enfermeira. Graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná.

Abstract

Orientações de Alta a Estomizados Sob a Ótica da Equipe de Enfermagem


ResumoAs orientações de alta ao paciente estomizado devem iniciar-se no momento de sua admissão; elas devem ser oferecidas durante a internação, na qual os problemas são gradativamente identificados em busca de soluções; e, ainda, após a alta hospitalar. Este estudo analisa como a equipe de enfermagem percebe sua inserção no auxílio às orientações de alta a pacientes estomizados. A metodologia adotada nesta pesquisa foi qualitativa descritiva. Participaram do estudo sete profissionais de enfermagem nas três categorias (auxiliar de enfermagem, técnico em enfermagem e enfermeiro). Sua participação voluntária foi confirmada mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados ocorreu entre setembro e outubro de 2011, por meio de entrevista semiestruturada gravada. Os dados foram submetidos à Análise de Conteúdo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição. Foram estruturadas quatro categorias para a análise: a) percepções relacionadas à participação da família do estomizado no processo de orientação de alta; b) percepções relacionadas às ações da equipe de enfermagem diante das orientações de alta; c) percepções relacionadas ao estomizado, passando de um ser cuidado para o responsável pelo autocuidado; e d) percepções relacionadas à orientação especializada proporcionada por assessores técnicos. Constatou-se que as percepções da equipe de enfermagem no auxílio às orientações de alta ao estomizado são permeadas por aspectos positivos, que contribuem para a qualidade no cuidado. No entanto, essas percepções também envolvem desafios visando à maior autonomia para a prática do profissional de enfermagem.Descritores: Estomia. Enfermagem. Cuidados de Enfermagem. Enfermagem em Reabilitação.AbstractOstomy patients should start receiving discharge instructions at admission. Instructions should be offered during hospitalization, where problems are gradually identified and solved, and after discharge. In this study, we analyzed the way the nursing staff perceive their role in providing discharge instructions for ostomy patients. This was a qualitative descriptive study. Seven nursing professionals from three categories (nursing assistant, nursing technician, and nurse) participated in the study. All participants read and signed the Free and Informed Consent Form. The study was approved by the Research Ethics Committee of the institution. Data collection was carried out between September and October 2011 through a recorded, semi-structured interview. Content analysis was performed on the collected data and four categories were defined for the analysis: a) perceptions related to the participation of the family of ostomy patients in the discharge instruction process; b) perceptions of nursing actions related to the discharge instructions; c) perception of the ostomy patient regarding the transition from being cared for to self-care; d) perceptions related to specialized guidance provided by technical advisers. We found that the perceptions of the nursing team regarding their participation in the delivery of discharge instructions to ostomy patients contain many positive aspects that contribute to the quality of the care provided. However, these perceptions also involve challenges aiming at achieving greater autonomy in nursing practice.Descriptors: Ostomy. Nursing. Nursing Care. Rehabilitation Nursing.ResumenLas orientaciones de alta hospitalaria al paciente ostomizado deben iniciarse en el momento de su admisión; las misma deben ser ofrecidas durante la internación, en la cual los problemas son gradualmente identificados en la búsqueda de soluciones; y, también, después del alta hospitalaria. Este estudio analiza cómo el equipo de enfermería percibe su inserción en el auxilio para proveer orientaciones de alta hospitalaria a pacientes ostomizados. La metodología adoptada en esta investigación fue cualitativa descriptiva. Participaron del estudio siete profesionales de enfermería en las (3) tres categorías: auxiliar de enfermería, técnico de enfermería y enfermero. Su participación voluntaria se confirmó a través de la firma del término del Consentimiento Libre y Aclarado. La recolección de datos se llevó a cabo entre septiembre y octubre de 2011, a través de entrevista semi-estructurada grabada. Los datos fueron sometidos a Análisis de Contenido. El estudio fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación de la institución. Fueron