Atualização
Resumo
Superfícies de suporte: parte I*Support surfaces: part ISuperficies de soporte: parte IResumoAs superfícies de suporte são redistribuidores especializados de pressão destinados à prevenção e ao tratamento das úlceras por pressão. Apesar de cada vez mais utilizadas, são quase desconhecidas e ainda pouco estudadas em nosso meio. Um dos fatores que dificulta a pesquisa científica nesse tema é a falta de consenso quanto à nomenclatura empregada. A fim de promover um entendimento comum da terminologia referente às superfícies de suporte, o National Pressure Ulcer Advisory Panel propôs uma série de termos e definições. Neste artigo de atualização, em sua primeira parte, apresentam-se os conceitos físicos relativos às superfícies de suporte. Padronizar a linguagem é um importante passo para o desenvolvimento de estudos e para a utilização de seus resultados na prática clínica especializada.Descritores: Camas. Úlcera de pressão. Enfermagem.AbstractSupport surfaces are specialized devices used to redistribute pressure for the prevention and treatment of pressure ulcers. Although increasingly used, support surfaces are almost unknown and poorly studied in our field. The lack of consensus about the nomenclature to describe their characteristics that have been used is one of the factors that has jeopardized scientific research in this area. In order to promote a common understanding of the terminology regarding support surfaces, the National Pressure Ulcer Advisory Panel proposed a list of terms and definitions. In the first part of this article, the physical concepts related to support surfaces are presented. The standardization of terms and definitions is an important step in conducting research and/ or for the use of their results in the specialized clinical practice.Descriptors: Beds. Pressure ulcer. Nursing.ResumenLas superficies de soporte son aparatos que hacen la redistribución especializada de presión destinados a la prevención y al tratamiento de las úlceras por presión. A pesar de ser cada vez más utilizadas, son casi desconocidas y aún poco estudiadas en nuestro medio. Uno de los factores que dificultan la investigación científica en ese tema es la falta de consenso en relación al uso del término empleado. Para la comprensión de los temas a cerca de las superficies de soporte, el National Pressure Ulcer Advisory Panel ha propuesto una serie de términos y definiciones. En la primera parte de este artículo de actualización, presentamos los conceptos físicos relativos a las superficies de soporte. Estandardizar el lenguaje es un importante paso para el desarrollo de estudios y utilización de sus resultados en la práctica clínica especializada.Palabras-clave: Lechos. Úlcera por presión. Enfermería. Rev Estima - vol8 (1) 2010 p. 40 - 42 ** Baseado na iniciativa do National Pressure Ulcer Advisory Panel para a padronização dos termos e definições relacionados às superfícies de suporte.IntroduçãoAtualmente, são comercializados mais de duzentos tipos de Superfícies de Suporte (SS) destinados à prevenção e tratamento das úlceras por pressão (UP).1 Apesar da crescente popularização das SS, existem poucos ensaios clínicos controlados e, portanto, poucas evidências teóricas sólidas para embasar a sua utilização. Não há um consenso entre os autores, nem mesmo quanto à nomenclatura a ser utilizada.1-8A fim de padronizar a terminologia referente às SS, o National Pressure Ulcer Advisory Panel2 propôs uma série de termos e definições no início de 2007. Conceitualmente, estabeleceu-se que as SS são redistribuidores especializados de pressão capazes de controlar carga tecidual e micro-clima.Objetivando a divulgação desses termos e definições, desenvolveu-se um artigo de atualização, dividido em duas partes. Nesta, apresentam-se os conceitos físicos relativos às SS.Termos e definiçõesRedistribuição da pressão - capacidade de realocar a pressão concentrada sob as proeminências ósseas. A escolha desse termo, em detrimento a alívio/ redução da pressão, foi baseada no princípio da Física que assume a pressão (p) como uma grandeza representada pela relação de uma força (F) aplicada perpendicularmente sobre uma área (A) ou, p=F/A, medida em Pascal (Pa). Por meio dessa equação, depreende-se que a pressão será tanto menor quanto maior for a área em que a força for aplicada perpendicularmente. A redistribuição da pressão é influenciada pelas características mecânicas e físicas da SS e pelas propriedades mecânicas dos tecidos corporais. 2,9,10Carga mecânica - distribuição de força agindo em uma superfície.2Imersão - capacidade da SS em permitir que o corpo literalmente penetre, afunde nela. A pressão, antes concentrada sob as proeminências ósseas, passa a ser diluída pelas áreas adjacentes. O potencial de imersão depende da capacidade de deformação e das dimensões físicas da SS.2,9-11Envelopamento - capacidade da SS em moldar-se às irregularidades do corpo. Imersão e envelopamento estão relacionadas a densidade, altura e firmeza das SS e à flexibilidade de suas capas.2,3,9-11Transferência alternada do peso corpóreo - nesse tipo de SS, ao mesmo tempo em que algumas células inflam e assumem a tarefa de suportar o peso, outras murcham e, com a perda do contato, a pressão exercida naquela região fica temporariamente suspensa. Sua eficácia está intimamente relacionada à altura adequada de suas células assim como ao seu correto preenchimento, uma vez que elas devem manter o corpo suspenso todo o tempo.2,4,9-12Pressão de interface tecidual - medida escalar que informa a magnitude da força e representa a medida das forças agindo perpendicularmente à superfície do corpo sobre a SS. Para que ocorra dano tecidual, além da magnitude devem-se considerar também a duração e a direção das forças atuantes. É importante ressaltar que uma baixa pressão por um tempo prolongado também é capaz de provocar danos.5,7,9,11Vida útil - período de tempo durante o qual um produto é capaz de cumprir os objetivos para os quais foi desenvolvido. Expressa a durabilidade dos objetos.2Fadiga - redução da capacidade de redistribuir pressão, manejar carga tecidual e microclima. 