Reflexão 1
Resumo
O Cuidado do “Ser” Corpo da Pessoa com Estomias
Introdução
Vivemos em um mundo que prima pelo belo, corpo e mente saudáveis. A imagem do corpo perfeito é confrontada em várias ocasiões no cotidiano, e quando há uma doença que causa deformidade/imperfeição neste, ou mesmo alteração no seu funcionamento, verificamos o comprometimento na qualidade de vida do indivíduo. Esta situação é vivenciada diariamente pela pessoa com estomia, pois, além de conviver com uma doença com significado fatal (câncer), esta mutila seu corpo.O presente ensaio1 tem por objetivo proporcionar uma reflexão acerca do cuidado ao “Ser” corpo da pessoa portadora de estomia, que é influenciado pela baixa auto-estima decorrente da doença e devido à imagem corporal alterada pela presença do estoma.O “Ser” corpo e o estomaA confecção de um estoma resulta num impacto estético e psicológico, em decorrência das mudanças na imagem corporal, que levam a sensações de mutilação, invalidez, desgosto pelo fato de evacuar pelo abdômen, pela presença de vazamentos de gases e fezes, associados ao medo de ficar incapaz de se relacionar sexualmente, a diminuição da libido e a depressão, que geram uma série de obstáculos na reintegração e ajustamento à vida familiar, social e laborativa2.O impacto de uma estomia na vida de qualquer pessoa traz conseqüências que se refletem nos diferentes aspectos, entre eles, o biológico, o psicológico, o social e o espiritual, sendo a alteração da auto-estima uma das mais importantes devido, possivelmente, a alteração na imagem corporal3.O cuidado, o corpo e a pessoa com estomiaO cuidado ao Ser Humano/Corpo da pessoa com estomia é, muitas vezes, relegado a um segundo plano pelo enfermeiro(a), pois este direciona o seu cuidar para o estoma, o seu bom funcionamento, a utilização adequada da bolsa, sem considerar o modo como muitos pacientes se acomodam à perda do esfíncter anal e que isto tem relação com o contexto mais amplo, representado pela resposta psicológica ao fato de ser, ou de ter sido, um doente de câncer.Devemos considerar o corpo individual (físico e psicológico), o corpo social e o corpo cultural. Corpo e cultura são realidades conjuntas. Os indivíduos incorporam a cultura em que vivem. As suas sensações, percepções, seus sentimentos e experiências corporais são culturalmente padronizados4.Essa perspectiva ajuda a explicar as marcadas diferenças de adaptação observadas entre as pessoas portadoras de estomias, principalmente com relação à baixa auto-estima pela imagem corporal alterada e pelos odores proveniente da estomia. A relação particular que cada indivíduo estabelece com seu corpo, nem sempre pode ser explicada. O corpo tem um significado mediado pela cultura e as variações culturais estão relacionadas aos significados de cada parte do corpo, positiva ou negativamente, (des)valorizada, segunda a dinâmica subjacente à cultura5.A representação do corpo encontra-se significativamente comprometida, devido à figuração deste que se dá na mente destes sujeitos, que é sua imagem corporal, no momento da doença, onde muitas vezes são realizadas intervenções invasivas e procedimentos mutiladores.Essa representação se dá através dos sentidos, do contato do indivíduo com o meio externo e com os outros, sendo influenciada também pelas questões culturais e suas exigências com o corpo, que podem variar de uma sociedade para outra6.Considerações FinaisAcreditamos, que o cliente que necessita de uma estomia torna-se fragilizado e confuso à medida que se descobre com uma doença que culturalmente tem um significado de morte iminente (câncer) e, por ter que utilizar uma bolsa de estomia, terá alterada a sua imagem corporal, afetando sua auto estima.A perspectiva do cuidado de enfermagem, neste contexto, deve vislumbrar a doença e a enfermidade do cliente oncológico, considerando os aspectos objetivos e subjetivos presentes no corpo vivido, que é histórico e culturalmente construído, mas que manifesta o adoecer através da sintomatologia, das marcas decorrentes do tratamento e do significado de vivenciar uma doença.Finalizamos com Marzano-Parisoli5 que diz que os profissionais da saúde possuem uma visão do corpo, construída a partir de uma concepção anatomofisiológica, em cujos processos são compreendidos a partir da análise médico-científicas, e no qual são interpretados como imperfeições da natureza que precisam ser corrigidos, ou seja, existe a estigmatização da doença e enfermidade como desvios em relação à normalidade natural ou às normas socioculturais, à medida que os impedem de cumprir livremente as tarefas sociais, de assumir responsabilidades na vida privada e pública.O autor faz um alerta para que os profissionais reflitam sobre o significado da doença e da enfermidade para o indivíduo e a importância que elas podem ter numa relação ética sobre o corpo e o conceito de saúde e normalidade, além do problema do equilíbrio entre o tratamento médico e respeito às diferenças psicofísicas5.Downloads
Referências
Tobar F, Yalour MR. Como fazer teses em saúde pública: conselhos e idéias para formular projetos e redigir teses e informes de pesquisas. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001.p24.
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Costa IG, Maruyama SAT. Implementação e avaliação de um plano de ensino para a auto-irrigação de colostomia: estudo de caso. Rev Latino-Am Enfermagem. 2004;12(3):May/June.
Helman CG. Cultura, saúde e doença. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. 25-48.
Marzano-Parisoli MM. Pensar o corpo. Petrópolis:Vozes;2004. Corpo, enfermidade e medicina. p.65-108.
Test M, Simonson DC. Assessment of quality-of life outcomes. J Méd N Englan. 1996; 334 (13) 835-40.