Relato de Caso
Resumo
Tratamento de lesão por Escalpelento: Relato de Experiência
IntroduçãoA lesão por escalpelamento consiste na avulsão total, ou parcial, do couro cabeludo, causada por contato acidental de cabelos longos com motor de eixo rotativo. A alta rotação desses motores gera uma força de sucção que suga os cabelos da vítima, tracionando e arrancando o couro cabeludo pode vir a ser arrancado, foram descritas por Besson, em 1906, e citadas por Padget e Stephenson , em 1948¹. As linhas de tracionamento onde o couro cabeludo pode vir a ser arrancado foram descritas por Besson, em 1906, e citadas por Padget e Stephenson, em 1948¹. A linha mais comum é a da junção do couro cabeludo com a pele da face e pescoço, onde a pele é mais fina e mais firmemente aderida. Dessa forma, se o cabelo for incialmente tracionado na região occipital, a pele se rompe primeiro na fronte. Caso seja tracionado primeiro na fronte, ocorre o inverso. Se todo o cabelo for tracionado ao mesmo tempo, a pele se zigoma, acima e em torno das orelhas, ou através delas, terminando na nuca. O periósteo pode também ser arrancado, ou permanecer aderido nas suturas ósseas, em pedaços, como se fossem retalhos. Na lesão por escalpelamento, além do comprimento dos tecidos moles, pode haver exposição da calota craniana, seguida de necrose isquêmica, osteíte e sequestração óssea². A lesão pelo escalpe é, do ponto de vista psicológico, devastadora para o paciente².Há uma alta frequência desses casos na região Amazônica, entre a população ribeirinha. As pequenas embarcações ali usadas não possuem dispositivos de segurança que isolem o motor de eixo rotativo do contato com seus usuários. Crianças do sexo feminino e mulheres de cabelos longos, as maiores vítimas com os cabelos soltos que, ao contato com o motor, são tracionados e o couro cabeludo violentamente avulsionado.No quadro clínico do paciente com lesão por escalpelamento, há sangramento extenso, dor local, dor muscular e limitação dos movimentos nas áreas adjacentes (face, coluna cervical, cinturas escapulares), cefaleia tensional, hematoma e edema facial.A lesão por escalpelamento pode ocorrer por acidente com motor rotativo de pequenas e médias embarcações e também tem sido relatada em acidentes automobilísticos³, como descritos a seguir.Caso clínicoMSO, 48 anos, vítima de lesão por escalpelamento, durante acidente automobilístico, no estado da Bahia, onde recebeu os primeiros cuidados. A paciente foi transferida para a cidade de Brasília e admitida no Hospital Geral e Ortopédico (HGO), em 31 de Janeiro de 2003. Associado ao problema de escalpe, a paciente apresentava trauma torácico, fraturas de membros superiores e inferiores, abrasões, cefaleia difusa, limitação dos movimentos do ombro e face, lesão de córnea esquerda causada por comprometimento de grupo muscular, o que dificultava o fechamento dos olhos e fáceis de extremo sofrimento. A paciente não tinha história de comobidades, alergias, fumo e não fazia uso regular de medicações.A lesão de espessura total resultante do escalpe expos tecido muscular e ósseo, com acometimento necrótico de periósteo parietal. Nas áreas com exposição de tecidos moles, não havia tecido de granulação. A exsudação apresentava-se abundante, serosa e amarelada. A paciente queixava0se de dor intensa, latejante e contínua.Inicialmente, a lesão foi tratada com colagenase e frequentes desbridamentos sem sucesso. Em 16 de fevereiro de 2003, o tratamento tópico foi alterado para hidrofibra e hidrogel, sobre as áreas de exposição óssea (Figura 1). A resposta a esse tratamento foi satisfatória, com crescimento e capilares, evidencia de tecido de granulação, e alivio da dor. A necrose do periósteo foi submetida a desbridamentos autolítico e instrumental (Figuras 2 a 5). Numa fase proliferativa mais adiantada, a conduta tópica foi alterada para cobertura em tela de poliamida com silicone, que manteve a umidade fisiológica da lesão (Figuras 6 e 7). Foi mantido o uso de hidrogel sobre exposição óssea. Como mostram as figuras, houve evolução benigna da lesão, sem intercorrências de infecção ou outras e, em 24 de abril de 2003 (8 semanas), alcançou-se a viabilidade de tecidos requerida para a cirurgia reconstrutiva.ConsideraçõesO trauma por escalpelamento acarreta em suas vítimas, sequelas físicas, funcionais e psicológicas significativas. Apresenta grande dificuldade de reconstrução, longo período de tratamento, necessidade de várias cirurgias e custo total altíssimo. Acarreta, ainda, deformidades estéticas irreparáveis e acometimento profundo da cinética postural do paciente. As vítimas do escalpe podem ser beneficiadas pelo reimplante microcirúrgicos de seu couro cabeludo avulsionado. Para isso, é fundamental que, ainda no local do acidente, o couro cabeludo arrancado seja cuidadosamente lavado, imerso em solução salina e colocado dentro de isopor contendo bastante gelo. Dessa forma, se preserva a viabilidade dos tecidos até a chegada ao hospital. O transporte do couro cabeludo de maneira inadequada (por exemplo, em álcool) impossibilita qualquer chance de reimplante4.Há falta de informação, tanto na prevenção desses acidentes, quanto no procedimento adequado no momento do acidente. Cameschi e Miura4 sugerem que se torne obrigatório o procedimento preventivo de prender os cabelos com rede ou touca para pessoas com cabelos longos expostos a máquinas rotativas.Segundo Mota¹, deve-se proceder a campanhas educativas abrangentes que exponham, clara e objetivamente, a causa do problema, suas consequências e como preveni-lo. A autora ressalta, ainda, a necessidade de fiscalização, pela Capitania dos Portos, da segurança das pequenas embarcações e sugere também, parceria com os municípios, criando-se mecanismos de informação sobre o trauma e sua prevenção.Recentemente criada no estado do Para, a Associação Sarapó, presidida pelo Dr. Cláudio Britto, atua na prevenção do problema e no atendimento medico e psicológico das vitimas do escalpelamento e seus parentes. A prevenção abrange, especialmente, campanhas educativas e distribuição de protetores de motores5.Downloads
Referências
Mota M. A contribuição da fisioterapia no tratamento de vítimas de escalpelamento.[on line] 2003 fev 10]. Disponível em: URL: http://www.elden.hpg.ig.com.br/saúde.
Arrigo CN, Zerbini EJ, Clínica Cirúrgica de cabeça e pescoço. 4 ed. Vol.1.São Paulo: Sarvier, 1994.
Ely jF. Cirurgia plástica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1980.
Cameschi, Miura [on line] 1992. [citado 2004 nov 25]. Disponível em: URL: http://www.sbpc,org/revista/vol13-n2/cameschi.
Risco de escalpelamento ainda ronda os rios (PA). [on line] 2003. [citado 2005 jan 25]. Disponível em: URL:http:www.amazonia.org.br/noticias/noticias,cfm?id=91998.