estructuradas cuatro categorías para el análisis: a) percepciones relacionadas con la participación de la familia del ostomizado en el proceso de orientación de alta hospitalaria; b) percepciones relacionadas con las acciones del equipo de enfermería frente a las orientaciones de alta hospitalaria; c) percepciones relacionadas con el ostomizado, que se convierte de un ser cuidado a responsable por su autocuidado; y d) percepciones relacionadas con la orientación especializada proporcionada por asesores técnicos. Se concluyó que las percepciones del equipo de enfermería en el auxilio a las orientaciones de alta hospitalaria al ostomizado son impregnadas por aspectos positivos, que contribuyen a mejorar la calidad de la atención. Sin embargo, esas percepciones también envuelven desafíos destinados a promover mayor autonomía para la práctica del profesional de enfermería.Descriptores: Ostomía. Enfermería. Atención de Enfermería. Enfermería en Rehabilitación.IntroduçãoNa Enfermagem, a educação em saúde é um instrumento fundamental para a assistência de boa qualidade, já que o enfermeiro além de ser um cuidador é um educador, tanto para o paciente quanto para a família. Sendo assim, a educação em saúde é um processo que contribui para o estímulo ao autocuidado1.Nesse cenário, ressalta-se a importância da educação em saúde aos pacientes estomizados, desde o pré-operatório, bem como em todas as fases do pós-operatório, sendo elas: o pós-operatório imediato, mediato e tardio.Diversos autores2-5 descrevem que as orientações de alta ao paciente estomizado devem iniciar no momento de sua admissão; devem estar presentes durante a internação, onde gradativamente se identificam os problemas e se buscam soluções e orientações para sua resolução e, continuadamente, após a alta hospitalar. Desta forma, pode-se contribuir para o aprendizado do paciente sobre sua nova realidade, fazendo com que o estomizado crie autonomia sobre seu cuidado.Nessa tentativa busca-se, entre outras coisas, a redução da angústia do paciente, quando o mesmo profissionais, já que, na maior parte dos casos, tal categoria o acompanha diariamente de uma forma mais próxima10.Sentimentos intensificados de negação, alterações importantes no estilo de vida e, conseqüentemente, na qualidade de vida são descritos como complicadores no processo de reabilitação do estomizado. Tais complicadores podem estar presentes ou manifestando-se de forma intensificada, principalmente, para aqueles pacientes onde não houve um processo educativo eficiente9.ObjetivoAnalisar como a equipe de enfermagem percebe sua inserção no auxilio às orientações de alta ao paciente estomizado.MétodosO método adotado no estudo foi a pesquisa qualitativa descritiva, na qual se verifica uma relação indissociável entre o participante e o seu mundo que, ao invés de reconhecer na subjetividade a impossibilidade de construção científica, considera esta como parte integrante da singularidade do fenômeno social11.O estudo foi realizado na Unidade de Cirurgia do Aparelho Digestivo (CAD) de um hospital universitário de grande porte, localizado em Curitiba. Esta unidade conta com vinte leitos e caracteriza-se pelo atendimento das clínicas de coloproctologia e cirurgia geral. Dentre os diversos procedimentos cirúrgicos realizados na referida unidade, estão as estomias.O desenvolvimento do estudo obedeceu aos preceitos éticos estipulados pela Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde12 e a coleta de dados somente teve início após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição a ser pesquisada sob o registro número 2578.185/2011-08. De forma a preservar a identidade dos sujeitos, os mesmos foram identificados por nomes de flores, como: Jasmim, Azaléia, Rosa, Margarida, Tulipa, Cravo e Violeta.Os sujeitos foram convidados a participar do estudo em horário e local convenientes, com prévia autorização de sua chefia, de forma a não prejudicar suas atividades laborais.Os critérios de inclusão foram aceitar participar do estudo, mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), ser colaborador da unidade de CAD e pertencer à equipe de enfermagem como auxiliar de enfermagem, técnico em enfermagem ou enfermeiro. O número de participantes totalizou sete profissionais e a escolha do número de participantes deu-se pela saturação dos dados, que ocorre quando não há informação nova relatada pelos participantes.A coleta de dados ocorreu durante os meses de setembro e outubro de 2011, por meio de entrevista semiestruturada, utilizando-se um gravador digital. As entrevistas foram norteadas