Artigo Original 1

Autores

  • Anna Maria de Oliveira Salimena Orientadora. Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Aplicada da FACENF/UFJF – Pesquisadora do NUPESM/ EEAN/UFRJ.
  • Wânia Rodrigues Valente Enfermeira. Graduada no Curso de Enfermagem da FACENF/ UFJF.
  • Maria Carmen Simões Cardoso de Melo Mestre em Enfermagem - Professora Adjunto da FACENF/UFJF -; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da EEAN/UFRJ. Pesquisadora do NUPESM/ EEAN/UFRJ.
  • Heloísa Campos Paschoalin Mestre em Enfermagem - Professora Assistente da FACENF/UFJF .
  • Ívis Emília de Oliveira Souza

Resumo

Compreendendo as Vivências de Mulheres ao Enfrentar a Condição de Ter um Estoma Intestinal

ResumoEstudo de natureza qualitativa teve como objetivo compreender as vivências de mulheres no enfrentamento da condição de ter um estoma intestinal, independente de ser temporária ou definitiva esta pode acarretar alterações, sentimentos e emoções em sua vida. Os depoimentos foram obtidos nos meses de julho e agosto/2007, através de entrevista semi-estruturada. Participaram quinze mulheres do Núcleo dos Ostomizados de Juiz de Fora, cenário da pesquisa. A análise compreensiva das informações delineou como aspectos relevantes: - A Orientação como agente na recuperação, - A Família como fonte de apoio e - A Fé como Suporte. Os resultados evidenciaram que esta condição causa impacto e traz para as pessoas com estomas, limitações em diversos segmentos da vida e, ao incidir em suas atividades cotidianas, afeta sua qualidade de vida. Para o enfermeiro, a compreensão dos vários aspectos vivenciados por essa clientela é de grande importância, no planejamento do cuidar individualizado e integral.Palavras-chave: Ostomia. Enfermagem.AbstractThe purpose of; this qualitative study was to understand the experiences faced by women with an intestinal stoma, which, independent of; being temporary or permanent, brings feelings, emotions and changes to their lives. Data were colected through semi-structured interviews between July and August 2007. The study was conducted with 15 women from the Center for Ostomy Patients in Juiz de Fora, MG, Brazil. Comprehensive data analysis identified the folowing relevant factors: guidance as an agent of; recovery; family as a source of; support; and faith as support. Results revealed that this condition can have a negative impact on many aspects of; a persons´ life, resulting in limitations of; daily activities, which affect their quality of; life. For the nurse, the understanding of the various dificulties experienced by these patients in their daily life is of great importance for the planning of individualized and comprehensive care.Keywords: Ostomy. Nursing.IntroduçãoNo decorrer do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora,; especialmente; as; abordagens; teóricas; e práticas desenvolvidas na disciplina Enfermagem Saúde do Adulto, levaram ao conhecimento da cirurgia em que se realizam estomias intestinais. As reflexões derivadas do enfoque desta temática geraram inquietações e questionamentos que, por sua; intensidade,; impulsionaram; à; busca; por subsídios para maiores esclarecimentos.Assim, para um melhor delineamento do estudo, foi definido como foco dessa pesquisa o tipo de cirurgia que visa à derivação intestinal e o desvio fecal para o meio exterior, através do abdômen.; Esta; cirurgia; envolve; questões psicossociais na dinâmica desses pacientes, tendo como alterações físicas a perda da integridade corporal, a violação involuntária das regras de higiene, a perda da função reguladora do esfíncter anal, privação de controle fecal e da eliminação de gases; podendo; também; ocorrer; também complicações. 