Artigo Original 2 - Prevalência de Sintomas do Trato Urinário Inferior: Revisão Integrativa de Estudos Epidemiológicos de Base Populacional

Authors

  • Vanessa Amigo Enfermeira formada pela Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP),
  • Maria Helena Baena de Moraes Lopes Doutora. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) – Campinas (SP).

Abstract

ResumoSintomas do Trato Urinário Inferior (STUI), genericamente agrupados em sintomas de armazenamento, miccionais e pós miccionais, tem profunda influência no bem-estar e na qualidade de vida. A prevalência dos STUI é normalmente acessada em estudos que abordam populações específicas e como dados podem fundamentar a prática clínica e politicas públicas, com o objetivo de conhecer a prevalência dos STUI na população em geral, realizamos revisão integrativa de cinco artigos originados de estudos transversais, de base populacional (BACH, EPIC, EpiLUTS e UrEpik) sobre prevalência dos STUI em homens e mulheres. Todos os estudos mostram elevada prevalência, mas com discrepâncias apresentadas que possivelmente ocorrem não só pelos estudos abordarem diferentes populações, mas também devido a outras diferenças nos dados amostrais (como a idade escolhida) e a metodologia usada. Conclui-se que, para ser possível a comparação entre as diferentes populações, há a necessidade de padronizar a metodologia de estudo.Descritores: Sintomas do Trato Urinário Inferior. Prevalência. Epidemiologia.AbstractLower Urinary Tract Symptoms (LUTS), broadly grouped into storage, voiding and post voiding symptoms, have a profound influence on the well-being and quality of life. The prevalence of LUTS is normally accessed in studies that address specific populations and how data can support clinical practice and public policy, with the aim of determining the prevalence of LUTS in the general population, we conducted an integrative review of five articles originated from cross-sectional studies, populationbased (BACH, EPIC, EpiLUTS and UrEpik) on prevalence of LUTS in men and women. All the articles show a high prevalence, but with discrepancies that can not only be explained by the usage of different populations. Other differences in the data sample (such as age selection) and differences in the used methodology should be considered as well. It is concluded that, to be able to compare the different populations it is necessary to standardize the method for the study.Descriptors: Lower Urinary Tract Symptoms. Prevalence. Epidemiology.ResumenLos síntomas del tracto urinario inferior (STUI), en términos generales se agrupan en los síntomas de almacenamiento, vaciado y vaciado post, tiene profunda influencia en el bienestar y calidad de vida. La prevalencia de STUI se accede normalmente en los estudios que se ocupan de poblaciones específicas y, cómo los datos pueden apoyar la práctica clínica y la política pública, con el objetivo de determinar la prevalencia de los STUI en la población en general, se realizó una revisión integradora de cinco artículos que proceden de estudios transversales basado en la población (BACH, EPIC, y UrEpik EpiLUTS) sobre la prevalencia de los STUI en hombres y mujeres. Todos los estudios muestran una alta prevalencia, pero con discrepancias demostrado que posiblemente se producen no sólo por los estudios que abordan diferentes poblaciones, pero también debido a otras diferencias en los datos de la muestra (como la edad elegida) y la metodología utilizada. Se concluye que, para ser capaces de comparar las diferentes poblaciones es necesario normalizar el método para el estudio.Palabras clave:Síntomas del Sistema Urinario Inferior. Prevalencia. Epidemiología.Introduçãodoença ou alteração, que podem levar a procura da ajuda de profissionais da saúde. Em geral, os sintomas do trato urinário inferior (STUI) não podem ser usados para firmar um diagnóstico definitivo, pois podem indicar outras patologias além da disfunção do trato urinário inferior (DTUI)1.Os STUI são divididos em: sintomas de armazenamento (incontinência urinária - IU, mais especificamente, IU de esforço, urge-incontinência, IU mista, IU contínua e outros tipos de IU; urgência miccional; aumento da frequência diurna; noctúria; enurese noturna; sensibilidade vesical - normal, aumentada, diminuída, ausente e não específica); sintomas miccionais (jato fraco, jato intermitente, divisão do jato urinário, hesitação, esforço e gotejamento terminal); sintomas pós-miccionais (sensação de esvaziamento incompleto e gotejamento pós-miccional); sintomas associados com a atividade