por um instrumento composto de cinco questões abertas, precedida de uma parte que expressou a caracterização profissional do participante. As entrevistas duraram, em média, quarenta minutos e foram norteadas pelas seguintes questões:a) em sua opinião, qual é a sua inserção nas orientações de alta ao paciente com estomia (colostomia, ileostomia ou urostomia)?;b) quais ações da equipe de enfermagem você considera importantes, no ambiente hospitalar, de forma a auxiliar o paciente estomizado no momento da alta hospitalar?;c) como você percebe as orientações de alta ao paciente com estomia em sua realidade atual?;d) em sua opinião, quais os desafios nas orientações de alta aos pacientes estomizados em sua realidade?;e) em sua opinião, quais os pontos positivos nas orientações de alta aos pacientes estomizados, em sua realidade?As respostas foram transcritas na íntegra, respeitando-se a coloquialidade do discurso, para posterior análise dos dados. Os dados foram analisados segundo a metodologia da análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin13, sendo composta de três fases: a) pré-análise, b) exploração do material e c) tratamento dos resultados, inferência e interpretação. A partir de então, foram estruturadas categorias temáticas para exposição e discussão dos resultados.Resultados e DiscussãoPor meio da análise das narrativas dos sujeitos, foram estruturadas quatro categorias, sendo elas: percepções relacionadas à participação da família do estomizado no processo de orientação de alta; percepções relacionadas às ações da equipe de enfermagem frente às orientações de alta; percepções relacionadas ao estomizado, passando de um ser cuidado para o responsável pelo autocuidado e percepções relacionadas à orientação especializada proporcionada por assessores técnicos.• Percepções relacionadas à participação da família do estomizado no processo de orientação de altaNesse âmbito, na fala dos entrevistados destaca-se o papel da família, como sendo de grande importância no processo de orientação de alta ao estomizado, presença essa valorizada pelos sujeitos, conforme as narrativas a seguir:[...]Se a família tá ali presente, se tá ajudando a coisa vai que é uma beleza né?[...] (Azaléia)[...]Tem que marcar um horário, tem que a família acompanhar. Não dá pra orientar só o paciente, tem que ser uma orientação com a família também, porque as vezes ele esquece alguma coisa ou ele mesmo não tá preparado ainda para aquilo, pra cuidar né? E com familiar fica mais fácil [...](Jasmim)Nesse momento, a família é vista como a extensão do doente14 e deve ser envolvida no processo terapêutico, pois é quem tem maior conhecimento sobre hábitos e preferências do estomizado, de forma a contribuir para a construção de seu plano terapêutico além de constituir um importante suporte social15.A família, seja ela definida como nuclear, formada pelos pais e seus filhos ou a expandida, incluindo outras pessoas consideradas da família, independentemente dos laços sanguíneos ou parentais, constitui a fonte primária de cuidados e auxílio aos seus integrantes16.Porém, mesmo nesse cenário de valorização da participação da família no cuidado, cabe ressaltar que se observou uma visão da família como auxiliadora nas atividades técnicas de cuidado. Nesse contexto, pode-se perceber que o familiar, muitas vezes, é quem oferece ajuda ao estomizado, realizando cuidados básicos e iniciais como o esvaziamento do equipamento coletor, como se pode verificar no discurso a seguir:A gente até pede sempre a colaboração da família. Ultimamente a gente orienta e já pede que a família [...] pede pro familiar e o doente estar participando dos cuidados ali: esvaziando a bolsa, principalmente, sabe? Porque no inicio é mais difícil começar a esvaziar. É a partir do momento que o estoma começa a funcionar a gente solicita ajuda [...]No finalzinho, a gente força um pouquinho pra eles participarem, serem ativos, porque daí vão mais seguros pra casa, mais autoconfiantes, com menos probabilidade de dar complicações[..] (Azaléia)Com a participação de sua família, o estomizado deve ser orientado para desenvolver habilidades mínimas e especificas para o cuidado do estoma, de forma que tenha a capacidade de reconhecer as complicações, permitindo, dessa forma, o acesso de todos no processo educativo17.Sabe-se que a doença provoca descontinuidade no processo de viver da família e que esta também necessita de auxílio dos profissionais da saúde. Sendo assim, torna-se importante a compreensão de que cada família é única e passa por esse processo de maneira própria. Cada familiar vivencia situações de doença de forma singular, assumindo uma postura própria, geradora de necessidades diferenciadas de apoio e de cuidado16.Sendo assim, a solicitação de auxílio da família, para atividades técnicas relacionadas ao estoma e ao dispositivo coletor, devem ser ponderadas de acordo com os processos de enfrentamento estabelecidos.