1As pessoas submetidas às mutilações físicas inerentes à estomia intestinal passam a sentir também mutilações emocionais e psicológicas determinadas por este procedimento, como também é ressaltado que a estomização pode gerar impactos de nível emocional e psicológico como perda de auto-estima resultante da alteração da sua imagem corporal que é definida como sendo uma imagem que todo ser humano constrói de seu próprio corpo ao longo de sua vida, que se ajusta às suas necessidades e ao ambiente em que vive. 2Neste sentido, o fato de se viver com uma ferida ocasiona a fragilidade dos vínculos sociais e familiares, a perda da liberdade e autonomia e a alteração na sexualidade.; 3 Também já existem relatos de que a capacidade de enfrentamento da estomia está intrinsecamente aliada ao significado que o indivíduo atribui à sua doença, ou seja, os aspectos psicossociais do indivíduo determinarão o grau de suas respostas a essa nova situação, levando-o a buscar ajuda ou a negar a situação.Portanto,; a; pessoa; com; estomia; não; deve compreender a estomização como um empecilho para uma vida social e sexual, mas como uma nova condição que precisa de adaptação. Como vivenciar qualquer mudança é difícil, torna-se necessário que o profissional que o assiste, se alie a ele para que desta forma, se sinta amparado e disposto a buscar auxílio.Nos dias atuais, a preocupação com a aparência é fato na nossa sociedade e o culto ao corpo perfeito aumenta consideravelmente. Tal consideração encontra eco ao ser dito que em nossa sociedade, as representações sociais do corpo ideal estão ancoradas em significados de juventude, beleza, vigor e saúde.5 Devido ao fato da estomia deixar sinais visíveis e desagradáveis no corpo, a pessoa com esta condição, tende a isolar-se pela não aceitação da aparência e distorção na auto- imagem, e por medo da rejeição dos outros. Há referencia de que a auto-imagem, ou seja, o conceito que o indivíduo tem de si mesmo é central na definição de como o indivíduo percebe, avalia e se comporta, sendo este conceito fortemente delineado por forças como normas culturais, crenças e valores. 6 É interessante a abordagem em relação a um detalhamento desta forma da mulher voltar o olhar a si mesma:Para as teorias feministas, as mulheres, através das práticas de socialização a que são submetidas, são levadas a associarem um corpo esbelto à capacidade de se mostrarem atraentes, o que provoca uma superidentificação com seus corpos. Além disso, são induzidas a priorizar as relações interpessoais com o sexo oposto e a acreditar no fato de que o sucesso de tais relações depende, basicamente, de sua atratividade física. 7:142Neste sentido, para se sentirem atraentes e bonitas, as mulheres são levadas à tendência de desejar um corpo que seja condizente com o estereotipo de beleza designado pela sociedade para o gênero feminino. Observa-se que o surgimento de fenômenos sensoriais novos, relacionados ao odor, ao som, à visão e ao tato são acontecimentos que violam a imagem corporal e que a percepção do estoma-bolsa é vista como uma invasão física e sexual. Somam-se a essas manifestações, as exigências de alterações no vestuário, código fundamental, especialmente para a; mulher,; nas; representações; de; gênero caracterizadas pela fragilidade, delicadeza e beleza.2 Nessa perspectiva é possível que o fato de uma mulher ter um estoma, venha a ser um atributo visto socialmente como negativo, sendo portanto uma limitação a esta imagem de corpo perfeito.Ao se voltar o olhar para esta condição que pode refletir tanto no convívio familiar e social, quanto na imagem corporal, às reflexões aqui desenvolvidas se direcionam as mulheres. Estas, tradicional e historicamente, têm concepções e práticas importantes que tornam a visão do próprio corpo, um aspecto de grande magnitude. Indaga- se como se dão no cotidiano destas, as alterações decorrentes da cirurgia de derivação intestinal, especialmente considerando-se a amplitude de reflexos intervenientes em seu existir. Derivando- se destas questões instigantes e para efeito de recorte das dimensões desta pesquisa, direciona- se a visão para focar a mulher com estomia intestinal como sujeito deste estudo.A estomização é um procedimento invasivo que altera a fisiologia intestinal, pode promover diminuição da auto-estima e alteração da imagem corporal, sendo necessário então que essa cliente tenha além de cuidados físicos e ensino para o auto- cuidado, um apoio com relação ao seu emocional. Torna-se assim relevante a percepção de que essa clientela carece de aliados para ajudá-la na nova condição.A assistência à mulher com estomia exige dos profissionais o investimento em variadas dimensões da reabilitação, o que significa um verdadeiro desafio, sendo imprescindível o conhecimento de suas necessidades, as quais como apontadas; podem; ser; as; mais; diversas. Considerando-se; então; que; o; cuidado; de enfermagem direcionado a esta cliente envolve grau de complexidade por atingir diversas nuances, torna-se necessário que o enfermeiro conheça e considere as modificações que ocorrem na vida desta pessoa e como se dá o vivenciar de todo este processo. Ao fornecer novos elementos para a compreensão de como o cotidiano da mulher com estomia intestinal é afetado pela cirurgia, pretende-se; melhor; instrumentalizar; esses profissionais que atuam junto a estas. Neste sentido encontram-se também subsídios ao ser ressaltado que " é essencial os profissionais de saúde estarem atentos às reações destas pessoas, tendo em consideração todas estas especificidades na prestação de cuidados de saúde". 