2 O bottoming out pode ser um indício claro de fadiga e indicar o término da vida útil do equipamento. Para comprovar a ocorrência desse fenômeno, deve-se colocar a palma da mão para cima, entre o colchão convencional e o colchonete, por exemplo. A SS deve apresentar, no mínimo, 2,5cm de altura de material não deformado entre a mão e o corpo do paciente. Caso se sinta o corpo do paciente, tem-se o bottoming out, seja por fadiga do material ou pela inadequação da SS para o paciente em questão.10Cisalhamento - deformação à qual um corpo está sujeito quando as forças que agem sobre ele provocam um deslocamento em planos paralelos, mas em sentidos opostos. A deformação das partes moles é referida como tensão de cisalhamento. Algumas SS contornam essa situação potencialmente nociva devido à sua capacidade de deformar-se horizontalmente e/ ou ao baixo coeficiente de fricção de sua superfície.2,9,10,13Fricção - força tangencial que se opõe à força de cisalhamento, de intensidade e direção iguais, mas com sentido oposto, segundo a Lei de Ação e Reação de Newton. Quanto mais lisa for 42 - Rev Estima - Vol 8 (1) 2010 Artigo recebido em: 09/02/2010 Aceito para publicação em: 29/03/2010 1 Enfermeira estomaterapeuta do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo “Octavio Frias de Oliveira”. Mestranda do Programa de Pós-Graduação na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Endereço eletrônico para correspondência: kelly.strazzieri@uol.com.br 2 Enfermeira estomaterapeuta (TiSOBEST). Professora Associada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. uma superfície, menor será seu coeficiente de fricção, ou seja, menor o grau de rugosidade capaz de deter um corpo qualquer. A fricção depende também da força normal ou de apoio entre o corpo e a superfície; quanto mais o corpo estiver apoiado na superfície, maior será a fricção. Apesar de potencialmente prejudicial, a fricção é necessária para impedir que deslizemos das superfícies em que estamos apoiados. Equacionando esse problema, algumas SS apresentam coeficiente de fricção menor nas áreas ao redor das proeminências ósseas, no intuito de prevenir as UP.2,10,13Altura - dimensão da SS considerada verticalmente a partir de sua parte inferior até a base da parte superior. Para SS com parte superior irregular, como os colchonetes piramidais, a medida deve ser realizada até a base das ondulações. A altura deve ser suficiente para manter o paciente sustentado por, no mínimo, 2,5cm de material não deformado.9-12,14Densidade - relação entre massa e volume (kg/m3). Parâmetro muito importante para as SS fabricadas em espuma; quanto maior a densidade, mais espuma por metro cúbico, acarretando, consequentemente, maior suporte, durabilidade e conforto.15Resiliência ou firmeza (Indentation Force Deflection – IFD) - é a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação.7,15ConclusãoEsses conceitos são fundamentais para a compreensão e, portanto, para uma maior e melhor qualificação no momento da indicação e seleção da SS. Padronizar a linguagem é um importante passo para o desenvolvimento de estudos e utilização de seus resultados na prática clínica especializada.Downloads
Referências
Russell L. Overview of research to investigate pressure-relieving surfaces.Br J Nurs. 2001;10(21):1421–1426.
National Panel Ulcer Advisory Panel. Terms and definitions related to support surfaces. Disponível em http://www.npuap.org em 29 de janeiro de 2007.
Thompson P, Anderson J, Langemo D, Hanson D, Hunter S. Support surfaces: definitions and utilization for patient care. Adv Skin Wound Care 2008;21(6):264-6.
Whittemore R. Pressure-reduction support surfaces: a review of the literature. J Wound Ostomy Continence Nurs 1998;25(1): 6-25.
Edward H. Reducing pressure ulcer incidence through Braden Scale risk assessment and support surface use. Adv Skin Wound Care 2008;21:330-4.
McInnes Elizabeth, Bell-Syer Sally EM, Dumville Jo C, Legood Rosa, Cullum Nicky A. Support surfaces for pressure ulcer prevention (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 4, 2008. Oxford: Update Software.
Rithalia S. Assessment of patient support surfaces: principle, practice and limitations. Journal of Medical Engineering & Technology 2005;29(4):163-9.
Strazzieri KC, Campos FC, Santos VLCG, Rocha PCS, Melchiades EP. Superfícies de suporte para prevenção de úlcera por pressão: revisão de literatura. Rev Estima 2007;5(2):25-31.
Maklebust JA. Take the load off by choosing the right support surface. Nursing 2004;34(Med/ Surg Insider Supplement):12-15.
Brienza DM, Geyer MJ. Using support surfaces to manage tissue integrity. Adv Skin Wound Care 2005;18:151-7; quiz 162-3.
Nix DP. Support surfaces. In: Bryant RA, Nix DP, editors. Acute and chronic wounds: current management concepts. 3th ed. Missouri: Mosby Elsevier; 2007. p. 235-48.
Maklebust J. Choosing the right support surface. Adv Skin Wound Care 2005;18:158-61; quiz 162-3.
Reger SI, Ranganathan VK, Sahgal V. Support surface interface pressure, microenvironment, and the prevalence of pressure ulcers: an analysis of the literature. Adv Skin Wound Care 2007; 53(10).
Krouskop TA, Garber SL. The role of technology in the prevention of pressure sores. Ostomy Wound Manage 1987;16:45.
Polyurethane Foam Association. Flexible polyurethane foam terms handout. Disponível em http://www.pfa.org/ce/handout2.html em 02 de janeiro de 2009.