• Percepções relacionadas às ações da equipe de enfermagem frente às orientações de altaNo discurso dos entrevistados, foi evidente a consciência da importância da equipe de enfermagem no processo de reabilitação do estomizado, o que inclui as orientações para alta hospitalar.Aspectos como o ensino para o esvaziamento do equipamento coletor e higiene do estoma foram destacados, conforme a seguinte fala:[...]No decorrer dos primeiros dias, eu procuro já ir conversando com a pessoa, né? Já mostrando desde o esvaziamento da bolsa, a limpeza e a higienização da bolsa na hora do banho. (Rosa)Tradicionalmente, os pacientes devem ser ensinados a esvaziar o dispositivo coletor, realizar a remoção e aplicação de uma nova bolsa, cuidados com a pele periestoma, iniciando dessa forma a construção de seu autoconhecimento e automonitorizaçao17.Em consonância com o que foi relatado pelos sujeitos, ressalta-se que é recomendado, com forte nível de evidência, que o estomizado defina um conjunto de habilidades mínimas antes de receber alta. Essas orientações foram definidas pela Wound, Ostomy and Continence Nurses Society, no documento Ostomy Care and Management 2009, onde se recomenda que o paciente deve ter alta somente após saber manipular o clipe do coletor e saber esvaziar sua bolsa coletora e, sempre que possível, acrescentar orientações de forma a auxiliar o cuidado com o estoma17.Durante o processo de orientação ao estomizado, outro tema abordado pelos sujeitos são as alterações e preocupações relacionadas com as questões de ordem física após a cirurgia. Essas alterações referem-se às modificações fisiológicas gastrointestinais, nomeadamente a perda do controle fecal e da eliminação de gases; as complicações relacionadas com a estomia e a realização do autocuidado com o estoma e com a troca dos dispositivos coletores.A abordagem de tais temas contribui para que se inicie a construção de um individuo responsável por seu próprio cuidado10. Nesse contexto, vale ressaltar que as percepções dos sujeitos, relacionadas às orientações de alta, também são permeadas por alguns desafios como o fortalecimento do conhecimento de que as orientações podem iniciar no período préoperatório e não apenas no pós-operatório. O destaque para esse aspecto pode ser demonstrado conforme a narrativa:[...]outra situação que vejo aqui do hospital, em particular, que dificulta, tem a parte do próprio paciente. Eles fazem a cirurgia do paciente e o ostoma está muito próximo da ferida operatória. Em geral, eles não fazem uma medida do estoma pra ver onde fica melhor posicionado. Então eles colocam o estoma muito próximo da ferida operatória e isso dificulta para o paciente. Eu acho que... Não sei se seria na alta isso, mas é um desafio que isso fosse colocado para que eles avaliassem o local desse ostoma o que melhoraria para esse paciente. (Margarida)As orientações no pré-operatório contemplam uma fase importante da reabilitação do paciente, pois nesse momento ele pode se encontrar fragilizado por seu diagnóstico e com dúvidas em relação ao seu tratamento. O déficit de conhecimento pode se expressar pela sua dificuldade em aceitar sua nova condição de vida, deixando clara a necessidade de estabelecimento de comunicação pré-operatória a fim de minimizar as angústias sofridas por esse paciente e sanar suas dúvidas iniciais2.Sendo assim, um estoma bem localizado na parede abdominal facilita as atividades de autocuidado referentes à remoção e à colocação da bolsa, à higiene do estoma e pele periestoma, bem como à manutenção do sistema coletor, contribuindo para a prevenção de complicações e possibilitando a reintegração social precoce, constituindo, ainda, um direito do paciente2,17,18.No que se refere à orientação pré-operatória, evidenciam-se desafios como a necessidade de fortalecer a percepção de que a inserção dessas orientações na sistematização da assistência de enfermagem contribuem, sobremaneira, para a melhoria da qualidade de vida do paciente e, conseqüentemente, para a qualidade das orientações de alta, realizadas pela equipe de enfermagem.