8:167As especificidades e singularidades de cada uma podem contribuir para a elaboração de um plano assistencial mais completo e efetivo visando à melhoria da qualidade de vida destas clientes. Nessa perspectiva o enfermeiro deve ser capaz de identificar as dificuldades que a paciente enfrenta no seu cotidiano para, desta forma, obter subsídios para auxiliá-la e intervir de forma mais coerente na prática, tornando-se aliado desta, ajudando-a a lidar melhor com suas novas vivências. A partir da condição da mulher, em toda a sua dimensão feminina, considerando-se os variados aspectos e também o preocupar-se com sua aparência, face à dimensão de ter uma estomia intestinal, delineia-se o objeto deste estudo: O cotidiano vivenciado pela mulher com estomia intestinal no processo adaptativo a nova condição. Este estudo teve como objetivo compreender as vivências de mulheres no enfrentamento da condição de ter um estoma intestinal.;Caminho Metodológico Delineou-se que a abordagem qualitativa seria adequada, ao permitir que as informantes se expressassem livremente acerca de suas vivências, fornecendo assim maiores subsídios. Esta escolha encontra fundamentação ao ser apontado que estudos dessa natureza permitem a análise de questões particulares e subjetivas além de um maior entendimento dos significados das relações humanas, refletindo no favorecimento à melhor compreensão do vivido por essa clientela feminina, quanto às repercussões da estomia intestinal no cotidiano dessas mulheres.9O cenário foi o Núcleo de Ostomizados de Juiz de Fora (NOS-JF) - MG por se tratar de uma Instituição onde há convergência de pessoas estomizadas. A pesquisa foi submetida à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFJF, conforme parecer nº 139/2007, em atendimento aos; preceitos; da; Resolução; nº.; 196/96; do Ministério da Saúde. 10As informações foram obtidas entre as mulheres com Estomia Intestinal cadastradas no NOS-JF, sendo coletados quinze depoimentos no período de 03 de julho a 30 de agosto de 2007. Foi utilizada a entrevista semi-estruturada, pois, nesse tipo de entrevista há "perguntas previamente formuladas e ao mesmo tempo pode-se abordar o tema livremente de forma espontânea". 9:58Após a obtenção de cada depoimento, foi feita a transcrição e leitura para apreensão dos significados. Para análise as depoentes foram identificadas por nomes de plantas como forma de garantir-lhes o anonimato. O agrupamento dos temas foi feito de maneira cuidadosa e atenta, emergindo a Unidade de Significação: enfrentando a nova condição.Análise Compreensiva: Enfrentando a nova condição A condição de ter um estoma além de acarretar a perda de parte importante do corpo, pode conferir à mulher, abalos emocionais que necessitam ser superados em busca de harmonia e para aprenderem a reconduzir sua vida. Esta difícil tarefa desencadeia muitas vezes, a necessidade de se estabelecer um relacionamento intenso e estimulador com algo, em busca da restauração de suas forças. Por meio da análise das entrevistas, chamou atenção à importância da orientação para a adaptação ao estoma e a forte referência das depoentes ao suporte familiar e à crença em um Ser Supremo como fundamentais e determinantes para enfrentarem a situação.