sexual; sintomas associados com prolapso de órgão pélvico; dor genital ou no trato urinário inferior, síndromes dolorosas e síndromes sintomáticas genito-urinárias sugestivas de DTUI1.Sabe-se que os STUI têm profunda influência no bem-estar, na qualidade de vida e com alta prevalência2, que varia de acordo como as questões são feitas, com a definição dos sintomas3 e com a população estudada. A prevalência geral dos STUI é difícil de ser apontada, pois a maioria dos estudos tem abordado populações específicas, considerando apenas um dos sexos, determinada faixa etária ou outras especificidades2,4,5,6. Ao buscar mais sobre o tema - prevalência dos STUI - foram encontrados estudos epidemiológicos transversais de base populacional e amostragem randômica, que analisaram a população como um todo, a partir de metodologia própria7,8. Estes artigos serão analisados em forma de revisão integrativa, já que esses dados são de suma importância na tomada de decisão, planejamento e alocação de recursos na saúde8. Através da síntese dos resultados dessas pesquisas espera-se disponibilizar novos conhecimentos para a prática, a fim de favorecer condutas ou tomada de decisão através de um saber crítico9.ObjetivoO presente estudo tem como objetivo identificar a prevalência de STUI na população em geral através de revisão integrativa.MétodosFoi realizada revisão integrativa da literatura consoante as etapas propostas por Whittemore10:Etapa 1 - Identificação do ProblemaPara guiar a revisão formulou-se a seguinte questão norteadora: Qual a prevalência dos STUI na população em geral?Etapa 2 - Busca de literaturaForam consultados o serviço de pesquisa da National Library of Medicine (PUBMED), a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Embase, Science Direct e SCOPUS, utilizando os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Sintomas do Trato Urinário Inferior e Prevalência. A partir da identificação de estudos epidemiológicos transversais de base populacional e amostra randômica, passou-se a incluir na busca o nome desses estudos: BACH, EPIC, EpiLUTS e UrEpik. Usando-se o operador booleano “AND”, realizaram-se as seguintes combinações: Nome da pesquisa and Sintomas do Trato Urinário Inferior and Prevalência, em português, inglês e espanhol. A pesquisa abrangeu o período de abril de 2002 a agosto de 2012.Etapa 3 - Avaliação dos dadosSomente foram considerados para análise os artigos que investigavam a prevalência, abrangiam ambos os sexos e foram publicados em português, inglês ou espanhol. Foram excluídas as publicações que não se adequavam ao tema de estudo segundo o título e resumo apresentado, as que abordavam grupos específicos ou eram apresentações realizadas em eventos científicos e as que se repetiam nas diferentes bases de dados.Etapa 4 - Análise dos dadosOs artigos foram analisados de acordo com aspectos referentes à estratégia de coleta de dados, questionários usados, faixa etária, tamanho da amostra e prevalência por sexo.Etapa 5 – ApresentaçãoA síntese dos estudos é apresentada em tabelas e quadros, e a discussão foi feita buscando analisar de forma crítica, à luz da literatura, o que foi encontrado nos diferentes estudos.ResultadosForam identificados 721 artigos e selecionados cinco artigos que atendiam aos critérios de inclusão do estudo e que são apresentados no Quadro 1 de acordo com: título, autores, periódico, ano de publicação, base de dados em que foram encontrados, países envolvidos e faixa etária da amostra populacional. Já na Tabela 1 é apresentada a faixa etária, tamanho da amostra e prevalência segundo o sexo, dos artigos analisados. Quadro 1 – Título, autores, periódico, ano, base de dados, país e faixa etária da amostra populacional dos artigos selecionados sobre a prevalência de STUI na população em geral. Em dois estudos2,4 a coleta de dados foi por contato telefônico e questionário desenvolvido pelos pesquisadores com adição do IPSS (International Prostate Symptom Score). Já no terceiro estudo5 foram realizadas entrevistas e utilizou-se o questionário AUA-SI (American Urological Association Symptom Index). O quarto estudo6 foi realizado por meio da internet, utilizando questionário específico acrescido do IPSS e o questionário Patient Perception of Bladder Condition, enquanto que o quinto estudo11 utilizou questionário desenvolvido especificamente para a pesquisa com adição do IPSS, encaminhado por correio, na Europa, e entregue pessoalmente, na Coréia.DiscussãoOs artigos analisados ressaltam a importância e apontam a falta de pesquisas sobre a prevalência de