• Percepções relacionadas ao estomizado, passando de um “ser cuidado” para o responsável pelo autocuidadoApós sua saída do centro cirúrgico, o paciente estomizado depara-se com grandes modificações fisiológicas e de rotinas sobre o seu corpo, de forma que muitas vezes essas modificações podem causar dificuldade na aceitação e na compreensão dos motivos que o encaminharam para a realização do estoma9. Pôdese analisar a percepção dos sujeitos em relação a essa problemática, enfatizando a preocupação na abordagem desses temas em suas orientações.Temas como medo, vergonha e bloqueio social são abordados, conforme os discursos seguintes:Normalmente no primeiro dia já começo a falar que é um momento difícil que ele tá passando, mas que ele consegue [...]” (Tulipa)[...]É uma questão de preparar o paciente psicologicamente em relação à ostomia, porque tem paciente que aceita bem, têm pacientes que nossa! No primeiro dia, não quer nem olhar. Então, a gente acaba tranqüilizando um pouco[...] (Jasmim)[...]Tem paciente que é complicado na orientação, porque você tá lidando ali com a bolsinha e ele tá fazendo isso... (virando o rosto) assim ó... (vira o rosto) pra você.. Olha, vários momentos a gente se depara com isso. Você tá aqui trabalhando muitas vezes o lado psicológico dele também, pra ele aceitar essa situação, porque é uma situação que tá dando vida pra ele né? Então a gente, além da orientação, orientação da bolsinha de troca de higiene, tem todo o contexto, contexto social, além alem do psicológico [...] (Azaléia)Corroborando as narrativas dos entrevistados, destaca-se que o estoma altera radicalmente a forma de eliminação, forçando o estomizado a aprender novas habilidades físicas a fim de promover seu autogerenciamento, dominando novas habilidades psicomotoras para remover sua bolsa coletora e para limpar a estomia e pele periestoma17. Todos esses temas devem ser abordados e monitorados durante o processo de orientação para a alta hospitalar.Com um tempo cada vez menor de internação, existe a necessidade cada vez maior de se iniciar as orientações no pré-operatório, quando essa abordagem é possível. Essa ação pode contribuir para a compreensão e aceitação de sua nova condição de vida, facilitando assim o aprendizado para o autocuidado. Desse modo, paciente e família dispõem de um tempo maior para assimilar os conhecimentos e habilidades necessárias para a gestão bem sucedida da estomia17.Pacientes submetidos a tal procedimento têm sua perspectiva de vida alterada, principalmente pela imagem corporal negativa, devido à presença do estoma associado à bolsa coletora. Além das mudanças nos padrões de eliminação, dos hábitos alimentares e de higiene precisam adaptar-se ao uso do equipamento, resultando em autoestima diminuída9.• Percepções relacionadas à orientação especializada proporcionada por assessores técnicosMediante análise dos discursos, os sujeitos demonstraram percepções relacionadas à participação de enfermeiros assessores técnicos no processo de alta do estomizado. Os assessores técnicos são profissionais enfermeiros, contratados por indústrias de produtos para o cuidado aos estomizados. A importância desse profissional foi percebida, conforme mostram as narrativas a seguir:[...]A gente marca primeiro com a enfermeira especialista nessa área, que vem dar o treinamento.[...] (Violeta)A gente conta muito com a (cita o nome da enfermeira, assessora técnica de um fabricante de dispositivos coletores, e outros produtos para a saúde) [...] A gente não tem experiência pra orientar, aí a gente passa a bola para ela. (Tulipa)A gente tava até comentando, de um tempo pra cá melhorou bastante a orientação devido a (cita o nome da enfermeira, assessora técnica de um fabricante de dispositivos coletores, entre outros produtos) [...] De um tempo pra cá a gente percebe que não tem voltado paciente com problema de dermatite. (Jasmim)É o próprio serviço que a enfermeira oferece (referese ao serviço de atendimento disponibilizado por uma indústria de produtos para a saúde) [...] ela dá orientação aqui, mas se tiver algum problema, o paciente pode estar ligando pra ela, ela vai resolver essa situação também. (Margarida)Estimulada pelo desenvolvimento tecnológico, a indústria que desenvolve o arsenal de dispositivos e equipamentos para o cuidado a esses pacientes, tem incluído na sua estrutura organizacional, profissionais enfermeiros que prestam assessoria técnica e científica, contribuindo para a melhoria da qualidade de assistência ao usuário. Sendo assim, ainda que as ações da indústria englobem estratégias de marketing, não deixam de representar um caminho para compartilhamento da assistência global19.Ressalta-se que, na área médica, já existem