-; A; orientação; como; agente; na recuperação:;A; estrutura; de; atendimento destinada à pessoa com estomia é um fator decisivo; para; sua; reabilitação,; portanto,; a implementação da assistência deve ser assegurada visando restituir-lhe a qualidade de vida. A condição de possuir um estoma pode acarretar alterações das mais diversas, tanto físicas quanto psíquicas, podendo ser especialmente derivadas da alteração da imagem corporal. Visando minimizar o efeito do impacto causado pela aquisição do estoma e melhorar sua qualidade de vida, é essencial uma preparação da mulher quanto ao procedimento e respectivas alterações. Isto favorece o autocuidado, facilita a adaptação e possibilita o convívio positivo com a estomia. Pode-se constatar em alguns depoimentos que a cliente adequadamente preparada, consciente da intervenção que será realizada, aceita precocemente esta mudança e tem sua adaptação facilitada:".. a adaptação veio assim de uma forma muito natural porque (..) passei por um treinamento (..) havia uma preparação prá o que ia acontecer". Lírio".. o pessoal aqui do, aqui do grupo foram lá (..) explicar como era, o que era isso e tudo, ao que eu (..) fiquei sabendo o que que tinha acontecido comigo. A minha vida continuou assim, normal, eu saí do hospital já sabendo como lidar com isso, como a limpeza, trocar a bolsa, tudo eu aprendi lá no hospital.. ". DáliaPor outro lado, o oposto pode ocorrer quando esta não encontra na equipe que lhe presta assistência,; aliados; que; ofereçam; suporte profissional personalizado e esclarecedor. Muitas não têm conhecimento do que é efetivamente esta cirurgia e repentinamente se encontram com os efeitos em seu corpo e em decorrência disto, sentimentos adversos surgem. Este contexto está em dissonância com a afirmativa de que "a enfermagem é desafiada a oferecer uma assistência com qualidade no período pré-operatório, envolvendo o preparo do paciente para a cirurgia, tanto física como psicologicamente, com cuidados individualizados...".; 11:3 É importante destacar que algumas das entrevistadas fizeram referência ao desconhecimento prévio das alterações dela decorrentes, pois há relatos sugestivos de que nem sempre as mulheres são adequadamente esclarecidas do que será feito em seu corpo, sendo assim, desrespeitado um direito básico que é o preparo prévio:"Prá mim foi uma novidade, né? Eu não conhecia, só conheci depois que eu comecei a usar, então que eu vim a conhecer, né. (..) nunca tinha ouvido falar"Margarida".. achei desagradável, é, porque eu (..) nunca tinha visto falar que tem, que existe pessoa que usava essa bolsinha.."Palma"No princípio assim eu levei um susto porque eu não conhecia isso, não sabia. Eu fui é (..), eu fiquei sabendo depois de operar..". Dália".. com 55 anos eu nunca vi falar e, nessa bolsinha (..). Prá mim foi uma bomba que caiu em cima de mim, sabe". Samambaia".. prá mim foi a maior surpresa. Depois que eu fui compreender.."BegôniaApós a confecção do estoma, este deve ser coberto por uma bolsa destinada a receber seu conteúdo, considerando-se a dificuldade do controle voluntário. Para que se sinta segura, é de extrema importância que a cliente receba também informações; relacionadas; ao; uso; deste equipamento, pois ele exige habilidade no seu manuseio e cuidado."Foi difícil prá acostumar com a bolsa, com as higiene da; bolsa..". Azaléia"No começo foi difícil prá mim prá colocar a bolsinha..". BegôniaA pessoa que será submetida à cirurgia de derivação intestinal tem o direito de receber todos os esclarecimentos acerca da intervenção, desta forma, o impacto gerado poderá ser suavizado, o que contribuirá para sua adaptação. Neste sentido, reforça-se que: "os cuidados de enfermagem ao ostomizado devem iniciar-se no momento do diagnóstico e da indicação da realização de uma estomia, para minimizar os sofrimentos e obter uma melhor reabilitação".; 12:36 Subentende-se, então, que essa clientela deve ser atendida por uma equipe disposta a contribuir efetivamente para o seu restabelecimento integral incluindo, em seu planejamento; e; implementações,; o; preparo emocional, o cuidado físico e também, o incentivo ao auto-cuidado. Mas, infelizmente existe por parte de; alguns; profissionais; de; saúde; pouco comprometimento em fazer cumprir este direito, atitude que, além de contribuir para o déficit de conhecimento; da; paciente; em; relação; à; sua condição, provoca a sua insatisfação. Isto pode ser percebido nas afirmações:;"Nos primeiros dias ficou "compricado" prá mim (..) que a gente num sabia direito, né.