STUI na população em geral, porém, apenas dois abrangem de forma mais ampla a população adulta, incluindo os indivíduos a partir dos 18 anos2,4. Os demais estudos excluem a faixa etária mais jovem ao selecionar indivíduos com idade igual ou maior que 30 ou 40 anos5,6,11, não levando em conta que pessoas jovens também podem apresentar STUI, ainda que haja aumento da prevalência de STUI conforme avança a idade, fato descrito em vários estudos2,4-6.Outro fator que pode alterar as taxas de prevalência são as definições das STUI. Por exemplo, um estudo2 considerou como noctúria acordar uma ou mais vezes para urinar durante a noite e, devido a isso as prevalências encontradas foram elevadas. No mesmo estudo2 a noctúria foi definida como acordar duas ou mais vezes para urinar durante a noite, obtendo-se taxas menores e demonstrando que as taxas de prevalência podem diferir de acordo com a definição utilizada. Apenas três estudos2,4,6 descreveram o uso da terminologia padronizada pela Sociedade Internacional de Continência (International Continence Society – ICS) para os STUI1, o que evidencia que nem sempre esta terminologia é adotada .A definição da presença dos STUI também variou. Dois estudos2,4 usaram o autorrelato como definidor da presença ou ausência dos STUI. Já dois outros artigos5,11 definiram a presença de STUI como pontuação igual ou maior que oito no IPSS ou no AUA-SI (o IPSS é idêntico ao AUA-SI, exceto por uma de suas questões tratar do incômodo causado pelos STUI). Já o quinto artigo6 definiu a presença de STUI usando uma escala Likert.Observou-se que o autorrelato da presença de um sintoma pode gerar prevalências mais altas do que o uso da pontuação do IPSS ou AUS-SI, isso porque pode haver a presença de um sintoma sem que se alcance a soma de oito pontos, ou seja, pessoas que apresentam os sintomas seriam excluídas das taxas de prevalência por não apresentarem somatória suficiente. Podemos observar que dois estudos5,11 apresentam taxas de prevalência que variam de 18,6% a 20% que são bastante discrepantes das taxas apresentadas pelos demais2, 4, 6 que variam entre 53,7% e 73,6%. Ao comparar as definições da presença dos sintomas utilizados observamos que os primeiros utilizam a definição da pontuação igual ou maior que oito no IPSS/AUA-SI enquanto os outros estudos se baseiam no autorrelato.A forma como os dados foram coletados, também diferiu entre os estudos, o que pode ter contribuído para a discrepância dos resultados. Dois artigos3,4 utilizaram o contato telefônico para aplicação dos questionários, um terceiro artigo5 utilizou o telefone ou visitas domiciliárias, outro artigo utilizou a internet6 e, por final, o quinto estudo11 optou por utilizar questionário encaminhado por via postal.Somente dois artigos2,6 declararam conflito de interesse pelo fato dos autores serem funcionários/consultores de grandes laboratórios farmaceúticos dos quais receberam suporte para pesquisa.Apesar de diferenças metodológicas, os estudos têm em comum o fato de terem determinado sua amostra a partir de amostragem randômica, que se sabe, é a melhor forma de assegurar que a amostra selecionada seja representativa da população estudada12. Recomenda-se, portanto, que mais estudos usando uma mesma metodologia sejam realizados a fim de melhor mapear a prevalência dos STUI em diferentes populações, mas incluindo faixas etárias mais amplas, para evidenciar sua presença também em pessoas jovens. Este mapeamento mais abrangente permitiria identificar grupos vulneráveis a fim de que medidas preventivas ou de intervenção precoce possam ser implementadas, evitando o agravamento do problema.ConclusãoOs diferentes estudos de base populacional analisados evidenciam que os STUI têm elevada prevalência tanto em homens quanto em mulheres e a grande variação entre os estudos se deve à forma como esses sintomas são investigados e/ou definidos e às características da população estudada. Assim, para que seja possível a comparação entre as diferentes populações, há a necessidade de padronizar a metodologia de estudo. 

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References

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Published

2016-03-23

How to Cite

1.
Amigo V, Lopes MHB de M. Artigo Original 2 - Prevalência de Sintomas do Trato Urinário Inferior: Revisão Integrativa de Estudos Epidemiológicos de Base Populacional. ESTIMA [Internet]. 2016 Mar. 23 [cited 2024 Nov. 22];12(2). Available from: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/90

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