regulamentações legais, de forma a orientar as ações de assessores técnicos e representantes da indústria.Nesse cenário, destaca-se a Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) 102/2000, com o intuito de melhorar a fiscalização de propaganda medicamentosa e sua prescrição médica. No entanto, essa mesma RDC não se aplica à propaganda de produtos médico-hospitalares, como no caso dos produtos utilizados para o cuidado com estomas. Sendo assim, as indústrias de materiais médico-hospitalares, até o momento, têm liberdade para ofertar seus produtos a seu público alvo, dependendo das normativas institucionais 20,21.Dessa forma, torna-se um desafio para a enfermagem, solidificar a prática das orientações de alta ao estomizado nas instituições de saúde, no contexto de seu quadro laboral, contando com o apoio do assessor técnico da indústria, sem delegar tal atividade a esse profissional.Na prática diária, observa-se que muitos enfermeiros ainda se encontram despreparados para assistir aos estomizados1, o que demonstra a necessidade de uma educação permanente sobre o tema; bem como a necessidade da organização do processo de trabalho, o que inclui o planejamento e realização das orientações de alta.A necessidade de maior envolvimento no processo de orientação ao estomizado está fundamentada também na Lei do Exercício Profissional, 7498/198622, em seu artigo 11, item II, que descreve que cabe ao enfermeiro enquanto integrante da equipe de saúde “a participação na elaboração, execução e avaliação dos programas de saúde”, bem como, a “educação visando à melhoria da saúde da população”, o que certamente, envolve o paciente estomizado.Em consonância com esse tema destaca-se ainda a resolução do COFEN no. 159/199323 que versa sobre a realização da consulta de enfermagem como obrigatória na assistência de enfermagem e, ainda, a resolução do COFEN no. 311/200724 que aprova o Código de Ética dos profissionais de Enfermagem. Em seus princípios fundamentais, o código descreve que esse profissional deve atuar na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. Tais ações contribuem para a melhoria do processo de orientação ao estomizado, bem como para maior empoderamento da categoria.ConclusãoOs resultados do estudo mostram que a equipe de enfermagem percebe sua inserção no cuidado do estomizado no auxilio às orientações de alta, permeada por vários aspectos fundamentais, como a inserção da família no cuidado. A inserção familiar é reconhecida e referenciada como de grande importância para o paciente. No entanto, percebem-se desafios a serem superados, como a compreensão de que a família também precisa de cuidados, o que inclui o respeito diante do reconhecimento de suas limitações que englobam também dificuldades técnicas.No que se refere às percepções relacionadas ao estomizado, passando de um “ser cuidado” para o responsável pelo seu autocuidado, são positivas, de forma que eles reconhecem o estomizado como um todo. Os mesmos compreendem que esse é um momento difícil para o paciente e respeitam seu tempo para adaptação, que pode variar individualmente. Ressalta-se a necessidade de que a participação da enfermagem, no processo de orientação ao paciente, deve ser intensificada no pré-operatório.O estudo mostrou também que a equipe de enfermagem tem uma boa organização para as orientações de alta ao estomizado, porém ainda não se percebe como peça chave nesse processo, em virtude de que a orientação realizada no dia da alta é conduzida por enfermeiros que prestam assessoria técnica para fabricantes de produtos utilizados nos cuidados aos estomizados. Nesse contexto, destaca-se como sendo um desafio para a equipe de enfermagem, o reconhecimento de que a orientação de alta ao estomizado não depende exclusivamente de um assessor técnico. Acreditase que os enfermeiros da própria instituição devem ser atores principais no processo de orientações de alta ao estomizado e que tal processo deve ser estruturado, implementado e avaliado constantemente pelos mesmos. Acredita-se que tal prática contribui para o maior empoderamento e, consequentemente, melhor exercício da autonomia profissional, o que contribui para a melhoria da qualidade das orientações de alta ao estomizado.

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Published

2016-03-23

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1.
Hey AP, Krama L. Artigo Original 2. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Dec. 30];10(4). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/79

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