(..)O médico quase que num explica nada, né"Avenca;;"E as meninas, as enfermeiras troca mais não ensina, elas deviam ensinar porque as pessoa têm dificuldade.. ". CrisântemoEsses aspectos refletem a conclusão de que pela condição de estar com uma estomia implica em mudanças emocionais e no estilo de vida, a implementação do processo de reabilitação deve se dar; ainda na fase diagnóstica, no intuito de melhorar; sua; qualidade; de; vida; e; amenizar sentimentos negativos que podem dificultar a adaptação; à; nova; imagem; corporal,; além; de favorecer o autocuidado.- A família - fonte de apoio: Enquanto se processa o período de adaptação ao estoma e à nova condição de vida que ele requer, toma-se a família como suporte social, constituindo um importante mecanismo; face; às; dificuldades encontradas no dia a dia. Quando esta coopera, incentiva e apóia, as mulheres com estomia se sentem mais seguras e a sua realidade se torna mais amena,; pois; dependem; da; família; para; sua recuperação, sendo ela é o primeiro grupo social para sua inserção.13 Corroborando os depoimentos, percebe-se através das vivências expressas, que o apoio; e; participação; ativa; da; família; são imprescindíveis para o processo de reabilitação física; e; para; o; reajuste; emocional; da mulher estomizada:;".. meu marido também que tem sido assim, um companheiro muito bom prá mim, tá, ele tem me ajudado muito, tem me dado muita força e tem sofrido comigo". Violeta;".. a força maior foi meus filhos, mas com certeza a força da minha família, das minhas irmãs, meu marido, a minha mãe e do meu irmão(..) Sem isso, eu não sei se eu teria tido força suficiente prá batalhar e prá passar por tudo o que eu passei"Lírio;".. minha filha fazia tudo prá mim, tadinha, ela, ela trocava, arrumava tudo prá mim (..) ainda bem.. eu tenho minha netinha que tá me salvando, né, porque aí eu brinco com ela (..) é uma benção de Deus a minha netinha prá mim porque aí, sabe, eu num fico só pensando em doença".Samambaia".. minhas filhas me apoiou (..) o que me ajudou foi Deus e meus filhos (..) As minhas filhas me botam prá cima, isso é importante". Hortência"As minhas filhas me ajudou muito. Eu tive uma filha que largou a casa dela e foi ficar comigo". Azaléia".. eu fiquei três meses na casa da minha sobrinha. A minha sobrinha fazia uma vitamina. Levava fruta prá mim, uva, só coisa boa mesmo, a minha sobrinha tem uma situação; muito; boa; e; não; faltou; nada; prá; mim...". Crisântemo;".. minhas amigas me ajudando, dando força, né, meu marido também me muita força..". GirassolEstas falas estão em consonância com a seguinte colocação a respeito do estímulo e apoio advindos de pessoas significativas: "podem ajudar o paciente a superar os seus sentimentos de perda, negação, revolta e falta de esperança. Eles se apegam a esse apoio para modificar e superar as suas limitações".14:10 O que é reforçado ao relatar sobre sua experiência de dor, afirmando que expressões de afeto e cuidado vindos de pessoas que fazem parte de sua vida "constituíram alicerce para fazer frente à situação (..) presenças,; cuidados; e; manifestações; de; apoio; foram fundamentais". 15:297;Das entrevistadas que referenciaram a importância do apoio familiar, apenas uma relatou, com pesar, a ausência de apoio da família e a falta que este estímulo faz para o enfrentamento de sua nova condição. ;".. não tive apoio de família (..). A única coisa que eu sinto mesmo é a falta de apoio, que eu tenho mãe, tenho minhas irmãs, e minha mãe não me apoiou, não procura saber como é que eu estou, então eu sinto falta é disto". RosaAs expressões possibilitam identificar que o suporte familiar é essencial para o processo de reabilitação e adaptação da mulher nesta nova condição de ser estomizada. Valoriza-se a família como espaço de acolhimento, segurança e cuidado e tem sido para essas entrevistadas uma referência muito forte. Por meio de seus relatos percebe-se que os laços afetivos constituem uma base de sustentação para que essas mulheres superem suas dificuldades.-Cultivando a Fé como Suporte: Após realizar inúmeras leituras e refletir sobre a forma como essas mulheres buscam a superação das dificuldades decorrentes de sua nova condição, constata-se; que muitas; delas; articulam; sua adaptação à crença em um poder superior. Ela é referida como ponto essencial de enfrentamento perante a situação vivenciada, funcionando como fonte capaz de gerar amparo, auxiliar na adaptação e; possibilitar; a; aceitação; diante; das; perdas, mudanças e alterações que podem estar presentes após a estomização:".. eu tenho muita fé em Deus, e como meu corpo é (..) é templo do Espírito Santo, eu tenho que cuidar, tenho que limpar, tenho que resguardar meu corpo (..) prá aquilo que Deus nos deixou de tão bom que foi a vida, né!? (..) quem me deu força maior foi a minha fé, eu tenho muita fé em Deus"Violeta"O apoio que eu tive foi a religião mesmo, minha fé em Deus (..) então eu acho que se hoje tô aceitando melhor é por vontade própria, primeiro Deus, depois a vontade própria que eu tive". Rosa".. a pessoa que é, que eu, acredita que é espírita acha que você não é por acaso que você tá dessa ou daquela maneira; que você vai passar por essa ou por aquela doença ou problema. Então eu acho que isso veio como uma coisa que eu tinha que acontecer comigo, eu nunca me revoltei, talvez por esta parte da religião.."Lírio"E a gente tem que pegar com Deus prá poder ter essa força,Tter essa vontade de continuar".AzaléiaAo se deparar com o estoma muitas vezes a; situação; foge; de; seu; controle; e,; perante; a necessidade; de; resgatar; o; equilíbrio; após desestruturação advinda com o mesmo, há uma postura de direcionamento da vida a um Ser Superior do qual se espera uma solução. Isto é ressaltado ao se afirmar que nos momentos difíceis a fé e a religiosidade são usadas como apoio para vencê-los.; 16 Esta percepção encontra eco em algumas falas:".. eu achava que eu não ia vencer não, mas graças a Deus"Margarida".. Deus (..) me deu o livramento da morte.."Dália".. Deus tá ajudando muito (..) eu tô pegando mais fé com Deus". Samambaia".. graças a Deus eu tô indo em frente (..) Então isso aqui no organismo da gente é uma coisa muito delicada, muito fina, só o poder de Deus..".Hortência".. Deus ajudar que dá tudo certo". Begônia".. graças a Deus tá indo (..) num pode a gente não pode entregar à doença, seja o que for a gente tem mesmo fé é com Deus, Deus tem que tá com a gente e a gente com ele prá poder aceitar.."Girassol;A espiritualidade e crença em Deus se mostraram; aspectos; significativos; no enfrentamento; dessa; vivência; e; readaptação oferecendo; a; esta; mulher; suavização; dos obstáculos. A análise das informações contidas nos depoimentos não revela uma forma diferenciada de vivenciar a nova condição de ter um estoma, ao se correlacionar com as religiões professadas pelas entrevistadas. As alusões à fé como suporte, força superior que é ao mesmo tempo alicerce e fonte de esperanças, foram bastante expressivas, porém não se destacou uma crença específica.Considerações FinaisApós a cirurgia para construção da estomia, as mulheres vivenciam uma gama de sentimentos negativos, resultantes de alterações fisiológicas, psicoemocionais e sócio-culturais que permeiam sua; vida; e; que; causam,; em maior; ou menor intensidade, efeitos psicossomáticos que podem repercutir; na; sua; qualidade; de; vida.; Foram percebidas; variações; no; processo; adaptativo, embora, ao se deparar com a sua nova condição, a maioria delas tenha referido conseqüências de ordem emocional, sentimentos conflituosos e intenso estado de desorganização.As informações desta pesquisa sinalizam que, além dos fatores psicológicos, o despreparo do profissional se constitui um importante entrave para a; aceitação; e; adaptação; precoce; ao; estoma, reforçando a importância da equipe de saúde no processo; de; aceitação.; Observa-se; que; a inobservância por parte dos profissionais de saúde em; prover; um; cuidado; holístico; para; essas pacientes; leva,; inicialmente; a; um; déficit; de conhecimento manifestado pelas mesmas com relação ao manuseio do dispositivo coletor, além contribuir para um impacto negativamente maior no primeiro contato com o estoma. Torna-se assim, necessário para uma reabilitação mais rápida e eficaz,; o; apoio; encontrado; na; estrutura; de atendimento; profissional,; com; planejamento adequado da assistência que inclua o suporte psicológico e a educação para a saúde.


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Referências

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Publicado

2016-03-23

Como Citar

1.
Salimena AM de O, Valente WR, Melo MCSC de, Paschoalin HC, Souza Ívis E de O. Artigo Original 1. ESTIMA [Internet]. 23º de março de 2016 [citado 22º de novembro de 2024];6(3). Disponível em: https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/44

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